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segunda-feira, 5 de março de 2012

A Quaresma com os santos

Moisés e Cristo

Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo (Séc. IV)
(Cat. 3,24-27: SCh 50,165-167) 

Os judeus viram milagres. Tu também verás, maiores e mais estupendos do que os do tempo em que os judeus saíram do Egito. Não viste o Faraó afogado no mar com seu exército, mas viste o demônio tragado pelas ondas com as suas armas. Os judeus passaram o Mar Vermelho, tu passaste para além da morte. Eles foram libertados dos egípcios e tu, do poder dos demônios. Eles escaparam da escravidão do estrangeiro e tu, escapaste da escravidão muito mais triste do pecado. Queres ainda mais provas de que foste honrado com favores maiores? Os judeus não puderam contemplar o rosto resplandecente de Moisés, que era homem como eles e servo do mesmo Senhor; tu, porém, viste a glória do rosto de Cristo. E Paulo exclama: Todos nós, com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor (2Cor 3,18). Os judeus tinham Cristo que os seguia; mas agora Ele nos segue de modo muito mais real. Então o Senhor os acompanhava por causa de Moisés; agora nos acompanha não só por causa de Moisés, mas também por nossa obediência. Os judeus, depois do Egito, encontraram o deserto; tu, depois da morte, encontrarás o céu. Em Moisés eles tinham um guia e chefe excelente; nós temos como chefe e guia o novo Moisés, que é o próprio Deus. Qual era a característica de Moisés? Moisés,diz a Escritura, era um homem muito humilde, mais do que qualquer outro sobre a terra (Nm 12,3). Esta qualidade podemos sem erro atribuí-la ao nosso Moisés, porque é assistido pelo suavíssimo Espírito que lhe é intimamente consubstancial. Moisés, erguendo as mãos ao céu, fazia cair o maná, o pão dos anjos; o nosso Moisés ergue as mãos ao céu e nos dá o alimento eterno. Aquele feriu a rocha e fez brotar torrentes de água; este toca na mesa, a mesa espiritual, e faz jorrar as fontes do Espírito. Por isso, a mesa está colocada no meio, como uma fonte, para que de todos os lados acorram os rebanhos à fonte e bebam das águas da salvação. Uma vez que nos é dada uma tal fonte, um manancial de vida tão abundante, uma vez que a nossa mesa está repleta de bens inumeráveis e nos inunda com seus dons espirituais, aproximemo-nos de coração sincero e consciência pura, para alcançarmos graça e misericórdia no tempo oportuno. Pela graça e misericórdia do Filho único, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por quem e com quem seja dada ao Pai e ao Espírito, fonte de vida, a glória, a honra e o poder, agora e para sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

domingo, 4 de março de 2012

A Quaresma com os santos

Por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Séc.V)
(Sermo 51, 3-4.8: PL 54, 310-311.313)

O Senhor manifesta a Sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o Seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que Seu rosto se tornou brilhante como o sol e Suas vestes brancas como a neve. A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo. Mas, segundo um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido à esperança da santa Igreja, de modo que todo o Corpo de Cristo pudesse conhecer a transfiguração com que Ele também seria enriquecido, e os Seus membros pudessem contar com a promessa da participação daquela glória que primeiro resplandecera na Cabeça. A esse respeito, o próprio Senhor dissera, referindo-se à majestade de Sua vinda: Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai (Mt 13,43). E o apóstolo Paulo declara o mesmo, dizendo: Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós (Rm 8,18). E ainda: Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de glória (Cl 3,3-4). Entretanto, aos apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento. Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando com o Senhor, a fim de cumprir-se plenamente, na presença daqueles cinco homens, o que fora dito: Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16). Que pode haver de mais estável e mais firme que esta palavra? Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo Testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho. Na verdade, as páginas de ambas as alianças confirmam-se mutuamente; e o esplendor da glória presente mostra, com total evidência, Aquele que as antigas figuras tinham prometido sob o véu dos mistérios. Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo 1,17). NEle cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da lei; pois pela Sua presença mostra a verdade das profecias e, pela Sua graça, torna possível cumprir os mandamentos. Sirva, portanto, a proclamação do santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido. Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida. O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no Seu amor e na proclamação do Seu Nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que prometeu. Assim, quer cumprindo os mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu filho amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o (Mt 17,5).

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Quaresma com os santos

A circuncisão do coração 

Das Demonstrações de Afraates, bispo (Séc.IV)
(Dem.11,De circumcisione, 11-12:PS 1,498-503)

A lei e a aliança foram totalmente mudadas. Primeiramente Deus substituiu o pacto com Adão por outro que estabeleceu com Noé; e ainda estabeleceu outro com Abraão, substituindo-o depois por um novo, feito com Moisés. Como a aliança mosaica não era observada, ao chegar a plenitude dos tempos, Deus firmou uma aliança que não seria mais mudada. Com efeito, a Adão Deus ordenara não comer da árvore da vida, a Noé dera o arco-íris, a Abraão, já escolhido por causa da sua fé, deu mais tarde a circuncisão, como sinal característico de seus descendentes; a Moisés deu o cordeiro pascal para ser imolado como propiciação pelo povo. Todas essas alianças eram diferentes umas das outras. Mas a circuncisão que agrada ao autor de todas elas é aquela de que fala Jeremias: Circuncidai o vosso coração (Jr 4,4). Pois se o pacto estabelecido por Deus com Abraão foi firme, também este é firme e imutável e não seria possível estabelecer depois outra lei, seja por parte dos que estão fora da Lei ou dos que a ela estão submetidos. O Senhor deu a lei a Moisés, com todas as suas observâncias e preceitos; como não cumpriram, anulou a lei e seus preceitos e prometeu fazer uma nova aliança, que seria, como disse, diferente da primeira, embora fosse um só o doador de ambas. E é esta a aliança que prometeu dar: Todos se reconhecerão, do menor ao maior deles (Jr 31,34). Nessa aliança não há mais a circuncisão da carne como sinal de pertença a seu povo. Sabemos com certeza, caríssimos irmãos, que durante várias gerações Deus estabeleceu leis que estiveram em vigor enquanto foi de Seu agrado, e que mais tarde caíram em desuso, como disse o Apóstolo: “No passado, o reino de Deus assumiu formas diversas, segundo os diversos tempos”. O nosso Deus é veraz e os Seus preceitos são fidelíssimos. Por isso, cada uma das alianças foi em seu tempo firme e verdadeira. Agora, os circuncisos de coração têm a vida por meio da nova circuncisão que se realiza no verdadeiro Jordão, isto é, por meio do batismo para a remissão dos pecados. Josué, filho de Nun, com uma faca de pedra circuncidou o povo pela segunda vez, quando ele e seu povo atravessaram o rio Jordão. Jesus, nosso Salvador, circuncidou pela segunda vez, com a circuncisão do coração, os povos que nEle creram purificados pelo batismo e circuncidados com a espada que é a palavra de Deus, mais cortante do que qualquer espada de dois gumes (Hb 4,12). Josué, filho de Nun, introduziu o povo na terra da promissão; Jesus, nosso Salvador, prometeu a terra da vida a todos que atravessassem o Jordão, cressem nEle e fossem circuncidados no coração. Felizes, portanto, os que foram circuncidados em seu coração e renasceram das águas da segunda circuncisão! Estes receberão a herança prometida, juntamente com Abraão, guia fiel e pai de todos os povos, porque a sua fé lhe foi atribuída como justiça.