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domingo, 21 de agosto de 2011

Configurar-se a Cristo...


Viagem Apostólica a Madri
Por ocasião da XXVI Jornada Mundial da Juventude
18 a 21 de agosto de 2011

Santa Missa com os Seminaristas

Homilia do Papa Bento XVI

Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena de Madri
Sábado, 20 de agosto de 2011

Senhor Cardeal Arcebispo de Madri,
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos sacerdotes e religiosos,
Queridos reitores e formadores,
Queridos seminaristas,
Meus amigos!
Sinto uma profunda alegria ao celebrar a Santa Missa para todos vós, que aspirais a ser sacerdotes de Cristo para o serviço da Igreja e dos homens, e agradeço as amáveis palavras de saudação com que me acolhestes. Hoje esta Catedral de Santa Maria a Real da Almudena lembra um imenso cenáculo onde o Senhor desejou ardentemente celebrar a Sua Páscoa com todos vós que um dia desejais presidir em seu nome os mistérios da salvação. Vendo-vos, comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde os vossos olhos nEle, que, pela sua encarnação, é o revelador supremo de Deus ao mundo e, pela sua ressurreição, é a fiel realização da sua promessa. Dai-Lhe graças por este sinal de predileção que reserva para cada um de vós.
A primeira leitura que escutamos mostra-nos Cristo como o novo e definitivo sacerdote, que fez uma oferta total da sua existência. A antífona do salmo aplica-se perfeitamente a Ele, quando, ao entrar no mundo, Se dirigiu a seu Pai dizendo: “Eis-me aqui para fazer a tua vontade” (cf. Sl 39, 8-9). Procurava agradar-Lhe em tudo: ao falar e ao agir, percorrendo os caminhos ou acolhendo os pecadores. A sua vida foi um serviço, e a sua dedicação abnegada uma intercessão perene, colocando-Se em nome de todos diante do Pai com Primogênito de muitos irmãos. O autor da Carta aos Hebreus afirma que, através desta entrega, nos tornou perfeitos para sempre, a nós que estávamos chamados a participar da sua filiação (cf. Hb 10, 14).
A Eucaristia, de cuja instituição nos fala o evangelho proclamado (cf. Lc 22, 14-20), é a expressão real dessa entrega incondicional de Jesus por todos, incluindo aqueles que O entregavam: entrega do seu corpo e sangue para a vida dos homens e para a remissão dos pecados. O sangue, sinal da vida, foi-nos dado por Deus como aliança, a fim de podermos inserir a força da sua vida onde reina a morte por causa do nosso pecado, e assim destruí-lo. O corpo rasgado e o sangue derramado de Cristo, isto é, a sua liberdade sacrificada, converteram-se, através dos sinais eucarísticos, na nova fonte da liberdade redimida dos homens. NEle temos a promessa de uma redenção definitiva e a esperança segura dos bens futuros. Por Cristo, sabemos que não estamos caminhando para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida, para Ele que é nossa meta e também nosso princípio.
Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para serdes companheiros de viagem e servidores dos homens.
Como haveis de viver estes anos de preparação? Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas atividades e estruturas pastorais da Igreja. Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade e com os nossos pecados. Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do gênero humano. A santidade da Igreja é, antes de tudo, a santidade objetiva da própria pessoa de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.
Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para assumi-los e superar com amor e realismo. Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da cruz do Senhor.
Configurar-se a Cristo implica, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Fp 3, 12-14).
Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11). Para imitar nisto também o Senhor, os vossos corações têm de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.
Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem ao bom caminho. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade. Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade, mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço, sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais. Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.
Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para serdes seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.
Com esta confiança, aprendei dAquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila. Animados pelo seu exemplo, olhai sobretudo para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo. Amém.

Anúncio da próxima declaração de São João de Ávila, 
presbítero, Padroeiro do Clero secular espanhol, como Doutor da Igreja Universal

Queridos amigos,
Com grande alegria, no marco da santa igreja Catedral de Santa Maria a Real da Almudena, quero anunciar agora ao povo de Deus que, acolhendo os pedidos do Senhor Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, o Eminentíssimo Cardeal António Maria Rouco Varela, Arcebispo de Madri, dos outros Irmãos no Episcopado da Espanha, bem como de um grande número de Arcebispos e Bispos de outras partes do mundo, e de muitos fiéis, declararei, proximamente, São João de Ávila, presbítero, Doutor da Igreja Universal.
Ao fazer pública aqui esta notícia, desejo que a palavra e o exemplo deste exímio pastor possa iluminar os sacerdotes e aqueles que se preparam, com alegria e esperança, para receber um dia a Sagrada Ordenação.
Convido todos a dirigirem o olhar para ele, e confio à sua intercessão os Bispos da Espanha e de todo o mundo, bem como os presbíteros e seminaristas para que, perseverando na mesma fé que ele ensinou, possam modelar seu coração conforme os sentimentos de Jesus Cristo, o Bom Pastor, a quem seja dada toda glória e honra por todos os séculos dos séculos. Amém.

* Extraído do site do Vaticano, do dia 19 de agosto de 2011. Revisado e adaptado por Paulo R. A. Pacheco.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mas o que é a verdade?

“Mas o que é a verdade, e em que sentido Cristo era a verdade? A primeira questão, como bem  se sabe, foi proferida por Pilatos, e a outra questão é se ele realmente se importava em ter sua questão respondida; em todo caso, em um sentido sua questão era completamente apropriada e, em outro sentido, era tão inapropriada quanto possível. Pilatos faz ao Cristo a pergunta: o que é a verdade? Mas Cristo era de fato a verdade; contudo a questão era inteiramente apropriada. Sim, e ainda em outro sentido, não. Que isto possa ocorrer a Pilatos naquele momento para que ele questione o Cristo desta forma demonstra precisamente que ele não tinha olhos para a verdade. A vida de Cristo foi, de fato, a verdade e, contudo, o Cristo mesmo diz (quando explica mais explicitamente as palavras: Meu reino não é deste mundo; se meu reino fosse deste mundo, meus servos teriam lutado por ele e então eu não teria sido entregue aos judeus): por isso Eu nasci, e por isso eu vim ao mundo, para que eu dê testemunho da verdade. A vida de Cristo sobre a terra, cada momento de sua vida, foi a verdade. Qual é, então, a confusão fundamental na pergunta de Pilatos? Ela consiste nisto, que possa ocorrer a ele questionar Cristo neste sentido; pois ao questionar Cristo deste modo ele informa atualmente, contra si próprio, ele faz a auto-revelação de que a vida de Cristo não explicou a ele o que a verdade é – mas como pode então o Cristo iluminar Pilatos com palavras sobre isto quando aquilo que é a verdade, a vida de Cristo, não abriu os olhos de Pilatos para o que a verdade é! É como se Pilatos tivesse uma mente questionadora, ensinável, mas seguramente sua questão é tão tola quanto possível; o problema não é que ele pergunte 'O que é a verdade?', mas que ele questione Cristo sobre isso; Ele cuja vida é expressamente a verdade e quem, no entanto, a cada momento de sua vida demonstrou o que é a verdade com mais força do que todas as prolixas lições dos pensadores mais aguçados. Há, entretanto, algum sentido em perguntar a qualquer outra pessoa, um pensador, um professor de ciências etc., 'O que é a verdade?'; de fato, não faz diferença quem; qualquer outra pessoa, um empregado, um carteiro etc., mas questionar o Cristo, que está corporeamente diante de alguém, perguntar ao Cristo sobre isto é a maior confusão possível. Se Cristo fosse responder a esta questão, ele iria por um momento imaginar, falsamente, que ele não era a verdade. Nenhum ser humano, com exceção de Cristo, é a verdade. Em relação a qualquer outra pessoa, a verdade é algo infinitamente superior a seu ser e, portanto, é natural perguntar: O que é a verdade? e responder a esta questão. Obviamente Pilatos é da opinião que Cristo é um homem como qualquer outro e, portanto, por sua questão ele falsamente faz dele o que qualquer um deseja, um tipo de pensador e, presumivelmente, na capacidade de um homem altamente distinto que basicamente olha o pensamento como não pertencente nem a aqui nem a  lá mas com condescendência e por curiosidade encontra algum prazer em tratar com este homem por um momento – neste sentido Pilatos pergunta a Cristo: O que é a verdade? E Cristo é a verdade! Pobre Pilatos! Seu piedoso comentário acerca do crucificado tem sido preservado, 'Veja que homem'. Mas com respeito a isto sua questão tem certamente razão em dizer de você: Veja que tolo, pois mesmo que você não possa ver desta forma, sua questão é incondicionalmente a mais tola e a mais confusa questão já feita no mundo. A questão é tão estúpida, tão exatamente estúpida, como se alguém perguntasse a um homem com quem ele estivesse conversando pessoalmente, 'Deixe-me lhe perguntar uma coisa, você existe?' – porque Cristo é a verdade. E o que deveria aquele homem responder, de fato? 'Se alguém com quem estou pessoalmente e conversando não está certo de que eu existo, então minhas garantias não podem ter nenhum valor, uma vez que, em suma, minhas garantias são certamente algo de muito inferior à minha existência'. Assim também com Cristo em relação a Pilatos. Cristo é a verdade. 'Se minha vida', poderia ele dizer, 'não pode abrir seus olhos para o que é a verdade, então dizer-lhe é, para mim, absolutamente impossível. A este respeito, eu sou diferente de todos os outros seres humanos. O que qualquer outra pessoa pode responder à questão O que é a verdade? é, de fato, nunca inteiramente verdade, mas eu sou o único homem que não pode responder a esta questão, posto que eu sou a verdade'. (…) E, portanto, entendido de forma cristã, a verdade é obviamente não conhecer a verdade, mas ser a verdade.” (S. A. Kierkegaard, Exercício de Cristianismo).


* Texto extraído do site inter-esse, do dia 5 de abril de 2011.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma lição para Marilena

Por Paulo R. A. Pacheco

Há pouco menos de 10 anos atrás, eu acordava num hotel em Curitiba... enquanto me trocava para ir a um colóquio de filosofia no qual inscrevera um trabalho meu, liguei a televisão e me deparei com imagens que me chocaram: o WTC em chamas. Alguns minutos para me inteirar dos fatos e chegavam aos meus ouvidos as primeiras "informações" de que parecia se tratar de um atentado... pouco antes de desligar a televisão, a confirmação. Era o dia 11 de setembro de 2001.
Corri para a PUC do Paraná, onde acontecia o "IV Colóquio Internacional de Estudos Filosóficos do Século XVII - Liberdade, Necessidade e Contingência"... Estava absolutamente aturdido com tudo o que vira e ouvira. Sentei-me enquanto via a mesa da manhã se compondo. Não me lembro dos nomes de todos os membros, mas me lembro claramente de que a Prof.a Marilena Chauí coordenava a mesa e dava abertura aos trabalhos daquela manhã. Para minha surpresa, seu comentário inicial foi de uma infelicidade sem tamanho - mais tarde, entendi que comentários infelizes não são lapsos quando se trata dessa senhora, mas são traços do seu mau gosto intelectual: "Os que sempre se vangloriaram de ser a nação poderosa da liberdade aprenderam, hoje, finalmente, qual é o seu lugar no mundo". Um intertexto decorado com um sorriso cínico e o balouçar aprovador de cabeças "pensantes" deu um ar de sabedoria às palavras da ínclita personagem. Senti-me mal por participar daquilo. Ouvi duas ou três palavras do conferencista daquela manhã - um professor francês que se esforçava por mostrar a inteligência de Descartes na vitória sobre a hegemonia de pensamento da Igreja -, levantei-me e voltei para o hotel. Liguei a televisão. E telefonei para minha orientadora. Enquanto assistia à cobertura dos acontecimentos, conversava com ela, contando tudo o que ouvira pela manhã, e lhe dizia de minha vontade de não mais apresentar meu trabalho - a Prof.a Chauí, a propósito, coordenaria a mesa de comunicações da qual eu participaria na parte da tarde. Evidentemente, minha orientadora não permitiu que eu fizesse isso.
Almocei e, antes de voltar para a PUC, resolvi ir à missa... No caminho para a catedral, pensava no como podemos ser maus. Na liturgia daquele dia, se lia a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos" (1Cor 15, 28)... Voltei para a PUC com aquelas palavras ressoando por dentro: "a fim de que Deus seja tudo em todos". E, aos poucos, o juízo anterior sobre a maldade, mudava em pergunta, em pedido: "como, Senhor, numa situação dessas, é possível haver Tua presença? Mostra-Te!".
De volta a Ribeirão Preto, no dia seguinte, soubera que, naquele 11 de setembro, a FFLCH/USP promovera, em São Paulo, a "Osama Bin Reagge"... Estranho? Não! Que algo do gênero tivesse sido proposto pela intelligentzia uspiana, tão bem formada por "cabeças" (?) como a de Marilena Chauí - alcunhada muito a propósito por Bruno Tolentino de Marxilena Xuxauí -, é esperado... e, o que mais assusta, é louvado naquele antro de lixo do pensamento.

Nesses dias, após o assassinato de Osama Bin Laden - o patrono do festim diabólico da Fefelech -, certamente deve estar pairando, nos ares da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o cheiro da dor e do luto, misturado àquela maresia descolada que faz olhar para a morte de um líder do naipe do Osama como o nascimento de um novo mártir, que, muito seguramente, ocupará um lugar de destaque ao lado de ícones como o de Che Guevara. Nesses dias, após o assassinato de Osama Bin Laden - o professor que "ensinou aos EUA o seu lugar" -, me pergunto o que deve estar passando na cabeça da nossa mais aclamada pensadora: a preclara Prof.a Marilena Chauí. O que será que aprendemos disso, professora? Qual a extensão do sorriso cínico que se desenhará, agora, no seu rosto? Será feita festa sobre o cadáver do Osama com a mesma desenvoltura com a qual se fez festa sobre o cadáver de 3000 inocentes?
Não, a sua morte não é motivo de louvor, nem  de alegria... a morte de um não sacia a sede de justiça pela morte de três mil. Assim como a morte de três mil continuaria a ser insuficiente para saciar esta mesma sede infinita. Não, professora! Acredito que sua morte sirva apenas para que desperte nos corações aquela sede de justiça que, há dez anos atrás, me levou a perguntar e pedir: "como, Senhor, numa situação dessas, é possível haver Tua presença? Mostra-Te!". 
No seu Jesus de Nazaré, Bento XVI nos lembra que "somente se Jesus ressuscitou é que aconteceu algo de verdadeiramente novo, que muda o mundo e a situação do homem. Então Ele, Jesus, torna-Se o critério em que nos podemos fiar; porque, então, Deus manifestou-Se verdadeiramente". Somente Tua Presença, Senhor, muda o mundo e a situação do homem. Muda-nos, Senhor!

sábado, 9 de abril de 2011

O Mistério presente, a vitória sobre o mal

Sobre a tragédia de Realengo

A tsunami do Japão deixou-nos todos sem palavras. Diante de algo tão misterioso, não é possível dizer coisa alguma. Por mais que pareça um absurdo, porém, ainda poderíamos sentir um certo alívio dizendo que a força da natureza na história sempre se faz ouvir e se impõe. 
Quando um jovem de 23 anos entra numa escola e dispara desesperadamente matando 12 crianças, isso, talvez, seja pior que a tsunami. Faz você gritar de raiva. Deixa você horrorizado. Não há nenhum significado, a não ser o mal.
Para quem tem fé é um Mistério. O que quer dizer realmente que estamos diante de um Mistério? É Mistério, como é Mistério o fato de que Deus tenha se tornado homem, tenha morrido e ressuscitado.
O fato da Ressurreição, para nós – cristãos católicos praticantes ou simplesmente simpatizantes, agnósticos e ateus – é algo tão clichê que se tornou um dado do passado ou um conto mitológico. É muito difícil que seja o critério para julgar e olhar tudo hoje, no mundo de hoje, que seja um fato capaz de mudar o modo de despertarmos de manhã, o nosso modo de trabalhar, o nosso modo de olhar aquilo que acontece, seja belo ou trágico. Tudo isso é muito difícil para nós, modernos. Por outro lado nós, que somos modernos, temos uma vantagem: somos, agora, os que mais têm necessidade dEle diante de tudo aquilo que nos deixa atônitos e sem palavras neste mundo sem Deus. Nós somos aqueles que têm mais necessidade de Deus, de um Deus que morreu e ressuscitou e necessita de mim. Não de um Deus distante, que não teria necessidade de sofrer e morrer pelo homem, mas de um Deus amigo que tem compaixão pelo meu nada, me faz existir e se faz companhia para mim.
Diante do ocorrido na escola de Realengo, queremos nos identificar com duas testemunhas que nos dizem que é possível viver com um significado, com a certeza da presença de Deus feito homem, agora, não no além, sem censurar ou esquecer nada. Estas palavras são a experiência de dois homens para quem queremos olhar, e queremos implorar que possamos aprender a olhar as coisas como eles, pedindo que a certeza de uma Presença amiga que existe agora se torne nossa também.
“Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé” (1Cor 15,14-15). [...] A fé cristã fica de pé ou cai com a verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dos mortos. Se se suprimir isto, certamente que ainda se poderá recolher da tradição cristã uma série de ideias dignas de nota sobre Deus e o homem, sobre o ser do homem e o seu dever-ser (uma espécie de concepção religiosa do mundo), mas a fé cristã estará morta. Nesse caso, Jesus [...] deixará de ser o critério de medida; o critério será apenas a nossa avaliação pessoal, que escolherá do seu acervo aquilo que pareça útil. E isto significa que nós ficaremos abandonados a nós próprios. A nossa avaliação pessoal será a última instância. Somente se Jesus ressuscitou é que aconteceu algo de verdadeiramente novo, que muda o mundo e a situação do homem. Então Ele, Jesus, torna-Se o critério em que nos podemos fiar; porque, então, Deus manifestou-Se verdadeiramente.
Bento XVI
O acontecimento não identifica somente uma coisa que aconteceu e com a qual tudo teve início, mas é aquilo que desperta o presente, define o presente, dá conteúdo ao presente, torna possível o presente.
O que se sabe ou o que se tem converte-se em experiência, se aquilo que se sabe ou se tem é algo que nos é dado agora: há uma mão que no-lo oferece agora, há um rosto que vem avançando agora, há sangue que se derrama agora, há uma ressurreição que tem lugar agora. Fora deste “agora” não existe nada!
O nosso eu não pode ser movido, comovido, ou seja, transformado, a não ser por uma contemporaneidade: um acontecimento. Cristo é algo que me acontece agora.
Então, para que aquilo que sabemos – Cristo, todo o discurso sobre Cristo – seja experiência, é necessário que seja um presente que nos provoca e percute: é um presente, como para André e para João foi um presente. O cristianismo, Cristo, é exatamente aquilo que foi para André e João quando iam atrás dEle; imaginem quando Se voltou, e como ficaram impressionados! E quando foram a Sua casa... É sempre assim até agora, até este momento!
Luigi Giussani
Por isso rezamos pelas vítimas e pelas famílias que perderam seus amados filhos, unindo-nos em oração ao nosso Arcebispo Dom Orani e a toda a Igreja do Rio de Janeiro.

Comunhão e Libertação - Rio de Janeiro

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Comentário ao evangelho do dia

6ª-feira da 4ª Semana Quaresma

1ª Leitura - Sb 2,1a.12-22
Dizem entre si, os ímpios, em seus falsos raciocínios: "Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda, ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei e nos reprova as faltas contra a nossa disciplina. Ele declara possuir o conhecimento de Deus e chama-se 'filho de Deus'. Tornou-se uma censura aos nossos pensamentos e só o vê-lo nos é insuportável; sua vida é muito diferente da dos outros, e seus caminhos são imutáveis. Somos comparados por ele à moeda falsa e foge de nossos caminhos como de impurezas; proclama feliz a sorte final dos justos e gloria-se de ter a Deus por pai. Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com ele. Se, de fato, o justo é 'filho de Deus', Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos. Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro". Tais são os pensamentos dos ímpios, mas enganam-se; pois a malícia os torna cegos, não conhecem os segredos de Deus, não esperam recompensa para a santidade e não dão valor ao prêmio reservado às vidas puras.

Evangelho - Jo 7,1-2.10.25-30
Naquele tempo, Jesus andava percorrendo a Galileia. Evitava andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. Entretanto, aproximava-se a festa judaica das Tendas. Quando seus irmãos já tinham subido, então também ele subiu para a festa, não publicamente mas sim, como que às escondidas. Alguns habitantes de Jerusalém disseram então: "Não é este a quem procuram matar? Eis que fala em público e nada lhe dizem. Será que, na verdade, as autoridades reconheceram que ele é o Messias? Mas este, nós sabemos donde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá donde ele é". Em alta voz, Jesus ensinava no Templo, dizendo: "Vós me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas o que me enviou é fidedigno. A esse, não o conheceis, mas eu o conheço, porque venho da parte dele, e ele foi quem me enviou". Então, queriam prendê-lo, mas ninguém pôs a mão nele, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Comentário feito por Jean Tauler (c. 1300-1361)
dominicano em Estrasburgo

Jesus disse-lhes: "Para Mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. O mundo não pode odiar-vos; a Mim, porém, odeia-Me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que Me está marcado ainda não se completou" (Jo 7,6-8). O que é então esta festa à qual Nosso Senhor nos diz para irmos e cujo tempo é a qualquer momento? A festa mais elevada e a mais verdadeira, a festa suprema, é a festa da vida eterna, ou seja, a felicidade eterna, onde estaremos verdadeiramente face a face com Deus. Não o podemos ter aqui em baixo, mas a festa que podemos ter é antegozo daquela, uma experiência da presença de Deus no espírito pela alegria interior, que nos dá um sentimento muito íntimo da mesma festa. O tempo que é sempre nosso é o de procurar a Deus e de procurar o sentimento da Sua presença em todas as nossas obras, na nossa vida, no nosso querer e no nosso amor. Assim, devemos ascender acima de nós mesmos e de tudo o que não é Deus, não querendo e não amando senão a Ele, em total pureza, e nada de outra maneira. Este tempo é de todos os instantes. Toda a gente deseja este autêntico tempo de festa da vida eterna; é um desejo natural, porque todos os homens querem naturalmente ser felizes. Mas não basta desejar. É por Ele mesmo que devemos seguir a Deus e procurá-Lo. Muitos gostariam muito de ter o antegozo do verdadeiro e grande dia de festa, e lamentam-se que não lhes seja dado. Quando, na oração, não fazem a experiência de um dia de festa no fundo de si próprios, e não sentem a presença de Deus, entristecem-se. Rezam menos, fazem-no de mau humor, dizendo que não sentem Deus e que é por isso que a acção e a oração os aborrecem. Aí está o que o homem não deve fazer nunca. Nunca devemos fazer nenhuma obra desanimados, porque Deus está sempre presente e, ainda que não O sintamos, todavia Ele veio secretamente à festa.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quaresma IX


"(...) pois nossa fé viva diz-nos que estamos na presença de Deus, que vivemos em Cristo, que no Espírito de Deus 'vemos' a Deus nosso Pai sem 'ver'. Nós o conhecemos em 'não saber'. A fé é o laço que nos une a Ele, o Espírito que nos dá luz e amor." (T. Merton)

Senhor, vós me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos.
Sl 138(139), 1-2

* Extraído da Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Comentário ao evangelho do dia

1ª Leitura - Is 58,7-10
Assim diz o Senhor: "Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: 'Eis-me aqui'. Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia".

2ª Leitura - 1Cor 2,1-5
Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. Aliás, eu estive junto de vós, com fraqueza e receio, e muito tremor. Também a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens.

Evangelho - Mt 5,13-16
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada, e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus. 

Comentário feito por Beata Teresa de Calcutá (1910-1997)
fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade 

Os cristãos são para os outros (para os homens do mundo inteiro) como a luz. Se somos cristãos, devemos ser parecidos com Cristo. Se quereis aprender a ser assim, a arte da atenção far-vos-á  ser cada vez mais como Cristo, que tinha o coração humilde e estava sempre atento às necessidades dos homens. Nesta atenção para com os outros dá-se início a uma grande santidade, e, para ser bela, a nossa vocação deve estar cheia dessa atenção. Por onde Jesus passou, só fez o bem. E em Caná a Virgem Maria só pensou nas necessidades dos outros e no modo de o dizer a Jesus. O cristão é um tabernáculo do Deus vivo. Ele me criou, escolheu-me e veio morar em mim porque de mim teve necessidade. E, agora que já aprenderam quanto Deus vos ama, o que haverá de mais natural do que passar o resto da vossa vida a resplandecer com esse amor? Ser verdadeiramente cristão é acolher Cristo de verdade e assim vir a ser outro Cristo; é amar como somos amados, como Cristo nos amou na Cruz.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cartas do P.e Aldo 179




Asunción, 4 de fevereiro de 2011.

Caros amigos,
A Presença do Mistério, presente em cada instante na Clínica, no Cristo Eucarístico e no Cristo que sofre, torna este lugar uma experiência cotidiana do milagre.
Vejam o meu filho adotivo Aldo, como brinca com o meu Mariozinho. Os leitos estavam separados e – não sei como o fizeram –, de repente, entro no quarto com o Santíssimo Sacramento e os encontro juntos e eles brincando.
Aquele “Tu que me fazes”, verdadeiramente, quando se torna a consciência do eu, permite que mesmo duas crianças aparentemente incapazes de se comunicarem vivam com a verdadeira letícia a sua condição humana.
Olhando-os brincar, enquanto segurava o Santíssimo Sacramento na mão, fiquei comovido, porque via em seus olhos e na bagunça que faziam a evidente Presença daquele “Tu” que domina a minha vida e tudo aquilo que me circunda. Enquanto o mundo diria que são deficientes e – talvez – muitos pais se envergonhariam de ter filhos assim belos. Belos porque são Jesus e, por isso, me coloco em adoração diante deles.
Que Deus dê a cada um um coração capaz de ver nos próprios filhos a Jesus, particularmente àquelas mães grávidas que esperam com ânsia o resultado de uma ultrasonografia, temerosas de que a criança tenha algum defeito, se esquecendo de que, seja qual for a sua condição, é Jesus.
P.e Aldo

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

São João Bosco

Evangelho - Mc 5,1-20
Naquele tempo, Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi ao seu encontro. Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: "Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!". Com efeito, Jesus lhe dizia: "Espírito impuro, sai desse homem!". Então Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?". O homem respondeu: "Meu nome é 'Legião', porque somos muitos". E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. O espírito impuro suplicou, então: "Manda-nos para os porcos, para que entremos neles". Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada - mais ou menos uns dois mil porcos - atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: "Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti". Então o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.

Comentário feito por Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997)
fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade 

"O homem que fora possesso suplicou-Lhe que o deixasse andar com Ele. [...] Disse-lhe antes: 'Vai para tua casa, para junto dos teus, e conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti'". Somos chamados a amar o mundo. E Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu Jesus (Jo 3, 16). Hoje, Ele ama de tal forma o mundo que nos dá ao mundo, a ti e a mim, para que sejamos o Seu amor, a Sua compaixão e a Sua presença através de uma vida de oração, de sacrifícios e de entrega. A resposta que Deus espera de ti é que te tornes contemplativo, que sejas contemplativo. Tomemos a palavra de Jesus a sério e sejamos contemplativos no coração do mundo porque, se temos fé, estamos perpetuamente na Sua presença. Pela contemplação a alma bebe diretamente do coração de Deus as graças que a vida ativa está encarregada de distribuir. As nossas vidas devem estar unidas a Cristo vivo que está em nós. Se não vivermos na presença de Deus, não podemos perseverar. O que é a contemplação? É viver a vida de Jesus. É assim que a compreendo. Amar Jesus, viver a Sua vida no âmago da nossa e viver a nossa no seio da Sua. [...] A contemplação não ocorre por nos fecharmos num quarto escuro, mas por permitirmos a Jesus que viva a Sua Paixão, o Seu amor, a Sua humildade em nós, que reze conosco, que esteja conosco e que santifique através de nós. A nossa vida e a nossa contemplação são unas. Não é uma questão de fazer, mas de ser. De fato, trata-se da plena fruição do nosso espírito pelo Espírito Santo, que derrama em nós a plenitude de Deus e nos envia a toda a Criação como mensagem Sua, pessoal, de amor (Mc 16, 15).