sábado, 10 de outubro de 2009

Cartas do P.e Aldo 111


Asunción, 08 de outubro de 2009.

Caros amigos,
voltando de Mar del Plata, uma grande cidade no sudeste da Argentina, encontrei a alegre companhia de Marcos, Cleuza, Julián de la Morena, Vando e outras 10 pessoas que fazem parte deste grande abraço que é a nossa amizade. Ficaram por aqui 3 dias, trabalhando, comendo, fazendo Escola de Comunidade e ficando com os doentes, crianças e idosos. Três dias nos quais retomamos o que o Carrón nos disse quando veio nos visitar, 15 dias atrás. Passamos duas manhãs trabalhando sobre a pergunta: o que aconteceu na sua vida depois do encontro com Carrón?”. Na terça-feira, pela manhã, ficamos com os padres da minha comunidade. Na quarta-feira, fomos à fazenda com toda a direção da obra... e sempre trabalhando sobre a mesma pergunta. Um espetáculo de testemunhos, que se encerrou com um saboroso grelhado “crioulo”. Pensem: são quase 4 mil quilômetros de ida e volta... e, no entanto, nos vemos a cada 15 dias. Dessa vez, foram eles que vieram - 14 pessoas.
É, de fato, comovente esta amizade que está abraçando todo o continente. Uma amizade operativa que muda tudo, porque é somente um abraço que pode mudar a vida.
Olhem este desenho que eu estou mandando para vocês. Toda manhã, meus filhinhos me dão uma cartinha. Esta que eu estou mandando é de Blanca, 7 anos. Está conosco junto com seu irmãozinho, Júlio, desde quando sua mãe morreu de AIDS na clínica.
Este desenho nos ajudou, na manhã de hoje, a retomar aquilo que o Carrón nos disse. O que Blanca quer me dizer com este desenho tão bonito e cheio de vida? Ela e seu irmãozinho, uma casa grande e bonita e uma trepadeira tropical cheia de flores vermelhas bonitas que tem suas raízes plantadas na segurança da casa, e alcança aquele que permite a existência e o calor da casa: “Papai, te amo. Blanca”. Amigos, trabalhamos duas horas sobre esta provocação. A vida é um abraço. “Sem vir até aqui” - disse Cleuza - “a minha fé teria data de validade”. E é muito verdade isso! Como as minhas crianças têm necessidade de mim e da mamãe Cristina, nós também temos... e, por isso, para nós, os 4 mil quilômetros de ida e volta são só um passeio. Amigos, somos como os meus pequeninos: crescemos na fé através de um abraço.
Sim, porque, como mais de um sublinhou, é verdade aquilo que o Carrón nos repete: a vida, o eu não é o fruto dos nossos antecedentes biológicos, psicológicos, nem das circunstâncias, mas do “eu sou Tu que me fazes”. Então, vocês entendem porque Jazmin, a responsável administrativa da Casinha de Belém, pode dizer: “Perdoo o braço direito de Ströesner, o ditador que controlou esse país por 37 anos, que sequestrou e assassinou meu pai... sem que nunca pudéssemos saber onde colocaram o seu cadáver... como é possível perdoar sem esta certeza de que ‘eu sou Tu que me fazes’”. E ela dizia isso comovida, com o coração em pedaços.
Uma última observação: um amigo de Marcos e Cleuza, e também meu, um dos mais brilhantes economistas italianos no exterior, voltando de Cernobbio, para onde fora enviado pelo Ministro Tremonti, sem nem mesmo parar para ver sua bela família, esperou Marcos e Cleuza e os demais no aeroporto de São Paulo e veio até aqui. Ver a sua humildade, a sua comoção, fruto de uma fé reencontrada recentemente e fortalecida na amizade com os Zerbini, comovou a nós todos. Pensem: um gênio da economia internacional vem até aqui e, por três dias, vive conosco, com os doentes, com as crianças abandonadas, os meus filhos. “Padre, eu não posso mais viver sem esta amizade”. Uma amizade que não conhece objeção, distância ou cansaço. É verdade que seguindo, como filhos, a Carrón, a vida muda e cada fronteira é derrubada. Rezem para que o nosso coração seja simples como o dos meus filhos.
Ciao
Padre Aldo

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