Mostrando postagens com marcador companhia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador companhia. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A atualidade de Padre Giussani


Por Giorgio Chiosso

Às crescentes dúvidas de que o chamado “pensamento débil” seja capaz de suportar os desafios das mudanças que estão em curso, opõem-se, cada vez mais numerosos, aqueles que pensam que contra os processos descontrutivos, frutos da racionalidade niilista, seja necessário opor o chamado de atenção à virtude e ao bem-comum, resultado do exercício racional capaz de comparar-se com a realidade.
O campo da educação pode ser assumido como caso paradigmático da urgência de uma mudança de rumo. Muitos jovens crescem no liberalismo e quase na anarquia moral, muitos mestres ruins vivem encerrados no narcisismo cotidiano, muitas palavras desapareceram – ou quase – do vocabulário educativo cotidiano, como é o caso de empenho, rigor, exemplo, mestre, interioridade, bem, autoridade. E, pelo contrário, pais, professores, educadores pedem ajuda e multiplicam os esforços para responder à necessidade educativa cada vez mais difundida e premente.
A releitura do Educar é um risco e das muitas páginas ricas de profundidade pedagógica que se encontram nas obras de Luigi Giussani fornecem importantes contribuições, úteis para repropor algumas reflexões significativas acerca da cultura educativa cristã do século passado, na esteira de Maritain e Guardini, de Ricoeur e Ratzinger.
O fundamento da proposta pedagógica giussaniana está na concepção “plena” da educação: um evento que envolve a pessoa na sua globalidade feita de inteligência, afetividade, comunhão com os outros, abertura ao transcendente e uma experiência realizada entre pessoas vivas e não apenas confiadas a “especialistas” (formadores, instrutores, operadores, terapeutas etc.) que, sempre mais, se preocupam com o outro como uma pessoa a ser “plasmada” ou a ser “cuidada” e não que deva crescer na sua liberdade. Contra todo reducionismo antropológico, Giussani adverte que o homem não é um simples produto da natureza ou da sociedade.
Para que a educação seja “plena” é preciso que ela seja livre. A introdução à “realidade total” (como Giussani define a educação) se realiza, de fato, através do mostrar-se apto, com o inevitável “risco” aí implicado, porque a aptidão do humano envolve e, às vezes, perturba todas as nossas fibras. Mas é somente através deste mostrar-se em toda a sua aptidão que se conquista a dignidade de pessoas livres e capazes de querer.
Contra a absurda ideia da liberdade que encontra a si mesma na ruptura de todo vínculo, no vazio das infinitas possibilidades do Nada, Giussani nos fala, ao invés, de uma liberdade que, para crescer, precisa de “alguém” e de “algo”, ou seja, de um testemunho pessoal e de uma história para ser vivida. A educação se realiza quando se manifesta “o desejo de reviver a experiência da pessoa que se encarregou de você”, não para se tornar como “aquela pessoa na sua concretude cheia de limites”, mas “como aquela pessoa por aquilo que amou em você”. Dito de outra forma, e sempre com as palavras de Giussani, “educar é propor uma resposta”.
Ninguém se “faz por si mesmo”. Hoje, somos pobres de educação, porque são escassos os adultos capazes de testemunhar e de amar, de acompanhar e sustentar, adultos credíveis que não digam “faça assim”, mas “faça comigo”, adultos dispostos a empreender o caminho com filhos e alunos, com paciência e esperança, duas palavras “pedagógicas” por excelência. A vida tem as suas lentidões e o homem liberta-se, lentamente, dos seus impulsos e da sua natural espontaneidade. Sem a esperança, cede-se ao absurdo: tudo se destrói porque nada pode ser alcançado.
Para quem pensa melhorar as escolas aumentando os testes e para quem se ilude de vencer a solidão dos jovens com “balcões de psicologia”, Giussani responde que a educação é algo de muito mais profundo: é o encontro entre pessoas verdadeiras que amam, aspiram ao belo, sofrem e se alegram, estão abertas ao Mistério. Nisto está a atualidade do seu ensinamento: a educação como experiência viva, não uma técnica.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 22 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mc 3,20-21
Naquele tempo, Jesus voltou para casa com os discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si.

Comentário feito por São Tomás de Aquino (1225-1274)
teólogo dominicano, Doutor da Igreja 

O Filho único de Deus, querendo fazer-nos participar da Sua divindade, tomou a nossa natureza a fim de divinizar os homens, Ele que Se fez homem. Por outro lado, o que tomou de nós, no-lo deu inteiramente para a nossa salvação. Com efeito, sobre o altar da cruz, ofereceu o Seu corpo em sacrifício a Deus Pai a fim de nos reconciliar com Ele, e derramou o Seu sangue para ser, ao mesmo tempo, nosso resgate e nosso batismo: resgatados de uma lamentável escravidão, seríamos assim purificados de todos os nossos pecados. E para que guardemos sempre a memória de um tão grande benefício, deixou aos fiéis o Seu corpo a comer e o Seu sangue a beber, sob o aspecto externo de pão e de vinho. [...] Haverá coisa mais preciosa do que este banquete, onde já não nos propõem, como na antiga Lei, que comamos a carne dos veados e dos cabritos, mas o Cristo que é verdadeiramente Deus? Haverá coisa mais admirável que este sacramento? [...] Ninguém é capaz de exprimir as delícias deste sacramento, dado que nele se prova a doçura espiritual na sua fonte; e nele se celebra a memória deste amor inultrapassável que Cristo mostrou na Sua Paixão. Ele queria que a imensidão deste amor se gravasse mais profundamente no coração dos fiéis. Foi por isso que na última Ceia, depois de ter celebrado a Páscoa com os Seus discípulos, quando ia passar deste mundo para o Pai, instituiu este sacramento como memorial perpétuo da Sua Paixão, cumprimento das antigas prefigurações, o maior de todos os Seus milagres; e àqueles a quem a Sua ausência enchia de tristeza, deixou este sacramento como conforto incomparável. 

terça-feira, 29 de junho de 2010

Os cento e dez anos do nascimento do pequeno príncipe

Por Laura Cioni

Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lion, no dia 24 de junho de 1900. A vida deste homem sensível e aventureiro é rica de ações: começa com uma juventude solitária; aos 12 anos voa pela primeira vez e, desde então, a sua paixão será o voo. Primeiro, torna-se piloto em uma companhia comercial que fazia o trajeto Toulouse-Dakar; depois, em 1930, vai para Buenos Aires, onde se torna diretor do correio aéreo entre Argentina e França e, ali, encontra a mulher de sua vida. O casamento foi tempestuoso, mas também a companhia na qual Saint-Exupéry trabalhava se encontrava em águas agitadas; muito rapidamente, passou para as mãos da Air France.
O piloto, então, passou a se dedicar ao jornalismo e à escrita; tentou transferir-se para a rota Paris-Saigon, mas a empresa se transformou num desastre no deserto da Líbia. A paixão pelo voo o induziu a se alistar na aeronáutica francesa durante a Segunda Guerra Mundial. A morte o surpreendeu em 1944, enquanto sobrevoava o mar Mediterrâneo, em um acidente que nunca foi esclarecido por completo. “Transporte de cartas, transporte da voz humana, transporte de imagens tremidas – neste século, como em outros, os nossos maiores progressos sempre tiveram o único objetivo de colocar os homens em contato”: assim o piloto descrevia o significado do seu trabalho e não é difícil encontrar nessa paixão pelo vínculo entre os seres humanos a resposta para a sua solidão de criança.
De resto, o seu pequeno príncipe representa a nostalgia da infância, mas também personifica a solidão na qual frequentemente as crianças são deixadas em um mundo que não considera a sua necessidade profunda de relações significativas, que não sejam aquelas dependentes do ter e do fazer ter. Deste ponto de vista, a criatura de Saint-Exupéry não demonstra os seus anos (o livro é publicado em 1943, em inglês) e mantém o frescor e a melancolia, que foram os fatores do seu sucesso em todo o mundo. É a fábula suave de um encontro no deserto entre um aviador e uma misteriosa criança caída do céu.
Os dois falam de coisas aparentemente sem importância, mas depois se tornam amigos; e o pequeno príncipe, de forma cândida, revela ao homem maduro o seu segredo de amor por uma rosa e a beleza dos pores do sol e da cor do trigo. Assim, se separam; mas permanecerá sempre, para o aviador, o encanto daquela pequena figura vinda das estrelas, que tem a doçura das crianças, mas também a severa dignidade dos cavaleiros antigos. Se há algo que ainda pode fascinar neste conto de fadas não é a acusação lançada contra o mundo adulto de não compreender as crianças e nem mesmo a ternura francesa dos diálogos.
É muito mais a vastidão do deserto, o lugar mais parecido com o céu, no qual tudo ocorre e que explica em parte a profundidade do que acontece; é também a advertência sobre a grande solidão do homem no cosmo e sua necessidade de uma companhia adequada a si e à sua exigência de sentido e de amor. Por isso, todos somos um pouco afeiçoados pelo pequeno príncipe e pelo afortunado aviador que o encontrou, por ambos que foram embora da terra de forma misteriosa.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 29 de junho de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Em Roma, em comunhão com Pedro


Entrevista com Angelo Scola *

14 de maio de 2010

No próximo dia 16 de maio, no dia da Ascensão, todos os movimentos eclesiais têm um encontro marcado, na Praça São Pedro, em Roma, na hora do Regina Coeli, para rezar com o Papa e pelo Papa. IlSussidiario.net pediu ao Patriarca de Veneza, Cardeal Angelo Scola, para explicar o sentido particular de um gesto como esse.
“Se uma pessoa é cristã – disse o cardeal Scola – é uma testemunha: o espírito do Ressuscitado está com ele e transparece do seu ser, do seu agir em benefício de todos os nossos irmãos homens. Esse é o caminho decisivo para tornar Cristo contemporâneo. E apenas se Ele me for contemporâneo, me poderá salvar. O Papa tem como tarefa precípua e singular, na medida em que é sucessor de Pedro, aquilo que Jesus lhe confiou: confirmar todos os seus irmãos nesta postura de testemunho”.

Eminência, como o senhor lê o gesto que, no próximo domingo, o laicato católico vai realizar indo ao encontro do Papa Bento XVI, por ocasião da oração do Regina Coeli?
Por aquilo que ele é: um momento comum de oração e de fraternidade cristã, que assume um valor ainda mais especial, porque o Regina Coeli será guiado pelo Santo Padre.

Muitos jornais falam de um gesto de grande solidariedade pelo Papa da parte dos fiéis. São os fiéis que podem sustentar o Papa ou, talvez, são eles próprios a receberem o sustento do Pontífice?
Na vida da Igreja a palavra mais eficaz para exprimir o valor da oração é a palavra comunhão. A comunhão ou é visivelmente manifesta ou, se permanece pura intenção, se torna facilmente vã. De fato, a comunhão vive apenas na harmonia orgânica da Igreja. A Igreja, depois, é uma companhia guiada ao destino e, como toda companhia, exige o envolvimento pessoal e a docilidade a quem a guia. Na Itália, domingo, festejaremos a Ascensão, isto é o dom do Espírito de Jesus Ressuscitado. Ele é o guia da Igreja que passa, de modo irrenunciável, através da tarefa do sucessor de Pedro. Domingo, será uma festa de comunhão.

Qual é o valor do Papa na Igreja, e como torna contemporânea a figura de Cristo na história?
Para tornar contemporânea a figura de Cristo na história, devemos seguir o método da vida cristã que Ele nos indicou de uma vez por todas: “Quando dois ou três de vós estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. E estará conosco até o fim do mundo. O dom da fé e do batismo se expressa no encontro pessoal com Cristo e na permanência nesse encontro. Somos cristãos na medida em que nos deixamos envolver por Jesus no cotidiano. Assim como o homem não conhece uma realidade se não a comunica, o cristão, para compreender a comunhão com Jesus, deve comunicá-la. Se uma pessoa é cristã, é uma testemunha: o espírito do Ressuscitado está com ele e transparece do seu ser, do seu agir em benefício de todos os nossos irmãos homens. Esse é o caminho decisivo para tornar Cristo contemporâneo. E apenas se Ele me for contemporâneo, me poderá salvar. O Papa tem como tarefa precípua e singular, na medida em que é sucessor de Pedro, aquilo que Jesus lhe confiou: confirmar todos os seus irmãos nesta postura de testemunho

O Pontífice, na recente homilia feita em Lisboa, disse: “Buscai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, recebei-O na comunhão” e, mais adiante, “testemunhai a todos a alegria por esta presença forte e suave, a começar dos vossos coetâneos. Dizei a eles que é belo ser amigo de Jesus e vale a pena segui-Lo”. Como é possível viver realmente esta amizade com Jesus?
Ainda uma vez, vivendo com humildade decidida a experiência que Ele propôs aos Seus: a grande condição é uma comunhão vivida através de uma pertença forte às comunidades cristãs bem visíveis e documentáveis. Poder-se-á, assim, repetir o convite que Ele fez aos dois discípulos, na beira do Jordão: “Vinde e vede”. O homem pós-moderno, que tem sede de felicidade e de liberdade, mesmo quando se pensa pós-cristão, na realidade pede comunidade de vida boa e de práticas virtuosas. Em cada caso, um pedido semelhante está no coração de cada cristão autêntico, exatamente porque entendeu que a fé exalta a beleza, a bondade e a verdade do humano.

O que tocou mais o senhor da recente viagem de Bento XVI a Portugal?
O convite à penitência entendida no seu verdadeiro significado: invocar o dom de saber ir até o fundo de nós mesmos, ou seja, até o coração do humano. A consignação a Maria que o Papa realizou em Fátima é a via mestra para aprender esta súplica.

* Publicado no site IlSussidario.net no dia 14 de maio de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

No domingo, eu estava presente


Carta enviada ao Jornal Avvenire*

Eu também estava na Praça São Pedro, com a minha família e os amigos de CL de Rímini. Há muitas leituras possíveis do gesto de domingo, 16 de maio de 2010: desde a política – “prova de força dos católicos italianos” – até a psicológico-sentimental – “sermos em tantos dá coragem”.
Penso que o modo justo de compreender o que aconteceu é partir do que seja a Igreja: um povo que busca o seu destino de salvação guiado por um pastor, colocado no posto incômodo do Fundador. Então, quando os tempos se fazem difíceis, nos aproximamos do pastor, ou do pai – se soa melhor – mas, de qualquer maneira, nos aproximamos de uma pessoa; não para buscar consolação, mas porque, objetivamente, é aquela pessoa que garante que não estamos perdendo tempo, que não arriscamos nossa vida atrás de fantasmas.
E as duzentas mil pessoas que estavam na Praça São Pedro fizeram isso: para além das sensibilidades pessoais diversas, dos estilos diferentes, reconfirmaram a confiança, o abandono – eu diria – à promessa de vida eterna e feliz garantida por Aquele de quem aquele velho vestido de branco é o vigário e a testemunha. Foi perceptível especialmente nos dez minutos de espera entre a abertura da janela e o aparecimento daquela minúscula forma branca, quando, ansiosamente, se esperava poder tocar, pelo menos com o olhar, aquele a quem podemos seguir, quando todo o resto vacila. E junto com isso havia também o encorajamento – talvez teologicamente incorreto, mas muito humano – me parece: força, não hesite, estamos com você, rezamos por você, guie-nos sem desistir.
E o Papa acolheu esse encorajamento. A sua comoção era muito evidente – mesmo para nós que escutávamos apenas a sua voz – em certos estremecimentos, em certas ênfases: ouviu-se muito bem que ele estava emocionado e contente. E agora, então? Continuamos, nós e ele, reforçados na certeza de que fazemos parte – cada um no modo em que foi chamado – de uma história imensa, bela e difícil de viver.

* Escrito por Keass, sócio de SamizdatOnLine, publicado no dia 19 de maio de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Fazer o Cristianismo 04

"Jenny - Comovi-me quando você leu este trecho de carta [refere-se à carta transcrita no post anterior; ndt], porque me aconteceu algo parecido este ano. No primeiro dia, entrei em sala e um jovem saiu batendo a porta, e eu não entendia porquê. Desceu e estava quase para bater na diretora. É um jovem cheio de problemas, e se tornou o caso mais difícil da escola, tem um monte de advertências e suspensões... Porém, o que aconteceu? É que, no primeiro dia, eu o persegui e descobri que tinha 'irrompido' porque eu o havia separado - dado que conversava - de um seu companheiro de banco, que é um grande amigo seu, e isto o fez reagir. Então, no dia seguinte, eu o parei e começamos a conversar. Ele me contou a sua história: pais separados, vive em um bairro degradado. Porém, o que aconteceu? Depois daquele meu gesto, eu o convidei, e ele veio à sede conosco algumas vezes. Sobretudo, fiquei tocada porque ele veio ao Dia de Início de Ano: ficou escutando todo o tempo e, no final, me procurou para dizer: 'Professora, obrigado pelas coisas bonitas que escutei hoje'. E, ali, eu pensei: esse jovem é considerado por todos como o tipo mais malvado da escola, mas tem um coração! No entanto, continuou levando suspensões - nós o afastamos por quinze dias porque bate as portas, responde mal aos professores... Alguns dias atrás, o vice-diretor me parou para me dizer: 'Olha só, nós o suspendemos uma outra vez por uma semana. Por mim ele deve ser expulso'. E eu lhe disse: 'Verdade, já fez o bastante... chega!'. Uma colega me escutou, me parou e disse: 'Desculpe, mas eu sei que você tem um bom relacionamento com ele'. Esta coisa me surpreendeu, e disso nasceu uma ferida terrível em mim. Porque quando o vice-diretor veio eu reagi assim pensando que havia cumprido meu dever, de tal forma que o ponto então era expulsá-lo. Aquilo que a minha colega me disse, porém - fora o fato que me deixou com muita dor, porque eu entendi que estava fechando a questão -, me fez lembrar que eu não estou fazendo memória do fato de que comigo Alguém nunca encerrou a questão. Alguém me amou gratuitamente, não obstante os meus erros. Como é fácil esquecer-me disso! Portanto, agradeço a você, porque entendo que o ponto é que não posso medir, enquanto que eu acabei medindo naquele dia.

Carrón - Mas, às vezes, você pode chegar a ter que expulsar! Eu tive que expulsar uma pessoa, quando era diretor. Todos os professores estavam ali, todos, com os refletores apontados, dizendo: 'Veremos se ele vai ter a coragem para mandá-lo embora'. E eu o mandei embora! Mas o espetáculo foi que aquele jovem foi para uma outra escola, mas no intervalo vinha ficar conosco! Nós geramos um vínculo que nos consente de fazer isso! Sem romper o relacionamento. Eu não podia fazê-lo, porque de outra maneira não seria mais capaz de guiar a escola, objetivamente falando. Mas, o problema não é que você deve fazer isso, mas que vínculo se estabeleceu. Se o vínculo que se estabeleceu é mais forte do que o fato de expulsá-lo, nada o interrompe. Depois, no ano seguinte, eu o aceitei de novo na escola. E ele, a quem ninguém dava um centavo, terminou a universidade, tem um diploma e, agora, é professor. Eis a questão: é este tipo de vínculo que nos permite não economizar a liberdade de ninguém. De outra forma ficaríamos agarrados nesses acontecimentos que acontecem quando temos que guiar, por exemplo, uma escola."
(CARRÓN, Julián. Fare il cristianesimo. Tracce. 2010, p. 5)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Fazer o Cristianismo 02

"E este jovem, que entrou na 'máquina' [refere-se à ideia de atalho para facilitar a entrada dos jovens no mecanismo, que é o oposto a mistério; confira o post abaixo; ndt], dura quanto tempo? É essa a pergunta que eu fiz a vocês, no início, porque ou este jovem é criado segundo um desígnio que não é o nosso e ao qual devemos nos dobrar, ou então ficaremos sempre no medo. Porque, no fundo, nós temos medo de que o jovem faça mal a si mesmo. E assim estamos no centro da questão. Vocês podem girar ao redor o quanto quiserem, mas o problema de vocês é que têm medo, porque o Mistério correu o risco de deixar as pessoas livres (é o aspecto antropológico do problema do Inferno). E isto nos escandaliza e, por isso, temos medo. Mas o Mistério não tem esse medo! Somos nós que não somos capazes de estar diante do drama da liberdade. O que não quer dizer que nos desinteressemos pelo outro; ninguém assuma isto como justificativa para a preguiça. Pelo contrário, é preciso fazer tudo o que for possível, desafiar o outro de todas as maneiras. Mas, o outro permanece livre, queira ou não queira, porque não fui eu quem o fez.
A questão é se nós somos capazes de transmitir o olhar de Cristo: então seremos capazes de desafiar os outros até o fundo, e eles cederão diante de uma presença. E isto não depende apenas dos gestos que fazemos, mas da diversidade com a qual os fazemos! É verdadeiro gesto aquilo que torna Cristo presente hoje. Às vezes, achamos que estamos fazendo tudo muito bem; mas vocês estão seguros de que são o rosto do Mistério para aqueles que encontram? E é, depois, culpa do jovem que não entende? Mas, estamos loucos! E nós, não devemos mudar nada? Não devemos fazer pessoalmente um caminho para que, depois, se transmita esta diversidade? Não, nós já fizemos tudo muito justo, fizemos todos os gestos adequados, e reconhecê-Lo é um problema dos outros! Calma, amigos. Isto cabe dizê-lo a quem nos encontra. É o jovem que encontramos que deve dizê-lo, não nós. Estamos seguros de que algo aconteceu apenas - apenas! - quando o outro responde, de outra forma poderia ser uma imaginação nossa. A adesão do outro é um aspecto da verificação que estamos fazendo do caminho de relacionamento com o Senhor. Porque quer dizer que foi despertada toda a sua liberdade e toda a sua afeição para aderir. E apenas então, apenas naquele momento posso estar, de fato, certo. Mas que outro modo temos para sabê-lo se não este?
O Mistério colocou nas mãos de cada pessoa que encontramos o critério de juízo - por isso, correu o 'risco' de criá-la livre - , e por isso a questão do coração sempre estará presente. E vocês o veem muito mais que qualquer um no jovem. Ele tem o critério! Por quê? Porque é ele que deve decidir diante desta correspondência que descobre. Isto não é uma questão particular - da página 325, nota 48 de um livro qualquer -, mas pertence ao núcleo da impostação de Giussani, ao PerCurso, de O Senso Religioso ao Por que a Igreja: começa falando da experiência, do coração como critério de juízo, o retoma quando explica como alguém pode estar diante da concepção que Jesus tem da vida, e termina dizendo que toda a proposta da Igreja se submete ao juízo da pessoa. Sim ou não? Giussani é, de fato, consciente de que este é um diálogo misterioso entre duas liberdades. Ou entendemos isto ou ficaremos procurando atalhos, que não servem. Porque é inútil... você pode fazê-lo participar das iniciativas, mas o seu coração não é tomado. É o que diz Giussani falando do encontro de João e André (...). O problema é este: não que participe, mas se sinta agarrado. Depois, pode sobrevir que isto aconteça de modo 'intermitente'. É um problema de tempo quando este ser agarrado floresce: a pessoa pode ter visto acontecer e não estar de acordo ou recusá-lo por anos, até quando um acontecimento o faz entender todo o alcance daquilo que sobreveio. E não sabemos quando aquela semente produzirá fruto."
(CARRÓN, Julián. Fare il cristianesimo. Tracce. 2010, pp. 2-3)

quinta-feira, 4 de março de 2010

O rosto que nos ajuda a entrar neste mistério

Depois do violento terremoto que balançou o país sulamericano, os amigos do movimento de CL escreveram uma mensagem

Caros amigos,
diante do terremoto que balançou nosso País, se torna ainda mais evidente que a vida é um mistério e não nos pertence. Ante a beleza da natureza chilena, surge sempre uma pergunta: "quem é o autor?". Da mesma forma, diante da grandeza deste terremoto, nos sentimos pequenos, impotentes e frágeis.
Todavia, desta experiência nasce uma outra pergunta: "o que Tu nos pedes, Senhor, através desta circunstância?".
Também recentemente, na nossa companhia e em muitos testemunhos, vimos o rosto transfigurado de Cristo que se torna reconhecível, e esta experiência nos ajuda a entrar no mistério da Cruz. Sem Cristo, a beleza teria como êxito uma triste melancolia, e o drama se tornaria uma tragédia, como nos lembrou Carrón em ocasião do terremoto do Haiti.
Por isto, somos convidados a rezar por todos aqueles que sofrem as consequências deste drama, e temos também o dever de fazer com que a caridade que recebemos transborde em uma partilha concreta das necessidades do povo chileno.

Comunhão e Libertação
Chile

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 136

Asunción, 22 de fevereiro de 2010.

“Padre Aldo, o senhor crê nisto?” é a pergunta de Jesus a Marta diante do cadáver do irmão, e que Ele lança, em cada instante, à minha liberdade. E é maravilhoso viver respondendo à realidade: “sim, Senhor, eu creio”. Responder sempre e sempre com mais intensidade porque o Amor exige sempre mais Amor. Assim, hoje, disse “sim, creio”, olhando um de meus filhos morrer de câncer. Chamava-se Rômulo e tinha 19 anos. Ontem à noite, perguntei-lhe se queria se confessar. Fez uma confissão belíssima, respirando com dificuldade. O seu grito de perdão, o seu amor intenso por Jesus podia ser lido no esplendor do seu rosto. Logo depois, perto das 20h, quis receber a comunhão. Nesta manhã, quando cheguei com o Santíssimo para dar-lhe a comunhão, Jesus, naquele momento preciso, o tomou consigo. Eu estava para dizer “o Corpo de Cristo” e, de repente, a sua cabeça tombou como a de Jesus. Que morte santíssima! Que bela esta morte, como aquela de todos aqueles que morrem em nossa companhia. A dor é grande, mas maior é “sim, Jesus, eu creio”.
Como, em outro dia, quando me chamaram à casa para os mendigos São Joaquim, porque havia chegado um outro pobre Cristo. Parecia o servo de Iahweh de que fala Isaías: “Não tem nem forma nem beleza”. Toda a sujeira que revestia um esqueleto humano. Estavam limpando seu corpo como se fosse Jesus, e ele, do chuveiro (onde estava sentando em uma cadeira) perguntou quem era o padre, colocou juntas as mãos e me pediu a bênção. Mendigo, doente, havia pedido, na noite anterior, a um padre, que o deixasse dormir na calçada casa paroquial. E passou, então, a noite ali. De frente dessa casa paroquial estão as irmãs franciscanas, a quem pedia ajuda no alvorecer. E elas lhe diziam que tinham uma outra tarefa pastoral... de forma que lhe deram um pouco de comida e chamaram um táxi, dizendo: “Leve-o ao Padre Aldo”. E, assim, chegou... obviamente transtornando sempre a nossa comodidade, a organização, os esquemas... Mas, os meus amigos, os enfermeiros, que respiram sempre mais com as categorias que caracterizam a minha vida – as do imprevisto e da providência – o acolheram logo. Sim, porque sabem que, quando chega um pobre, a primeira coisa a fazer não é pedir ao chefe, ao responsável, mas é dizer “Tu, ó Cristo, entra. Tu, ó Cristo, toma, come e veste. Tu, ó Cristo, cheio de vermes (como Carlos que chegou, sem avisar, há alguns dias), vem que eu os tiro, um a um” etc.
Amigos, que depressão, câncer, miséria, fome... a grande aventura que vivemos entre amigos é apenas esta: “Sim, Senhor, eu creio que Tu sejas a resposta à minha humanidade”. E não é por que a doença deixa de existir e os problemas deixam de ser problemas... tudo é doloros, tudo pretende uma resposta... mas é tudo uma outra coisa dentro deste “Tu, ó meu Cristo”.
Eu senti necessidade de comunicar a vocês esta beleza, agora, tão logo celebrei os funerais do meu Rômulo, que ainda está ali, no leito, com seu belo rosto branco, cabelos pretos e olhos semi-cerrados, sinal estupendo da glória de Cristo, em quem já vive e vive definitivamente. Ele, finalmente, passou da fé e da esperança ao Amor: olhar eternamente o esplendor do rosto de Deus.
Rezem por mim e por meus doentes.
Padre Aldo

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 135



Asunción, 12 de fevereiro de 2010.

Caros amigos,
Não são os especialistas mas a certeza de alguém cujo “eu” é definido por “eu sou Tu que me fazes” o que permite a dois irmãozinhos, vítimas das piores violências que só uma mente doentia pode cometer, reencontrar a alegria de viver.
Olhem as duas cartinhas que me deram, ontem à noite, estes dois dos meus filhinhos. A menina é aquela que tinha desenhado o monstro e me tinha escrito: “Papai Aldo, proteja-me, não me deixe sozinha”. Hoje, seus rostos são como a primavera.
Amigos, não tenho nenhum especialista: somente a certeza de que “eu e eles somos um Tu que nos fazes”.
Hoje, batizamos um mendigo sem nome. Eu o chamei Aldo Trento. Está muito doente este meu pobre Jesus e não sei quanto tempo viverá... porém, parece muito comigo, porque também eu sou um mendigo, um pobre mendicante do Mistério.
Ainda hoje, me trouxeram uma criança de 10 anos, pesando mais ou menos 10kg, todo disforme, com apenas um pulmão, cego e mudo. Ninguém o queria, e nós temos todos os quartos ocupados. Eu o olhei, vi o rosto de Jesus e disse a um dos responsáveis: “tem lugar na capela do Santíssimo Sacramento exposto... coloquemo-lo ali, ao lado”. Agora, ambos se fazem companhia. Disseram-me que ele não pode viver sem oxigênio e sem uma assistência de 24h. “Padre, precisamos de muito dinheiro, porque será preciso contratar 3 enfermeiras e pagar o oxigênio necessário”.
Olhei nos olhos da responsável e lhe disse: “mas, este é Jesus... e você me vem com essa bobagem de dinheiro. Que fiquemos com uma dívida, porque, para Jesus, ou se dá tudo ou não se dá nada”.
Agora, está ali, com Jesus, como eu, quando estou doente. Pensem que bonito é olhar no rosto de Jesus, em cada instante: é uma surpresa contínua, que não nos deixa tranquilos nunca, porque a Ele a pessoa deve responder... e como é bonito dizer-lhe sempre “sim, ó Cristo”.
Confio-me às orações de vocês, para que o meu SIM seja a minha respiração.
Padre Aldo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 134

Asunción, 09 de fevereiro de 2010.

Caros amigos,
Deus nos dá sempre alguém para quem olhar. Às vezes, é um mendigo que pede algo e nós o olhamos vendo nele o rosto de Cristo, ou uma criança abandonada que se afeiçoa e a quem perguntamos o seu nome e sobrenome e ela responde: Gabriel Trento. Às vezes, é o Vice-Presidente da República que estava de férias no Brasil quando o ex-bispo Presidente o chama com urgência porque tem que ir visitar os seus amigos Chávez, Morales e Correa, e obviamente o Vice deve assumir a presidência interina. Assim, Federico, o Vice, parte e, com o carro, guiando ele mesmo, volta para casa ontem, domingo. Já era 21h quando acabava de entrar no território paraguaio e me ligava: “Padre Aldo, amanhã de manhã estarei aí às 5h30 para recitar as Laudes, me espere”. Fiquei comovido: um homem, um político que se preocupa em me avisar que estará aqui às 5h30 para recitar as Laudes. Amigos, vocês entendem? Quem de nós e dos nossos políticos se preocupa em viver um gesto como este das Laudes? Segunda-feira de manhã, às 5h, me levantei para preparar o café da manhã, como toda segunda-feira, para o Presidente em exercício, porque às 5h30, pontualmente, ele chega. Porém, desta vez, às 5h30 chegou o seu secretário e me disse: “Padre, Federico ligou para o senhor ontem à noite, por volta das 22h, para dizer que só conseguiria chegar em casa por volta da 1h da manhã e para perguntar-lhe se seria possível rezar as Laudes às 7h”. Que atenção... que consciência do Mistério! Às 7h ele chegou e eu lhe disse: “Presidente, agora tem a procissão com o Santíssimo na clínica e a adoração”. “Padre, vamos”. E assim, em companhia de Jesus, visitamos enfermo por enfermo... ele comungou de joelhos no chão, escutou o evangelho do dia com o comentário e, depois, tomamos café da manhã juntos. “Padre, não posso começar a semana sem este gesto com vocês, padres, porque como poderia enfrentar as obrigações, as incompreensões cotidianas? Para mim, rezar é reconhecer que não estou sozinho, mas que há um Outro que me faz as coisas”. Normalmente, ele chega sempre às 5h30 da manhã, porque às 6h este Presidente convoca o conselho de ministros, que, sendo um problema, se não olha primeiro no rosto de Jesus, lhe seria impossível suportar o rosto do Presidente e de certos ministros. Temos mesmo muita coisa para aprender.
Ciao.
Padre Aldo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 133

Asunción, 27 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Quantas vezes Giussani nos repetiu que o Movimento é uma amizade, uma companhia guiada ao destino... e assim Carrón define também: “rostos tendidos ao Infinito”. A graça de experimentar todo dia esta verdade está na origem de um Acontecimento que nunca havia ocorrido antes na América Latina: 900 pessoas do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Equador se encontraram para compartilhar juntos um gesto simples como são as férias de verão. A tarefa de descrevê-las vou deixar a outros, porém, cabe a mim o desejo de compartilhar com vocês algumas coisas:
1. Na origem deste fato que derrubou todas as fronteiras do continente foi o levar a sério a amizade, as provocações de Carrón. Deste trabalho desabrochou uma amizade operativa, concreta, apaixonada, entre alguns de nós: Marcos, Cleuza, Julián de la Morena, eu e outros. Quando Carrón, em outubro de 2008, nos disse que precisábamos olhar para algumas pessoas e lugares, Marcos e Cleuza foram os primeiros a pegar o avião e vir até aquí, surpreendendo-me porque eu não me havia dado conta ainda do que estava acontecendo. Desde aquele dia – 17 de novembro de 2008 – o olhar, para mim, cruzou com Marcos e Cleuza (Julián de la Morena já era um velho conhecido e amigo)... também eles definidos por aquele “Tu” que nos faz em cada momento. É isso: tudo partiu de uma dramaticidade que, em cada instante, nos faz vibrar com uma febre de vida que se tornou um imã que nos permite nos vermos a cada 15 dias. Para fazer o quê? Para contarmos uns para os outros como estamos seguindo a Carrón, os passos que estamos fazendo, as dificuldades que encontramos, as perguntas que a Escola de Comunidade suscita em nós. Uma amizade como a dos apóstolos com Jesus. Vocês sabem que comoção é estar juntos “olhando Jesus no rosto”, sem nunca tirar o olhar dEle?! Percorremos milhares de quilômetros para olhar juntos no rosto de Jesus, para poder dizer-Lhe pessoalmente “Tu, ó meu Cristo”. Trata-se de entrar, cada dia mais, em uma intimidade com Ele, da qual nasceram as férias em Iguaçu, da qual nasce aquele ímpeto que nos leva do México à Argentina, chamados por outros amigos desejosos de dizer “Tu” a Jesus.
2. E, assim, um dia, com Julián de la Morena, nos dissemos: “Por que não propomos o que acontece conosco – esta familiaridade com Deus e tudo o que vivemos – para o continente? Nunca podíamos esperar 900 pessoas... sem contar aquelas que, de cada país, quiseram vir, mas não puderam por causa da distância e do custo. Somos um grupo de amigos que dizem aos outros: “Vinde e vede”; como, naquele dia, no rio Jordão, um grupinho de amigos desejosos de compartilhar o significado do “olhar Jesus no rosto”, dizer-Lhe “Tu, ó meu Cristo”. E assim aconteceu o milagre.
3. O milagre de fazer juntos o percurso do conhecimento, da fé, trabalhando sobre a mensagem de Natal de Carrón. Trabalhar significa verificar também dentro da confusão (não faltavam nunca... e, depois, estávamos na América Latina!) o que significa fazer experiência, prestar contas com a realidade (900 pessoas... 40º, clima tropical, com o ar condicionado que mal funcionava), olhar a nossa humanidade com simpatia, saborear a beleza da liberdade etc. É um trabalho, não algo confeccionado. Provocações contínuas e não respostas imediatas e baratas. Tratava-se de fazer o percurso em primeira pessoa, em cada coisa. Gestos essenciais e o cotidiano continuamente verificado com o coração.
4. A maravilha com a qual cada um voltou para casa: “Finalmente o nosso coração vibrou como há vinte anos, quando dom Giussani vinha à América Latina. Aquele que era, para nós, um velho desejo, um sonho, tornou-se realidade”. Não mais latino-americano como coração, como identidade, mas Ele. Quem poderia imaginar colocar os argentinos junto com o resto??? Só um Acontecimento que nos arrastou a todos. Hoje, o continente é uma febre de vida... São homens que se deslocam... tornamo-nos como os pastores, como os Magos naquele dia. De fato, as cascatas do Iguaçu, belíssimas, foram como que uma gota d’água se comparadas com tudo o que aconteceu. Voltamos para casa certos de que podemos finalmente tratar o Mistério como um “Tu” e, por isso, não mais pequenas ilhas, mas uma grande companhia com os olhos escancarados para o Infinito. Pessoalmente, fiquei comovido, porque “toco com a mão”, a cada dia, o fato que, quando o coração é de Cristo, a vida ressurge. E bastam quatro amigos apaixonados por Jesus para que aconteça um “terremoto”, mas um terremoto que vira de cabeça para baixo a vida, como aquele dia, nas margens do Jordão, quando João e André encontraram Jesus. E, além do mais, a novidade, graças a Carrón, de experimentar que o Movimento não é um “club” que faz gestos, iniciativas, obedece a um chefe, mas a liberdade do “eu” que, tocada e comovida por uma ternura, por um olhar, começa a olhar no rosto o Mistério. Assim, agora vejo realizado o meu desejo: também os meus doentes de AIDS, homossexuais ou travestis, os meus velhinhos e as crianças são movimiento. Não somos mais apenas eu e eles. “Agora – me dizem –, o que você vive é possível também para nós, que não podemos participar de nenhum gesto, que não podemos pagar o dízimo, que não podemos nunca tirar férias... Também para nós que fizemos muita porcaria, para nós cujo fim é próximo”. Meu Deus, precisei esperar quase 40 anos para entender, graças a Carrón, que este é o Movimento, como sempre Giussani (com o seu olhar aberto a 360º e o seu abraço) nos educou a vivê-lo. Vocês entendem que, talvez, tenhamos feito do Movimento um club? Agora – que belo! – os 100 mil de Marcos e Cleuza, as minhas crianças, os meus doentes, os meus mendigos, os meus moribundos finalmente descobrimos ser um corpo vivo, um Movimento! Não apenas, mas os políticos, o Vice-Presidente (agora, da família), centenas de pessoas ricas e pobres, os “Zaqueus”, as prostitutas (como no tempo de Jesus), são uma grande família comovida e que diz: “Mas, aquilo que Carrón escreve e diz é o que o nosso coração desejava e buscava”. Por isso, trago dentro de mim a certeza que, se uma obra, um hospital (por exemplo) não existe para nutrir o coração do homem, é melhor fechá-lo, porque o fim do hospital é que o homem possa dizer “Tu, ó Cristo”. E isto depende de mim, porque a graça opera sempre. Mas, se para mim – médico, padre, enfermeiro ou quem quer que eu seja – a familiaridade com Cristo é morna (e isto é possível ver), por que fazer um hospital? Para iludir as pessoas, postergando a morte alguns anos. Um hospital serve apenas se um homem que trabalha nele ou está internado nele tem a graça de poder dizer “Tu, ó meu Cristo”. No meu hospital chega de tudo. Agora, há um homem N.N. (nomen nescio = nome desconhecido; ndt), mas também a ele foi dada a graça de dizer “Tu, ó meu Cristo”. Não fala, tem os olhos perdidos no vazio e, assim, conferi-lhe o batismo sob condição. Mas, depois, tem os que se casam, os que recebem os sacramentos, quem volta para a fé católica. Há uma bela doutora menonita (adepta do Menonismo, doutrina anabatista fundada por Meno Simonis, no século XVI; ndt), de nome Angélica, que está participando da Missa. Ou seja, tudo é estruturado para que a liberdade diga “Tu, ó meu Cristo”. Milagre do diretor de saúde: “O Santíssimo Sacramento exposto trabalha 24 horas por dia”. É apenas uma questão de fé, mas de um fé que nos leve a dizer a uma árvore “arranca-te daí e planta-te no mar”. É tudo uma questão de fé, um grãozinho de fé, como disse Jesus no Evangelho. Pensem que Cleuza se comprometeu a falar de Jesus a pelo menos 10 pessoas por dia. Tentemos também nós.
Padre Aldo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 128




Asunción, 11 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Voltei para casa, depois de uma semana de férias com 900 pessoas, entre adultos e crianças do Brasil, da Argentina, do Paraguai e duas (Padre Alberto e Stefania) vindas do Equador. Foi a primeira vez, desde que existe o Movimento na América Latina, que tanta gente de países diferentes se reúne em torno de um fato: a amizade de alguns amigos que, com afeto e simplicidade e decisão, levaram a sério o que significa seguir a Carrón, fazendo um trabalho na Escola de Comunidade. A proposta que, por um ano, foi o trabalho fascinante de um grupinho, em companhia de Julián de la Morena, se tornou uma proposta para todos. Uma proposta tão bonita que foi o suficiente o boca-a-boca para que a liberdade de 900 pessoas dissesse “sim”. As férias foram a possibilidade concreta de refazer a cada dia o percurso. Partindo do humano imerso na realidade, guiados por este grupinho de amigos, cada um pôde tocar com a mão o que quer dizer “Tu, ó meu Cristo”. Gestos simples, adequados a todos, em um clima tropical que bastava se mover para suar, tendo presente as exigências de todos, ajudaram a viver olhando Jesus no rosto. Os chamados de atenção essenciais, precisos de Julian de la Morena, a companhia de Marcos e Cleuza, nos permitiram não dar nada por óbvio, mas fazer um trabalho. Aquele trabalho ao qual não estávamos habituados e educados e para o qual Carrón é um guia no modo de fazer Escola de Comunidade. O coração das férias foi o conteúdo da mensagem de Natal de Carrón. Não houve testemunhos, mas o ir a fundo, o buscar as razões, assimilá-las, as razões daquilo que as testemunhas presentes entre nós nos faziam vibrar em nós. Não conseguíamos acreditar em nossos olhos que viam concretamente, vivo na Foz do Iguaçú – que “se tornou Belém”, como nos disse Padre Alberto – “a Presença de Jesus”. Voltamos para casa como os pastores, os magos, com o coração transbordando de letícia, porque, de fato, é possível assim. É possível olhar o humano que existe em nós, como caminho para Jesus, como condição para deixar-se olhar por Ele. Desde sempre se fala de unidade Latino-americana, mas somente nestes dias aconteceu um fato novo, imprevisto, não imaginado: a unidade concreta de povos diversos (pensem no abismo com a Argentina...!) floresceu em torno de um Acontecimento, o “sim” de um pequeníssimo grupo de amigos que, há um ano, se encontram juntos em São Paulo, a cada 15 dias para trabalhar a Escola de Comunidade. Todo é tão simples, como era para os primeiros que O seguiam. O ponto é levá-Lo a sério, segui-Lo na modalidade na qual se apresenta.
Amigos, que belo é partir da própria humanidade e poder dizer “Tu, ó meu Cristo”.
De volta a casa, com o coração cheio daquela Beleza, depois de dez minutos, duas pessoas morreram na clínica. Ainda uma vez aquela beleza – “Tu, ó meu Cristo” – vence o cansaço e me permite estar em companhia dos meus enfermeiros, brindar com todo o afeto que vem de Cristo a assistência necessária para que tudo manifeste a Sua Glória. Frequentemente me perguntam: “você não se cansa nunca?”. E eu respondo: o cansaço caminha com a razão que – sim ou sim – nos compromete com a realidade, de forma que acontece de dormirmos uma hora a mais e, logo em seguida, estarmos acordados como um grilo. Pelo contrário, quando não é a razão que nos guia, quando não é o coração encarnado na realidade, é a fantasia, a imaginação, os nossos esquemas a se meterem a chefes e a consequência é o estresse, que mesmo se formos a Punta del Este ou para a Sardenha seremos derrotados. Quanto mais o coração trabalha, tanto mais repousa, quanto menos trabalha, tanto mais nos estressamos. Assim, foi para cama contente e, no dia seguinte, na clínica, foi uma festa, porque um doente terminal celebrou o seu matrimônio. Que alegria que se disseram a coisa mais bonita que pode dizer o coração: “Prometo amar-te e ser-te fiel para sempre”. Aquele “para sempre” dito pelos meus doentes terminais nos diz a verdade mais bela de uma relação: o amor é ou não é, e se é não tem data de validade. Divorcia-se quem nunca se casou (diria Chesterton), quem nunca amou. Mesmo aqui o problema é a vida e o seu significado, mesmo aqui trata-se de fazer um caminho como para mim, para os meus doentes, para os 900 amigos das férias. Fazer uma experiência que nos permita dizer Tu ao Mistério. E, como para mim, para os meus doentes, para os imprevistos às vezes desagradáveis que caracterizaram as férias de 900 pessoas, tudo faz parte daquela trabalho que nos pede Carrón, para podermos chegar a dizer “Tu” a Cristo.
É um caminho como o caminho de Santiago e de Lourdes (vejam as fotos) que, graças ao câncer, sentiram a urgência de uma definitividade no seu amor, conscientes dos meses que lhes restam, que aquilo que os une com o sacramento é eterno; assim como o coração de um garoto que se apaixona diz a sua namorada: “Amo-te para sempre”, “Sou teu para sempre”. Sejamos sinceros: não há nada mais belo do que aquele “sempre”, porque o coração é feito para o “sempre”, para a “eternidade”.
Padre Aldo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cartas do P.e Aldo 123






Asunción, 01 de dezembro de 2009.

Caros amigos,
Ontem, fomos presenteados com um piano de 1860, fabricado em Berlim. Assim, agora, Irmã Sônia – artista que toca órgão, piano, harpa e é poetisa e pintora –, todo sábado à noite, com os doentes terminais que conseguem, organiza, depois da janta, um pequeno concerto.
É muito bonito: comemos juntos, escutamos o piano, a harpa e o pequeno coro. E é comovente, porque sabemos bem que, no sábado seguinte, alguém já estará no Paraíso.
Olhem a foto: vejam como são belos os meus doentes, enquanto comemos e escutamos a música do piano, que é uma jóia antiga.
Amigos, quando vivemos com a certeza de sermos feitos – “eu sou Tu que me fazes” –, mesmo que estejamos “moribundos, podemos saborear a música e a companhia.
Ciao
Padre Aldo

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cartas do P.e Aldo 115

Asunción, 28 de outubro de 2009.

Caros amigos,
a carta de Carrón, ou melhor, a homelia que ele fez na ocasião dos funerais de Pontiggia, assim como a mensagem que ele nos enviou quando as condições de nosso caro amigo se agravaram, me estão, nos estão acompanhando como uma Graça excepcional. A mensagem falava da confiança na modalidade com a qual o Mistério nos indica a meta, o destino.
A homelia, com aquelas três perguntas iniciais (“Quem és Tu, Cristo, que podes apaixonar assim a vida de um homem? Quem és Tu, que consegues atrair todo o eu, toda a pessoa com toda a sua capacidade, imaginação, intensidade, para colocá-la a Teu serviço, para poder comunicar aos homens – não com palavras, mas com a vibração e com aquela intensidade que só Tu podes introduzir na vida – a Tua vida mesma? Quem és Tu, Cristo?”; texto disponível em http://www.clonline.org/articoli/ita/jc_omelia.htm; ndt), nos fez vibrar até as lágrimas. A parte final, onde fala da morte, me encheu de alegria, porque me remetia à verdade da vida. Se vivéssemos cada instante com a consciência que Carrón tem do sentido da vida e do verdadeiro destino, também o Liceu Berchet se tornaria aquele de Giussani. Não posso esconder a dor que experimentei quando recebi a notícia do que aconteceu no Berchet, mas não pelo resultado das votações, mas porque tenho uma certa percepção de uma ausência, da falta daquela humanidade, daquela dramaticidade, daquela paixão por Cristo, pelo destino do homem que vibrava em Giussani, em Padre Giorgio, em Padre Danilo e, hoje, de modo espetacular e profundo, nos é testemunhado por Carrón, que desafia a nossa humanidade. É o humano que falta, nos dizia Carrón. E é muito verdade, porque onde o humano é vibrante toda a criação volta a viver, e não somente a escola, mas também os jovens. Vejo isso com as minhas crianças, com os meus idosos, com os meus doentes.
1. Com as minhas crianças: outro dia, nos foram confiados dois irmãozinhos – Noemi, de 7 anos, e Antônio, de 8. Violentados pelo “pai” de 60 anos e a mãe que se suicidou aos 18 anos. O velhote do “pai” transformou o casebre num prostíbulo, onde, junto com outros homens, abusava de outras meninas. Não apenas isso, mas sendo que este “homem” sofre de zoofilia, as crianças viam este “homem” tendo relações sexuais com animais. Quando a Polícia nos trouxe as crianças, fiquei estarrecido, petrificado. Peguei as duas crianças, com todo o meu coração, carregando toda a dor e a tristeza delas... repetindo para mim mesmo: “eu sou Tu que me fazes”. Seguro e certo de que esta consciência de mim conseguiria colocar de pé, outra vez, a personalidade destruída destas crianças. É o que o Carrón nos lembra: “o homem não é o resultado dos seus antecedentes, não importa quais e quão violentos foram, mas é relação com o Mistério”... Desde o primeiro instante, comecei a mudar o pequeno “eu” das minhas duas crianças. Sim, porque o problema é sempre o mesmo: Giussani me encontrou, com toda a carga de toneladas de misérias, me abraçou, e aquele abraço mudou radicalmente a minha vida. Assim é, agora, com estas crianças, que voltaram a sorrir e sentem até vontade de voltar para a escola. Como vocês podem ver, a questão não é, antes de tudo, uma questão de psicologia, mas que o nosso “patrimônio genético” coincida com “eu sou Tu que me fazes”. Vejam esta cartinha escrita por uma menina pluriviolentada. É um documentário de “eu sou Tu que me fazes”:

“Amo muito o senhor e espero que tenha passado bem o seu aniversário. Eu estou feliz aqui com meus irmãos e irmãs da Casinha de Belém. Nunca fui tão feliz. Quando eu estava com minha mãe [a mãe natural] eu vivia muito mal porque ela me vendia aos homens; agora, porém, que estou com você e com a mamãe Cristina, estou de verdade bem. Minha mãe [a natural] está sempre bêbada e não lhe importa nada de mim e dos meus irmãozinhos. Agora, estou feliz, porque tenho uma mãe boa e um pai como você... acho que ficarei com vocês para sempre. sofri muito e, agora, porém, [“eu sou Tu que me fazes” e não fruto de seus antecedentes] sou feliz...”.

Amigos, Deus queira que compreendamos o que Giussani e Carrón nos repetem... trabalhando sobre isso, vejam o que acontece:
2. Glória, 28 anos, metástase geral. Há 15 dias vivia em pânico, com medo da morte. Durante a Escola de Comunidade feita com os doentes terminais, que fazemos toda quarta-feira, ela falava do terror que tinha da morte. Os doentes nas suas mesmas condições tentavam, em vão, fazer companhia a ela, contando como estavam vivendo estas últimas semanas ou dias de vida... porém, inutilmente. O terror da morte parecia sufocá-la. Passados alguns dias, Glória parecia piorar. Mas, no dia 24 de outubro, uma surpresa: aproximo-me do seu leito, ajoelho-me com o Santíssimo Sacramento na mão e pergunto “Como vai, Glória?”. E ela, com o rosto mais sereno, me responde: “Logo eu vou embora com Jesus”. Surpreso e comovido, perguntei: “Mas, você não tem mais medo?”. E ela: “Não, padre”. Desde então, está ali, no seu leito, com todo o drama da certeza de morrer, mas totalmente confiada ao Mistério. Porque, para ela, como para mim, a certeza de estar vivendo um desígnio maior venceu.
Peçamos a Nossa Senhora que cada circunstância seja para afirmar esta certeza, como Carrón nos tem repetido incansavelmente.
Padre Aldo.

sábado, 10 de outubro de 2009

Cartas do P.e Aldo 111


Asunción, 08 de outubro de 2009.

Caros amigos,
voltando de Mar del Plata, uma grande cidade no sudeste da Argentina, encontrei a alegre companhia de Marcos, Cleuza, Julián de la Morena, Vando e outras 10 pessoas que fazem parte deste grande abraço que é a nossa amizade. Ficaram por aqui 3 dias, trabalhando, comendo, fazendo Escola de Comunidade e ficando com os doentes, crianças e idosos. Três dias nos quais retomamos o que o Carrón nos disse quando veio nos visitar, 15 dias atrás. Passamos duas manhãs trabalhando sobre a pergunta: o que aconteceu na sua vida depois do encontro com Carrón?”. Na terça-feira, pela manhã, ficamos com os padres da minha comunidade. Na quarta-feira, fomos à fazenda com toda a direção da obra... e sempre trabalhando sobre a mesma pergunta. Um espetáculo de testemunhos, que se encerrou com um saboroso grelhado “crioulo”. Pensem: são quase 4 mil quilômetros de ida e volta... e, no entanto, nos vemos a cada 15 dias. Dessa vez, foram eles que vieram - 14 pessoas.
É, de fato, comovente esta amizade que está abraçando todo o continente. Uma amizade operativa que muda tudo, porque é somente um abraço que pode mudar a vida.
Olhem este desenho que eu estou mandando para vocês. Toda manhã, meus filhinhos me dão uma cartinha. Esta que eu estou mandando é de Blanca, 7 anos. Está conosco junto com seu irmãozinho, Júlio, desde quando sua mãe morreu de AIDS na clínica.
Este desenho nos ajudou, na manhã de hoje, a retomar aquilo que o Carrón nos disse. O que Blanca quer me dizer com este desenho tão bonito e cheio de vida? Ela e seu irmãozinho, uma casa grande e bonita e uma trepadeira tropical cheia de flores vermelhas bonitas que tem suas raízes plantadas na segurança da casa, e alcança aquele que permite a existência e o calor da casa: “Papai, te amo. Blanca”. Amigos, trabalhamos duas horas sobre esta provocação. A vida é um abraço. “Sem vir até aqui” - disse Cleuza - “a minha fé teria data de validade”. E é muito verdade isso! Como as minhas crianças têm necessidade de mim e da mamãe Cristina, nós também temos... e, por isso, para nós, os 4 mil quilômetros de ida e volta são só um passeio. Amigos, somos como os meus pequeninos: crescemos na fé através de um abraço.
Sim, porque, como mais de um sublinhou, é verdade aquilo que o Carrón nos repete: a vida, o eu não é o fruto dos nossos antecedentes biológicos, psicológicos, nem das circunstâncias, mas do “eu sou Tu que me fazes”. Então, vocês entendem porque Jazmin, a responsável administrativa da Casinha de Belém, pode dizer: “Perdoo o braço direito de Ströesner, o ditador que controlou esse país por 37 anos, que sequestrou e assassinou meu pai... sem que nunca pudéssemos saber onde colocaram o seu cadáver... como é possível perdoar sem esta certeza de que ‘eu sou Tu que me fazes’”. E ela dizia isso comovida, com o coração em pedaços.
Uma última observação: um amigo de Marcos e Cleuza, e também meu, um dos mais brilhantes economistas italianos no exterior, voltando de Cernobbio, para onde fora enviado pelo Ministro Tremonti, sem nem mesmo parar para ver sua bela família, esperou Marcos e Cleuza e os demais no aeroporto de São Paulo e veio até aqui. Ver a sua humildade, a sua comoção, fruto de uma fé reencontrada recentemente e fortalecida na amizade com os Zerbini, comovou a nós todos. Pensem: um gênio da economia internacional vem até aqui e, por três dias, vive conosco, com os doentes, com as crianças abandonadas, os meus filhos. “Padre, eu não posso mais viver sem esta amizade”. Uma amizade que não conhece objeção, distância ou cansaço. É verdade que seguindo, como filhos, a Carrón, a vida muda e cada fronteira é derrubada. Rezem para que o nosso coração seja simples como o dos meus filhos.
Ciao
Padre Aldo

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Férias: o tempo da liberdade


por Luigi Giussani

“A espera das férias documenta uma vontade de viver: exatamente por isso não devem ser ‘férias’ de si mesmo. Então, as férias não serão uma interrupção ou uma prorrogação do levar a sério a vida” (Milano Studenti, 5 de junho de 1964). Apontamentos de um diálogo, tomando um aperitivo, com dom Giussani, antes de partir para as férias.

Desde os primeiríssimos dias de Juventude Estudantil (como era conhecido CL no início; ndt), temos um conceito claro e simples: tempo livre é o tempo no qual a pessoa não é obrigada a fazer algo, não existe algo que se obrigado a fazer, o tempo livre é tempo livre.
Como discutíamos muito com os pais e com os professores sobre o fato de que GS (Giuventù Studentesca – Juventude Estudantil; ndt) ocupava muito o tempo livre dos garotos, enquanto que eles deveriam estudar ou trabalhar na cozinha, em casa, eu dizia: “Os garotos terão o tempo livre!”. “Mas, um jovem, uma pessoa adulta”, me objetavam, “é julgado pelo trabalho, pela seriedade com a qual trabalha, pela tenacidade e pela fidelidade com a qual trabalha”. “Não”, eu respondia, “que história é essa?! Um garoto é julgado pela forma como usa o tempo livre”. Oh, todos se escandalizavam. E, porém... se é tempo livre, significa que a pessoa é livre para fazer o que quer. Por isso, aquilo que a pessoa quer é compreendido pela maneira como usa o tempo livre.
Aquilo que uma pessoa – jovem ou adulto – verdadeiramente quer é compreendido não pelo trabalho, pelo estudo, pelas conveniências ou pelas necessidades sociais, mas pelo modo como usa o tempo livre. Se um garoto ou uma pessoa madura disperdiça o tempo livre, não ama a vida: é bobo. As férias, de fato, são o tempo clássico no qual quase todos se tornam bobos. Pelo contrário, as férias são o tempo nobre do ano, porque são o momento no qual a pessoa se empenha como quer com o valor que reconhece prevalente na sua vida, ou pelo contrário não se empenha de fato com nada e, então, é um bobo.
A resposta que dávamos aos pais e professores, há mais de quarenta anos atrás, tem uma profundidade que eles nunca chegaram a entender: o maior valor do homem, a virtude, a coragem, a energia do homem, aquilo pelo que vale a pena viver, está na gratuidade, na capacidade de gratuidade. E a gratuidade está exatamente no tempo livre que emerge e se afirma de modo surpreendente. O modo de rezar, a fidelidade à oração, a verdade dos relacionamentos, a dedicação de si, o gosto pelas coisas, a modéstia no usar a realidade, a comoção e a compaixão com as coisas, tudo isso é muito melhor identificado nas férias do que durante o ano. Nas vérias, a pessoa é livre e, se é livre, faz aquilo que quer.
Isto quer dizer que as férias são algo importante. Antes de mais nada, isto implica uma atenção na escolha da companhia e do lugar, mas sobretudo diz respeito ao modo como se vive: se as férias não fazem com que você recorde aquilo que você mais gostaria de recordar, se não tornam você mais bom com os outros, mas tornam você mais instintivo, se não fazem você aprender a olhar a natureza com intenção profunda, se não fazem você realizar um sacrifício com alegria, o tempo de repouso não atinge o seu objetivo. O critério das férias é respirar, possivelmente a plenos pulmões.
Deste ponto de vista, fixar como princípio a priori que um grupo deva fazer férias junto é, antes de mais nada, contrário a tudo o que dissemos, porque os mais fracos da companhia, por exemplo, podem não ousar dizer “não”. Em segundo lugar, é contra o princípio missionário: sair de férias juntos deve responder a este critério. Por isso, antes de tudo, a liberdade deve estar acima de todas as coisas. Liberdade para fazer o que se quer... segundo o ideal! Do que se enche o bolso, quando se vive assim? De gratuidade, de pureza, de relacionamento humano.
Em tudo isto a última coisa de que nos podem acusar é de convidar para uma vida triste ou de obrigar a uma vida difícil: seria o sinal de que exatamente quem objeta é triste, tedioso e descarnado. Onde descarnado indica quem não come e não bebe, por isso não goza a vida. E dizer que Jesus identificou o instrumento, o nexo supremo entre o homem que caminha na terra e o Deus vivo, o Infinito, o Mistério infinito, com o comer e com o beber: a eucaristia é comer e beber – mesmo que, agora, seja tão frequentemente reduzida a esquematismo do qual não se entende mais o significado. É um comer e um beber: agape é um comer e beber. A maior expressão do relacionamento entre mim e esta presença que é Deus feito homem em Ti, Cristo, é comer e beber conTigo. Onde você se identifica com aquilo que come e bebe, de tal forma que “mesmo vivendo na carne, eu vivo na fé do Filho de Deus” (“fé” quer dizer reconhecer uma Presença).

* Extraído de CLOnLine. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Para uma crítica da crítica... ou remexendo dentro da Crítica.

Estou às voltas com a preparação de um concurso que vou fazer em breve e, entre as leituras indicadas, topei com um texto que me fez parar para pensar em uma coisa.
No texto, que recupera uma expressão de Sartre - "mordaças sonoras" -, a autora critica a posição da psicologia que, ao longo de sua história de relações especialmente com a educação, acabou por propiciar um silenciamento sobre o que ela chama de "real situação social, histórica e institucional". Não é preciso ir muito longe nessa breve introdução para se ter uma ideia dos fundamentos teóricos adotados pela autora: estamos falando do materialismo histórico-dialético marxista... mas, estamos falando de forma mais precisa da proposta teórica da Escola de Frankfurt: a teoria crítica.
A autora afirma:
"O silenciamento produzido pela Psicologia é de natureza ideológica, ou seja, resultado de uma interpretação particular do real que aparece, num contexto histórico determinado, como interpretação única e verdadeira. O discurso ideológico baseia-se no já-dito, nos sentidos institucionalizados, tidos por todos como naturais. Nele as determinações históricas são reduzidas a evidências empíricas, naturalizadas como fatos. Ao operar essa redução, a ideologia produz um efeito de completude de sentido que desestimula qualquer reflexão" (Patto, 2005, p. 96).
Ela continua, em seguida, apresentando um quadro da realidade educacional que, segundo ela, nasce de uma postura crítica. Esse quadro "desesperador" pintado pela autora, por um lado, não tem nada de mítico - descreve fatos, aponta causas históricas e sociais precisas etc. -, por outro lado, porém, é um quadro que, se entendéssemos o termo "ideologia" usado no excerto acima como a ideologia marxista estaríamos na mesmíssima posição, se substituíssemos o termo "natural" por histórico ou social ainda assim estaríamos no mesmo lugar. Experimentem ler o texto acima dessa maneira! É ou não verdade que, no fim, nos veríamos desestimulados a fazer qualquer reflexão?
Bem, diante disso, fiquei me perguntando: mas o que poderia, de fato, responder às exigências justas dessa autora, sem que caíssemos na armadilha da contradição interna? (Abro um parêntese para explicitar um mal-estar: 100% dos textos lidos para a preparação deste concurso têm uma característica bastante singular - são panfletos revolucionários. Aqui, porém, devo dar espaço à justiça e explicitar que, porém, a postura da Professora Maria Helena Souza Patto é carregada de um sentimento de indignação que grita exigência de justiça, de verdade, de beleza... é impressionante e bonito ver o que a maturidade é capaz de fazer com uma intelectual do porte dela! Evidentemente, toda a massa de palavrório pretensamente politizado e socialista típica dos intelectuais filhos das teorias críticas [e quando falo de "filhos das teorias críticas", falo especialmente daqueles intelectuais que não deram conta do método, apenas reproduzindo chavões inférteis] está presente no seu discurso indignado, no entanto, o tempo parece ter deixado marcas importantes na forma como Patto se propõe, se apresenta, se coloca no meio desse discurso: sua crítica é carregada das mesmas contradições internas de um panfletário comuno-fascistóide, mas ao mesmo tempo - e como é bonito verificar isso! - é carregada de uma dor real pela situação, é carregada de um desejo real de mudança, é carregada das consequências do seu impacto com a realidade que, tantas vezes, foi objeto de suas observações ácidas. Até o ponto de afirmar, no mesmo texto: "Não se pode decretar, categoricamente, a morte do sujeito. Impedido, o desejo pulsa, manifesta-se pelas frestas, fala como pode" [p. 100]. Fecho o parêntese). Nesse ponto, pensava naquilo que o Carrón nos dizia nos Exercícios Espirituais da Fraternidade e em tantas outras ocasiões a respeito de "não partirmos da afirmação de que Cristo venceu", de não partirmos do anúncio cristão - "o Mistério se fez presente em um homem". O risco de chegar a dizer - como um acadêmico que sou - que uma tal afirmação não pode ser feita no âmbito da intelectualidade universitária é enorme. Também o risco de tornar essa expressão apenas mais uma frase solta e, portanto, tão ideológica como todas as outras, é também enorme. Como sair dessa berlinda, então? "Pouco observação e muito raciocínio conduzem ao erro. Muita observação e pouco raciocínio conduzem à verdade", nos lembrava D. Gius na primeira página d'O Senso Religioso. Uma observação atenta, terna e apaixonada de si, do homem e do real. Vejamos, então.
Estou, há dois anos, dando aulas na Faculdade de Educação da USP, ministrando uma disciplina cuja bibliografia básica perpassa toda a gama de autores filhos do materialismo histórico-dialético marxista. No início, como estava na defensiva, parti para o ataque. Resultado? Foram semestres infecundos. Nos dois últimos semestre, porém, resolvi mudar a tática: "não idéias, mas experiências!" se tornou o mote de cada uma das aulas. Os textos e os temas eram os mesmos, mas a postura mudou: não estava mais no ataque e, portanto, criou-se um ambiente de familiaridade dentro de sala de aula que permitiu o vir à tona de coisas muito bonitas. Eu estava livre e, por causa disso (?), vi nascendo uma liberdade entre os estudantes que, tantas vezes, me comovia.
Conto um caso gritante do que pode responder àquela pergunta: um dia, em uma aula cujo tema era a violência na escola, Bárbara, uma aluna do curso de licenciatura em Educação Física, contou que havia descoberto que um de seus alunos, de 12 anos, traficava drogas na porta da escola depois da aula. Conversou então com o aluno, que lhe contou uma história dramática: sua mãe é uma paciente psiquiátrica e ele mora, junto com suas irmãs, na casa de sua avó materna, que é doente e vive às custas de remédios comprados com os parcos rendimentos de uma aposentadoria. Trabalhar para os traficantes do bairro era a única maneira de ter uma renda que permitisse cuidar de todos em casa: a avó e as duas irmãs. E o garoto ainda acrescentou: "Professora, a senhora acha que eu vendo drogas para meninos da minha idade? Não! Eu vendo drogas é para pessoas da idade da senhora!". Profundamente tocada pela situação, Bárbara procurou a diretora da escola, pedindo alguma indicação de uma atitude a tomar diante do fato. A resposta da diretora foi, no mínimo, grosseira: "Bárbara, se você quer ter uma vida como professora, a melhor coisa a fazer é não se meter na vida desses moleques". Chorando, Bárbara concluia seu testemunho, em sala de aula, dizendo: "Professor, eu não posso ser indiferente... eles são minhas crianças!".
Falávamos, naquela aula - como em quase todas as outras -, da necessidade de não achatar a própria humanidade, a fim de não se ver achatando a humanidade das crianças e dos jovens com os quais trabalhamos em sala de aula. Falávamos de lutar contra a indiferença. Falávamos da necessidade de se entender a educação como fruto de um encontro entre pessoas. Falávamos da urgência de retomar o conhecimento afetivo como ponto de partida, no mínimo, interessante para se pensar a atitude educativa. Bem, a situação, naquele momento - diante do choro da Bárbara - ficou um pouco constrangedora... porque, imediatamente, todos, alvoroçados, começaram a questionar o que vínhamos nos dizendo ao longo do semestre... Eu, diante do que escutara, também me vi impotente. Mais impotente me senti no momento em que Pedro, um dos alunos, levantou a voz, quase em tom de desafio, e me perguntou: "E agora, professor, o que o senhor faria numa situação dessas?". Silêncio absoluto em sala. Todos se voltaram para mim, esperando que eu arrancasse de uma cartola ideológica a resposta mágica para a pergunta do Pedro.
Faltavam dez minutos para terminar a aula... já estávamos todos cansados... e eu, na minha pretensão, me vi colocando para funcionar toda a maquinária intelectual atrás de uma resposta convincente e perfeita. Mas, de fato, eu estava fisicamente esgotado (depois de um dia cheio da escuta de dramas duríssimos... no consultório, naquele dia, eu havia atendido quatro casos super dramáticos, que exigiram tudo de mim) e não encontrava nada nos livros acumulados no quarto da memória. Naqueles instantes de silêncio, diante dos olhos inquisidores de 60 alunos, já sem energia, vi se passando na memória uma série de encontros, então: encontros daquele dia (duas ex-alunas que me procuraram no meu gabinete "só para ver o senhor"; uma cliente do consultório que, depois de deixar vir à tona a minha humanidade, encontrou espaço para dizer "quero ser"; uma ex-aluna que, no corredor, me abraçou como se eu fosse seu pai) e encontros de outros dias (a memória despertada pela atitude daquelas duas alunas que me procuraram: "eu fazia o mesmo com o Miguel"; a memória do encontro com o P.e Aldo e com o P.e Paolino, de alguns dias antes; a memória do abraço cheio de misericórdia do Carrón e de D. Gius, que chegou até a mim através dos encontros com o Miguel; a memória do olhar cheio de afeição e de bem querer de uma amiga etc.)... todos encontros que não eram do passado, mas presentes. Dez anos se passaram diante de mim... Quatorze anos se passaram diante de mim... Vinte anos se passaram diante de mim... Trinta anos se passaram diante de mim: trinta anos que só faziam sentido, só tinham sentido se olhados a partir da perspectiva do acontecimento de dez anos atrás - "Feliz Páscoa quae sera tamem!", era o conteúdo do email que me fez entrar nesse rio. Tudo isso, em alguns instantes! E todos estavam lá, olhando para mim. Abri a boca e soltei: "Pedro, a pergunta certa não é 'o que fazer?', mas 'por que fazer?'. Bárbara, a questão que está em jogo é: você sabe os motivos? vale a pena?". Fim da aula: todos saíram em silêncio. Fiquei ainda um pouco sozinho em sala de aula, mastigando o que tinha acontecido: "de fato, eu não me fiz por mim mesmo! De fato, eu não me faço por mim mesmo! Eu sou Tu que me fazes!".
Quando cheguei em casa, insône, resolvi abrir a caixa de emails. Surpresa: cinco alunos daquela noite me haviam escrito - já passava das duas da manhã. Estavam todos comovidos e gratos... Mas, a história não termina aqui. Duas semanas mais tarde, Bárbara me para na saída da Faculdade de Educação para me contar: "Eu levei a sério aquilo que você disse, professor. A vida desses meninos me interessa, o destino deles me interessa. Vale a pena!". E disse que alguns dias antes havia proposto a alguns colegas seus de começar um trabalho - uma obra - com as crianças do bairro onde ela trabalha: "precisamos ficar perto desses meninos, porque, do contrário, serão os traficantes que ficarão perto". E contou também que se envolveu em primeira pessoa com a situação daquele seu aluno e que as coisas começaram a tomar novos rumos, e que ela está acompanhando tudo de muito perto: "acho que criei um problema para mim, porque outras crianças começaram a me procurar pedindo ajuda... mas, não posso ficar indiferente a isso, professor!".
Nada de discurso! Nada de "alienação"! Nada de "politização"! Apenas uma humanidade que joga o coração em todas as circunstâncias.
Que gênio é D. Gius! Que gratidão tenho por essa educação que tenho recebido e que me faz mais eu do que meus projetos sobre mim mesmo, do que minhas interpretações sobre mim mesmo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Cartas do P.e Aldo 45



Asunción, 02 de maio de 2009.

Caros amigos,
Olhem só: Diego Perez, o indiozinho que comia capim, finalmente se tornou um filho de Deus. Nós o batizamos, ontem à noite, com a presença de Marcos, Cleuza, Julián de la Morena e os amigos do Brasil.
Amigos, que milagre é esta amizade!
Com afeto
P.e Aldo

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pílulas de memória - Introdução

Amigos,
Vou, nas próximas postagens, contar, em pequenas doses, o que vi.
O mote que nos moveu, ao longo desses dias, era: "tocar o manto de Cristo". É isso o que eu quero lhes comunicar: onde tocamos o Seu manto.
P.e Vando, P.e Marco, P.e Julián, Marcos, Cleuza, Ivone, Rai, Quitéria, Míriam, Neide, Guilherme, Kim, Daniela, Rose, Maurício, Renata e eu: fomos os que vimos e ouvimos e tocamos. Celeste, Patrícia, Aldino, Victor, Cristina, Ruben, Juanka, Juanki, Santiago, Danilo, Pedro Juan, Trinidad, Hipólito, Gerônimo, Irmã Sônia, P.e Aldo, P.e Paolino, P.e Daf, P.e Elder, Dieguito, Marta, Mercedes, Rosita, Carlitos, Angel, Maria Isabel, Cristina, Beba, Tomasa, Maria Felícia, Juana, Sara, Arsênia, Pedro, José, Abel: foi quem vimos e ouvimos e tocamos. O cenário onde atuávamos todos: a Paróquia San Rafael, em Asunción (Paraguai), com sua Clínica São Ricardo Pampurri, as Casitas de Belém, a Casita de los Ancianos San Joaquim e Santa Anna, a Casita de San Joaquim, a Pizzaria O Sole Mio, o Café Literário Van Gogh; e a Casa de Recuperação de Menores Virgen de Caacupé... Beleza, Ordem, Amizade e Presença sustentando tudo. Tudo se desenrolou em três atos:
1) Primeiro ato/dia: visita à Clínica e Procissão do Santíssimo; visita à Casita de los Ancianos; almoço de recepção; inauguração da Casita San Joaquim; Missa em comemoração dos 5 anos de fundação da Casa da Divina Providência São Ricardo Pampurri e dos 20 anos de canonização de São Ricardo; pizza no terraço da "O Sole Mio"; noite de vigília, escutando os "améns" de Aldino, no quarto ao lado do meu.
2) Segundo ato/dia: encontro com P.e Aldo pela manhã; cafezinho com P.e Aldo, Marcos e Cleuza; distribuição da Comunhão na Clínica; café da manhã com responsáveis pela obra do P.e Aldo; manhã de trabalhos com os idosos; Escola de Comunidade com os colegiais; almoço; encontro entre os brasileiros; conversa com P.e Aldo; Missa de corpo presente de Angel; conversa com P.e Paolino; churrasco na Acuarela; nova noite de vigília, acompanhando Aldino.
3) Terceiro ato/dia: conversa com P.e Aldo; visita a Pedro; almoço na Casita de Belém; conversa com Juanka, Juanki e Renata; retorno.
Ainda permanecerão em cena, até dia 05 de maio: P.e Vando, P.e Marco, Cleuza, Marcos, Ivone, Rai, Quitéria, Neide, Míriam, Guilherme, Daniela, Kim, Rose e Maurício. Saímos de cena: P.e Julián, Renata e eu... Saímos de cena, mas ainda carrego a memória e, portanto, carrego os que ficaram e os personagens todos e os cenários todos que compõem a piccola città della carità.
O desfecho: o início de uma conversão... um novo início para mim!