sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Que país é este? - Ou: graças a Deus, ainda sinto vergonha!

Sem dúvida, não há nada de menos digno para um povo do que se deixar governar, sem nenhuma oposição minimamente inteligente, por uma quadrilha de irresponsáveis dominados pelo próprio desejo de poder pelo poder. Será possível que o brasileiro não se envergonha do seu governo? Quem de nós tem idéia das dimensões da infâmia que um dia cairão sobre nós e sobre nossos filhos, quando o véu cair dos nossos olhos e enfim vierem à luz os crimes mais horríveis perpetrados contra a razão, contra a moral, contra a verdadeira política, infinitamente superiores a qualquer medida que conheçamos e de que tenhamos notícia?
Se o povo brasileiro está assim corrompido, mediocrizado e deteriorado na sua mais íntima essência a ponto de renunciar à qualquer atitude contrária, sem ao menos levantar a mão (quanto menos a voz); se o povo brasileiro está acorrentado a uma confiança irracional na discutível legitimidade da história tal como nos vem sendo contada há oito anos; se renuncia - consciente ou inconscientemente - à liberdade da pessoa humana de intervir no curso da história e submeter esse curso às próprias decisões racionais; se os brasileiros, privados como estão de toda individualidade, tornaram-se uma massa insípida e vil; então, de fato, merecem a ruína.
Hoje, os brasileiros se parecem mais a uma manada insignificante, dócil e sem vontade própria; parecem parte de uma massa ignara; parecem tolhidos, em seus extratos mais profundos, da inteligência e roubados de sua própria essência; parecem prontos a se deixarem conduzir, às cegas, ao abismo mais profundo. Parece assim, mas não pode ser assim! Foi com uma violência lenta, enganadora e sistemática, que cada indivíduo foi induzido a caminhar em direção a esta prisão espiritual na qual nos encontramos... mas, espera-se que, tão logo se descubra acorrentado, cada homem e cada mulher se torne consciente da desventura para a qual caminhou de olhos vendados. Poucos são os que reconheceram a devastação a que estamos sendo submetidos, e o prêmio para suas heróicas advertências foi um silêncio imposto, foi a mordaça, a censura. Será preciso, que no futuro, se fale do destino destes homens. Queira Deus que o silêncio imposto não signifique mais sangue derramado, manchando o chão da nossa terra e a nossa história.
Se cada um de nós espera que o outro comece, os mensageiros da Nemesi vingadora se aproximarão sempre mais, sem limites, e então ainda uma última vítima será lançada sem sentido nas mãos do demônio insaciável. Por isso, nesta última hora, cada indivíduo, consciente da própria responsabilidade como parte da civilização cristã e ocidental, deve opor-se até onde puder, trabalhar contra esse flagelo, contra a tirania e contra todo sistema de Estado absoluto semelhante ao que se veio formando no país. Façam resistência passiva - resistência! -, onde quer que estejam, impeçam que essa máquina de guerra à razão continue a funcionar, antes que seja muito tarde, antes que os últimos espaços públicos se tornem palanques da mediocridade que anda à solta, e antes que a vida inteligente que ainda resta derrame seu sangue por causa da arrogância de um partido sub-humano. Não esqueçam que cada povo merece o regime que suporta!

* Texto adaptado do primeiro panfleto da Rosa Branca - grupo de jovens universitários alemães que divulgava panfletos contra o Nazismo e que foi exterminado pelo regime nazista -, escrito no dia 27 de julho de 1942. Praticamente, o trabalho que tive foi substituir as referências germânicas por brasileiras... Incrível, não? Oito anos de ditadura edulcorada do consenso, oito anos de democracia plebiscitária lançando raízes no solo frágil da pátria e das consciências embrutecidas, oito anos de pobrismo paternalista esvaziador da consciência e da liberdade, oito anos de sucessivas tentativas de censura e, finalmente, uma censura velada da imprensa, oito anos de controle estatal dentro de casa, oito anos de ignorância como sinônimo de poder, oito anos de mediocridade elevada à categoria de virtude, oito anos de culto à personalidade parva de um homem ignorante, oito anos de uso do Estado em prol do partido, oito anos de mentiras contadas e recontadas até ao ponto de parecerem verdades... Nojo é o que me resta! Vergonha é o que ainda sinto! Nojo e vergonha que são apenas a face externa de um amor pelo Brasil que insiste em se manter vivo.

Um comentário:

Carlos disse...

Perfeito o post.

Não preciso comentar mais nada. Está tudo ali.