terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma lição para Marilena

Por Paulo R. A. Pacheco

Há pouco menos de 10 anos atrás, eu acordava num hotel em Curitiba... enquanto me trocava para ir a um colóquio de filosofia no qual inscrevera um trabalho meu, liguei a televisão e me deparei com imagens que me chocaram: o WTC em chamas. Alguns minutos para me inteirar dos fatos e chegavam aos meus ouvidos as primeiras "informações" de que parecia se tratar de um atentado... pouco antes de desligar a televisão, a confirmação. Era o dia 11 de setembro de 2001.
Corri para a PUC do Paraná, onde acontecia o "IV Colóquio Internacional de Estudos Filosóficos do Século XVII - Liberdade, Necessidade e Contingência"... Estava absolutamente aturdido com tudo o que vira e ouvira. Sentei-me enquanto via a mesa da manhã se compondo. Não me lembro dos nomes de todos os membros, mas me lembro claramente de que a Prof.a Marilena Chauí coordenava a mesa e dava abertura aos trabalhos daquela manhã. Para minha surpresa, seu comentário inicial foi de uma infelicidade sem tamanho - mais tarde, entendi que comentários infelizes não são lapsos quando se trata dessa senhora, mas são traços do seu mau gosto intelectual: "Os que sempre se vangloriaram de ser a nação poderosa da liberdade aprenderam, hoje, finalmente, qual é o seu lugar no mundo". Um intertexto decorado com um sorriso cínico e o balouçar aprovador de cabeças "pensantes" deu um ar de sabedoria às palavras da ínclita personagem. Senti-me mal por participar daquilo. Ouvi duas ou três palavras do conferencista daquela manhã - um professor francês que se esforçava por mostrar a inteligência de Descartes na vitória sobre a hegemonia de pensamento da Igreja -, levantei-me e voltei para o hotel. Liguei a televisão. E telefonei para minha orientadora. Enquanto assistia à cobertura dos acontecimentos, conversava com ela, contando tudo o que ouvira pela manhã, e lhe dizia de minha vontade de não mais apresentar meu trabalho - a Prof.a Chauí, a propósito, coordenaria a mesa de comunicações da qual eu participaria na parte da tarde. Evidentemente, minha orientadora não permitiu que eu fizesse isso.
Almocei e, antes de voltar para a PUC, resolvi ir à missa... No caminho para a catedral, pensava no como podemos ser maus. Na liturgia daquele dia, se lia a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos" (1Cor 15, 28)... Voltei para a PUC com aquelas palavras ressoando por dentro: "a fim de que Deus seja tudo em todos". E, aos poucos, o juízo anterior sobre a maldade, mudava em pergunta, em pedido: "como, Senhor, numa situação dessas, é possível haver Tua presença? Mostra-Te!".
De volta a Ribeirão Preto, no dia seguinte, soubera que, naquele 11 de setembro, a FFLCH/USP promovera, em São Paulo, a "Osama Bin Reagge"... Estranho? Não! Que algo do gênero tivesse sido proposto pela intelligentzia uspiana, tão bem formada por "cabeças" (?) como a de Marilena Chauí - alcunhada muito a propósito por Bruno Tolentino de Marxilena Xuxauí -, é esperado... e, o que mais assusta, é louvado naquele antro de lixo do pensamento.

Nesses dias, após o assassinato de Osama Bin Laden - o patrono do festim diabólico da Fefelech -, certamente deve estar pairando, nos ares da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o cheiro da dor e do luto, misturado àquela maresia descolada que faz olhar para a morte de um líder do naipe do Osama como o nascimento de um novo mártir, que, muito seguramente, ocupará um lugar de destaque ao lado de ícones como o de Che Guevara. Nesses dias, após o assassinato de Osama Bin Laden - o professor que "ensinou aos EUA o seu lugar" -, me pergunto o que deve estar passando na cabeça da nossa mais aclamada pensadora: a preclara Prof.a Marilena Chauí. O que será que aprendemos disso, professora? Qual a extensão do sorriso cínico que se desenhará, agora, no seu rosto? Será feita festa sobre o cadáver do Osama com a mesma desenvoltura com a qual se fez festa sobre o cadáver de 3000 inocentes?
Não, a sua morte não é motivo de louvor, nem  de alegria... a morte de um não sacia a sede de justiça pela morte de três mil. Assim como a morte de três mil continuaria a ser insuficiente para saciar esta mesma sede infinita. Não, professora! Acredito que sua morte sirva apenas para que desperte nos corações aquela sede de justiça que, há dez anos atrás, me levou a perguntar e pedir: "como, Senhor, numa situação dessas, é possível haver Tua presença? Mostra-Te!". 
No seu Jesus de Nazaré, Bento XVI nos lembra que "somente se Jesus ressuscitou é que aconteceu algo de verdadeiramente novo, que muda o mundo e a situação do homem. Então Ele, Jesus, torna-Se o critério em que nos podemos fiar; porque, então, Deus manifestou-Se verdadeiramente". Somente Tua Presença, Senhor, muda o mundo e a situação do homem. Muda-nos, Senhor!

Um comentário:

d.b Amaral disse...

Olá querido professor!

Já faz um tempo que não nos falamos, mas é por que as coisas andam bastante mudadas, algumas surpresas boas, outras ruins, ainda outras inesperadas. Mas sempre mudando, já dizia Nietzsche.
Gostei bastante professor do que o sr. publicou, no meio de um monte de comentarios inúteis, e sem muito sentido, o caminho óbvio das coisas parece fugir da conciência da grande maioria das pessoas. Me lembro de quando o sr. comentou comigo na faculdade sobre essa infeliz declaração da prof° M. Chaui.
Além desse tipo de opinião estranha, eu também tenho enfrentado muitas vezes a total indiferença e falta de sensibilidade das pessoas com relação à isso. Na escola que estou dando "aulas", vi espantado a cara de dúvida de muitos alunos ao ouvirem o nome Osama Bin Laden, cara de duvida pelo fato de nunca terem ouvido falar dele, cara de duvida, por que simplesmente não conseguem mais entender nada que vá além das coisas pobres que os cercam. Tenho tido uma profunda decepção com a situação da maioria dos jovens e crianças que conheço na rede pública de ensino, está uma situação verdadeiramente preocupante.
Sinto falta de nossas conversas prof° Paulo, poderiamos marcar um dia para uma boa e descontraida conversa.

Fortes e calorosos abraços de seu aprendiz de sempre!

Danilo.