A experiência diz coisas que demonstram a sua verdade. Aquilo que eu digo a vocês foi-me inteiramente ditado por algo que eu estudei, desejei, repugnei, mas finalmente amei com paixão.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
“Bom caminho”
A experiência diz coisas que demonstram a sua verdade. Aquilo que eu digo a vocês foi-me inteiramente ditado por algo que eu estudei, desejei, repugnei, mas finalmente amei com paixão.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
De que vale explicar o universo, se se censura a pergunta sobre o sentido?
segunda-feira, 31 de maio de 2010
"A voz única do ideal"
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Fazer o Cristianismo 02
sábado, 3 de abril de 2010
Semana Santa com Giussani
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Cartas do P.e Aldo 11
Caros amigos,
Como gostaria de responder a todos pessoalmente! Como não consigo, para a maior parte dos que me escrevem garanto minhas orações. Tantas perguntas, tantos problemas, sofrimentos, dramas que nos acomunam, de tal forma que certas coisas que eu vivo me parecem úteis a todos e, portanto, respondo como estou fazendo. Não sei ainda como ajudar a todos que me escrevem os seus dramas, aqueles que, como nos lembra Carrón, carregam dentro de si uma ferida que é como um soco da consciência. Um dos dramas que mais aparece é o do trabalho: muitos estão aposentados, outros desempregados... com tudo aquilo que comporta essas situações.
Pois bem, hoje, depois de guiar o retiro dos noviços sobre o segundo capítulo d’O Senso Religioso, retiro que, na Itália, foi guiado por Carrón e que eu traduzi e repropus, tal e qual, aos noviços do Paraguai, me deparei com uma afirmação que diz: “tantas pessoas podem me descrever toda a lógica do capítulo dez d’O Senso Religioso, (...) sem viver nem um minuto da maravilha da qual parte aquele capítulo; isto é, faz todo o percurso lógico contra o método descrito naquele capítulo”. Belíssimo!
Retomei o capítulo dez e, quando cheguei ao terceiro ponto – “Realidade providencial” –, li o seguinte: “não apenas o homem toma consciência de que esta Presença inexorável é bela, atrae possui uma ordem harmônica; constata também que se move segundo um desígnio que pode lhe ser favorável. Esta realidade contém, de modo estável, o dia, a noite, a manhã, a tarde, o outono, o inverno, o verão, a primavera; contém estabelecidos os ciclos nos quais o homem pode rejuvenescer, refrescar-se, manter-se, reproduzir-se... Esta é a característica de qualquer religião: a Providência”.
Amigos caros, vocês entendem onde está o problema que nem os estudantes da Bocconi, nem os Chicago Boys, conseguem mais intuir e, creio, mesmo poucos entre nós? Olho a minha vida e choro de comoção ao ler este capítulo, estas linhas que despertam, desde que eu tinha 7 anos, as grandes perguntas, as grandes exigências do meu coração. Meu Deus! Pensem naquilo que Giussani disse, em como, aqui, é evidente, mas também e ainda mais na minha e na vida de vocês. Então, o problema não é a saúde, a doença, a depressão, o dinheiro, o trabalho, o seguro desemprego, a aposentadoria, a família, os filhos. É somente um o problema: acredito ou não nesta realidade Providencial? Que significado tem e o que significa na minha vida este capítulo dez, que Carrón cita sempre?
Olhem para a minha casa religiosa: vivemos juntos duas enfermeiras, outras três pessoas com problemas diversos, que vêm da Europa e da América Latina, P.e Paolino, um ex-motorista, Padre Daf e eu, o chefe dos “deprimidos”. A cada dia almoçamos juntos, às 13h. Tem aqueles que falam sempre, quem não fala nunca, quem não suporta o outro, quem reivindica o próprio espaço, quem tem problemas de dieta e quem não... Em suma, um circo... não previsto pelo Código de Direito Canônico. Porém, para mim, espero sempre, a cada dia, que chegue o relógio marque as 13h, para comermos juntos. E de onde é que pode nascer minha alegria de almoçar junto?
1. da certeza de que somente Cristo reconhecido me permite esta graça, esta alegria de estar neste belíssimo circo. Tudo se joga na minha familiaridade com Cristo.
2. é o abraço de D. Gius que continua vivo em cada coisa que faço e vivo. Não posso mais viver sem vibrar por aquele abraço que se historiciza nesta grande comunidade na qual tem tudo o que é humano, da concepção à morte. E os milagres se vêem. (...) Hoje nasceu uma empresa de água mineral. (...) Quem é o empresário? Um amigo com problemas de depressão que veio da Itália, que, levando a sério o que disse Maria – a enfermeira de Milão que vive conosco, ajudando, com Anna, na clínica (...) –, prestou contas com a realidade e a realidade, sendo que é providencial, deu à luz esta empresa única no gênero, aqui no Paraguai. Vocês entendem o que quer dizer conseguir a autorização para usar o subsolo, quando mesmo no 3° mundo se estão cada vez mais incrementando as leis restritivas? Além do mais, estamos usando exatamente o gigantesco Acquífero Guarani.
Pois bem, aqui a Providência fez o milagre. E, além do mais, trata-se de uma água declarada ótima pelas faculdades químicas que possui e que nasce do maior acquifero do mundo, o Acquífero Guarani que abraça o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. O meu amigo com “problemas”, graças à companhia deste circo, passou da lamentação à letícia, da situação de desocupado à de ocupado.
Em suma, o problema não são as leis do mercado, mas eu e Deus, eu e o Mistério, eu e a Divina Providência. Ver para crer. Como gostraia que vocês acreditassem no que eu estou contando para vocês! E esta é apenas a última iniciativa acontecida, nos últimos tempos, e que faz bem mesmo quando a pessoa está mal.
A realidade é mesmo providencial para o homem. É preciso apenas, como escreve Marta – a garota que veio para cá, para trabalhar gratuitamente com Anna, a outra jovem enfermeira –, que alguém nos indique a realidade
A realidade é sacramental, de tal forma que não tem nada que aconteça, mesmo a perda do emprego, que nos impeça de encontrar um caminho positivo.
Cheguei aqui como um pobre deprimido, que como muito esforço conseguia ficar de pé, estou sempre circundado de pessoas com problemas com este... e olhem o que acontece quando obedecemos à realidade, quando não lemos o capítulo dez d’O Senso Religioso ideologicamente. Não é preciso a Bocconi para resolver a crise econômica (e a Bocconi é importantíssima, heim?! Se tem quem quer ir, que vá!), mas é preciso gente fascinada, que pula da cadeira de alegria quando se dá conta que possui um instrumento como o capítulo dez d’O Senso Religioso.
Para mim, o segredo de tudo o que se cria aqui na clínica está neste capítulo. É como, hoje, quando, às 6h da manhã, o vice-presidente veio para rezar conosco e eu lembrei a ele que só estamos juntos para nos lembrar este capítulo e levá-lo a sério, como continuamente nos tem repetido, comovidamente, Padre Carrón. Partamos disso para viver a crise econômica e as coisas, de repente, começam a mudar: não tem trabalho aqui... pois bem, inventemos! Assim, nasceu a empressa de água mineral; assim, nasceu, recentemente, a creche, para acolher aquelas crianças cujas mães trabalham na rua, vendendo de tudo e não sabem onde colocar os seus pequenos... com a creche, elas os trazem de manhãzinha e o pegam de volta à noite... é a realidade que é sempre providencial. Cabe à minha liberdade e à de vocês reconhecê-la... o resto, é com ela, mesmo o aspecto econômico.
Com afeto
P.e Aldo
P.S.: Segue uma cópia do email que Maria me mandou no último dia 31 de janeiro:
olá!
Neste um mês que estou aqui, vi que você está usando um método novo comigo: você não é o tipo que se perde em mil discursos e palavrórios, mas é alguém que me diz “olha!”, e me aponta os lugares que são Sacramentais, como a clínica.
Quando fomos às Reduções, fiquei comovida quando vi que, como um pai, você nos fazia ver cada mínimo particular das ruínas, dizendo-nos que uma atenção assim, como tinham os jesuítas, só é possível por um amor a Cristo, e dizia: “olha que bonito! Olha que bonito!”... e si via a simplicidade com a qual você colhia a correspondência entre aquilo que tinha diante dos olhos e as exigências do seu coração, porque se não nos dissessem respeito aquelas ruínas, elas seriam apenas como um monte de pedras. Isto quer dizer “entender”. E, para mim, é desejável; mesmo que, às vezes, eu queira passar mais tempo com você, vejo que o modo com o qual me trata é mais educativo do que qualquer discurso.
Obrigada.
Maria
Cartas do P.e Aldo 10

olhar para a realidade, vivê-la, é sempre um estar em pé olhando para o Mistério, com aquela dramaticidade que lhe faz dizer continuamente “eu sou Tu que me fazes”. O Mistério de que a realidade é sinal e caminho me faz viver comovido e sempre como as “scolte di Asisi”. Por isso, vivo surpreso por tudo e cada coisa é um imprevisto, uma novidade.
Ontem de manhã, o Arcebispo de Asunción me telefonou: “Padre Aldo, preciso de um favor seu. O Arcebispo emérito Dom Santiago Benitez Avalo (nasceu no dia 1° de maio de 1926, na cidade de Piribebuy, no Paraguay, e faleceu no último dia 19 de março, na cidade de Asunción; ndt) está quase chegando na meta e gostaríamos de interná-lo na clínica São Riccardo Pampuri, pois acabou de se recupear de uma infecção hospitalar (estava internado no mais belo hospital de Asunción). Por favor, vocês têm um quarto?”. “Claro que sim, Eminência. Desde a construção da clínica o primeiro pensamento que tive foi que deveria ser para sacerdotes, religiosos, bispos, que nessa terra não têm nenhuma estrutura que os acolha. Além do mais, D. Benitez, além de ser um dos maiores bispos do Paraguai e da América Latina (padre conciliar; redator, com o Papa atual, do Catecismo da Igreja Católica; desempenhou papéis fundamentais no CELAM etc.), foi o padre que, há 20 anos, me acolheu e primeiro quis CL no Paraguai. Deus se serviu dele para acolher este filho pródigo mandado por Giussani e, agora, o filho pródigo acolhe o Pai que tanto se prodiga por ele. Bem, que venha D. Benitez”.
Imaginem a minha alegria: assistir àquele que me acolheu, aquele que foi, aqui, a dilatação do grande abraço de Giussani para mim! Que graça este hospital, onde todo tipo de pessoa é acolhida, amada, ajudada a morre em letícia. Vocês já se perguntaram por que São Francisco chamava “nossa santa morte corporal” ou “irmã morte”?
A realidade é o corpo de Cristo. Olhem esta foto: é um doente de AIDS que está se casando. Aconteceu no domingo passado, dia 1° de fevereiro. Logo depois que disse “sim” e colocou o anel no dedo de sua mulher, entrou em coma. Impressionante: SIM e, depois, perdeu os sentidos. Alguém poderia dizer: mas de que lhe serviu se casar naquelas condições? Amigos, o amor é eterno. O que acaba é o aspecto fenomênico da sexualidade, mas a sexualidade, dimensão constitutiva do eu e origem de cada relação, é para sempre. Não esqueçamos o dogma da Assunção...
O SIM deles não era ligado ao uso dos genitais, mas ao destino deles, depois de 35 anos de concubinato. De outra forma, não conseguirei entender porque todos os meus doentes, antes de morrer – aqueles que vivem em concubinato –, querem se casar, usando como motivo: “quero morrer em paz”. Deixo a vocês o desafio de entrar na profundidade dessa afirmação que, como nada mais, explica o que significa amar, o que significa o sacramento do Matrimônio. Para mim, a morte, o olhar para ela em cada instante, encará-la é, de fato, reviver a beleza, a majestade de cada detalhe da liturgia para os defuntos. Peço-lhes, experimentem pedir a um padre que lhes mostre como a Igreja educa para a morte. Para não falar dos cantos, da Missa de Requiem, no “Dies Irae” (hino composto, no século XIII, por Thomas de Celano; ndt) ou no “De Profundis” (trata-se do salmo 130 - 129 da Vulgata; ndt) etc. Como é bela a realidade, porque a liturgia é a realidade na sua máxima expressão. Sempre mais a clínica está se tornando um lugar de missão. Muitos dos internados são evangélicos que se afastaram da Igreja católica por diversos motivos, mas um motivo em particular se repete: não tem espaço para escutar o homem.
Obviamente que o simples pensamento de encontrar um padre ou um quadro de Nossa Senhora pendurado na parede ou a Eucaristia já cria neles um mal-estar... que, porém, dura poucos dias. O que acontece? Três vezes ao dia faço a procissão com o Santíssimo Sacramento, mas nos quartos onde estão evangélicos paro à porta e lhes dou uma bênção. Enquanto que, com os outros, não apenas os abençoo, mas me coloco de joelhos e beijo a cada um deles. Com os evangélicos, pelo contrário, coloco-me de joelhos e lhes dou um beijo, sem Jesus nas mãos. Ou seja, parto deles, da certeza de que a realidade é o corpo de Cristo. Parto deles, não de Cristo, para que consigamos nos entender... e, com o tempo, aquela realdiade que é o corpo de Cristo lhes conduz a pedir os Sacramentos, a beijar um santinho, a gritar pela Eucaristia. Como é verdade que a missão é a alegria de viver a realidade com a certeza de que ela é o corpo de Cristo.
Assim, vocês entendem o quanto me faz sofrer ler, nos jornais daqui, notícias a respeito de Eluana... sofro porque ela é o corpo de Cristo. E olho para Victor que está em condições muito piores: mas ele é o corpo de Cristo. Amigos, a batalha por Eluana é somente para que o capítulo décimo d’O Senso Religioso se torne nosso e de todos. De outra forma, cairemos na ideologia. Se vocês viverem aquele capítulo como comoção, poderão entender porque falo, olho a morte com certos olhos e desejo que todos a olhem assim, porque é a única maneira de olhar para a vida, para a realidade.
P.e Aldo
terça-feira, 31 de março de 2009
Cartas do P.e Aldo 09
Caros amigos,
Mesmo aqui os jornais deram a notícia do que está acontecendo na Itália, no caso de Eluana. Mesmo aqui eles falam a linguagem do mundo: a Itália, a Igreja divididas em duas – conservadores versus progressistas. A raiva é humana, e mesmo a dor: como a minha pátria, a pátria do Direito Romano etc., chegou a este ponto? Todos nós somos responsáveis pelo que está acontecendo no Corpo de Cristo. Todos nós que, como dizia Giussani, “nos envergonhamos de Cristo”. Sejamos sinceros: não é assim? Se penso no que se reduziu a nossa Presença, hoje, na realidade, no que é a realidade para nós, não posso não perguntar isso.
Carrón, em La Thuile (vilarejo no Vale da Aosta, na Itália, onde se realizam anualmente alguns encontros de Comunhão e Libertação; ndt), falava de “intimismo”. Aquelas palavras são, para mim, um soco no estômago. Olho para Eluana e revejo o capítulo décimo d’O Senso Religioso e me pergunto: mas, eu pulo da cadeira diante da comoção daquelas palavras, diante da realidade? E se não é assim, eu, você, nós somos claramente responsáveis pelo que está acontecendo com Eluana. O que quer dizer, para nós, que a “realidade é providencial”? Mas, o mundo no qual vivemos pula da cadeira pela alegria de nos ver vivendo, trabalhando no hospital?
Olho para a minha clínica, olho para o pequeno Victor, em coma irreversível, cheio de feridas na cabeça, sem crânio, que se alimenta apenas através de uma sonda, e não posso não me comover diante do Mistério palpável que ele é... ele que, inexplicavelmente, continua vivendo. Ele é, está ali, na sua caminha, está ali, me lembrando de que a “realidade é providencial”, tal como nos diz o capítulo décimo d’O Senso Religioso... e do meu coração sai um grito impressionante pelo Infinito: vem, Senhor Jesus... cada vez que eu penso em como nós nos movemos diante da pergunta: “fazemos ou não uma transfusão de sangue (sobre o que já lhes falei)? É possível melhorar a sua qualidade de vida mesmo que por um instante (o mundo diz que eu sou louco)?”. Então, resolvemos incomodar o Instituto João Paulo II, em Roma, para ter uma luz sobre o assunto... e me permito mostrar-lhes de novo a resposta deles.
Caro Padre Aldo,
Tomei conhecimento do caso do pequeno Victor, que você me encaminhou.
Não sendo um especialista em medicina, pedi o parecer de uma professora do nosso Instituto, médica e especialista em bioética.
Com ela e com um outro colega, o Padre Noriega, revisamos toda a problemática que você nos expôs.
Ao final, a Doutora Di Pietro propôs o seguinte parecer, que reflete a opinião amadurecida em conjunto, e que lhe dou a conhecer:
“Tomado conhecimento das condições clínicas de Victor Quinones, nascido no dia 14 de abril de 2007 e, atualmente, internado na Casa Divina Providência de Asunción (Paraguai), sustentamos que – esperando uma definição diagnóstica das causas da anemia progressiva – seja oportuno proceder com a hemotransfusão, a partir de uma via venosa central. No caso em exame, de fato, a hemotransfusão parece ser a intervenção mais significativa para melhorar a qualidade de vida do paciente ou, ao menos, não permitir uma piora do quadro, eliminando a presente sintomatologia. A progressiva redução da hemoglobina e da oxigenação poderia expor os tecidos – e particularmente o cérebro – a uma condição de baixa oxigenação, que agravaria as suas já comprometidas condições. Em um segundo momento, deve-se continuar com o tratamento previsto no protocolo clínico.”
Espero que este parecer seja uma ajuda para você.
Asseguro-lhe uma viva recordação na minha oração ao Senhor da Vida.
Um abraço
P.e Lívio
Isto porque o homem é um Mistério e eu, nós devemos nos render e reconhecê-Lo de joelhos. Dolorosamente, não sendo mais a realidade o ponto de partida, consigo entender (se é mesmo verdade) que tenha havido mesmo alguns padres de Udine que assinaram um apoio à morte de Eluana. Somente quem vive comovido diante da “realidade providencial”, quem está diante do fato, da realidade, pode viver adorando o Mistério de Eluana, de Victor.
Amigos, nunca, como agora, entendo que a nossa batalha é levar a sério o que Giussani nos tem dito através de Carrón. Partamos daqui e Eluana sairá vitoriosa, viva, qualquer que seja a sentença diabólica de quem ficou cego pela ideologia e perdeu a cabeça.
Para mim, olhando os meus doentes em coma há tempos, vejo a beleza de Eluana, que continuará viva na medida em que eu, nós estivermos comovidos diante do que nos diz Giussani no capítulo décimo d’O Senso Religioso.
Creiam-me, é preciso aprendê-lo de cor, pular da cadeira de tanta comoção, para que o caso Eluna não se repita outra vez.
Com afeto
P.e Aldo, Victor, Celeste, Cristina, Aldo etc.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Cartas do P.e Aldo 06
Caros amigos,
Matamos Eluana e, agora, neste exato momento, morreu o pequeno André. Tinha 22 anos, pesava 18kg. Santo Hermano, o Coxo (o monge cirteciense Hermann der Lahme, nascido em 1013, na cidade de Altshausen, e falecido no ano de 1054, no mosteiro alemão de Reichenau, foi o compositor do Salve Regina; ndt), era saudável e “perfeito” se comparado com o meu filho. Além do mais, vivia como em estado vegetativo, se alimentando através de uma sonda. Morreu quando matamos Eluana.
Muitos me perguntam: “mas, como você consegue resistir?”. O que responderia um pai apaixonado por Cristo? Eis aí o coração de tudo... É vivendo a realidade, a dor da realidade, a partir de um abraço como aquele de Giussani por mim, que transformamos a dor em uma porta que introduz mais à realidade, de forma a descobrir a beleza do Mistério que, mediante a morte, nos leva consigo para poder vê-Lo “face a face”.
O corpinho frio de André está aqui, ao meu lado. Caberia dentro de um saquinho. Mas, ele, André, é o meu Jesus nos braços de Nossa Senhora, aos pés da cruz. Que belo é este seu corpo, que tanto adorei na companhia dos meus amigos médicos e de todo o pessoal. Como gostaria que Eluana, neste momento, nos dissesse: “tenham a coragem de olhar na cara a realidade... retomem o 'Capítulo X' d’O Senso Religioso... é o único caminho para que não continuemos matando a realidade, o coração de cada pessoa”. Os meus filhos que morrem, as minhas crianças completamente mudas pela doença, todos com a sonda para se alimentar... são todas pequenas Eluanas... e me remetem ao Mistério feito carne neles. Eles são Jesus na cruz.
Mas, vocês entendem o que quer dizer, para mim, e por que escrevo para vocês desta maneira?... dessa maneira que pode cansar a quem não é uma pai, a quem nunca perdeu um filho... a quem é burguês. É possível estar diante da morte de Eluana da mesma maneira como estamos, normalmente, diante da realidade: distraídos.
A Virgindade é uma plenitude de paternidade e de maternidade, com uma ferida que se fechará apenas quando me encontrar definitivamente com Cristo. A Virgindade exige as feridas do coração e somente assim se torna a forma mais alta de dor, de amor e de alegria, de paternidade. Que Eluana nos perdoe o pouco amor à realidade, o pouco sentido do Mistério que vivemos... e que André nos conceda a graça de morrer como ele: na companhia de Jesus, Maria e José. A companhia de quem nos quer bem.
Confio sua alma às orações de vocês. Amanhã, o levarei comigo para o cemitério. Vem-me à mente aquela mulher de “Os Noivos” (romance de Alessandro Manzoni; ndt), que saia de casa com o pequeno corpo de seu filho morto pela peste, nos braços... É como o meu André, pequeno como ele, enterrado entre os meus outros filhos mortos, na companhia desse pobre pecador e dos meus amigos. Gostaria tanto que fosse sempre a maravilha a nos mover, porque só assim descobriremos que a realidade é Providencial... única possibilidade de entender como Eluana e André podem se tornar caminho para o reconhecimento do Mistério.
Termino esta carta e já é manhã. Dormi pouco e nem mesmo o sonífero serviu para me fazer dormir. Ou melhor, serviu para que a primeira coisa que eu fizesse esta manhã tenha sido confessar-me... porque, sendo o corpo místico de Cristo, todos somos responsáveis pelo que aconteceu a Eluana. “Deem-me quatro pessoas apaixonadas por Cristo e colocarei fogo na Itália”, dizia Santa Catarina de Sena. Deus queira que estejamos entre estes quatro.
Com afeto
P.e Aldo
sexta-feira, 13 de março de 2009
Cartas do P.e Aldo 01
Queridos amigos,
muitos me perguntam: "como você conseguiu se recuperar da depressão e como pode afirmar que a depressão é uma graça e não uma doença?".
1. a coisa é muito simples e dramática: levei a sério "O senso religioso" (obra do padre italiano Luigi Giussani, falecido em 2005, publicada em português pela editora Nova Fronteira; ndt) e, em particular as três premissas (realismo, razoabilidade e moralidade; descritas nos três primeiros capítulos da referida obra; ndt). Ali está tudo. Aprendi aquelas coisas de cor e as vivi mesmo nas vírgulas. Não tive necessidade de psiquiatras (a não ser por questões relativas aos medicamentos... mas, quando me disseram que tinha que ficar internado, abandonei-os). O constante confronto com a Escola de Comunidade (encontro catequético de Comunhão e Libertação; ndt) foi e é a minha única terapia.
2. obediência total à realidade, assim como Giussani (fundador do Movimento católico Comunhão e Libertação; ndt) e Carrón (atual responsável mundial do Movimento Comunhão e Libertação; ndt) nos explicaram: dizer pão ao pão e vinho ao vinho. Nada de sentimentalismos ou emoções... a realidade chama e ou a pessoa tem a humildade de responder ou se arruina. Se a depressão faz fugir da realidade, a pessoa deve, imediatamente, pedir que seja preso pela realidade.
3. o abraço de alguém a quem obedecer, como uma criança. Mas aqui, se a pessoa não tem a humildade da razão, nada acontecerá. Para mim, isto era e é claro, como clara é a luta para que o orgulho, que é o contrário da adesão à realidade, não vença em mim.
4. uma graça, porque tudo aquilo que me permite mendigar Cristo é uma graça. E, acredito, dada a cabeça dura que temos, que não existe nada mais eficaz do que a doença para nos fazer cair de joelhos. Certamente tem a beleza. Mas, tristemente, para nós, a beleza é só um esteticismo que não nos move, que não nos dobra. Então, bendita seja a dor.
No fundo o ponto é apenas um: ou Deus existe ou não existe. Mas, se existe tudo aquilo que nos remete a "eu sou Tu que me fazes" é uma graça. O meu hospital é, para mim, o maior milagre que tenho, porque mesmo os tumores de 1kg no rosto dos meus doentes se transformam em graça, isto é, em encontro com Cristo.
Amigos, ou estamos convencidos disto ou é melhor a anarquia. Ou Cristo ou nada
Ciao
P.e Aldo