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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cartas do P.e Aldo 207


Asunción, 10 de outubro de 2011.

Caros amigos,
Nesta noite, fiquei mais tempo do que o normal olhando meus filhinhos doentes, particularmente Victor. Desde quando nasceu está na mesma caminha. Não fala, não vê, não escuta. Parece totalmente ausente da realidade. Depende do outro em tudo. Não tem caixa craniana e seus olhinhos, há tempos, estouraram. Só pode ser colocado em duas posições: deitado com a barriga para cima e, de vez em quando, delicadamente deitado sobre um dos dois lados. As escaras de decúbito, tratadas o tempo inteiro, junto com o gemidozinho que o acompanha, mostram o quadro físico que vemos dele. E no entanto, Victor é muito, infinitamente mais do que isso. É a evidência clamorosa da vibração do Ser. Eu o olho comovido, o acaricio porque ele existe. Existe! Que maravilhamento eu sinto em mim quando olho para o ser que vibra em cada detalhe do seu corpo martirizado! Victor existe, vive! Cada vez que me aproximo dele, fico impactado com a beleza de ser nada mais do que um fragmento de segundo: ele, como eu, é feito em cada momento. A sua beleza e a do ser, do seu ser quase enjaulado num corpo aparentemente deformado e que, no entanto, é templo do Espírito Santo. Ele, acredito, me conheça pelos meus beijos, pela ternura, mas sobretudo porque tanto eu como ele existimos e somos como “Tu que me fazes”. O valor da sua vida, como a do meu filho Aldo e de Mário, está no ser que posso contemplar e, imediatamente, reconhecer: eles, como eu, são relação com o infinito. Muitas vezes penso olhando para eles, assim “deformados” para o mundo – porque a cultura de hoje não consegue mais perceber o ser, aquilo que existe na sua profundidade. Tantos são os casais que, quando esperam um filho, mais do que ficarem comovidos até às lágrimas pelo fato de que ele exista, ficam é preocupados com o como ele é, como ele está, ou se é menino ou menina. Que besteira! Antes do ultrassom, há a comoção pelo ser. Aquela comoção que, seja lá qual for o resultado do ultrassom, cresce fazendo-nos vibrar porque o Mistério se manifestou. Que graça para mim, para vocês, o meu Victor, sacramento do ser que o cria em cada momento. É noite de sábado, mas não consigo me afastar de Victor, de Aldo e de Mário. Victor respira com dificuldade, fiz-lhe uma carícia e ele esticou seus pequenos punhos. Desde o seu nascimento parece ausente da realidade, no entanto ele está no coração da realdiade. A beleza destas criaturas está apenas no fato de que EXISTEM!
E existem porque um Outro, antes de formá-los assim no seio de suas mães, pronunciou seus nomes. Entendem, então, como é um milagre existir, que comoção suscita em mim o ser de cada um?
Olhando para eles só posso ficar grato por aquilo que me une a eles. O ser e o ser fato agora. Desejo a todos os que esperam um filho que tenham esta posição de adoração e de comoção e não a preocupação egoísta de como será, para que não aconteça que desfaça os nossos projetos que não têm nada que ver com o ser e, portanto, com o desígnio de Deus sobre cada um de nós. Pensem na diferença abissal que há entre olhar um doente, um leproso como o que está na capela do Santíssimo, com estes olhos fixos sobre o ser, e olhar os mesmos apenas em seu aspecto fenomênico! Sem esta posição, que sentido teria a vida e o nosso viver cotidiano?
Padre Aldo

terça-feira, 29 de junho de 2010

Os cento e dez anos do nascimento do pequeno príncipe

Por Laura Cioni

Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lion, no dia 24 de junho de 1900. A vida deste homem sensível e aventureiro é rica de ações: começa com uma juventude solitária; aos 12 anos voa pela primeira vez e, desde então, a sua paixão será o voo. Primeiro, torna-se piloto em uma companhia comercial que fazia o trajeto Toulouse-Dakar; depois, em 1930, vai para Buenos Aires, onde se torna diretor do correio aéreo entre Argentina e França e, ali, encontra a mulher de sua vida. O casamento foi tempestuoso, mas também a companhia na qual Saint-Exupéry trabalhava se encontrava em águas agitadas; muito rapidamente, passou para as mãos da Air France.
O piloto, então, passou a se dedicar ao jornalismo e à escrita; tentou transferir-se para a rota Paris-Saigon, mas a empresa se transformou num desastre no deserto da Líbia. A paixão pelo voo o induziu a se alistar na aeronáutica francesa durante a Segunda Guerra Mundial. A morte o surpreendeu em 1944, enquanto sobrevoava o mar Mediterrâneo, em um acidente que nunca foi esclarecido por completo. “Transporte de cartas, transporte da voz humana, transporte de imagens tremidas – neste século, como em outros, os nossos maiores progressos sempre tiveram o único objetivo de colocar os homens em contato”: assim o piloto descrevia o significado do seu trabalho e não é difícil encontrar nessa paixão pelo vínculo entre os seres humanos a resposta para a sua solidão de criança.
De resto, o seu pequeno príncipe representa a nostalgia da infância, mas também personifica a solidão na qual frequentemente as crianças são deixadas em um mundo que não considera a sua necessidade profunda de relações significativas, que não sejam aquelas dependentes do ter e do fazer ter. Deste ponto de vista, a criatura de Saint-Exupéry não demonstra os seus anos (o livro é publicado em 1943, em inglês) e mantém o frescor e a melancolia, que foram os fatores do seu sucesso em todo o mundo. É a fábula suave de um encontro no deserto entre um aviador e uma misteriosa criança caída do céu.
Os dois falam de coisas aparentemente sem importância, mas depois se tornam amigos; e o pequeno príncipe, de forma cândida, revela ao homem maduro o seu segredo de amor por uma rosa e a beleza dos pores do sol e da cor do trigo. Assim, se separam; mas permanecerá sempre, para o aviador, o encanto daquela pequena figura vinda das estrelas, que tem a doçura das crianças, mas também a severa dignidade dos cavaleiros antigos. Se há algo que ainda pode fascinar neste conto de fadas não é a acusação lançada contra o mundo adulto de não compreender as crianças e nem mesmo a ternura francesa dos diálogos.
É muito mais a vastidão do deserto, o lugar mais parecido com o céu, no qual tudo ocorre e que explica em parte a profundidade do que acontece; é também a advertência sobre a grande solidão do homem no cosmo e sua necessidade de uma companhia adequada a si e à sua exigência de sentido e de amor. Por isso, todos somos um pouco afeiçoados pelo pequeno príncipe e pelo afortunado aviador que o encontrou, por ambos que foram embora da terra de forma misteriosa.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 29 de junho de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mt 8,1-4
Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam. Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: "Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar." Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: "Eu quero, fica limpo." No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra. Então Jesus lhe disse: "Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles." 

Comentário feito por São Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022)
monge grego 

Antes que brilhasse a luz divina, 
Não me conhecia a mim mesmo. 
Vendo-me então nas trevas e na prisão, 
Preso num lamaçal, 
Coberto de sujeira, ferido, com a minha carne inchada [...], 
Caí aos pés dAquele que me iluminara. 

E Aquele que me iluminara tocou com as Suas mãos 
Nas minhas cadeias e nas minhas feridas; 
Do lugar onde a sua mão tocou e aonde o Seu dedo se chegou, 
No mesmo momento me caíram as cadeias, 
Desapareceram as feridas e toda a sujidade. 
A mácula da minha carne desapareceu [...] 
E Ele a tornou semelhante à Sua mão divina. 
Estranha maravilha: a minha carne, a minha alma e o meu corpo 
Participam da glória divina. 

Assim que fui purificado e desembaraçado das minhas cadeias, 
Ei-Lo que me estende uma mão divina, 
Retira-me completamente do lamaçal, 
Abraça-me, lança-se-me ao pescoço, 
Cobre-me de beijos (Lc 15, 20). 
E a mim, que estava completamente exausto, 
E tinha perdido as forças, 
Pôs-me aos ombros (Lc 15, 5), 
E levou-me para fora do meu inferno. [...] 
É a luz que me leva e me sustenta; 
Conduz-me para uma grande luz. [...] 
Permite-me contemplar através de que estranha renovação 
Ele próprio me tornou a formar (Gn 2, 7) e me arrancou à corrupção. 
Concedeu-me o dom da vida imortal 
E revestiu-me com uma túnica imaterial e luminosa 
E deu-me sandálias, um anel e uma coroa 
Incorruptíveis e eternos (Lc 15, 22). 

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cartas do P.e Aldo 122



Asunción, 30 de novembro de 2009.

Caros amigos
Impressiona-me a insistência com a qual Carrón nos chama atenção para aquilo que mais me comoveu de Giussani, quando, me abraçando no meu nada, me disse: “Você não é e nunca será o fruto do seu passado, das suas misérias, dos seus antecedentes biológicos, psicológicos, hereditários etc., porque você é relação com o infinito”. Que comoção – há vinte anos aqui – viver dramaticamente cada instante com esta certeza: “eu sou Tu que me fazes”. Não há depressão, momento difícil, obsessão, tentação, dor, acusação, ódio, morte que possa me definir, me bloquear, me paralizar. “Eu sou Tu que me fazes” não elimina nada, não me tira da lama, não elimina a dor, não me arranca a insônia, não me resolve os problemas (de outra maneira, que liberdade seria a minha?), porém ilumina a minha vida, me dá um critério, me indica um caminho, de forma que tudo se torna ocasião para experimentar o que significa “dizer Tu ao Mistério”, o que significa dizer “meu Cristo”.
Nestes dias, ficou claro que este é um juízo, é um ponto de não retorno. Alguns exemplos:
1. Com respeito aos meus filhos violentados. Olhem para este desenho. É de uma menina, violentada sistematicamente pelo “pai” de 60 anos. A mãe, de 18 anos, se sucidou há alguns anos atrás. Em casa (uma cabana), o “pai”, com outros homens, abusavam desta menina e, além de tudo, mantinha relações sexuais com animais. A menina viu e sofreu todas essas violências. Também o seu irmãozinho, que está aqui comigo. O desenho me fez sofrer muito, porque descreve o seu estado de destroçamento. Ela me deu quando eu voltei do México, dizendo-me: “Papai, tenho uma cartinha para você”. Quando, antes de dormir, eu a abri e vi este desenho, fiquei com os cabelos em pé. Depois, olhei para o verso da página e, com surpresa que me comoveu, li estas palavras: “Oi, papai Aldo. Você é o melhor pai, papai Aldo. Nunca me abandone. Eu amo você. Espero que você seja sempre assim e nunca mude. Por favor, continue sendo como é, lutando por um amanhã mais bonito. OBRIGADA POR ME PROTEGER. Obrigada. Amo você demais”. É inútil qualquer comentário. O texto é sublinhado de amarelo e verde. Uma semana depois, ela me deu outra cartinha (meus filhos gostam de me escrever, a cada vez que parto ou retorno), e surpresa: “Amo você demais e fiquei feliz porque passarei o Natal na Casinha de Belém. Proteja-me muito com o seu coração”. E, atrás da página, no lugar do monstro, havia um cavalo desenhado a lápis, sem nenhuma cor. Um passo a frente na consciência de si. O que permitiu que isto acontecesse? O nosso afeto, o meu afeto que nasce da certeza de que “eu sou Tu que me fazes agora” e que se transmite por osmose.
2. Gabriel é como o sacerdote Melquisedec da Bíblia, de quem não se conhecem as generalidades. Sabemos apenas que veio de Deus. Não tem sobrenome. Parece que tem 8 anos. De um orfanato a outro, de uma violência a outra. Chegou aqui depois de ter sido expulso, porque é violento, de todas as instituições por onde passou. Quando chegou, era impossível chegar perto dele. A sua resposta a tudo era apenas a violência. Uma coisa terrível e humanamente insuportável. Quantas vezes, olhando para ele, eu pensava na frase de Pavese: “Toda violência nasce da falta de ternura”. Mas a ternura não se inventa, não é um fator hereditário, é um fruto da consciência de que “eu sou Tu que me fazes”. E, assim, o meu relacionamento com ele se tornou, para ele, o início da mudança. vejam o que ele me escreveu debaixo da imagem de um homem-robô desenhado por ele: “Oi, Padre Aldo. Quero que você me dê o seu sobrenome, assim eu serei feliz. Amo você muitíssimo, Padre Aldo. Eu [é importante este “eu” na sua boca... ele que não tinha identidade], Gabriel, amo você com todo o meu coração”. Aqui está toda a pedagogia, toda a psicologia... melhor: aqui está a evidência da absoluta verdade daquilo que Carrón, incansavelmente, nos repete: o homem é relação com o Mistério, ou entendemos isto e fazemos experiência disto, ou nos tornaremos “velhos vazios”, que se confiam aos experts para resolver a vida.
Caros amigos, aqui, tudo grita “eu sou Tu que me fazes”, e as piores violências se tornam a possibilidade para uma vida nova, mais bela, mais humana, até mesmo para os meus bebês, todos concebidos violentamente. Mas, quando entram em contato físico com alguém em quem é evidente “eu sou Tu que me fazes”, tudo muda e o bebê sorri. Como eu gostaria que, neste Advento, cada um fizesse esta experiência de pertença.
Com afeto
Padre Aldo

sexta-feira, 17 de abril de 2009

É possível...?

A gente aprende a vida é no concreto, não teoricamente. O amor, por exemplo - o amor como gratuidade e como ternura -, a gente aprende o amor assim é com uma pessoa que vive o amor assim - como gratuidade e como ternura -, e não teoricamente.

* Trecho adaptado de "É possível viver assim?", de Luigi Giussani.