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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cartas do P.e Aldo 203


Asunción, 6 de agosto de 2011.

Caros amigos,
Que graça e a Escola de Comunidade, para nós e para o mundo!
Nestas semanas pude experimentar na carne como o mundo precisa encontrar o Movimento, ou seja, a Escola de Comunidade. Carrón chama a nossa atenção justamente para a urgência de um trabalho pessoal que veja na Escola de Comunidade o centro deste trabalho. Pessoalmente, sou uma testemunha disto tanto no meu caminho de todo dia, quanto naquilo que acontece ao meu redor. A beleza desta obra que sempre mais suscita em quem a vive, em quem nela trabalha, mas também em quem a visita, faz nascer a pergunta: como é possível tudo isto? E quando respondo “é graças à catequese, ou à Escola de Comunidade que vivemos semanalmente com todas as 200 pessoas que trabalham aqui nos mais diversos âmbitos”, os que me escutam ficam cheios de curiosidade e de interesse. Assim, já há um tempo um grupo de diretores e de operários de uma multinacional, toda quarta-feira, das 8h às 9h da manhã, pontualmente, vêm até aqui para a Escola de Comunidade. Além do mais, aconteceu algo muito significativo no maior centro médico de reabilitação privado do país. O chefe deste centro assinou um contrato conosco para assistir gratuitamente os nossos pacientes e, em troca, pediu para irmos, pelo menos a cada quinze dias, fazer a Escola de Comunidade com seus dependentes e pacientes. O mundo também percebe que a Escola de Comunidade cria uma diferença no modo de viver e trabalhar.
Vale lembrar que aqui, este precioso instrumento que Giussani nos deixou deu origem a um periódico semanal que é publicado junto com o segundo jornal leigo mais vendido no Paraguai, toda quinta-feira. O bem que esse jornalzinho faz é impressionante. Por exemplo, hoje, duas jovens mães, depois de terem feito 40 km de viagem, vieram nos agradecer por aquilo que escrevemos! “Padre, estamos aqui há duas horas esperando pelo senhor para lhe agradecer e para abraçá-lo por causa daquilo que o senhor escreve nos editoriais, como por exemplo aquilo que escreveu sobre a Confissão”. E me trouxeram também um presente. Outro jovem, disse: “Padre, lendo o jornalzinho senti o desejo de ser padre, de verificar a minha vocação”.
A Escola de Comunidade nos ajuda a verificar a razoabilidade da fé no meio das vísceras do mundo, testemunhando assim que o cristianismo é o acontecer do humano. Claro que existem, toda semana, motivos para polêmica e, nesses momentos, me lembro de Giussani que dizia que Cristo polemizou com o mundo inteiro, o mesmo que Carrón continuamente nos lembra quando fala que a cultura dominante anestesia o eu.
Em suma, quero que a Escola de Comunidade não seja uma leitura espiritual ou apenas uma deixa para as nossas reflexões, mas que seja o trabalho que nos permita descobrir a razoabilidade da nossa fé vivida no impacto com o cotidiano, com o mundo.
Boas férias, na privilegiada companhia da Escola de Comunidade.
Padre Aldo

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cartas do P.e Aldo 202

Asunción, 26 de julho de 2011.

Caros amigos,
Tão logo terminaram os encontros com milhares de jovens, Marcos e Cleuza pegaram o avião, à meia-noite do domingo passado, e chegaram a Asunción. Dois dias passados juntos para poder dizer outra vez o nosso “sim” a Cristo. Encontramo-nos apenas para que reconfirmemos este sim. De outra forma, que sentido teria qualquer relação, ou tanta dificuldade num mundo que, para a grande maioria, as relações vividas são virtuais ou formais?
O nosso sim a Cristo não pode passar através do “mundo virtual”, porque Deus se fez companhia para o homem, fez-se carne. E sem a carne não existe nem Cristo nem o homem.
No dia seguinte, nos encontramos na nossa fazenda – toda a nossa Fraternidade. Depois de retomar o que havíamos dito um mês atrás e que Cleuza havia resumido com uma expressão belíssima em forma de pergunta: “somos cristãos ‘coca-cola’ ou homens apaixonados por Cristo?”. O Movimento, para nós, é uma coca-cola ou um dinamismo no qual a razão e o sentimento caminham juntos? Por que esta imagem da coca-cola? Porque quando tiramos a tampinha, faz pssssss e, em seguida, tudo acaba. Podemos usar também a imagem dos fogos de artifício.
Logo depois, começaram as intervenções. Uma pessoa em particular sublinhava seu drama pessoal, um drama que havia levado a sua pessoa à exaustão. “Tudo funcionava bem na minha vida, vivia a minha responsabilidade, jogando-me inteira até ao ponto de ser definida pelo meu trabalho. E fazendo assim eu pensava estar servindo bem a Deus. Mas, com o tempo, cedi... porque essa maneira de trabalhar para Deus me colocou em nocaute”.
Cleuza aproveita a deixa e, depois de ter descrito como também ela, antes de encontrar Carrón e o Movimento, passou anos determinada pela depressão, fruto de seu constante empenho em favor de Deus e dos pobres, disse: “Olha só, eu também vivi uma vida cheia de tormento e de amargura, convencida de estar servindo a Cristo. Tomei antidepressivos por anos, até ao dia em que encontrei o Movimento. Encontrando o Movimento, encontrei o valor da minha vida. Valor que percebi claramente no fato de que Deus não me criou para ser empregada doméstica, Sua empregada, mas por um ato de amor, me fez para Ele. Dentro do Movimento, entendi que eu não sou a serva de Deus, mas o objeto do Seu amor e, nesta perspectiva, os outros se tornam a minha alegria. Porque apenas se eu vibrar do amor de Cristo poderia ajudar os outros. Assim, os outros se tornam um presente para mim. Muitos me perguntam ‘por que vocês ainda vão ao Paraguai?’. Porque preciso escrever o meu sim a Cristo com vocês e vocês me foram dados. As coisas são guiadas por Ele e Ele conhece o número dos meus cabelos. (...) É preciso que tiremos nossas máscaras [e aqui ela conta a história de uma mulher humanamente destruída que ela havia tirado da rua e levado para sua casa, e do longo diálogo que teve com ela], para que Cristo se revele para nossa humanidade do jeito como Ele é. E é isto o que acontece na clínica para os doentes, que despojados de tudo pela doença pedem com urgência o próprio Cristo. Somente se arrancarmos as máscaras é que Cristo se revelará a cada um”.
O diálogo continuou por dois dias, compartilhando tudo. Mas, acredito que só isto já seja suficiente por agora, caros amigos. Seja como for, ou uma amizade tem este horizonte ali onde estamos, ou é uma cumplicidade mesmo se usarmos continuamente a palavra “Cristo”.
“Encontramo-nos para escrever o nosso sim a Cristo”. Que bonito!
Boas férias
Padre Aldo

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cartas do P.e Aldo 192

Asunción, 1 de maio de 2011.

Caros amigos,
Os apóstolos encheram-se de alegria ao verem Jesus. A alegria, a letícia cristã, portanto, consiste tão somente em ver, em tocar Jesus. Por isso, a nossa falta de alegria nunca se deve à dor, qualquer que seja essa dor, ou às circunstâncias adversas. Também os Evangelhos destes dias nos falaram da falta de letícia dos Apóstolos, uma falta que se devia ao fato de que eles O tinham confundido com um fantasma, com uma imaginação; e o fantasma, a imaginação – que é a negação da realidade – gera apenas medo, angústia, depressão. No fundo, a depressão é a vida sem a realidade e determinada pelos fantasmas, pelas fantasias. Por isto, numa aparição, Jesus disse: “Olhem, sou Eu... um fantasma não tem carne nem osso”, e mostrou suas chagas e comeu com eles. Assim, naquela manhã, no Lago de Tiberíades, Jesus ressuscitado apareceu uma vez mais e os apóstolos se assustaram, pensando que estavam vendo um fantasma. Como é terrível a fantasia, o não ver a realidade. Porém, João, o amigo predileto de Jesus, interveio prontamente e disse: “É o Senhor”. Pedro, como que despertado da sua letargia, ao ouvir “É o Senhor”, se jogou no mar e, nadando, chegou à margem e abraçou Jesus.
Nestes dias, toquei a beleza destes fatos. Vivi momentos duros, nos quais o medo entrou em mim e, com Paolino, nos demos conta de uma necessidade de correr para São Paulo, para encontrar os amigos Marcos, Cleuza, Julián, para que, como João, nos dissessem: “É o Senhor”. Deixamos a paróquia na noite de Páscoa e, como aqueles dois de Emaús, corremos para São Paulo e vimos o Senhor, de forma que, no dia seguinte, voltamos para casa com o coração cheio de letícia.
Os fatos acontecidos tinham sido muito dolorosos: Milagres, uma de nossas filhas da Casinha de Belém, morrera com apenas um ano de idade e me fora entregue nos braços pelo pessoal do hospital público envolta em trapos; a dor de seus irmãozinhos ao verem-na morta (leiam em Tempi o texto no qual relato estes fatos); a morte de um de meus primeiros colegiais, que, há um tempo, era hóspede da nossa clínica e carregava nas costas uma vida de drogas, álcool e rua; a morte de Maria Vitória, com 22 anos de idade, uma garota tão bonita consumida pelo câncer e que tinha uma filha de dois anos; a chegada na nova casa de acolhida para meninas violentadas e grávidas: primeiro (não digo os nomes verídicos) Maria, uma garotinha de 15 anos de idade, que morava numa favela e que parece ter 12 anos, e teve uma filhinha linda, mesmo que, desde os 9 anos de idade, consuma todo tipo de droga, mesmo que, durante a gravidez, tenha consumido tanto crack - a menina é um milagre do Senhor -; Josefina, de 17 anos, uma vida cheia de violência e que deu à luz uma prematura que acabou de completar um mês de vida; Larissa, 15 anos, uma vida de sofrimentos, está grávida de sete meses; Maria, uma menina de 12 anos, está no oitavo mês. Estes são apenas alguns dos acontecimentos. Agora vocês entendem o motivo da urgência de ver os amigos, ou seja, aqueles que nos indicam com clareza que “É o Senhor”. E é esta certeza, neste mar de dor, que torna cheio de letícia o coração, porque, com amigos assim, não existe momento em que não se possa se alegrar ao ver o Senhor ressuscitado.
A alegria é um lugar, não uma emoção ou um sentimento. A alegria é um lugar onde está presente, evidente, o carisma. Não basta que seja um lugar, mas é necessário que esteja presente o carisma. Por isto, tantas companhias não nos dizem nada, porque não vivem aquela pertença ao carisma, não seguem Carrón, não olham para onde ele olha, não se deixam provocar pela experiência que ele vive, pela liberdade que ele nos testemunha. E estas companhias não somente não nos ajudam como também nos causam apenas danos, como é muito frequentemente documentado, mesmo em quem pretende ajudar uma obra.
Sem esta posição que nos define, seremos tristes, vítimas dos nossos fantasmas que, depois, se tornarão pretensões sobre tudo; verdadeiramente, a letícia é um lugar no qual está presente, vibrante, o carisma. E é, de fato, comovente ver que a companhia de Marcos, Cleuza, Julián de La Morena, Bracco é a vitória de Cristo hoje; de forma que mesmo as obras caminham na gratuidade e nos permitem viver sempre mais com clareza aquilo que deriva dEle. Amigos, somente assim é possível estar diante da morte com o coração cheio de letícia, mesmo quando é um filho seu, como Milagres, que lhe é tirado; somente assim é possível permanecer diante destas meninas mães, fruto da violência, com gratuidade, respeito, discrição, amando-as, porque é possível ver nelas a paixão e a ressurreição de Cristo.
Com afeto,
Padre Aldo

sábado, 9 de abril de 2011

O Mistério presente, a vitória sobre o mal

Sobre a tragédia de Realengo

A tsunami do Japão deixou-nos todos sem palavras. Diante de algo tão misterioso, não é possível dizer coisa alguma. Por mais que pareça um absurdo, porém, ainda poderíamos sentir um certo alívio dizendo que a força da natureza na história sempre se faz ouvir e se impõe. 
Quando um jovem de 23 anos entra numa escola e dispara desesperadamente matando 12 crianças, isso, talvez, seja pior que a tsunami. Faz você gritar de raiva. Deixa você horrorizado. Não há nenhum significado, a não ser o mal.
Para quem tem fé é um Mistério. O que quer dizer realmente que estamos diante de um Mistério? É Mistério, como é Mistério o fato de que Deus tenha se tornado homem, tenha morrido e ressuscitado.
O fato da Ressurreição, para nós – cristãos católicos praticantes ou simplesmente simpatizantes, agnósticos e ateus – é algo tão clichê que se tornou um dado do passado ou um conto mitológico. É muito difícil que seja o critério para julgar e olhar tudo hoje, no mundo de hoje, que seja um fato capaz de mudar o modo de despertarmos de manhã, o nosso modo de trabalhar, o nosso modo de olhar aquilo que acontece, seja belo ou trágico. Tudo isso é muito difícil para nós, modernos. Por outro lado nós, que somos modernos, temos uma vantagem: somos, agora, os que mais têm necessidade dEle diante de tudo aquilo que nos deixa atônitos e sem palavras neste mundo sem Deus. Nós somos aqueles que têm mais necessidade de Deus, de um Deus que morreu e ressuscitou e necessita de mim. Não de um Deus distante, que não teria necessidade de sofrer e morrer pelo homem, mas de um Deus amigo que tem compaixão pelo meu nada, me faz existir e se faz companhia para mim.
Diante do ocorrido na escola de Realengo, queremos nos identificar com duas testemunhas que nos dizem que é possível viver com um significado, com a certeza da presença de Deus feito homem, agora, não no além, sem censurar ou esquecer nada. Estas palavras são a experiência de dois homens para quem queremos olhar, e queremos implorar que possamos aprender a olhar as coisas como eles, pedindo que a certeza de uma Presença amiga que existe agora se torne nossa também.
“Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé” (1Cor 15,14-15). [...] A fé cristã fica de pé ou cai com a verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dos mortos. Se se suprimir isto, certamente que ainda se poderá recolher da tradição cristã uma série de ideias dignas de nota sobre Deus e o homem, sobre o ser do homem e o seu dever-ser (uma espécie de concepção religiosa do mundo), mas a fé cristã estará morta. Nesse caso, Jesus [...] deixará de ser o critério de medida; o critério será apenas a nossa avaliação pessoal, que escolherá do seu acervo aquilo que pareça útil. E isto significa que nós ficaremos abandonados a nós próprios. A nossa avaliação pessoal será a última instância. Somente se Jesus ressuscitou é que aconteceu algo de verdadeiramente novo, que muda o mundo e a situação do homem. Então Ele, Jesus, torna-Se o critério em que nos podemos fiar; porque, então, Deus manifestou-Se verdadeiramente.
Bento XVI
O acontecimento não identifica somente uma coisa que aconteceu e com a qual tudo teve início, mas é aquilo que desperta o presente, define o presente, dá conteúdo ao presente, torna possível o presente.
O que se sabe ou o que se tem converte-se em experiência, se aquilo que se sabe ou se tem é algo que nos é dado agora: há uma mão que no-lo oferece agora, há um rosto que vem avançando agora, há sangue que se derrama agora, há uma ressurreição que tem lugar agora. Fora deste “agora” não existe nada!
O nosso eu não pode ser movido, comovido, ou seja, transformado, a não ser por uma contemporaneidade: um acontecimento. Cristo é algo que me acontece agora.
Então, para que aquilo que sabemos – Cristo, todo o discurso sobre Cristo – seja experiência, é necessário que seja um presente que nos provoca e percute: é um presente, como para André e para João foi um presente. O cristianismo, Cristo, é exatamente aquilo que foi para André e João quando iam atrás dEle; imaginem quando Se voltou, e como ficaram impressionados! E quando foram a Sua casa... É sempre assim até agora, até este momento!
Luigi Giussani
Por isso rezamos pelas vítimas e pelas famílias que perderam seus amados filhos, unindo-nos em oração ao nosso Arcebispo Dom Orani e a toda a Igreja do Rio de Janeiro.

Comunhão e Libertação - Rio de Janeiro

terça-feira, 22 de março de 2011

Cartas do P.e Aldo 181

Asunción, 19 de março de 2011.

Caros amigos,
estes dias têm sido, para mim, uma graça particular. Estive na Itália para encontrar os amigos que estão ajudando a Providência Divina a concluir os trabalhos da nova clínica para que, no dia 25 de março, possamos celebrar, com uma Santa Missa, o fim dos trabalhos de construção. Gostaria de ter me encontrado com alguns de vocês que nos acompanham, mas a impossibilidade se fez oração em Fátima, aonde tive a alegria e a graça de ir. Nunca havia estado ali e, finalmente, Nossa Senhora me quis consigo.
Foi bonito ver como, também na Itália, está acontecendo aquilo que estamos vivendo na América Latina, entre aqueles que seguem e olham concretamente para a experiência de fé que Julián Carrón vive. Foi como me encontrar com Giussani vivo, vibrante, apaixonado pelo homem, exatamente como, no dia 25 de março de 1989, ele me abraçou assim como eu estava reduzido. Verdadeiramente, olhar para onde Carrón olha é poder dizer em cada instante: “Tu, meu Cristo”.
Tive a graça de participar fisicamente da Escola de Comunidade no dia 9 de março, no Sacro Cuore. Foi uma experiência inesquecível ver como ele nos faz trabalhar, escutar aqueles testemunhos, naquela noite, frutos verdadeiros de uma experiência, daquele trabalho que ele nos provoca a fazer. Tivemos uma graça única, que não apenas elimina toda distância entre nós, seja física ou geográfica, mas nos enche de letícia, aquela letícia que transpiram dos meus doentes terminais antes de morrerem ou dos meus filhinhos. Sim, porque também eles dependem de como eu sigo Carrón, de como eu vivo o carisma, de como Cristo é contemporâneo.
Vi, na Itália, um monte de pessoas se encontrando, estando juntas não mais definidas pelo perímetro geográfico, mas por pessoas e lugares nos quais Cristo é claramente visível, nos quais o coração encontra aquela objetiva correspondência de que tem necessidade. Experimentei na carne o que significa que os jovens ainda têm aquele coração que tinham quanto parti, há 22 anos. Experimentei na carne que mais do que de emergência educativa, temos que falar de emergência educadores, ou seja, de homens adultos em cujos rostos brilhe a luminosidade do destino. Encontrei-me com crianças, adolescentes, jovens e me senti submerso por perguntas, as mesmas de 22 anos atrás, de 38 anos atrás. Encontrei operários, jovens empresários e os empresários da Confindustria de Bolonha. A maioria não apenas não era de CL, como também freqüentemente nem mesmo era católica, como é o caso de Gabrielle Nissin, o amigo judeu que escreveu o livro La bontà insensata (A bondade insensata; ndt), e em todos eu encontrei uma fome e uma sede de Cristo expressas de formas muito diferentes umas das outras. No encontro com os jovens empresários da Confindustria de Bolonha e no jornalista da RAI3 que fazia as perguntas, o preconceito do início se tornou, no fim, surpresa, alegria, amizade. Dei-me conta de que somente se estamos apaixonados por Cristo, somente se seguimos Carrón com inteligência e afeto, fazendo experiência de Cristo, nos tornamos fascinantes e interessantes para todos. Encontrei homens cansados das mediações, reativos aos discursos, ou pessoas que tinham medo de dizer Cristo, de mostrar que pertencem e desejosos de ver, de encontrar homens que, com a vida e com as palavras, falam daquilo que vivem, ou seja, homens com a certeza da fé, com o olhar fixo sobre aquele “Tu” que domina tudo.
Até mesmo os especialistas das mentes humanas que encontrei se rendem diante desta evidência, reconhecendo que a psicologia não é capaz de responder ao coração do eu, mas apenas aquele “Tu que me fazes”. 
Obrigado, e que a Quaresma seja, de verdade, um tempo de descoberta de que a misericórdia é o amor na sua origem.
Padre Aldo

sexta-feira, 11 de março de 2011

Invoquemos, no domingo, a misericórdia de Deus


CL adere ao apelo da Conferência Episcopal Italiana pelas vítimas da violência na África e na Ásia

Comunhão e Libertação adere ao convite que a Conferência Episcopal Italiana (CEI) dirigiu às paróquias, comunidades religiosas, associações, grupos e movimentos a rezarem, no domingo, dia 13 de marco de 2011, pela seguinte intenção: “Peçamos, para as vítimas da violência, a misericórdia de Deus e, para todos, a reconciliação, a justiça e a paz”.
Aproximamo-nos de Bento XVI que, em face da violência que os homens praticam, testemunha uma fé que se torna inteligência da realidade, único caminho de saída da confusão e de sustento da esperança do futuro. 
Como Padre Giussani disse, “sem o reconhecimento do Mistério presente, a noite avança, a confusão avança”. A misericórdia, pelo contrário, é “o abraço último do Mistério, contra o qual o homem – mesmo o mais distante e o mais perversos ou mais obscuro, o mais tenebroso – não pode opor nada, não pode opor nenhuma objeção: pode abandoná-lo, mas abandonando a si mesmo e a seu próprio bem. O Mistério como misericórdia é a última palavra mesmo sobre todas as possibilidades terríveis da história. Por isso, a existência se expressa, como último ideal, na mendicância. O verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo”.
Bento XVI é testemunha suprema desta paixão pelo destino dos irmãos homens que apenas Cristo torna possível: 
“Acompanho sempre e com grande preocupação as tensões que, nestes dias, são registradas em diversos países da África e da Ásia. Peço ao Senhor Jesus que o comovente sacrifício da vida do Ministro paquistanês Shahbaz Bhatti desperte nas consciências a coragem e o compromisso com a tutela da liberdade religiosa de todos os homens e, ao fazê-lo, promova sua igual dignidade. Meu pensamento se dirige também à Líbia, onde os recentes combates têm causado muitas mortes e uma crescente crise humanitária. Para todas as vítimas e para aqueles que se encontram em situações aflitivas asseguro minhas orações e minha proximidade, enquanto invoco a assistência e o socorro às pessoas afetadas” (Angelus de 6 de março de 2011). 

A assessoria de imprensa de C
Milão, 10 de março de 2011.

* Extraído do site oficial de CL, no dia 11 de março de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Carta do P.e Carrón

Milão, 31 de janeiro de 2011.

Queridos amigos,
imagino a comoção e o entusiasmo com que cada um de vocês – como sucedeu comigo – acolheu o anúncio da Beatificação de João Paulo II, fixada por Bento XVI para o próximo dia 1° de maio, festa da Divina Misericórdia. E também nós, com o Papa, exclamámos: "Estamos felizes!" (Angelus de 16 de janeiro de 2011).
Unimo-nos à alegria de toda a Igreja no agradecimento a Deus pelo bem que foi a sua pessoa, com o seu testemunho e a sua paixão missionária. Qual de nós não recebeu tanto da sua vida? Quantos reencontraram a alegria de ser cristãos, vendo a sua paixão por Cristo, o tipo de humanidade que nascia da sua fé, o seu entusiasmo contagiante! Nele reconhecemos imediatamente um homem – com um temperamento e um modo investidos pela fé – em cujos discursos e gestos se evidenciava o método escolhido por Deus para Se comunicar: um encontro humano que torna a fé fascinante e persuasiva.
Todos nós estamos bem cientes da importância do seu pontificado para a vida da Igreja e da humanidade. Num momento particularmente difícil de novo propôs diante de todos, com uma audácia que só pode ter Deus como origem, o que significa ser cristão hoje, oferecendo a todos as razões da fé e promovendo incansavelmente as sementes de renovação do corpo eclesial postas em prática pelo Concílio Vaticano II, sem ceder a nenhuma das interpretações parciais que pretendiam reduzir o seu alcance num sentido ou  em outro. O seu contributo para a paz no mundo e para a convivência entre os homens mostra a que ponto é decisiva para o bem comum uma fé integralmente vivida em todas as suas dimensões.
Sabemos como, desde o início do pontificado, eram estreitos os laços de João Paulo II, Padre Giussani e CL, fundados numa consonância do olhar de fé a toda a realidade, na paixão por Cristo “centro do cosmos e da história” (Redemptor hominis). Ele nos ofereceu um ensinamento precioso para compreender e aprofundar o nosso carisma nas diversas e múltiplas ocasiões em que falou a todos os movimentos, por ele designados como “primavera do Espírito”, na medida em que na Igreja a dimensão carismática é “coessencial” à institucional. Dirigiu-se também diretamente a nós várias vezes, até às comovedoras cartas endereçadas a Padre Giussani nos últimos anos de suas vidas, unidas também pela provação da doença.
No discurso pelo trigésimo aniversário do movimento, em 1984, disse-nos: “Jesus, o Cristo, Aquele no qual tudo é feito e consiste, é, pois, o princípio interpretativo do homem e da sua história. Afirmar humildemente, mas também com tenacidade, Cristo princípio e motivo inspirador do viver e do agir, da consciência e da ação, significa aderir a Ele, para tornar adequadamente presente a Sua vitória no mundo. Agir para que o conteúdo da fé se torne inteligência e pedagogia da vida é tarefa cotidiana do crente, que deve ser realizada em todas as situações e ambientes nos quais somos chamados a viver. Está nisto a riqueza da vossa participação na vida eclesial: um método de educação à fé, a fim de que incida na vida do homem e da história. [...] A experiência cristã compreendida e vivida desse modo gera uma presença que põe em todas as circunstâncias humanas a Igreja como lugar onde o acontecimento de Cristo [...] vive como horizonte pleno de verdade para o homem. Nós cremos em Cristo, morto e ressuscitado, em Cristo presente aqui e agora, o único que pode mudar e muda, transfigurando-os, o homem e o mundo” (Roma, 29 de setembro de 1984). São palavras de uma atualidade impressionante!
Com uma paternidade surpreendente e única, João Paulo II abraçou a nossa jovem história reconhecendo canonicamente a Fraternidade de Comunhão e Libertação, os Memores Domini, a Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu, as Irmãs da Caridade da Assunção, como frutos diversos nascidos do carisma de Padre Giussani para o bem de toda a Igreja. O próprio Papa nos fez compreender a dimensão de tal gesto: “Quando um movimento é reconhecido pela Igreja, este se torna instrumento privilegiado para uma pessoal e sempre renovada adesão ao mistério de Cristo” (Castelgandolfo, 12 de setembro de 1985).
Por isso, se alguém tem uma enorme dívida de reconhecimento com João Paulo II, somos precisamente nós.
E não podemos encontrar um meio mais adequado de mostrar este nosso reconhecimento a não ser continuando a seguir a sua exortação cheia de autoridade: “Não permitais jamais que na vossa participação se aloje o verme do costume, da ‘rotina’, da velhice! Renovai continuamente a descoberta do carisma que vos fascinou e ele vos levará de forma mais potente a vos tornardes servidores daquela única potestade que é Cristo Senhor! (Castelgandolfo, 12 de setembro de 1985).
Por estas razões participaremos todos do encontro do próximo dia 1° de maio. Portanto, os Exercícios Espirituais da Fraternidade, que tínhamos programado de 29 de abril a 1° de maio, terminarão na noite de sábado, 30 de abril, de maneira que, com todos os outros amigos do Movimento – os colegiais, os universitários e os adultos não presentes em Rímini – dirijamo-nos em peregrinação a Roma para nos unirmos ao Papa e à Igreja no agradecimento a Deus, que nos concedeu uma tão autêntica testemunha de Cristo.
Desejamos estar junto de Bento XVI, que na sua clarividência decidiu indicar ao mundo inteiro o beato João Paulo II como exemplo do que pode fazer Cristo de um homem que se deixa tomar por Ele.
Pedindo a Padre Giussani e ao novo beato João Paulo II que, do Céu acompanhem, a nossa fidelidade a Pedro – amparo seguro para a nossa vida de fé −, e a Nossa Senhora que realize em cada um de nós o desejo de santidade para a qual existe a nossa Fraternidade, saúdo-vos de todo o coração.
Padre Julián Carrón

* Texto revisado por Paulo R. A. Pacheco.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cartas do P.e Aldo 173



Asunción, 23 de dezembro de 2010.

Caros amigos,
Jesus levou consigo, para o céu, a minha pequena Liz de 5 anos de idade. Estava conosco na clínica há três meses, por causa de um câncer na cabeça. Morreu ontem, deixando-nos a todos com o coração em pedaços e cheio de perguntas: “Padre, nesta manhã tive medo de não dar mais conta de ver tanta dor”, me disse a secretária da Clínica. E teria razão se Cristo não estivesse aqui, agora. Sem aquela criança que o Natal nos repropõe como um Fato vivo, contemporâneo, será que valeria a pena viver?
Pessoalmente, não conseguiria viver um minuto a mais rodeado por tanto dor como o sou, pelos mil “por ques” da mãe de Liz, uma mulher que me fez lembrar a mãe da pequena Cecília, que morreu de cólera, no romance de Manzoni. Quanto anos se passaram desde a leitura daquele capítulo, e no entanto ainda hoje me comove, como um sinal profético daquilo para o que eu seria chamado a viver todos os dias. Vocês entendem agora por que não posso ficar um segundo sequer sem gritar “Tu, ó meu Cristo”? Ou sem fazer de vocês partícipes daquilo que me acontece, para que, juntos, aprendamos aquilo que Carrón nos testemunha? Ontem, quando Liz morreu, pensei imediatamente nele, nas últimas Escolas de Comunidade sobre o sacrifício, sobre o valor que tem e no que consiste. Só assim me torno sempre mais consciente do fato de que é desumano, insuportável viver, respirar um segundo que seja sem que ele seja tudo para nós, sem que também para nós seja vibrante aquilo que São Paulo diz – “para mim, viver é Cristo e morrer é um ganho”. Quando, ontem, eu estava ao lado do leito de Liz, agonizante, os olhos semicerrados, as respiração difícil, a mãe de pé com uma lágrima nos olhos, quase paralisada pela dor, eu não conseguia, beijando Liz, não sentir presente o Mistério que estava para levar para si, no Paraíso, a pequena. Ela morreu como Jesus: por mim, por meus pecados e os de todos nós. O meu sacrifício é a estima de Jesus que, por mim, por vocês, desceu do céu  e se fez uma criança e, depois, morreu e ressuscitou por mim e por vocês.
É desconcertante, comovente, dar-se conta de que Jesus, antes da minha pequena Liz, fez o mesmo percurso humano. Nós a vestimos como um anjo, com uma coroa na cabecinha, como se fosse um pequena rainha. Sim, porque ela é uma rainha, como todos nós que fomos batizados. E, depois, a colocamos num caixão branco – a caixinha onde os seus ossos esperarão a ressurreição final.
Hoje, enquanto Liz era sepultada, fizemos um presépio vivo: o Menino Jesus foi um dos bebês da Casinha de Belém, de apenas três meses de vida. Depois, as outras crianças representando as ovelhinhas; os doentes, os ancião representando os pastores e os reis magos; e também alguns de nós que vivemos com eles. Cada um fez a sua parte. Foi, neste mar de dor, uma explosão de vida e de alegria. De fato, aqui, reina a vida, porque aquele “Tu, ó meu Cristo” é a única razão daquilo que existe e vive aqui. Amigos, que os nossos olhos, nestes dias e sempre, dentro de toda situação, mesmo a mais negra, estejam exclusivamente fixos em Jesus, para que possamos viver comovidos em cada instante da vida.
Amigos, mas o que pode haver de mais belo do que dizer “Tu, ó meu Cristo”?
Padre Aldo

domingo, 26 de dezembro de 2010

No mistério da encarnação, o homem e a história: o prodígio que todos esperamos

Por Julián Carrón

“Toda a minha vida foi também atravessada pelo sentimento de que o cristianismo traz alegria, dá dimensão. Por fim, também seria impossível suportar a vida como alguém que é sempre do contra.” (Luz do Mundo, p. 21). Estas palavras de Bento XVI lançam-nos um desafio: o que significa ser cristãos hoje? Continuar a crer simplesmente por tradição, devoção ou costume, fechando-se na própria concha, não está à altura do desafio. Da mesma forma, reagir com força e ir contra para recuperar o terreno perdido é insuficiente. O Papa chega a dizer que é “insuportável”. Um e outro caminho – retirar-se do mundo ou ser do contra – não são capazes, no fundo, de suscitar interesse pelo cristianismo, porque nenhum dos dois respeita aquilo que sempre será o cânone do anúncio cristão: o Evangelho. Jesus colocou-se no mundo com uma capacidade de atração que fascinou os homens do seu tempo. Como diz Péguy. “Ele não perdeu os seus anos gemendo e interpelando a maldade dos tempos. Ele cortou fundo... Fazendo o cristianismo”. Cristo introduziu na história uma presença humana tão fascinante que quem que se deparava com ela tinha de levá-la em consideração. Para recusá-la ou aceitá-la. A ninguém deixou indiferente.
Hoje estamos todos diante de uma “crise do humano”, que se atesta como cansaço e desinteresse pela realidade e que envolve todos os âmbitos que dizem respeito à vida das pessoas. É uma desgraça para todos, com efeito, que as pessoas não se ponham em jogo com a sua razão e a sua liberdade. E exatamente neste momento a Igreja tem diante de si uma aventura fascinante, a mesma das origens: testemunhar que existe algo capaz de despertar e suscitar um interesse verdadeiro. “Também o meu coração espera, / olhando para a luz e para a vida, / outro prodígio da primavera”. Todos nós, como o poeta Antonio Machado, esperamos o milagre da primavera no qual possamos ver realizar-se a nossa vida. E se alguém disser, ainda com o poeta, que é um sonho, por que o esperamos? Porque essa espera nos constitui no íntimo, como escreve Bento XVI: “Vimos como o homem anseia por uma alegria infinita, deseja o prazer até ao extremo, quer o infinito” (Luz do Mundo, p. 68). Mas o homem pode decair, o mundo pode procurar arrancar esse desejo do infinito minimizando-o; pode até zombar dele oferecendo algo que atrai por certo tempo, mas que não dura, e no fim nos deixa só mais insatisfeitos e mais céticos. Ora, a prova da veracidade daquilo que fascina e desperta um interesse é que deve durar. Mas mesmo as coisas mais bonitas – vê-se isso quando se ama uma pessoa ou quando se inicia um novo trabalho – acabam. O problema da vida, então, é se existe alguma coisa que dure.
O cristianismo tem a pretensão – porque a sua origem não é humana, embora possa ser vista nos rostos dos homens que o encontraram – de ser portador da única resposta capaz de durar no tempo e na eternidade. Porém, um cristianismo reduzido não é capaz de oferecer isso. Sabemos por experiência que existe um modo abstrato de falar da fé que não suscita a mínima curiosidade. Se o cristianismo não for respeitado na sua natureza, tal como se apresentou na história, não poderá lançar raízes no coração. O cristianismo é sempre colocado à prova perante o desejo do coração, e não se pode libertar disso: foi o próprio Cristo que se submeteu a esta prova. O aspecto fascinante é que Deus, despojando-se do Seu poder, fez-se homem para respeitar a dignidade e a liberdade de cada um. Encarnando, é como se tivesse dito ao homem: “Observa um pouco se, vivendo em contato comigo, encontras algo interessante que torne a tua vida mais plena, maior, mais feliz. Aquilo que não és capaz de obter com teus esforços, podes obter se me seguires”. Foi assim desde o início. Quando os dois primeiros discípulos perguntam: “Onde moras?”, Ele responde: “ Vinde e vede”. A sua simplicidade é desarmante. Deus confia-se ao juízo dos primeiros dois que O encontram. O homem não pode evitar comparar continuamente aquilo que acontece com as suas exigências fundamentais.
Qualquer um poderia argumentar que no tempo de Jesus viam-se os milagres, mas que hoje já não é tempo de prodígios. Não é assim, pois essa experiência continua a ter lugar, como no primeiro dia: quando encontras pessoas que despertam em ti um interesse e uma atração tais que te obrigam a fazer contas com o que te aconteceu. Como disse o Papa, “Deus não Se impõe, [...] A sua presença é um encontro que chega ao que há de mais íntimo e profundo no homem,” (Luz do Mundo, p. 166-167).
Há alguns anos um amigo meu foi estudar árabe no Cairo. Conheceu um professor muçulmano. O encontro podia ter-se desenvolvido conforme os estereótipos de um e de outro. Mas aconteceu algo inesperado: eles ficaram amigos. O muçulmano perguntou ao meu amigo por que era cristão, e este o convidou para vir à Itália, onde conheceu o Meeting de Rímini. Arrastado pelo encontro com uma realidade humana diversa, quis realizar o Meeting do Cairo, envolvendo muitos jovens egípcios, muçulmanos e cristãos.
Recentemente, em Moscou, conheci pessoas que até há pouco tempo nada tinham que ver com a fé. Descobriram-na encontrando cristãos que despertaram nelas a curiosidade. Algumas eram batizadas na Igreja ortodoxa e interessaram-se pelo cristianismo – coisa que nunca tinham feito antes – graças a amigos que o viviam com intensidade e plenitude. Não são histórias do passado, mas algo que acontece agora, no presente. Na sua recente visita à Espanha, Bento XVI convidou a um diálogo entre laicidade e fé. E como fez isso? Indicando uma presença, uma testemunha, Gaudí, que com a Sagrada Família “foi capaz de criar [...] um espaço de beleza, de fé e de esperança, que leva o homem ao encontro com Aquele que é a Verdade e a própria Beleza”. O Papa desafiou a todos tornando contemporâneo o olhar de Cristo e indicando a experiência nova que Ele introduz na vida: qualquer um pode interessar-se por ela ou rejeitá-la. Quando Bento XVI nos chama à conversão está dizendo-nos que, para dar testemunho de Cristo, para sermos “transparência de Cristo para o mundo”, precisamos percorrer um caminho até descobrir a pertinência da fé com as exigências da nossa vida. Não sei se algum católico pode sentir-se excluído do chamamento do Papa. Eu não.

* Texto extraído do site oficial de Comunhão e Libertação, do dia 23 de dezembro de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Natal 2010


Para nós, Deus não é uma hipótese distante, não é um desconhecido que se retirou depois do “big-bang”. Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus falar conosco.
Bento XVI

                                                       
João e André tinham fé, porque tinham certeza de uma Presença experimentável: quando estavam lá […] sentados na sua casa, aquela noite, olhando-O falar, era uma certeza em uma Presença experimentável de uma coisa excepcional, do divino numa Presença experimentável. […] Em vez dEle com os cabelos ao vento, em vez de olhá-Lo falar com a boca que se abre e se fecha, Ele chega até você através das nossas presenças, que somos como […] a pele frágil, as máscaras frágeis de algo potente que é Ele e que está dentro.
Luigi Giussani

Comunhão e Libertação

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cleuza, os meus alunos e aquele folheto


O encontro entre a comunidade de Bogotá e alguns amigos brasileiros. A carta de um professor fala de um fim de semana “para conhecê-los. Mas tinha muito mais...”

Marcos, Cleuza e Padre Julián de la Morena vieram encontrar a comunidade de Bogotá. Vieram para nos acompanhar durante o fim de semana, junto com Carras. No primeiro dia, nos encontramos com a diaconia, para um diálogo sobre o que nos interessava conhecer: eles. Mas, não era só isso! Também eu estava ali para conhecê-los. Mas tinha muito mais.
Vieram para a Colômbia por causa da amizade com Padre Marco e Juan Carlos, Patrizia, Iano e outros de nós, conhecidos em La Thuile e, depois, no Brasil, por ocasião da ARAL (Assembleia de Responsáveis da América Latina; ndt). Uma amizade que, depois de três dias juntos, já se alargou para tantos outros rostos.
A primeira coisa que me chamou atenção foi um gesto de Cleuza, durante o jantar, aparentemente banal. Marcos estava falando e, enquanto falava, mantinha na mão o convite que tínhamos preparado para o encontro público do dia seguinte, no Museu Nacional de Bogotá. Sem se dar conta, estava amassando o convite, e o dobrava quase sem se dar conta. Cleuza o pegou de sua mão, mas gentilmente, e o colocou diante de si na mesa e, com as mãos, começou a desdobrá-lo e desmassá-lo. Fiquei comovida: lembrei-me da intervenção de Dom Giussani, via vídeo, anos atrás, num dos Exercícios da Fraternidade, no qual, ao final, recolheu todas as folhas e os livros usados e foi embora. O mesmo gesto e a mesma gentileza, o mesmo cuidado.
E o fim de semana foi este: o drama da minha liberdade em ato, diante de todos eles. Constamente em luta entre o permanecer presa ao sentimento de mim negativo, ou olhar e pedir a caridade de poder estar, ficar ali, assim, ainda que fosse com este sentimento de mim, sem ter que eliminá-lo
E não podia agir de forma diferente: eles vivem uma memória contínua, ou seja, para eles, Cristo é o tesouro da vida. Perguntamos a Marcos: “Como você faz para ser fiel, para reconhecer Cristo em tudo aquilo que acontece?”. Ele nos disse: “Não me preocupo com isto, o que me interessa mais é ver como Ele me alcança, como Ele me procura continuamente e nunca se dá por vencido”. É, em suma, a vida real, não um discurso ou uma tensão à perfeição, a ser eu, mas que Tu sejas.
Na quinta-feira, pela manhã, vieram à escola “A. Volta”, onde eu dou aulas, e encontraram os jovens do ensino fundamental e do ensino médio. Os professores não havíamos contado muito, ou dito alguma coisa, mas os meus alunos – que estão sempre distraídos, no seu mundinho – olharam para estes três amigos que falavam com uma atenção e com um silência incrível, e fizeram perguntas inteligentes, ou seja, verdadeiras.
Cleuza começou falando para os jovens: “Quando eu tinha 15 anos, vivia num lugar muito pobre da minha cidade, éramos muito pobres e tínhamos que trabalhar para que a família pudesse comer, não pudemos estudar. Eu era muito ligada à paróquia, porque queria fazer algo, fazer o possível para que os homens fossem felizes. Desejava isso, desde sempre eu desejei isso. Quando se tem 15 anos, se tem grandes ideais, como vocês, certamente...”. E tudo aquilo que fizeram foi marcado pelo desejo profundo do coração, até chegar a ver que é Cristo que chega ali, na raiz do desejo.
Eles dizem coisas que não são palavras, são aquilo que veem e vivem. Sempre. É possível esta memória contínua? Parece o Paraíso, ou a Sua presença sempre, desvelada definitivamente.
Chiara
Bogotá

* Texto extraído de Tracce.it, do dia 17 de novembro de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

21 de novembro: Oração pelos cristãos no Iraque

Comunhão e Libertação adere ao apelo dos Bispos italianos para rezar, no domingo, 21 de novembro, pelos cristãos do Iraque, “que sofrem a difícil provação do testemunho cruento da fé” (Comunicado final da Assembleia da Conferência Episcopal Italiana, 11 de novembro de 2010).

O Movimento Comunhão e Libertação convida a todos os seus membros a participar das missas segundo as intenções de Bento XVI, que, no dia seguinte ao gravíssimo atentado na catedral sírio-católica de Bagdá, que causou dezenas de mortos e feridos, disse: “Rezo pelas vítimas desta absurda violência, que é ainda mais cruel na medida em que atingiu pessoas indefesas, recolhidas na casa de Deus, que é casa de amor e de reconciliação. Exprimo, além do mais, a minha afetuosa proximidade à comunidade cristã, novamente atingida, e encorajo a todos pastores e fiéis a serem fortes e firmes na esperança. Diante dos brutais episódios de violência que vêm mutilando as populações do Oriente Médio, gostaria finalmente de renovar o meu sincero apelo pela paz, que é dom de Deus, mas também é o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, das instituições nacionais e internacionais. Que todos unem suas forças para que tenha fim toda violência!” (Angelus, 1º de novembro de 2010).
Dirigindo-se a todos os membros de Comunhão e Libertação, Padre Julián Carrón disse que “a participação nas missas dominicais segundo as intenções do Papa e dos Bispos é um gesto de comunhão real e de caridade, para que sintamos como nossos amigos os cristãos do Iraque, ainda que não os conheçamos diretamente”.
Como disse Dom Giussani, “se o sacrifício é aceitar as circunstâncias da vida, da forma como acontecem – porque nos tornam correspondentes, participantes da morte de Cristo – então o sacrifício se torna o ponto-chae de toda a vida [...], mas é também o ponto-chave para entender toda a história do homem. Toda a história do homem depende daquele homem morto na cruz, e eu posso influir sobre a história do homem (posso influir sobre as pessoas que vivem no Japão, agora; sobre as pessoas que estão em perigo no mar, agora; posso intervir para ajudar a dor das mulheres que perdem os filhos, agora, neste momento) se aceito o sacrifício que este momento me impõe” (GIUSSANI, L. É possível viver assim? São Paulo: Companhia Ilimitada, 2008, p. 324). 
Por esta razão, Carrón acrescentou, “se um gesto de oração pode influir sobre a mudança das pessoas no Japão, pode mudar algo também no Iraque. O sacrifício que fazemos pelos cristãos iraquianos e a oração desse domingo sejam um gesto com o qual invocamos, imploramos a Deus a proteção para eles”.

Comunhão e Libertação
Milão, 18 de novembro de 2010

Cartas do P.e Aldo 168





Asunción, 17 de novembro de 2010.

Caros amigos,
olhem para as minhas crianças no dia da sua Primeira Comunhão, no domingo dia 7 de novembro. São belas, muito belas, agora que, finalmente, Jesus entrou em seus corações, se tornando uma única realidade com Jesus.
A semente da graça batismal está se tornando uma árvore.
A história delas é conhecida de vocês. A violência marcou a sua concepção, o seu nascimento... os abusos sexuais. Traumas terríveis, suficientes para destruir uma vida. No entanto, o encontro conosco, o encontro com rostos definidos pelo “eu sou Tu que me fazes”, pela certeza de “amei-te com amor eterno, tendo piedade do teu nada”, não apenas lhe deu a vida outra vez, a alegria de viver, como também lhes deu a liberdade de perdoar aqueles que os colocaram no mundo e abusaram deles.
“Padre, não queremos ver e nem mesmo voltar para casa onde sofremos tanto; perdoamos nossa ‘mãe’ e o concubino que nos fez tanto mal”. Amigos, no dia em que me disseram esta frase, senti toda a potência daquilo que Carrón continuamente nos repete: “O homem não é e nunca será fruto do seus antecedente, por mais feios que sejam, porque ele é relação com o Mistério”. Porém, esta certeza, na qual consiste toda a proposta educativa de Giussani, pode chegar até a nós, aos meus filhos, somente na medida em que é a consistituição consciente do meu eu, somente na medida em que a minha familiaridade com Cristo é vibrante em mim, somente na medida em que acolho, a cada instante, aquilo que Giussani chama o “monstro” do sacrifício como condição para que a minha liberdade coincida com o “Tu, meu Cristo”. Como vocês podem ver, não se trata de medicar as feridas, por mais horríveis que sejam, mas se trata de permitir que Cristo tome posse do próprio eu. A batalha é dura, como diz a Escola de Comunidade sobre o sacrifício, mas o êxito é uma plenitude de vida, aquela plenitude que vocês podem ver no rosto das minhas crianças.
Amigos, tudo é importante e bom. Mas, sem Cristo, tudo é inútil, todo esforço é destinado a falhar!
Somente “eu sou Tu que me fazes” como consciência comovida de si sara a totalidade do humano. Deus e Nossa Senhora nos deem a alegria de vibrar ao pronunciar esta certeza, pelo menos da mesma forma como vibramos por causa de um amor repentino que esperamos chegar, da mesma forma que São Paulo, quando diz: “para mim, viver é Cristo”.
Ciao,
Padre Aldo

domingo, 17 de outubro de 2010

Cartas do P.e Aldo 166

Asunción, 16 de outubro de 2010.

Caros amigos,
“Padre, sou feliz de estar aqui, neste hospital. Desde que cheguei e vi tanta beleza – flores, jardins, plantas, ordem, limpeza – e, particularmente, tanto amor, me senti como se estivesse no paraíso. Mesmo o câncer assumiu um rosto diferente”. Foi o que Josefina me disse antes de morrer, esta noite.
A clínica está sempre cheia. Moribundos sozinhos, da rua, que chegam para receber um gesto de amor puro que encontra nos sacramentos o coração e, depois, partem para o Paraíso. Frequentemente, damos o batismo sub conditio, porque não sabemos nada sobre eles, apenas algo muito bonito que Carrón nos repete sempre: “amei-te de um amor eterno, tendo piedade do teu nada...” ou, como disse Giussani na Escola de Comunidade, “comovo-me porque tu me odeias”.
Olho para aquele meu filho, de quem sou também o padrinho, batizado no domingo passado, sempre sub conditio (significa que pode ser dado mesmo a quem já foi batizado), mongoloide, encontrado na rua, doente de AIDS porque foi abusado sexualmente, e não posso não me comover pensando, hoje, em como rezamos nas laudes (como eu gostaria que vocês, meus amigos, rezassem o livro das horas todos os dias, como quando estavam em GS [Gioventù Studentesca, equivalente, na Itália, aos Colegiais de Comunhão e Libertação; ndt], para descobrirem aquilo que, há 17 anos, intuíamos mas não se tinha feito carne ainda): “Pode uma mãe abandonar seu filho? Não se comover pelo filho do seu ventre? Bem, mesmo se se esquecesse, Eu não te esquecerei nunca”. Amigos, pobres de nós se introduzíssemos uma suspeita que fosse de que, na nossa vida, não seja assim, quaisquer que sejam as circunstâncias! Imaginem que desespero seria a nossa vida se esta certeza não fosse granítica como conteúdo do eu, quando um dia adoecéssemos de câncer ou quando a depressão nos pegasse!! Amigos, o pecado mais grave é a suspeita, a dúvida, quase como se Deus fosse capaz de nos enganar quando nos diz “amei-te de um amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
Quantos momentos dramáticos aconteceram nestas semanas... cheguei mesmo a ficar com raiva (porém, há muito tempo, a minha raiva com Deus é cheia de ternura) dEle, mas não há nada que possa fazer nascer a suspeita de que tudo o que me aconteceu não seja uma ternura de Deus. Se eu não sofresse, não viveria aquela familiaridade com Ele que torna a vida tão bela e que me permite transmitir aos meus filhos a alegria do perdão.
Uma noite dessas, as minhas filhas da Casinha de Belém, as adolescentes, vieram até ao meu escritório para conversar comigo, confiando-me seus problemas (é um fato normal, mas sempre novo). Entre as tantas coisas que disseram, algumas me tocaram e foi quando elas, abusadas sexualmente pelo companheiro da “mãe” e com o consenso da mesma, me disseram: “papai, não queremos mais viver com a mamãe por causa daquilo que ela nos fez, porém nós a perdoamos”. E uma me disse: “eu queria vê-la, mas sei que ela não quer saber nada de mim”. “Por isso, precisamos que o senhor e Diana, a mamãe de fato, fiquem conosco quando temos tempo livre na escola, porque somos uma família”.
Numa outra noite, tentei ensinar para Noelia (de 5 anos) como se dobram as roupas. Eu a olhava e ela, muito empenhada, de vez em quando me olhava para ver se eu estava ou não de acordo. Que ternura! Porém, se Jesus não estivesse vivo, aqui, eu não seria capaz disso, eu ficaria impaciente. É a contemporaneidade de Cristo que permite às crianças que perdoem, e permite a mim ensinar como se dobram as roupas. Esta contemporaneidade é aquilo que deu a liberdade cheia de amor a César e Lorena que, tão logo se casaram, alguns meses atrás, decidiram vir viver com os homens na primeira Casinha de Belém. Já na primeira noite de casados, se viram com o quarto dos 11 meninos assustados, que se tornaram seus filhos, ao lado do seu quarto. Agora, Lorena está grávida e a felicidade para todos é ainda maior. Os filhos que eram de uma violência sem precedentes – eles estariam todos na rua, semeando violência –, hoje estão mudados e são muito bonitos. Mesmo Gabriel, para quem demos e se deu o meu sobrenome, que viveu apenas violência (fugia de todas as casas por onde passou, jogava pedras em vidros de carros, era respondão e tinha um cinismo terrível), agora é o melhor da sua sala.
Amigos, é o milagre da gratuidade, assim como nos descreve Giussani na Escola de Comunidade. Os meus educadores são todos pessoas que têm apenas a quinta série e, alguns, terminaram o ensino médio, e todos são os protagonistas deste milagre... mas, por quê? Porque, a cada dia, nos lembramos da nossa origem, que é a mesma das crianças: “eu sou Tu que me fazes”, ou “quem és Tu, ó Cristo, que me amaste de um amor eterno, tendo piedade do meu nada?”.
Amigos, a vida é uma grande aventura.
Com afeto
Padre Aldo

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Paixão pela liberdade e pelo bem comum

Eleições 2010

"O difundir-se de um relativismo cultural confuso e de um individualismo utilitarista e hedonista enfraquece a democracia e favorece o domínio dos poderes fortes. É preciso recuperar e revigorar uma sabedoria política autêntica; ser exigente no que se refere à própria competência; servir-se criticamente das pesquisas das ciências humanas; enfrentar a realidade em todos os seus aspectos, indo além de qualquer reducionismo ideológico ou pretensão utópica; mostrar-se aberto a todo o diálogo e colaboração autênticos, tendo presente que a política é também uma complexa arte de equilíbrio entre ideais e interesses, mas sem jamais esquecer que a contribuição dos cristãos só é decisiva se a inteligência da fé se torna inteligência da realidade, chave de juízo e de transformação." (BENTO XVI. Pontifício Conselho para os Leigos, 21/05/2010)
"As circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são fator essencial e não secundário da nossa vocação, da missão a que Ele nos chama. Se o cristianismo é anúncio do fato de que o Mistério se encarnou num homem, a circunstância pela qual alguém toma posição a esse respeito, frente a todo o mundo, é importante para a própria definição do testemunho." (GIUSSANI, L. L’uomo e il suo destino. Gênova: Marietti, 2002, p. 63)

Cada circunstância é uma provocação que nos solicita a considerar o que temos de mais caro na nossa vida. 
Por causa disso, tudo nos interessa! Também a política, que é o instrumento que os homens têm para juntos alcançarem o bem comum, o bem para todos.
Busquemos nestas eleições reacender esse desejo de bem primeiro em nós, cada vez mais tomados pelo individualismo. E depois trabalhemos para construir relacionamentos com pessoas (políticos e não) que procurem esse mesmo horizonte, que sejam pessoas desejosas de servir a um povo e não aos próprios interesses.
A primeira vitória nestas eleições é que comece em nós uma inquietação – um não ficar tranquilos - não causada pela raiva ou pelo mal-estar decorrente da falta de uma classe política adequada, mas pelo desejo de que os homens possam encontrar uma experiência de bem. Que esse desejo nos coloque ao trabalho pessoalmente, não delegando-o a outros, mas construindo onde quer que estejamos um pedaço de mundo novo.
1) Não pedimos a salvação à política, não é aí que buscamos a esperança para nós e para os outros. A tradição da Igreja sempre indicou dois critérios ideais para julgar qualquer autoridade civil e qualquer proposta política:
      a. A libertas Ecclesiae. Um poder que respeita a liberdade de um fenômeno tão sui generis como a Igreja é também tolerante com qualquer outra autêntica agregação humana. O reconhecimento do papel público da fé e da contribuição que ela pode dar no caminho dos homens é, portanto, garantia de liberdade para todos, não só para os cristãos.
      b. O “bem comum”. O poder, como serviço ao povo, defende as experiências nas quais o desejo do homem e a sua responsabilidade podem crescer em função do bem comum, através da construção de obras sociais e econômicas, segundo o princípio da subsidiariedade, sabendo que nenhum programa poderá garantir a realização do bem comum em termos definitivos, por causa do limite intrínseco a toda tentativa humana.
2) Por essa razão, damos nossa preferência a quem promove uma política e modo de ser do Estado que favorece a “liberdade” e o “bem comum”, e que por isso pode sustentar a esperança do futuro, defendendo a vida, a família, a liberdade de educar e de realizar obras que encarnem o desejo do homem. Fazemos isso num momento histórico que exige não desperdiçar o voto, para não acrescentar mais confusão ao que já está confuso.
De maneira especial, convidamos a olhar para alguns amigos que, a partir do empenho pessoal com a experiência cristã que temos em comum, já demonstraram lutar por uma política a serviço do bem comum, da subsidiariedade e da libertas Ecclesiae. Esperamos que eles possam continuar documentando a novidade que entrou em suas vidas, como nas nossas, a fim de que sua ação possa tornar cada vez mais explícito o fruto da educação que recebemos: uma paixão pela liberdade e pelo bem vivida como caridade.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cartas do P.e Aldo 155




Asunción, 02 de agosto de 2010.

Caros amigos,
Olhem as maravilhas do Senhor. Ontem, na clínica, batizamos três de minhas crianças (da Casinha de Belém) e três filhos de um jovem pai que está morrendo e desejava ver seus filhos cristãos antes de morrer. Foi uma festa. Particularmente para a minha pequena Maria Vitória Milagres, encontrada abandonada num saco de plástico no meio de uma praça. É belíssima. Ela foi abandonada pela mãe, mas salva pela ternura de Deus, que se ocupa de cada um de nós. E nós nos ocupamos um dos outros? Quanta necessidade de ternura cada homem tem, em particular quem sofre.
Outro dia, me chegou a notícia de que uma jovem mulher que ia às Escolas de Comunidade foi encontrada enforcada, depois de alguns dias, com o cãozinho ao seu lado. Que dor! Se não seguirmos Carrón, que “bate” em nós muito justamente para que possamos entender o que quer dizer o trabalho pessoal, fazer experiência, estes fatos continuarão a acontecer, porque quem pode fazer companhia a quem sofre senão quem vibra de paixão por Cristo, senão quem ama a própria humanidade. Carrón nos diz que apenas as pedras não se comovem. Olhar para estes meus filhos, renascidos pela ternura de Cristo, é querer apenas a Cristo, é querer um coração grande para amar o homem. 
Que bonita a Escola de Comunidade que Carrón tem feito conosco, porque, com ele, os discursos quase acabaram, as pregações, as exortações, as frases feitas. Para mim, é uma graça única, pois, de outra forma, como conseguiria ficar diante de um oceano de dor.
Ciao.
Padre Aldo

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cartas do P.e Aldo 150



Asunción, 20 de junho de 2010.

Caros amigos,
Hoje, completam-se 39 anos em que sou sacerdote e feliz. Feliz não por ser sacerdote, mas por ser totalmente de Cristo, por poder dizer todos os dias “Tu, meu Cristo”.
Nunca poderia ter imaginado o que Deus fez desse pouco de lama, no qual infundiu o sopro divino e, depois, fez reconhecer no batismo. Um nada que Deus usa para mostrar a Sua misericórdia a todos e, em particular, aos diversos “nadas” que estão pelo mundo, excluídos de tudo e perto da morte ou vítimas das piores violências.
Hoje, dois dos meus filhos (que são tantos) me fizeram festa... os meus filhinhos me comoveram com a sua ternura (hoje, aqui no Paraguai, celebra-se a festa de uma figura que não existe. Nós, porém, celebramos a festa da família)... particularmente Maria, a menina de 14 anos que, há três meses atrás, vivia e dormia na rua. Sozinha e abusada, chegou na parte da manhã, depois de ter sido surrada por jovens como ela. Suja, com uma mochilinha nas costas... Agora, é feliz. 
O pequeno Alberto, por sua vez, (vejam a foto), tem um ano e meio, pesa 7 kg, e é doente terminal, porque nasceu com dos rins sem funcionar, foi abandonado pela mãe... e, no entanto, vejam como é contente, como brinca. Somente um transplante poderia salvá-lo... Mas, como fazer isso aqui, onde a pobreza é grande...
Depois, veio Celeste... e depois, aquela mulher que toca violão e que tem um câncer que lhe comeu a parte direita da boca... e, no entanto, como cantava, hoje, para mim!
Amigos, esta é a virgindade: uma plenitude de paternidade, uma plenitude que se realiza enchendo de alegria os meus pacientes terminais e as minhas crianças.
Feliciano – que perdeu uma perna e tem uma ferida na outra que fede terrivelmente –, à minha pergunta, “Como está, Feliciano?”, respondeu: “Padre, o meu nome já diz tudo: estou felicíssimo”. “E a perna que lhe falta?” “Foi para junto do Senhor, e eu disse a ela: feliz viagem!” “E como está hoje, Feliciano?” “Padre, tranquilíssimo”. E, no entanto, tem os dias contados.
Amigos, “pode um homem velho renascer?”. Tudo aquilo que o Carrón nos diz eu vejo, instante depois de instante, em mim e em todos aqueles que sofrem e vivem comigo.
Confio-me às orações de vocês, para que eu seja capaz de levar a bom termo a minha missão. 39 anos de sacerdócio é muito e é uma graça única.
Padre Aldo
P.S.: nas fotos, o pequeno Alberto com uma enfermeira da clínica e a festa que fizeram para mim.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Etsuro Sotoo

Acabei de chegar da Escola de Comunidade. Trabalhamos, hoje, a introdução dos Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação - Pode um homem nascer de novo, sendo velho?
Dois amigos que estiveram, no último fim de semana, no Paraguai contaram o encontro que fizeram com Etsuro Sotoo, o arquiteto que "herdou" a Sagrada Família de Gaudí e que irá realizar as obras da fachada da nova clínica do Padre Aldo. Recolhi algumas das coisas que eles contaram do encontro feito, sobretudo algumas frases que, como notas de memória, ficaram gravadas neles... notas que, comunicadas, deixaram suas marcas também em mim.


É o trabalho que converte o humano.

Sofrimento, beleza e verdade são inseparáveis.

Quanto a gente se apaixona, não importa mais onde está o corpo, mas onde está o coração; porque, quando a gente se apaixona, o coração não é mais nosso, mas está na pessoa por quem a gente se apaixonou.

É preciso atenção à realidade. Não adianta querer forçar a realidade... é ela quem dita a forma como se relacionar com ela.

Na vida, é preciso paciência e atenção ao tempo... tudo tem o tempo certo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cartas do P.e Aldo 149

Asunción, 16 de junho de 2010.

Caros amigos,
Esta noite, enquanto eu passava com o Santíssimo Sacramento diante de cada doente, chegando ao leito de Ermínia (uma jovem bela mulher, mãe de duas crianças, gravemente doente de AIDS, câncer e vítima de uma terrível depressão), depois de tê-la abençoado com Jesus, acariciando-a com ternura, lhe disse: “Ânimo! Jesus ama você, quer que você sorria”. Uma frase simples, mas dita com a consciência daquele “Tu” que domina tudo, de que fala Carrón nos exercícios (refere-se aos Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação; ndt), mudou o rosto desta minha filha. Ela me respondeu com uma ternura tipicamente feminina, olhando-me nos olhos: “Obrigada”. Quis contar isso para vocês porque aquele “obrigada”, dito devagarzinho, continha toda a ternura de Cristo.
Joana é uma jovem que viveu na rua e, de relacionamentos ocasionais, teve dois filhos. Tem 26 anos, é doente de AIDS. Chegou “desfeita”: queria morrer, recusou comida etc. Dias imprevisíveis. A única coisa que eu podia fazer foi fazer aquilo que a pecadora fez com Jesus, quando entrou na casa de Simão. Eu a acariciei, beijei com ternura, alisei seus cabelos pretos, disse a ela que a amo. Vi nela a ternura do Mistério. Depois, aconteceu o milagre: à proposta de confessar-se, me respondeu “sim”. Daquele momento em diante tudo mudou. Fez a comunhão, voltou a comer e a sorrir. Ela também é dependente de droga, mas a caridade, a ternura fez o milagre. Uma vez mais aquele “Tu, meu Cristo”, que fez uma coisa só do meu eu com Ele, me mostrou que o problema é apenas a fé. Desejo a todos, meus amigos, que nunca duvidem da Sua ternura, mesmo se acontecesse o pior terremoto.
Um rapazinho da Casinha de Belém é insuportável. O pensamento de mandá-lo embora foi se aninhando na minha mente. A diretora da escola me disse: “Padre, mas este menino é Jesus e, então, olhemos para ele na sua totalidade”. Como dizer: não vê o caminho que ele fez durante estes dois anos? Bastou aquele “o menino é Jesus” para que a minha mente revesse a possível decisão e mantê-lo comigo ainda mais. Um sinal claro do que é uma amizade entre educadores.
O grande escultor da “Sagrada Família” de Barcelona veio me encontrar para ver como finalizar a nova clínica. Que comoção! “Esta obra é maior do que a Sagrada Família porque, aqui, eu vi Cristo que morre e ressuscita. Padre, não faz o teto dos quartos de branco. Os doentes, em particular os moribundos, olham para o teto, olham para o alto e, por isso, o teto de cada quarto deve ser da cor do céu, com sutis nuvens brancas, assim como é belo o céu do Paraguai. O doente tem necessidade de ver sempre o céu com algumas nuvezinhas brancas e, quem sabe até, com o sol que nasce. Padre, eu o ajudarei a pensar o teto de cada quarto, olhando para este belíssimo céu paraguaio”.
Depois, ele me explicou como deseja terminar a clínica, explicando uma frase de que eu gosto muito, de São Paulo: “A natureza geme as dores do parto, esperando a ressurreição dos filhos de Deus”. De repente, se mostrou a genialidade deste homem. De fato: meu Jesus, quem sou eu para que Sotoo tenha vindo, de propósito, visitar-me, encontrar-me? Nós nos havíamos conhecido junto com Marcos, Cleuza e Julián de la Morena, no ano passado, em Barcelona. Foi suficiente um olhar cheio de ternura de Cristo para nos tornarmos amigos por toda a eternidade. Assim como é cada dia com os meus doentes, velhos e crianças, vítimas das violências.
Há uma última graça recebida hoje que não posso omitir. Acompanhando Marcos e Cleuza ao aeroporto (em quinze dias, nós nos vimos três vezes – duas no Brasil e uma aqui... potência do afeto por Carrón, da paixão por viver aquilo que ele nos testemunha e do grito humano que trazemos no coração), eles me dizem: “Esta não é mais a clínica do padre Aldo... esta é a nossa clínica. Estas não são mais as obras do padra Aldo e de Paolino, são as nossas obras”. Que comoção, para mim, e que resposta para quem se preocupa com o que acontecerá quando eu morrer!
Amigos, destes dias que passei com eles terei a oportunidade de falar depois... porque o segredo do milagre que vivemos é fruto apenas da nossa liberdade que vive uma estreita filiação com Carrón. Sem esta posição, o carisma de Dom Giussani se tornaria velho, morreria e não seria capaz de gerar um povo, filhos novos como está acontecendo por aqui. Nós nos encontramos apenas para aprender a olhar para o Carrón, como ele vive o carisma que Giussani lhe confiou. Garanto a vocês que cada instante é a experiência do homem novo.
Um abraço a todos,
Padre Aldo

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cristo é a força que nos faz caminhar



Por Carlo Caffarra

A trigésima segunda peregrinação a pé de Macerata a Loreto
Publicamos a homilia que o cardeal arcebispo de Bolonha pronunciou no sábado à noite, no Estádio "Helvia Recina", em Macerata, durante a concelebração eucarística que precedeu a partida da trigésima segunda peregrinação a pé Macerata-Loreto

O que pode colocar em movimento todo o eu da pecadora a ponto de impulsioná-la  uma efusão quase sem controle? O que pode impedir à presença de Cristo romper o núcleo duro da mentalidade do fariseu que convida Jesus para o jantar? A narração evangélica, na realidade, é toda regida por esta diferença: o eu da pecadora movido, comovido - diria até viceralmente - pela Presença; o eu do fariseu fechado dentro de uma mentalidade que não se deixa transpassar pela Presença.
A resposta é Jesus mesmo que nos dá, inventando uma breve parábola: "Um credor tinha dois devedores (...)". É o perdão como ato divino que coloca em movimento, que comove todo o eu, porque é o ato que regenera o eu desde a raiz. E a epifania, a transparência de um eu regenerado é o amor, a capacidade de amar recuperada: "seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama" (cf. Lc 7, 36-50).
Por que o ato divino do perdão muda o eu desde a raiz? Porque muda, em primeiro lugar, a identificação do próprio eu com o os próprio atos: "Bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora". O fariseu não compreende que exatamente pelo fato de Cristo ser "um profeta", olha aquela mulher não definindo-a com o que faz ou fez, mas como pessoa que tem, no fim, uma só necessidade: amar e ser amada. É este olhar de Jesus que regenera o eu porque o coloca na sua verdade.
Foi o olhar de Jesus que arrancou Pedro da sua traição: "Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro (...) e [Pedro] saiu dali e chorou amargamente" (Lc 22, 61-62). A pecadora "estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor".
Por que o ato divino muda o eu desde a raiz? Porque vendo-se amado, se torna capaz de corresponder ao amor, se torna capaz de amar. Santo Agostinho escreve: "Não existe convite mais eficaz a amar do que ser primeiros no amor; e muito duro é o coração que, não tendo querido gastar-se no amar, não queira nem mesmo corresponder ao amor" (Primeira catequese cristã 4, 7, 2). Na experiência de Zaqueu tudo isto é ainda mais evidente.
Como notastes, escutando a página do Evangelho, acontece na pecadora perdoada um fato verdadeiramente extraordinário. Podemos narrá-lo com as palavras de Paulo: "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gl 2, 20). Acontece um des-centramento do próprio eu para o Tu de Cristo. A própria vida, o próprio sentir e pensar, as próprias escolhas, tudo o que constrói a própria pessoa não é mais identificado com o eu mas em relação a Cristo. "Na experiência de um grande amor tudo se refere à experiência eu-tu, tudo o que acontece se torna um acontecimento dentro deste âmbito" (Romano Guardini). O cume da existência é o relacionamento com Cristo vivo na sua Igreja.
Caros irmãos e irmãs, a grande peregrinação que começará daqui a pouco é uma grande metáfora do evento que aconteceu à mulher de que fala o Evangelho, e que pode acontecer em cada um de nós mediante a celebração eucarística. É ainda São Paulo que nos ajuda a entender a ligação profunda entre a Palavra escutada, o Mistério celebrado, a peregrinação a Loreto.
Escrevendo aos cristãos de Filipo, ele, depois de ter narrado o seu encontro com Cristo como evento que muda radicalmente o seu eu, disse: "Não pretendo dizer que já alcancei esta meta e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. (...) prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo" (Fil 3, 12-14).
Caros amigos, o encontro com Cristo "coloca o eu em movimento" em direção de algo de outro, além de Cristo mesmo. "Buscamos com o desejo encontrar, e descobrimos com o desejo que ainda buscamos", disse Santo Agostinho.
Mas, chegará o momento, ainda esta noite, em que se sentirão cansados, sentirão dores nos pés. Assim, antes ou depois, acontece com o seguimento de Jesus. E, então, serão tentados a parar.
Não consigo: os pés estão doendo e, portanto, não consigo mais caminhar para Ele. E pensa que não consegue mais carregar a cruz de uma doença ou de um sofrimento grave; que não suporta mais os seus pais; que está perdendo os seus dias comprometendo-se com o trabalho ou com o estudo; que não consegue não ter relações sexuais com a sua namorada ou o seu namorado antes do casamento.
Escute o que escreve uma pessoa que, por anos, sentiu essas mesmas dificuldades, mesmo quando já tinha entendido que apenas seguindo Jesus teria encontrado a verdadeira alegria. Trata-se de Santo Agostinho, que disse: "Talvez tentes caminhar, e te doam os pés e te doam (...) porque percorreste duros caminhos. Mas o Verbo de Deus veio para curar os estropiados. Eis, dizes, tenho os pés sãos, mas não consigo ver o caminho. Pois bem, Ele também iluminou os cegos" (Comentário ao Evangelho de São João 34, 9 ).
Caros irmãos e irmãs, Cristo é tudo. É o caminho; é a meta; é a força que nos faz caminhar.

* Extraído d'O Observatório Romano, do dia 13 de junho de 2010 (p. 6). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.