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domingo, 8 de abril de 2012

Feliz Páscoa!



O imperador interrogou os cristãos: “Homens estranhos... Dizei-me vós mesmos, ó cristãos, abandonados pela maioria de vossos irmãos e de vossos chefes, o que vos é mais caro no cristianismo?”. Levantou-se, então, o starets João e respondeu com doçura: “Ó grande rei, o que nos é mais caro no cristianismo é o próprio Cristo. Ele próprio e tudo o que dEle vem, porque sabemos que nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”.
(SOLOVIEV, Vladimir. Breve conto sobre o Anticristo)

* MASACCIO. O tributo da moeda (detalhe). Florença: Capela Brancacci, 1427.

sábado, 7 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Tríduo Pascal



Sábado Santo
    
1ª Leitura - Gn 1,1-2,2
No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!” E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. E à luz Deus chamou “dia” e às trevas, “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia. Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. E Deus fez o firmamento, e separou as águas que estavam embaixo, das que estavam em cima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento Deus chamou “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia. Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar e apareça o solo enxuto!”. E assim se fez. Ao solo enxuto Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. E Deus viu que era bom. Deus disse: “A terra faça brotar vegetação e plantas que deem semente, e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie, que tenham nele a sua semente sobre a terra”. E assim se fez. E a terra produziu vegetação e plantas que trazem semente segundo a sua espécie, e árvores que dão fruto tendo nele a semente da sua espécie. E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de sinais para marcar as épocas os dias e os anos, e que resplandeçam no firmamento do céu e iluminem a terra”. E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para presidir ao dia,e o luzeiro menor para presidir à noite, e as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para alumiar a terra, 18para presidir ao dia e à noite e separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. E houve uma tarde e uma manhã: quarto dia. Deus disse: “Fervilhem as águas de seres animados de vida e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam, em multidão, nas águas, segundo as suas espécies, e todas as aves, segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo as suas espécies”. E assim se fez. Deus fez os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos segundo as suas espécies e todos os répteis do solo segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. E Deus disse: “Eis que vos entrego todas as plantas que dão semente  sobre a terra, e todas as árvores que produzem fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou todos os  vegetais para alimento”. E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. E assim foram concluídos o céu e a terra com todo o seu exército. No sétimo dia, Deus considerou acabada toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia descansou de toda a obra que fizera.

Salmo - Sl 103
R. Enviai o vosso Espírito Senhor,
e da terra toda a face renovai.

Bendize, ó minha alma, ao Senhor!*
Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
De majestade e esplendor vos revestis*
e de luz vos envolveis como num manto. R.

A terra vós firmastes em suas bases,*
ficará firme pelos séculos sem fim;
os mares a cobriam como um manto,*
e as águas envolviam as montanhas. R.

Fazeis brotar em meio aos vales as nascentes*
que passam serpeando entre as montanhas;
às suas margens vêm morar os passarinhos,*
entre os ramos eles erguem o seu canto. R.

De vossa casa as montanhas irrigais,*
com vossos frutos saciais a terra inteira;
fazeis crescer os verdes pastos para o gado*
e as plantas que são úteis para o homem. R.

Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras,*
e que sabedoria em todas elas!
Encheu-se a terra com as vossas criaturas!*
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! R.

2ª Leitura - Gn 22,1-18
Naqueles dias, Deus pôs Abraão à prova. Chamando-o, disse: “Abraão!”. E ele respondeu: “Aqui estou”. E Deus disse: “Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um monte que eu te indicar”. Abraão levantou-se bem cedo, selou o jumento, tomou consigo dois dos seus servos e seu filho Isaac. Depois de ter rachado lenha para o holocausto, pôs-se a caminho, para o lugar que Deus lhe havia ordenado. No terceiro dia, Abraão, levantando os olhos, viu de longe o lugar. Disse, então, aos seus servos: “Esperai aqui com o jumento, enquanto eu e o menino vamos até lá. Depois de adorarmos a Deus, voltaremos a vós”. Abraão tomou a lenha para o holocausto e a pôs às costas do seu filho Isaac, enquanto ele levava o fogo e a faca. E os dois continuaram caminhando juntos. Isaac disse a Abraão: “Meu pai”. “Que queres, meu filho?”, respondeu ele. E o menino disse: “Temos o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?”. Abraão respondeu: “Deus providenciará a vítima para o holocausto, meu filho”. E os dois continuaram caminhando juntos. Chegados ao lugar indicado por Deus, Abraão ergueu um altar, colocou a lenha em cima, amarrou o filho e o pôs sobre a lenha em cima do altar. Depois, estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho. E eis que o anjo do Senhor gritou do céu, dizendo: “Abraão! Abraão!”. Ele respondeu: “Aqui estou!”. E o anjo lhe disse: “Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único”. Abraão, erguendo os olhos, viu um carneiro preso num espinheiro pelos chifres; foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho. Abraão passou a chamar aquele lugar: “O Senhor providenciará”. Donde até hoje se diz: “Sobre o monte o Senhor providenciará”. O anjo do Senhor chamou Abraão, pela segunda vez, do céu, e lhe disse: “Juro por mim mesmo - oráculo do Senhor -, uma vez que agiste deste modo e não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste”.

Salmo - Sl 15
R. Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

Ó Senhor, sois minha herança e minha taça,*
meu destino está seguro em vossas mãos!
Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,*
pois se o tenho a meu lado não vacilo. R.

Eis por que meu coração está em festa,
minha alma rejubila de alegria,*
e até meu corpo no repouso está tranqüilo;
pois não haveis de me deixar entregue à morte,*
nem vosso amigo conhecer a corrupção. R.

Vós me ensinais vosso caminho para a vida;
junto a vós, felicidade sem limites,*
delícia eterna e alegria ao vosso lado! R.

3ª Leitura - Ex 14,15-15,1
Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha. Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. De minha parte, endurecerei o coração dos egípcios, para que sigam atrás deles, e eu seja glorificado às custas do Faraó, e de todo o seu exército, dos seus carros e cavaleiros. E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do Faraó, dos seus carros e cavaleiros”. Então, o anjo do Senhor, que caminhava à frente do acampamento dos filhos de Israel, mudou de posição e foi para trás deles; e com ele, ao mesmo tempo, a coluna de nuvem, que estava na frente, colocou-se atrás, 20inserindo-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento dos filhos de Israel. Para aqueles a nuvem era tenebrosa, para estes, iluminava a noite. Assim, durante a noite inteira, uns não puderam aproximar-se dos outros. Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante toda a noite o Senhor fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte; e as águas se dividiram. Então, os filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam como que uma muralha à direita e à esquerda. Os egípcios puseram-se a persegui-los, e todos os cavalos do Faraó, carros e cavaleiros os seguiram mar adentro. Ora, de madrugada, o Senhor lançou um olhar, desde a coluna de fogo e da nuvem, sobre as tropas egípcias e as pôs em pânico. Bloqueou as rodas dos seus carros, de modo que só a muito custo podiam avançar. Disseram, então, os egípcios: “Fujamos de Israel! Pois o Senhor combate a favor deles, contra nós”. O Senhor disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem contra os egípcios, seus carros e cavaleiros”. Moisés estendeu a mão sobre o mar e, ao romper da manhã, o mar voltou ao seu leito normal, enquanto os egípcios, em fuga, corriam ao encontro das águas, e o Senhor os mergulhou no meio das ondas. As águas voltaram e cobriram carros, cavaleiros e todo o exército do Faraó, que tinha entrado no mar em perseguição de Israel. Não escapou um só. Os filhos de Israel, ao contrário, tinham passado a pé enxuto pelo meio do mar, cujas águas lhes formavam uma muralha à direita e à esquerda. Naquele dia, o Senhor livrou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, e a mão poderosa do Senhor agir contra eles. O povo temeu o Senhor, e teve fé no Senhor e em Moisés, seu servo. Então, Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor este cântico.

Salmo - Ex 15, 1-5.17-18
R. O Senhor é rei para sempre.

“Cantarei ao Senhor, porque ele manifestou sua glória.
Precipitou no mar cavalos e cavaleiros.         
O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico;
foi ele quem me salvou.

Ele é o meu Deus – eu o celebrarei;
o Deus de meu pai – eu o exaltarei.   
O Senhor é o herói dos combates, seu nome é Javé.
Lançou no mar os carros do faraó e o seu exército;
a elite de seus combatentes afogou-se no mar Vermelho;

o abismo os cobriu; afundaram-se nas águas como pedra.
Conduzi-lo-eis e o plantareis na montanha que vos pertence,
no lugar que preparastes para vossa habitação,
Senhor, no santuário, Senhor, que vossas mãos fundaram.
O Senhor é rei para sempre, sem fim!”.

4ª Leitura - Is 54,5-14
Teu esposo é aquele que te criou, seu nome é Senhor dos exércitos; teu redentor, o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. O Senhor te chamou, como a mulher abandonada e de alma aflita; como a esposa repudiada na mocidade, falou o teu Deus. Por um breve instante eu te abandonei, mas com imensa compaixão volto a acolher-te. Num momento de indignação, por um pouco ocultei de ti minha face, mas com misericórdia eterna compadeci-me de ti, diz teu salvador, o Senhor. Como fiz nos dias de Noé, a quem jurei nunca mais inundar a terra, assim juro que não me irritarei contra ti nem te farei ameaças. Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu misericordioso Senhor. Pobrezinha, batida por vendavais, sem nenhum consolo, eis que assentarei tuas pedras sobre rubis, e tuas bases sobre safiras; revestirei de jaspe tuas fortificações, e teus portões, de pedras preciosas, e todos os teus muros, de pedra escolhida. Todos os teus filhos serão discípulos do Senhor, teus filhos possuirão muita paz; terás a justiça por fundamento. Longe da opressão, nada terás a temer; serás livre do terror, porque ele não se aproximará de ti.

Salmo - Sl 29
R. Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes!

Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,*
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
Vós tirastes minha alma dos abismos*
e me salvastes, quando estava já morrendo! R.

Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,*
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
Pois sua ira dura apenas um momento,*
mas sua bondade permanece a vida inteira;
se à tarde vem o pranto visitar-nos,*
de manhã vem saudar-nos a alegria. R.

Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!*
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
Transformastes o meu pranto em uma festa,*
Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos! R.

5ª Leitura - Is 55,1-11
Assim diz o Senhor, “Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças concedidas a Davi. Eis que fiz dele uma testemunha para os povos, chefe e mestre para as nações. Eis que chamarás uma nação que não conhecias, e acorrerão a ti povos que não te conheciam, por causa do Senhor, teu Deus, e do Santo de Israel, que te glorificou. Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto. Abandone o ímpio seu caminho, e o homem injusto, suas maquinações; volte para o Senhor, que terá piedade dele, volte para nosso Deus, que é generoso no perdão. Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra. Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

Salmo - Is 12, 2.4-6
R. Com alegria bebereis do manancial da salvação.

Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo;*
o Senhor é minha força, meu louvor e salvação.
Com alegria bebereis do manancial da salvação. R.

e direis naquele dia: “Dai louvores ao Senhor,
invocai seu santo nome, anunciai suas maravilhas,*
entre os povos proclamai que seu nome é o mais sublime. R.

Louvai cantando ao nosso Deus, que fez prodígios e portentos,*
publicai em toda a terra suas grandes maravilhas!
Exultai cantando alegres, habitantes de Sião,*
porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!”. R.

6ª Leitura - Br 3,9-15.32-4,4
Ouve, Israel, os preceitos da vida; presta atenção, para aprenderes a sabedoria. Que se passa, Israel? Como é que te encontras em terra inimiga? Envelheceste num país estrangeiro, te contaminaste com os mortos, foste contado entre os que descem à mansão dos mortos. Abandonaste a fonte da sabedoria! Se tivesses continuado no caminho de Deus, viverias em paz para sempre. Aprende onde está a sabedoria, onde está a fortaleza e onde está a inteligência, e aprenderás também onde está a longevidade e a vida, onde está o brilho dos olhos e a paz. Quem descobriu onde está a sabedoria? Quem penetrou em seus tesouros? Aquele que tudo sabe, conhece-a, descobriu-a com sua inteligência; aquele que criou a terra para sempre e a encheu de animais e quadrúpedes; aquele que manda a luz, e ela vai, chama-a de volta, e ela obedece tremendo. As estrelas cintilam em seus postos de guarda e alegram-se; ele chamou-as, e elas respondem: “Aqui estamos”; e alumiam com alegria o que as fez. Este é o nosso Deus, e nenhum outro pode comparar-se com ele. Ele revelou todo o caminho da sabedoria a Jacó, seu servo, e a Israel, seu bem-amado. Depois, ela foi vista sobre a terra e habitou entre os homens. A sabedoria é o livro dos mandamentos de Deus, é a lei, que permanece para sempre. Todos os que a seguem, têm a vida, e os que a abandonam, têm a morte. Volta-te, Jacó, e abraça-a; marcha para o esplendor, à sua luz. Não dês a outro a tua glória nem cedas a uma nação estranha teus privilégios. Ó Israel, felizes somos nós, porque nos é dado conhecer o que agrada a Deus.

Salmo - Sl 18
R. Senhor, tens palavras de vida eterna.

Alei do Senhor Deus é perfeita,*
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,*
sabedoria dos humildes. R.

Os preceitos do Senhor são precisos,*
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,*
para os olhos é uma luz. R.

É puro o temor do Senhor,*
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos*
e justos igualmente. R.

Mais desejáveis do que o ouro são eles,*
do que o ouro refinado.
Suas palavras são mais doces que o mel,*
que o mel que sai dos favos. R.

7ª Leitura - Ez 36,16-17a.18-28
A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: “Filho do homem, os da casa de Israel estavam morando em sua terra. Mancharam-na com sua conduta e suas más ações. Então derramei sobre eles a minha ira, por causa do sangue que derramaram no país e dos ídolos com os quais o mancharam. Eu dispersei-os entre as nações, e eles foram espalhados pelos países. Julguei-os de acordo com sua conduta e suas más ações. Quando eles chegaram às nações para onde foram, profanaram o meu santo nome; pois deles se comentava: ‘Esse é o povo do Senhor; mas tiveram de sair do seu país!’. Então eu tive pena do meu santo nome que a casa de Israel estava profanando entre as nações para onde foi. Por isso, dize à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus: Não é por causa de vós que eu vou agir, casa de Israel, mas por causa do meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. Vou mostrar a santidade do meu grande nome, que profanastes no meio das nações. As nações saberão que eu sou o Senhor - oráculo do Senhor Deus - quando eu manifestar minha santidade à vista delas por meio de vós. Eu vos tirarei do meio das nações,  vos reunirei de todos os países, e vos conduzirei para a vossa terra. Derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados. Eu vos purificarei de todas as impurezas e de todos os ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei o meu espírito dentro de vós e farei com que sigais a minha lei e cuideis de observar os meus mandamentos. Habitareis no país que dei a vossos pais. Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus.

Salmo - Sl 41
R. A minh’alma tem sede de Deus.

A minh’alma tem sede de Deus,*
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver*
a face de Deus? R.

Peregrino e feliz caminhando*
para a casa de Deus,
entre gritos, louvor e alegria*
da multidão jubilosa. R.

Enviai vossa luz, vossa verdade:*
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso Monte santo,*
até a vossa morada! R.

Então irei aos altares do Senhor,*
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei, ao som da harpa,*
meu Senhor e meu Deus! R.

Evangelho - Mc 16,1-7
Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?”. Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra já tinha sido retirada. Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado do lado direito, vestido de branco. E ficaram muito assustadas. Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”.

Comentário feito por São Cromácio de Aquileia (?-407)
bispo

O mundo inteiro, que celebra a Vigília Pascal durante toda esta noite, testemunha a grandeza e a solenidade da mesma. E com razão: nesta noite a morte foi vencida, a Vida está viva, Cristo ressuscitou dos mortos. Outrora, Moisés dissera ao povo, a propósito desta Vida: “Sentireis a vossa vida suspensa e tremereis noite e dia” (Dt 28,66). [...] Que aqui se trata de Cristo Senhor, é Ele próprio que no-lo mostra no Evangelho, quando diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele Se diz o caminho, porque conduz ao Pai; a verdade, porque condena a mentira; e a vida, porque comanda a morte [...]: “Onde está, ó morte, a tua vitória?  Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor 15,55). Porque a morte, que sempre fora vitoriosa, foi vencida pela morte dAquele que a venceu. A Vida aceitou morrer para desconcertar a morte. Da mesma forma que, ao nascer do dia, as trevas desaparecem, assim foi a morte aniquilada, quando se ergueu a Vida eterna. [...] Eis, pois, o Tempo Pascal. Outrora, Moisés falou ao seu povo dizendo: “Este mês será para vós o primeiro dos meses; ele será para vós o primeiro dos meses do ano” (Ex 12,2). [...] O primeiro mês do ano não é, portanto, janeiro, em que tudo está morto, mas o Tempo Pascal, em que tudo retorna à vida. Porque é agora que a erva dos prados, de certa forma, ressuscita da morte, é agora que há flores nas árvores e que as vinhas têm rebentos, é agora que o próprio ar parece feliz com o início de um novo ano. [...] Este Tempo Pascal é, assim, o primeiro mês, o tempo novo [...] e, também neste dia, o gênero humano é renovado. Pois hoje, no mundo inteiro, inumeráveis povos ressuscitam, pela água do batismo, para uma vida nova. [...] E nós, que acreditamos que o Tempo Pascal é, na verdade, o ano novo, devemos celebrar esse santo dia com toda a alegria e exultação e júbilo espiritual, para podermos dizer, verdadeiramente, este refrão do salmo: “Este é o dia da vitória do Senhor: cantemos e alegremo-nos nele!” (117,24).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Tríduo Pascal


Sexta-feira da Paixão do Senhor
     
1ª Leitura - Is 52,13 - 53,12
Ei-lo, o meu Servo será bem sucedido; Sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-Lo - tão desfigurado Ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -, do mesmo modo Ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dEle os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que jamais ouviram. "Quem de nós deu crédito ao que ouvimos? E a quem foi dado reconhecer a força do Senhor? Diante do Senhor Ele cresceu como renovo de planta ou como raiz em terra seca. Não tinha beleza nem atrativo para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse. Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos; passando por Ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos caso dEle. A verdade é que Ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, Ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a Ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura. Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós". Foi maltratado, e submeteu-Se, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, Ele não abriu a boca. Foi atormentado pela angústia e foi condenado. Quem se preocuparia com Sua história de origem? Ele foi eliminado do mundo dos vivos; e por causa do pecado do meu povo foi golpeado até morrer. Deram-Lhe sepultura entre ímpios, um túmulo entre os ricos, porque Ele não praticou o mal nem se encontrou falsidade em Suas palavras. O Senhor quis macerá-Lo com sofrimentos. Oferecendo Sua vida em expiação, Ele terá descendência duradoura, e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre Si suas culpas. Por isso, compartilharei com Ele multidões e Ele repartirá Suas riquezas com os valentes seguidores, pois entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; Ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores.

Salmo - Sl 30
R. Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.

Senhor, eu ponho em vós minha esperança;*
que eu não fique envergonhado eternamente!
Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito,*
porque vós me salvareis, ó Deus fiel! R.

Tornei-me o opróbrio do inimigo,*
o desprezo e zombaria dos vizinhos,
e objeto de pavor para os amigos;*
fogem de mim os que me veem pela rua.
Os corações me esqueceram como um morto,*
e tornei-me como um vaso espedaçado. R.

A Vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio,*
e afirmo que só Vós sois o meu Deus!
Eu entrego em Vossas mãos o meu destino;*
libertai-me do inimigo e do opressor! R.

Mostrai serena a Vossa face ao Vosso servo,*
e salvai-me pela Vossa compaixão!
Fortalecei os corações, tende coragem,*
todos vós que ao Senhor vos confiais! R

2ª Leitura - Hb 4,14-16; 5,7-9
Irmãos, temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno. Cristo, nos dias de Sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Àquele que era capaz de salvá-Lo da morte. E foi atendido, por causa de Sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que Ele sofreu. Mas, na consumação de Sua vida, tornou-Se causa de salvação eterna para todos os que Lhe obedecem.

Evangelho - Jo 18,1-19,42
Naquele tempo, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia aí um jardim, onde Ele entrou com os discípulos. Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus costumava reunir-Se aí com os Seus discípulos. Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus, e chegou ali com lanternas, tochas e armas. Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e disse: "A quem procurais?". Responderam: "A Jesus, o nazareno". Ele disse: "Sou eu". Judas, o traidor, estava junto com eles. Quando Jesus disse: "Sou eu", eles recuaram e caíram por terra. De novo lhes perguntou: "A quem procurais?". Eles responderam: "A Jesus, o nazareno". Jesus respondeu: "Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem". Assim se realizava a palavra que Jesus tinha dito: "Não perdi nenhum daqueles que me confiaste". Simão Pedro, que trazia uma espada consigo, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. Então Jesus disse a Pedro: "Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que o Pai me deu?". Então, os soldados, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e O amarraram. Conduziram-nO primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o sumo sacerdote naquele ano. Foi Caifás que deu aos judeus o conselho: "É preferível que um só morra pelo povo". Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote. Pedro ficou fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu, conversou com a encarregada da porta e levou Pedro para dentro. A criada que guardava a porta disse a Pedro: "Não pertences também tu aos discípulos desse homem?". Ele respondeu: "Não". Os empregados e os guardas fizeram uma fogueira e estavam-se aquecendo, pois fazia frio. Pedro ficou com eles, aquecendo-se. Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de seu ensinamento. Jesus lhe respondeu: "Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que  falei; eles sabem o que eu disse". Quando Jesus falou isso, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo: "É assim que respondes ao sumo sacerdote?". Respondeu-lhe Jesus: "Se respondi mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?". Então, Anás enviou Jesus amarrado para Caifás, o sumo sacerdote. Simão Pedro continuava lá, em pé, aquecendo-se. Disseram-lhe: "Não és tu, também, um dos discípulos dele?". Pedro negou: "Não!". Então um dos empregados do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha, disse: "Será que não te vi no jardim com ele?". Novamente Pedro negou. E na mesma hora, o galo cantou. De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de manhã cedo. Eles mesmos não entraram no palácio, para não ficarem impuros e poderem comer a páscoa. Então Pilatos saiu ao encontro deles e disse: "Que acusação apresentais contra este homem?". Eles responderam: "Se não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti!". Pilatos disse: "Tomai-o vós mesmos e julgai-o de acordo com a vossa lei". Os judeus lhe responderam: "Nós não podemos condenar ninguém à morte". Assim se realizava o que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer. Então Pilatos entrou de novo no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: "Tu és o rei dos judeus?". Jesus respondeu: "Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?". Pilatos falou: "Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?". Jesus respondeu: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui". Pilatos disse a Jesus: "Então tu és rei?". Jesus respondeu: "Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz". Pilatos disse a Jesus: "O que é a verdade?". Ao dizer isso, Pilatos saiu ao encontro dos judeus, e disse-lhes: "Eu não encontro nenhuma culpa nele. Mas existe entre vós um costume, que pela Páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos Judeus?". Então, começaram a gritar de novo: "Este não, mas Barrabás!". Barrabás era um bandido. Então Pilatos mandou flagelar Jesus. Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça de Jesus. Vestiram-nO com um manto vermelho, aproximavam-se dEle e diziam: "Viva o rei dos judeus!". E davam-Lhe bofetadas. Pilatos saíu de novo e disse aos judeus: "Olhai, eu O trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nEle crime algum". Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes: "Eis o homem!". Quando viram Jesus, os sumos sacerdotes e os guardas começaram a gritar: "Crucifica-O! Crucifica-O!". Pilatos respondeu: "Levai-O vós mesmos para O crucificar, pois eu não encontro nEle crime algum". Os judeus responderam: "Nós temos uma Lei, e, segundo esta Lei, Ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus". Ao ouvir estas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus: "De onde és Tu?". Jesus ficou calado. Então Pilatos disse: "Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para Te soltar e autoridade para Te crucificar?". Jesus respondeu: "Tu não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior". Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam: "Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César". Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado "Pavimento", em hebraico "Gábata". Era o dia da preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: "Eis o vosso rei!". Eles, porém, gritavam: "Fora! Fora! Crucifica-o!". Pilatos disse: "Hei de crucificar o vosso rei?". Os sumos sacerdotes responderam: "Não temos outro rei senão César". Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles O levaram. Jesus tomou a cruz sobre Si e saiu para o lugar chamado "Calvário", em hebraico "Gólgota". Ali O crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: "Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus". Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: "Não escrevas 'O Rei dos Judeus', mas sim o que Ele disse: 'Eu sou o Rei dos judeus'". Pilatos respondeu: "O que escrevi, está escrito". Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a Sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. Disseram então entre si: "Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será". Assim se cumpria a Escritura que diz: "Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica". Assim procederam os soldados. Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que Ele amava, disse à mãe: "Mulher, este é o teu filho". Depois disse ao discípulo: "Esta é a tua mãe". Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: "Tenho sede". Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. Ele tomou o vinagre e disse: "Tudo está consumado". E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas; mas um soldado abriu-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: "Não quebrarão nenhum dos seus ossos". E outra Escritura ainda diz: "Olharão para aquele que transpassaram". Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus - mas às escondidas, por medo dos judeus - pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus. Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido a Jesus de noite. Trouxe uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-nO, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar. No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Por causa da preparação da Páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus.

Comentário feito por Salviano de Marselha (c. 400-c. 480)
presbítero 

O amor de Deus por nós é bem maior que o de um pai. É isso que comprovam as palavras do Salvador no Evangelho: "Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o Seu Filho Unigênito" (Jo 3,16). E o apóstolo Paulo também refere: "Ele, que nem sequer poupou o Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?" (Rm 8,32). Por isso nos ama Deus mais do que um pai ama o seu filho. É evidente que Deus nos estima para além da afeição paternal: por nós, não poupou o Seu Filho ─ e que Filho! Esse Filho justo, este Filho único, este Filho que é Deus. Poder-se-á dizer mais? Sim! Foi por nós, quer dizer, pelos maus, pelos culpados, que Ele não O poupou. [...] Por isso o apóstolo Paulo, para nos advertir, em certa medida, da imensidade da misericórdia de Deus, exprime-se assim: "De fato, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente alguém morrerá por um justo" (Rm 5,6-7). Com golpe certeiro, basta esta passagem para ele nos mostrar o amor de Deus. Porque, se dificilmente alguém morreria por um grande justo, Cristo provou-nos ser superior, morrendo pelos culpados que nós somos. Mas por que o Senhor agiu assim? O apóstolo Paulo explica-no-lo imediatamente pelo que se segue: "mas é assim que Deus demonstra o Seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. E, agora que fomos justificados pelo Seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele" (v. 8-9). A prova que Ele nos deu foi o ter morrido pelos culpados: uma mercê tem mais valor quando é feita a indignos. [...] Porque, se Ele a tivesse concedido a santos e a homens de mérito não teria demonstrado que é Aquele que dá o que não deveria ser dado ─ teria demonstrado ser Aquele que não faz mais do que render o que é devido. Que Lhe retribuiremos, então, por tudo isto?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Tríduo Pascal


Quinta-feira da Semana Santa  
     
1ª Leitura - Ex 12,1-8.11-14
O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: "Este mês será para vós o começo dos meses, será o primeiro mês do ano. Falai assim a toda a comunidade de Israel: No dia dez deste mês, cada um tome um animal por família — um animal para cada casa. Se a gente da casa for pouca para comer um animal, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Para cada animal deveis calcular o número de pessoas que vão comer. O animal será sem defeito, macho de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um cabrito. Devereis guardá-lo até o dia catorze deste mês, quando, ao cair da tarde, toda a comunidade de Israel reunida o imolará. Tomarão um pouco do sangue e untarão as ombreiras da porta das casas onde comerem. Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas. Assim devereis comê-lo: com os cintos na cintura, os pés calçados, o cajado na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa do Senhor. Nessa noite eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os primogênitos no país, tanto das pessoas como dos animais. Farei justiça contra todos os deuses do Egito — eu, o Senhor. O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes. Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora quando eu ferir a terra do Egito. Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua".

Salmo - Sl 116
R. Que retribuirei ao Senhor por todo o bem que me deu?

Como retribuirei ao Senhor 
todos os seus benefícios para comigo?  
Elevarei o cálice da salvação, 
invocando o nome do Senhor. 

É preciosa aos olhos do Senhor 
a morte dos seus fiéis. 
Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; 
quebraste as minhas cadeias.  

Hei-de oferecer-te sacrifícios de louvor, 
invocando, Senhor, o teu nome.  
Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhor 
na presença de todo o seu povo.

1ª Leitura - 1Cor 11,23-26
De fato, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: Na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo † entregue por vós. Fazei isto em minha memória". Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em minha memória". De fato, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.

Evangelho - Lc 4,16-21
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, † hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia. O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus. Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da ceia, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura. Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura. Chegou assim a Simão Pedro. Este disse: "Senhor, tu vais lavar-me os pés?". Jesus respondeu: "Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás". Pedro disse: "Tu não me lavarás os pés nunca!" Mas Jesus respondeu: "Se eu não te lavar, não terás parte comigo". Simão Pedro disse: "Senhor, então lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça". Jesus respondeu: "Quem tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós também estais limpos, mas não todos". Ele já sabia quem o iria entregar. Por isso disse: "Não estais todos limpos". Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: "Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós".

Comentário feito por Santa Catarina de Sena (1347-1380)
terceira dominicana, Doutora da Igreja

"Tenho ardentemente desejado comer convosco esta Páscoa antes de padecer" (Lc 22,15). Recordando estas palavras do nosso Salvador, se me perguntassem qual é a Páscoa que eu desejo ter convosco, responder-vos-ia: não há outra Páscoa que não a do Cordeiro imolado, a que Ele fez de Si mesmo quando Se entregou aos Seus amados discípulos. Oh doce cordeiro pascal, preparado pelo fogo do amor de Deus na Sua santíssima cruz! Alimento divino, fonte de alegria, de deleite e de consolo! Nada nos falta, uma vez que para os Teus servos Te fizeste mesa, alimento e servo. [...] O Verbo, o Filho único de Deus, deu-Se a nós com um grande fogo de amor. Quem nos apresenta esta Páscoa hoje? O servo Espírito Santo. Por causa do amor desmesurado que tem por nós, Ele não se contentou em fazer-nos servir por outros, é Ele mesmo que quer ser o nosso servo. É nesta mesa que a minha alma deseja estar [...] para comer a Páscoa antes de morrer. [...] Sabei que é bom que nos apresentemos nesta mesa simultaneamente despojados e vestidos: despojados de todo o egoísmo, de toda a atracção pelo mundo, de toda a negligência e de toda a tristeza [...] – porque uma má tristeza definha a alma – e envolvidos na caridade ardente de Cristo. [...] Quando a alma contempla o seu criador e a bondade infinita que encontra nEle, não pode deixar de O amar. [...] De imediato ama aquilo que Deus ama e detesta o que Lhe desagrada, porque Ele Se despojou de Si mesmo por amor. [...] Por causa da Sua fome pela nossa salvação e pela honra de Seu Pai, Cristo humilhou-Se e sujeitou-Se a uma morte ignominiosa na cruz, embriagado de amor e apaixonado por nós. Esta é a Páscoa que eu desejo celebrar.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Semana Santa


4ª-feira da Semana Santa
     
1ª Leitura - Is 50,4-9a
O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; Ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não Lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?

Salmo - Sl 68
R. Respondei-me pelo vosso imenso amor,
neste tempo favorável, Senhor Deus.

Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.
Pois meu zelo e meu amor por Vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
e os insultos de infiéis que Vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!R. 

O insulto me partiu o coração;+
Eu esperei que alguém de mim tivesse pena;* 
procurei quem me aliviasse e não achei!
Deram-me fel como se fosse um alimento, *
em minha sede ofereceram-me vinagre!R. 

Cantando eu louvarei o Vosso nome *
e agradecido exultarei de alegria!
Humildes, vede isto e alegrai-vos: +
o vosso coração reviverá, *
se procurardes o Senhor continuamente!
Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, *
e não despreza o clamor de seus cativos.R.

Evangelho - Mt 26,14-25
Naquele tempo, um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse: "O que me dareis se vos entregar Jesus?". Combinaram, então, trinta moedas de prata. E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: "Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?". Jesus respondeu: "Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos'". Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. Enquanto comiam, Jesus disse: "Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair". Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: "Senhor, será que sou eu?". Jesus respondeu: "Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!". Então Judas, o traidor, perguntou: "Mestre, serei eu?". Jesus lhe respondeu: "Tu o dizes".

Comentário feito por Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja 

"Não vos escolhi Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo" (Jo 6,70). O Senhor devia dizer: "Escolhi onze de vós"; terá Ele escolhido um demônio, haveria um demônio entre os eleitos? [...] Diremos nós que, ao escolher Judas, quis o Salvador cumprir através dele, contra sua vontade, sem que ele soubesse, uma obra tão grande e tão boa? Isto é próprio de Deus [...]: fazer que as más obras dos maus sirvam o bem [...]. O mau faz que todas as boas obras de Deus sirvam o mal; o homem de bem, ao contrário, faz que as más ações dos maus sirvam o bem. Haverá alguém tão bom quanto o Deus único? O próprio Senhor diz: "Ninguém é bom senão um só: Deus" (Mc 10,18) [...] Haverá quem seja  pior do que Judas? De entre os discípulos do Mestre, de entre os Doze, foi ele o escolhido para guardar a bolsa e prover aos pobres (Jo 13,29). Mas depois de tal dom, é ele quem recebe dinheiro para entregar Aquele que é a Vida (Mt 26,15); perseguiu como inimigo Aquele a Quem tinha seguido como discípulo [...]. Mas o Senhor fez que tão grande crime servisse o bem. Aceitou ser traído para nos resgatar: eis como o crime de Judas se transmuta em bem. Quantos mártires terá Satanás perseguido? Mas, se não o tivesse feito, não celebraríamos hoje o triunfo daqueles [...]. O mau não pode contrariar a bondade de Deus. Ainda que Satanás seja um artesão do mal, o supremo Artesão não permitiria a existência do mal se não soubesse servir-Se dele para que tudo concorra para o bem.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Semana Santa


2ª-feira da Semana Santa 

1ª Leitura - Is 42,1-7
"Eis o meu servo - eu o recebo; eis o meu eleito - nele se compraz minh'alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos." Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: "Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas".

Salmo - Sl 26
R. O Senhor é minha luz e salvação.

O Senhor é minha luz e salvação; *
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida; *
perante quem eu tremerei?R. 

Quando avançam os malvados contra mim, *
querendo devorar-me,
são eles, inimigos e opressores, *
que tropeçam e sucumbem.R. 

Se contra mim um exército se armar, *
não temerá meu coração;
se contra mim uma batalha estourar, *
mesmo assim confiarei.R. 

Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver *
na terra dos viventes.
Espera no Senhor e tem coragem, * R.

Evangelho - Jo 12,1-11
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. Então, falou Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que O havia de entregar: "Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para as dar aos pobres?". Judas falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão; ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. Jesus, porém, disse: "Deixa-a; ela fez isto em vista do dia de minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis". Muitos judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para lá, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Então, os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, porque, por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus.

Comentário feito por Orígenes (c. 185-253)
presbítero e teólogo 

A esposa do Cântico dos Cânticos diz: "o meu nardo dá o seu perfume" (1,12) [...]; mas podemos ler também "o Seu perfume". [...] A esposa aproximou-se do Esposo, ungiu-O com os seus unguentos e, surpreendentemente, foi como se o nardo não tivesse dado perfume enquanto estava nas mãos da esposa, mas o desse ao entrar em contato com o corpo do Esposo — de sorte que, segundo parece, não foi tanto Ele que recebeu o perfume do nardo mas foi antes o nardo que O recebeu, como se viesse dEle. [...] Apresentamos aqui a esposa Igreja, na pessoa de Maria: diz-se que ela trazia uma libra de nardo de alto preço e que ungiu os pés de Jesus, enxugando-os depois com os cabelos e que, de certo modo, também ela recebeu, através dos cabelos, um perfume impregnado da qualidade e do poder do corpo de Jesus. [...] Ela impregnou a cabeça com um perfume requintado que vinha mais de Cristo que do nardo e disse [com a esposa]: "O meu nardo, derramado no corpo de Cristo, deu-me em troca o Seu aroma". [...] "A casa encheu-se com a fragrância do perfume." Isso indica, seguramente, que a fragrância da doutrina que vem de Cristo e o agradável perfume do Espírito Santo encheram toda a casa deste mundo, ou a casa de toda a Igreja. Ou, pelo menos, encheram toda a casa através desta alma que recebeu a fragrância de Cristo, tendo-Lhe oferecido inicialmente o dom da sua fé como nardo puro, e recebendo, em retribuição, a graça do Espírito Santo e o agradável perfume da doutrina espiritual [...], para que também ela pudesse dizer: "Somos para Deus o bom odor de Cristo" (2Co 2,15). Ora, porque esse nardo foi cheio de fé e de um amor de grande valor, Jesus presta-lhe esta homenagem: "Praticou em Mim uma boa ação!" (Mc 14,6).

domingo, 1 de abril de 2012

Sejamos como mantos estendidos a Seus pés


Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Homilia do Papa Bento XVI
Praça de São Pedro
XXVII Jornada Mundial da Juventude
Domingo, 1 de Abril de 2012

Queridos irmãos e irmãs!
O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a semana em que o Senhor Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono de onde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da redenção. Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus Se encaminhara para Jerusalém juntamente com os Doze e que, pouco a pouco, se foi unindo a eles uma multidão cada vez maior de peregrinos. São Marcos refere que, já à saída de Jericó, havia uma “grande multidão” que seguia Jesus (cf. Mc 10, 46).
Nesta última parte do percurso, tem lugar um acontecimento singular, que aumenta a expectativa sobre aquilo que está para suceder, fazendo com que a atenção geral se concentre ainda mais em Jesus. À saída de Jericó, na beira do caminho, está sentado pedindo esmola um cego, chamado Bartimeu. Quando ouve dizer que Jesus de Nazaré estava chegando, começa a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10, 47). Procuram silenciá-lo, mas sem sucesso; por fim Jesus manda-o chamar, convidando-o a aproximar-se. “O que queres que Eu te faça?” – pergunta-lhe. E ele: “Mestre, que eu veja!” (v. 51). Jesus responde: “Vai, a tua fé te curou”. Bartimeu recuperou a vista e começou a seguir Jesus pela estrada (cf. v. 52). Depois deste sinal prodigioso precedido pela invocação “Filho de Davi”, de repente levanta-se um frêmito de esperança messiânica no meio da multidão, fazendo com que muitos se perguntassem: Poderia este Jesus, que caminhava à sua frente para Jerusalém, ser o Messias, o novo Davi? Porventura teria chegado, com esta sua entrada já iminente na cidade santa, o momento em que Deus iria finalmente restaurar o reino de Davi?
Também a preparação da entrada, combinada por Jesus com os seus discípulos, ajuda a aumentar esta esperança. Como ouvimos no Evangelho de hoje (cf. Mc 11,1-10), Jesus chega a Jerusalém vindo de Betfagé e do Monte das Oliveiras, isto é, seguindo a estrada por onde deveria vir o Messias. De Betfagé, Ele envia à sua frente dois discípulos, com a ordem de Lhe trazerem um jumentinho que encontrarão no caminho. De fato encontram o jumentinho, soltam-no e levam-no a Jesus. Naquele momento, o entusiasmo apodera-se dos discípulos e também dos outros peregrinos: pegam nos seus mantos e colocam-nos uns sobre o jumentinho e outros estendidos no caminho por onde Jesus passa montado no jumento. Depois cortam ramos das árvores e começam a apregoar expressões do Salmo 118, antigas palavras de bênção dos peregrinos que, naquele contexto, se tornam uma proclamação messiânica: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” (vv. 9-10). Esta aclamação festiva, transmitida pelos quatro evangelistas, é um brado de bênção, um hino de exultação: exprime a convicção unânime de que, em Jesus, Deus visitou o seu povo e que o Messias ansiado finalmente chegou. E todos permanecem lá, numa crescente expectativa da ação que Cristo realizará quando entrar na sua cidade.
Mas qual é o conteúdo, o sentido mais profundo deste grito de júbilo? A resposta nos é dada pela Escritura no seu conjunto, quando nos lembra que no Messias se cumpre a promessa da bênção de Deus, a promessa feita por Deus originariamente a Abraão, o pai de todos os crentes: “Farei de ti um grande povo e te abençoarei (...). Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra!” (Gen 12, 2-3). Trata-se de uma promessa que Israel mantivera sempre viva na oração, especialmente na oração dos Salmos. Por isso, Aquele que a multidão aclama como o Bendito é, ao mesmo tempo, Aquele em quem será abençoada a humanidade inteira. Assim, na luz de Cristo, a humanidade reconhece-se profundamente unida e, de certo modo, envolvida pelo manto da bênção divina, uma bênção que tudo permeia, tudo sustenta, tudo redime, tudo santifica.
E aqui podemos descobrir uma primeira grande incumbência que nos chega da festa de hoje: o convite a adotar a visão reta sobre a humanidade inteira, sobre os povos que formam o mundo, sobre suas diversas culturas e civilizações. A visão que o crente recebe de Cristo é um olhar de bênção: um olhar sapiencial e amoroso, capaz de captar a beleza do mundo e condoer-se da sua fragilidade. Nesta visão, manifesta-se o próprio olhar de Deus sobre os homens que Ele ama e sobre a criação, obra das suas mãos. Lemos no Livro da Sabedoria: “De todos tens compaixão, porque tudo podes, e fechas os olhos aos pecados dos mortais, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que fizeste; (...) a todos, porém, tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor amigo da vida” (Sb 11, 23-24.26).
Voltando à passagem do Evangelho de hoje, perguntemo-nos: Que pensavam, realmente, em seus corações aqueles que aclamam Cristo como Rei de Israel? Certamente tinham a sua ideia própria do Messias, uma ideia do modo como devia agir o Rei prometido pelos profetas e há muito esperado. Não foi por acaso que a multidão em Jerusalém, poucos dias depois, em vez de aclamar Jesus, grita para Pilatos: “Crucifica-O!”, enquanto os próprios discípulos e os outros que O tinham visto e ouvido ficam mudos e confusos. Na realidade, a maioria ficara desapontada com o modo escolhido por Jesus para Se apresentar como Messias e Rei de Israel. É precisamente aqui que se situa o ponto fulcral da festa de hoje, mesmo para nós. Para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que ideia temos do Messias, que ideia temos de Deus? Esta é uma questão crucial, que não podemos evitar, até porque, precisamente nesta semana, somos chamados a seguir o nosso Rei que escolhe a cruz como trono; somos chamados a seguir um Messias que não nos garante uma felicidade terrena fácil, mas a felicidade do céu, a bem-aventurança de Deus. Por isso devemos perguntar-nos: Quais são as nossas reais expectativas? Quais são os desejos mais profundos que nos animaram a vir aqui, hoje, celebrar o Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa?
Queridos jovens, aqui reunidos! Em todos os lugares da terra onde a Igreja está presente, este Dia é especialmente dedicado a vós. Por isso, vos saúdo com muito carinho! Que o Domingo de Ramos possa ser para vós o dia da decisão: a decisão de acolher o Senhor e segui-Lo até ao fim, a decisão de fazer da sua Páscoa de morte e ressurreição o sentido da vossa vida de cristãos. Tal é a decisão que leva à verdadeira alegria, como quis recordar na Mensagem aos Jovens para este seu Dia – “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4, 4) –, e como se vê na vida de Santa Clara de Assis, que há oitocentos anos – exatamente no Domingo de Ramos –, movida pelo exemplo de São Francisco e dos seus primeiros companheiros, deixou a casa paterna para consagrar-se totalmente ao Senhor: com dezoito anos, teve a coragem da fé e do amor para se decidir por Cristo, encontrando nEle a alegria e a paz.
Queridos irmãos e irmãs, dois sentimentos nos animem particularmente nestes dias: o louvor, como fizeram aqueles que acolheram Jesus em Jerusalém com o seu “Hosana”; e a gratidão, porque, nesta Semana Santa, o Senhor Jesus renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a Sua vida, o Seu corpo e o Seu sangue, o Seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós. Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de Cristo – diziam os Padres – é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão e adoração. Para concluir, escutemos o que diz um desses antigos Padres, Santo André, Bispo de Creta: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos dEle mesmo (…); sejamos como mantos estendidos a Seus pés (…), para oferecermos ao vencedor da morte não já ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-Lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel’” (PG 97, 994). Amém!

* Extraído do site do Vaticano, do dia 1 de abril de 2012. Revisado e adaptado por Paulo R. A. Pacheco.