Mostrando postagens com marcador Angelo Bagnasco. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Angelo Bagnasco. Mostrar todas as postagens

domingo, 8 de agosto de 2010

Vida espiritual e evangelização

Por Angelo Cardeal Bagnasco

Catedral de Scutari, Albânia
07 de julho de 2010

Queridíssima Excelência,
Autoridades,
Caros irmãos e irmãs no Senhor,
Com alegria acolhi o convite cordial da Madre Geral das “Irmãs Ravasco”, para inaugurar a sua escola. Era também a ocasião para retornar à Albânia, terra bela, exuberante e prometedora, e celebrar nesta Catedral, coração vivo da Diocese.
Com fé, queremos, agora, acolher a palavra do Evangelho para introduzir-nos no mistério eucarístico, sacrifício de Cristo, pão de vida eterna, fonte perene da Igreja.
Encontramo-nos diante do Senhor Jesus que chama para Si os Doze. É um momento bastante significativo na medida em que os admite com Seus amigos, para o conhecimento do Seu mistério, para compartilhar da Sua vida com eles, tornando-os partícipes da Sua missão. Somente assim são capazes de se tornar testemunhas: anunciando ao mundo aquilo que dEle viram e escutaram. Tornar-se-ão, assim, a norma da fé autêntica e o fundamento da Sua Igreja. Os séculos e os milêncios passarão, mas a fé das gerações deverá olhar para a fé daqueles doze homens que, escolhidos por Jesus, se tornam o critério da verdade cristã. A fé se encarna nas diversas históias e culturas, avalia com respeito e sustenta com confiança no caminho de um enriquecimento e um crescimento contínuos, mas nunca é capturada por nada ou por ninguém. Ela é livre, histórica e meta-histórica, porque diz respeito ao Filho de Deus. Exatamente pelo chamado particular feito por Cristo, e graças à experiência única deles, os Doze se tornam o fundamental essencial da Igreja: ninguém tem o poder direto sobre a pedra angular senão os Apóstoles, e que quer encontrar a Cristo não tem outro caminho. 
Eis porque cada comunidade católica no mundo, em qualquer situação cultural, social e política, olha para o Papa: “a comunhão com Pedro e com os seus sucessores – explicava Bento XVI recentemente – é garantia de liberdade para os Pastores da Igreja e para as mesmas Comunidades que lhes são confiadas (...) é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade, à autêntica tradição, de modo que o Povo de Deus seja preservado de erros que digam respeito à fé e à moral” (Homilia, 29 de junho de 2010).
Junto à graça de Deus, é também por isso que, nas situações mais difíceis e a custa de grandes sacrifícios, nunca faltou a coragem da fé e o amor pela Igreja. A semente da oração, do Evangelho, dos sacramentos, continuou vivendo em segredo e produzindo frutos bons para todos. Todos somos chamados à audácia do testemunho cristão, a uma fé cultivada e consciente, visto que este é o desafio do nosso tempo, é o débito que temos com os homens e com as sociedades.
O homem contemporâneo – talvez mais do que em outros momentos da história – sente a necessidade de encontrar um sentido verdadeiro e para a vida, de não ceder à angústia, de não se sentir estrangeiro no mundo, de não ser capturado pelo materialismo, de saber o que é o mal e o bem; deseja poder caminhar em direção a um destino de luz. O pão do corpo é necessário para a vida e para a dignidade do homem, mas o pão do espírito é ainda mais necessário se não se quer apenas sobreviver. É possível ser saciados e insatisfeitos, presas de uma angústia sutil diante do futuro como certas sociedades testemunham. Mas também a sociedade e a cultura, em seu complexo, estão esperando a contribuição única e peculiar da fé. Como o Santo Padre Bento XVI frequentemente nos recorda, hoje o mundo ocidental gostaria de construir uma história sem Deus, como se Deus tivesse que ser confinado ao privado.
Mas a história diz que uma história sem Deus não é história, porque vai contra o homem naquilo que existe de mais profundo. Trata-se, então, de inspirar a sociedade e a história à luz de Jesus que revela o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto do homem: há uma grande necessidade de redescobrir o humano do homem em tempos de confusão e de relativismo; mas para redescobrir o homem devemos redescobrir a Cristo. O Seu Evangelho fala, sim, aos crentes, mas fala também a todos, porque faz parte da fé tudo aquilo de autenticamente humano que há no mundo.
No relato da vocação dos Doze, além do mais, não escapa o modo pontual com o qual o Evangelista elenca os nomes dos chamados. Esse detalhe certamente não é casual: essa maneira indica que, entre o Mestre e os Apóstolos, não existe um relacionamento coletivo e anônimo, mas um relacionamento pessoal, assim como é pessoa o nome. Somos chamados para o fato de que a fé nos insere num relacionamento íntimo e pessoal como Senhor ouvido, celebrado e vivido. A oração, a vida sacramental, a Palavra de Deus não podem nunca faltar na vida do cristão, tanto em nível pessoal como comunitário. A importância da vida espiritual e a necessidade de cuidar, junto com o crescimento cultural, da maturidade humana e da profunda formação ascética e religiosa, fazem parte do chamado para a fé. No vértice do encontro com Jesus está a Santa Eucaristia: ela encerra todo o tesouro da Igreja. O cuidado com as jovens gerações é um desafio desse momento: a Igreja olha para elas com simpatia especial e com confiança, conhecendo o patrimônio de generosidade de que são portadores e o perene fascínio do Evangelho. A juventude de Cristo encontra o coração jovem dos jovens de todos os tempos, os chama pelo nome, os convida para a Sua confiança, os provoca a entrar na Sua amizade. A Igreja, na luz e com a força do Seu Senhor, se aproxima dos jovens e, humildemente, os acompanha para que não se deixem encantar pelas ilusões fáceis e deslumbrantes, que prometem muito mas roubam a alma, a alegria do coração, a honestidade da vida. Coloca-se ao lado deles e os ajuda a se livrarem do jugo das opiniões, para descobrirem a verdade das coisas, das coisas que contam, lembrando as palavras de Erasmo: “As opiniões são fonte de felicidade a preço baixo! Aprender a verdadeira essência das coisas, mesmo se se trata de coisas de importância mínima, custa um grande sacrifício” (Elogia da Loucura, XL VII).
Caros amigos, como afirmava o Santo Padre, devemos “responder à cultura materialista e egoista com uma ação evangelizadora coerente, que parta das paróquias: é, de fato, das comunidades paroquiais mais do que de outras estruturas que podem e devem vir iniciativas e atos concretos de testemunho cristão” (Aos Bispos da Eslovênia, 24 de janeiro de 2008).
Elevemos o olhar à Virgem Santa, à grande Mãe da Igreja: a Ela confiemos o caminho das nossas Igrejas Particulares, da Igreja da Albânia. Do sofrimento de tantos nascem novos cristãos, discípulos corajosos de Jesus, testemunhas intrépidas da fe. A Igreja que existe na Itália vos admira e está próxima de vós: a oração recíproca nos sustente a todos.

* Extraído do site Totus Tuus Network, do dia 07 de julho de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Na educação para a fé, a relação vital com Deus

Por Angelo Bagnasco

Um renovado empenho com o ensino dos valores cristãos
Publicamos trechos da palestra "Jesus, educador da fé", proferida pelo cardeal presidente da Conferência Episcopal Italiana, na terça-feira pela manhã, por ocasião do Encontro Nacional dos Diretores do Ofício Catequistas Diocesanos, que está acontecendo em Bolonha

A paixão educativa de Jesus é evidente. Ele tem plena consciência que todos aqueles que encontra têm uma necessidade urgente não apenas de salvação física, mas, mais radicalmente, de uma orientação interior. Poder-se-ia dizer - perdoem-me o anacronismo - que Ele viveu em um contexto de "emergência educativa". A paixão educativa que Jesus mostra em cada um de seus encontros não pode ser compreendida de outra maneira que a partir do Seu amor, do Seu amor pela vida, pela vida de todos os homens. A Igreja, escolhendo refletir sobre a tarefa da educação, não tem outra motivação diferente dessa: o amor pela vida que aprendeu do seu Senhor. Educa-se, porque se entende que a vida do outro merece atenção, cuidado, porque se entende que é preciosa, mais preciosa que a própria vida.
O consenso que se criou espontaneamente em nosso país sobre o tema da educação não deve ser desvalorizado: a descoberta dos fundamentos de uma boa educação é um desejo de tantos, dentro e fora da Igreja. As famílias declaram ter, frequentemente, descuidado dos pontos de referência educativos necessários, a escola declara ter, às vezes, perdido a coragem de apostar na paixão e na qualidade da educação, os catequistas declaram ter sido desencorajados: todos se dão conta, porém, da exigência de um empenho renovado com o amor que têm pela vida das novas gerações.
Os catequistas, por quem vocês são responsáveis nas diversas dioceses, são um importante testemunho do amor que a Igreja tem pela vida. É através do serviço deles que os pais compreendem que não foram abandonados pela Igreja, quando se descobrem enfrentando o crescimento dos filhos. Nós estamos preocupados com o vínculo tênue que pode existir entre as famílias e a Igreja, mas devemos aprender a ser ainda mais preocupados com o vínculo mesmo que há entre os pais e os filhos. As famílias - frequentemente de forma silenciosa, como no tempo de Jesus - pedem, hoje, um sustento educativo, desejam amadurecer pontos de referência para não se desencorajarem na sua missão e para não serem vencidas pela mentalidade corrente. O decênio que começa sobre o tema da educação não pode esquecer a importância da catequese aos adultos. Pelo contrário, quer sublinhar precisamente que uma das responsabilidades mais importantes dos adultos - pais, docentes, catequistas, o conjunto da sociedade civil - é precisamente a de transmitir a vida, a cultura, os valores, a fé que recebemos como dom.
Jesus anuncia que a maturidade humana não consiste em um fechamento da pessoa em si mesma e no próprio mundo, mas na abertura ao diálogo com Deus. A catequese, como prolongamento vivo da obra de Jesus, tem exatamente a tarefa de servir a esta relação do homem com Deus: essa relação existe em vista da fé. A Igreja propõe a fé às novas gerações, porque sem ela faltaria a eles aquela relação vital com Deus. As famílias, mesmo que às vezes inconscientemente, sabem bem que o Evangelho é para os jovens uma âncora de salvação.
Jesus escancara as portas da relação com Deus, convida a reconhecer que exatamente no relacionamento com o Pai está a beleza e a dignidade da vida humana: crer, reconhecendo o Pai, quer dizer entrar no reino.
Descuidar da dimensão da fé no âmbito educativo quer dizer ferir a dignidade mesma do homem. Promovê-la quer dizer, pelo contrário, exaltar a dignidade do homem: a educação da fé não é um elemento acessório quando pensado dentro do processo educativo como um todo, mas pertence a este mesmo processo com um papel muito importante. Eis o grande valor da catequese, como também do ensino da religião na escola que apresenta, de forma orgânica, o "fato" religioso e católico assim como se configurou na história e na nossa cultura.
A fé não pode nascer e se desenvolver simplesmente como automaturação ou como autoformação do homem: é em Cristo que se oferece e se dá ao homem. Não é suficiente a liberdade para se alcançar a fé, aliás, é exatamente o encontro com a fé que gera a liberdade. A dependência que a liberdade tem do dom que a precede deve ser colocada novamente em relevo se se quer que cresça uma nova paixão educativa. Não existe verdadeira educação, nem verdadeira liberdade, sem um dom que a preceda. Bento XVI não tem medo de utilizar, para designar este dom que precede a liberdade e a funda, o termo "autoridade". Recentemente, aliás, falando em uma assembléia da CEI (Conferência Episcopal Italiana; ndt), lembrou que o homem tem necessidade da "autoridade" exatamente no amadurecimento das relações mais importantes.
Jesus oferece originariamente a vida para o homem, para que o homem se torne capaz de levar a própria cruz. E o que é verdade para a fé, toca transversalmente cada âmbito educativo. Pense-se, sobretudo, no fato muito simples de que os pais sãos os auctores de seus filhos. Eles são uma autoridade em relação à descendência, visto que, sem os pais, ela nem mesmo existiria. Se os pais renunciassem a ensinar aos seus pequenos não só o bem, o respeito, a responsabilidade, a fé, mas também a língua com todas as referências culturais a ela ligadas, seus filhos não cresceriam.
A fé, mesmo sendo profundamente presente no povo italiano, é, ao mesmo tempo, também enfrentada com uma crítica que não olha simplesmente para isso ou para aquele aspecto moderno da Igreja, mas a põe em discussão desde os seus fundamentos, desde a relevância da questão de Deus, da oportunidade que se fale dEle na esfera pública, da credibilidade dos relatos evangélicos e assim por diante. Estas críticas, mas talvez também a ainda mais difundida ignorância no assunto, tornam evidente que a educação para a fé deve partir não de argumentos secundários, mas precisamente dos temas mais importantes do anúncio cristão. Uma educação à fé que não ajudasse à inteligência a se orientar sobre estes temas não ajudaria às novas gerações a compreender o valor e a dignidade da fé cristã. É a experiência mesma que mostra que exatamente a fragilidade de uma "pastoral da inteligência" é que faz com que muitos jovens, terminado o percurso da iniciação cristã, se afastem da Igreja se não encontrem comunidades cristãs cuja proposta educativa lhes torne capazes de enfrentar a leitura que outras agências e a escola mesma propõem dos temas da fé.
Esta grande atenção aos temas da fé cristã não deve, porém, de forma alguma, se contrapor ao amadurecimento daquele contexto que torna experiencialmente perceptível aquela confiança e aquele amor tão típicos da fé cristã. A tradição italiana se caracteriza - e deve continuar a se caracterizar - pela sua capacidade de propor às jovens gerações a Igreja como companhia confiável, como ambiente no qual amadurecer a confiança e o amor.

* Extraído d'O Observatório Romano, do dia 16 de junho de 2010 (p. 7). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A aventura educativa 3

Encontro com o Cardeal Angelo Bagnasco
Milão, Palasharp – 18 de março de 2010

Testemunho
de Franco Nembrini
(educador)

Há dois anos, voltei a ensinar em uma escola pública, o Instituto Técnico para Contadores da minha cidade, depois de haver deixado a educação por dez anos. E essa foi, para mim, uma experiência importante, na qual pude perceber a mudança que aconteceu, no tempo em que estive distante, na geração de jovens que temos diante de nós. Até doze anos atrás, eu poderia me iludir de ter diante de mim jovens que correspondiam, de alguma maneira, a um modelo que eu tinha na cabeça: jovens estruturados positivamente no seu relacionamento consigo mesmos e com o mundo, mas passíveis de alguma desviação, de algum erro, marcados por um desinteresse pelo estudo que eu julgava normal, na lógica das coisas, expostos a uma enorme confusão e incerteza, e quem sabe também ao risco de desvios mais graves, mas sempre corrigíveis. De tal forma que o objetivo do educador parecia ser simplesmente o de corrigir o erro deles, recolocá-los nos eixo, tendo como ponto de referência um modelo dado por óbvio. Como se o problema fosse encontrar instrumentos, estratégias e novos métodos para envolvê-los, interessá-los, convencê-los.
Doze anos depois, me dei conta, de repente, de que, pelo contrário, esta geração de nossos filhos e alunos vem de um mundo, vive imerso numa cultura na qual nenhum modelo se mantém de pé, nada pode mais ser dado por óbvio, roubados exatamente daquele sentimento certo da realidade do qual tinham, principalmente, direito. Vivem dentro de um imaginário que os faz sentir horrivelmente banal, mortalmente tedioso o ordinário, a vida cotidiana deles, que parece não ter mais espaço para nenhum impulso, para nenhuma comoção, para nenhum maravilhamento.
Foi como me encontrar diante de tantos Zaqueus, de tantas Madalenas: você sente vontade de tentar corrigir os erros! Não chega a lugar algum, é um empreendimento impossível. Então, tive que repensar, desde o começo, o meu papel de professor e de educador, reposicionar-me na relação com eles, na relação com o vivido deles, na relação com o mundo no qual vivem. Entendi que, para cada um deles, só pode acontecer Jesus, isto é, só pode acontecer o acontecimento da Sua presença, tão irresistível a ponto de Ele chamar, um a um, de cima de seus sicômoros, de seus poços, dos seus caminhos. Nenhuma estratégia, nenhuma nova metodologia, nenhuma astúcia pedagógica ou didática pode substituir esta suprema responsabilidade: servir à espera do coração deles e acompanhar a liberdade deles no reconhecimento da Sua Presença.
Porque a outra descoberta que esses jovens me obrigaram a fazer é que o coração do homem é invencível, e nenhuma situação, nenhum condicionamento, nem mesmo a educação mais maluca, para dizer como Kafka, pode estirpar a espera da felicidade, do Bem, da Beleza.
Como me escreveu uma ex-aluna minha, neste verão: “Nestes dias, sinto mais do que nunca estar passando pela vida, de forma que é como se eu já estivesse morta, e morrer é a última coisa que eu quero. O ponto é que, agora, estou cansada, cansada de adiar a questão: quero enfrentar o que devo. Não importa se deverei sofrer, porque estou convencida de que a satisfação e a paz que experimentarei quanto tiver encontrado o que estava buscando será grande. Agora, me sinto suficientemente crescida para bater a cabeça contra a realidade, por mais dura que ela possa ser”. E prossegue com uma descrição impiedosa do cinismo culpável de tantos adultos, que se torna, nela e nos seus coetâneos, uma mortal experiência de solidão e de abandono: “Quando falo sobre isso com as pessoas que me estão mais próximas, ninguém me entende, me dizem que não tenho nada do que me lamentar, porque tenho tudo o que me serve para viver. Quanta bobagem! A pior coisa é que me sinto incompreendida, e acabo achando que este problema acontece só comigo, que ele seja o êxito dos meus complexos pessoais. Pela primeira vez, encontrando você, eu me senti normal, e isto me salvou, porque eu estava me convencendo de que era louca. Sei que me falta muito caminho para andar, e ficarei honrada se você quisesse fazer um pedaço dele junto comigo”.
Então, se se leva a sério o seu coração, se se tem a coragem de apostar tudo na liberdade deles, como nos ensinou padre Giussani, pode acontecer que uma mocinha de 15 anos, encontrada entre os bancos da escola e convidada a umas férias de GS, possa dizer “eu nunca acreditei, nunca estive numa igreja, a minha família é ateia, ninguém nunca me falou dessas coisas, porém nestas férias me parece ter visto Algo que nunca havia visto. Eu, agora, devo poder localizar esta Presença nas coisas de cada dia, no estudo, nas amizades, nos meus interesses... e gostaria de poder falar disso, e queria saber se algum de vocês pode me ensinar a falar com Deus, porque eu não O conheço. Ontem, à noite, tentei falar com Ele antes de dormir, mas só consegui dizer-Lhe: ‘oi, Deus!’”. Quem poderá ensinar a esta mocinha, e a esta geração, a falar com Deus? Apenas adultos que saibam dar testemunho de sua fé, do Bem que suas vidas alcançaram, da paixão pelo real que este encontro introduziu em suas vidas. Como disse, mais de uma vez, o Santo Padre: a educação é uma questão de testemunho.
E quando este testemunho é colocado em ato, pode acontecer de vermos reunidos, como aconteceu no domingo passado, dia 07 de março, no Teatro Dal Verme, em Milão, mais de mil estudantes do ensino médio, dialogando sobre as exigências da vida, sobre a natureza da experiência, sobre a racionalidade da fé. Foi, de fato, impressionante: os jovens de Juventude Estudantil de Milão quiseram propor este gesto para dizer aos seus companheiros e amigos de todas as escolas de Milão: “Cristo está presente. Para além de toda polêmica sobre crucifixos, para além de toda a confusão e de todas as polêmicas, Cristo está presente e nós fazemos experiência disso”.
Que os jovens recomecem, com alguns adultos, a se mover assim me parece um grande sinal de uma estrada começada, de uma educação possível.

* Extraído da página italiana de Comunhão e Libertação, e traduzido por Paulo R. A. Pacheco sem revisão do autor.

domingo, 16 de maio de 2010

Regina Coeli - 16 de maio de 2010

Jornada Mundial das Comunicações Sociais
Bento XVI
Regina Coeli

Praça São Pedro
Solenidade da Ascensão do Senhor
Domingo, 16 de maio de 2010

Caros irmãos e irmãs,
Hoje, na Itália e em outros países, se celebra a Ascensão de Jesus ao Céu, que acontece 40 dias depois da Páscoa. Neste domingo acontece também a Jornada Mundial das Comunicações Sociais, sobre o tema: “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: as novas mídias a serviço da Palavra”. Na liturgia se narra o episódio da última separação do Senhor Jesus de seus discípulos (cf. Lc 24, 50-51; At 1, 2.9); mas não se trata de um abandono, porque Ele permanece sempre com eles – conosco – de uma maneira nova. São Bernardo de Claraval explica que a ascensão ao céu de Jesus se realiza em três graus: “o primeiro é a glória da ressurreição, o segundo o poder de julgar e o terceiro sentar-se à direita do Pai” (Sermo de Ascensione Domini, 60, 2: Sancti Bernardi Opera, t. VI, 1, 291, 20-21). Tal evento é precedido da bênção aos discípulos, que lhes prepara a receber o dom do Espírito Santo, para que a salvação seja proclamada em todos os lugares. Jesus mesmo disse a eles: “Disto vós sois testemunhas. E eis que eu envio sobre vós aquele que o meu Pai prometeu” (cf. Lc 24, 47-49).
O Senhor atrai o olhar dos Apóstolos – o nosso olhar – para o Céu, para indicar a eles como percorrer o caminho do bem durante a vida terrena. Ele, porém, permanece na trama da história humana, está próximo a cada um de nós e guia o nosso caminho cristão: é companheiro dos perseguidos por causa da fé, está no coração de quanto são marginalizados, está presente naqueles a quem é negado o direito à vida. Podemos escutar, ver e tocar o Senhor Jesus na Igreja, especialmente mediante a palavra e os sacramentos. Neste propósito, exorto os jovens que, neste tempo pascal, recebem o sacramento da Crisma, a permanecerem fiéis à Palavra de Deus e à doutrina aprendida, como também a se aproximarem assiduamente da Confissão e da Eucaristia, conscientes de terem sido escolhidos e constituídos para testemunharem a Verdade. Renovo o meu particular convite aos irmãos no Sacerdócio, para que “na suas vidas e ações se distingam por um forte testemunho evangélico” (Carta de convocação do Ano Sacerdotal) e saibam utilizar com sabedoria também os meios de comunicação, para fazer conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo (cf. Mensagem 44ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 2010).
Caros irmãos e irmãs, o Senhor, abrindo-nos o caminho do Céu, nos faz saborear já nesta terra a vida divina. Um autor russo do século passado, no seu testamento espiritual, escrevia: “Observai mais frequentemente as estrelas ou o azul do céu. Quando vos sentirdes tristes, quando vos ofenderem, ... entretende-vos... com o céu. Então, a vossa alma encontrará a quietude” (N. Valentini e L. Zák [org.s]. Pavel A. Florenski. Non dimenticatemi. Le lettere dal gulag del grande matemático, filosofo e sacerdote russo. Milano, 2000, p. 418). Agradeço à Virgem Maria que, nos dias passados, pude venerar no Santuário de Fátima, pela sua materna proteção durante a intensa peregrinação realizada em Portugal. Àquela que vela pelas testemunhas de seu dileto Filho volvamos, com fidelidade, a nossa oração.

V.: Regina coeli, laetare! Alleluia!
R.: Quia quem meruisti portare! Alleluia!
V.: Resurrexit, sicut dixit! Alleluia!
R.: Ora pro nobis Deum! Alleluia!

V.: Gaude et laetare, Virgo Maria! Alleluia!
R.: Quia surrexit Dominus vere! Alleluia!

V.: Oremus: Deus, qui per resurrectionem Filii tui, Domini nostri Iesu Christi, mundum laetificare dignatus es: praesta, quaesumus; ut per eius Genetricem Virginem Mariam, perpetuae capiamus gaudia vitae. Per eundem Christum Dominum nostrum.
R.: Amen!

Caros irmãos e irmãs,
Hoje, a minha primeira saudação é dirigida aos fiéis leigos vindos de toda a Itália – vemos presente a Itália inteira – e ao Cardeal Angelo Bagnasco que os acompanha como Presidente da Conferência Episcopal Italiana. Agradeço-vos de coração, caros irmãos e irmãs, pela vossa calorosa e forte presença! Obrigado! Aceitando o convite da Consulta Nazionale delle Aggregazioni Laicali, aderistes com entusiasmo a esta bela e espontânea manifestação de fé e de solidariedade, da qual participa também um consistente grupo de parlamentares e administradores locais. A todos gostaria de expressar o meu reconhecimento. Saúdo também os milhares de imigrantes, que nos assistem agora na Praça São João, com o Cardeal Vigário Agostino Vallini, por ocasião da “Festa dos Povos”. Caros amigos, vós hoje mostrais o grande afeto e a profunda proximidade da Igreja e do povo italiano ao Papa e aos vossos sacerdotes, que cotidianamente cuidam de vós, para que, no empenho de renovação espiritual e moral, possamos servir sempre melhor à Igreja, o Povo de Deus e todos que se voltam a nós com confiança. O verdadeiro inimigo a temer e combater é o pecado, o mal espiritual, que às vezes, infelizmente, contagia também os membros da Igreja. Vivemos no mundo, mas não somos do mundo (cf. Jo 17, 14). Nós cristãos não temos medo do mundo, mesmo que tenhamos que nos guardar das suas seduções. Devemos, pelo contrário, temer o pecado e, por isso, ser fortemente radicados em Deus, solidários no bem, no amor, no serviço. É o que a Igreja, os seus ministros, juntamente com os fiéis, fizeram e continuam a fazer com férvido empenho para o bem espiritual e material das pessoas em todas as partes do mundo. É o que especialmente vós buscais fazer habitualmente nas paróquias, nas associações e nos movimentos: servir a Deus e ao homen no nome de Cristo. Prossigamos juntos, com fidelidade, este caminho, e as provas, que o Senhor permite, nos impulsionem a uma maior radicalidade e coerência. É bonito ver, hoje, esta multidão na Praça São Pedro, como foi também emocionante, para mim, ver, em Fátima, a imensa multidão que, na escola de Maria, rezou pela conversão dos corações. Renovo, hoje, este apelo, confortado pela vossa presença tão numerosa! Obrigado! Uma vez mais, obrigado a vós todos!

* Traduzido por Paulo R. A. Pacheco