Por P.e Aldo Trento
Todas as crianças das Casinhas de Belém gostam muito de comer maçãs verdes, particularmente as cascas que Padre Aldo deixa no prato, depois de as ter descascado com a faca.
Por que estas crianças gostam deste dipo de maçãs, que muitos adultos não suportam porque são ácidas? Por que as crianças das Casinhas de Belém não comem maças vermelhas, que são mais doces, mais correspondentes ao gosto das crianças?
A resposta é simples. Qualquer criança cresce na medida em que pertence, é abraçada por seus pais. É somente dentro de uma experiência de pertença que, não apenas as crianças, mas todos nós, crescemos, amadurecemos.
As crianças aprendem, a partir de uma pertença, o gosto pelo comer, o modo de falar, de se vestir, de caminar, de tomar banho, de cumprimentar, de cuidar dos detalhes, de amar a realidade em todos os seus aspectos.
Quando alguém vem à paróquia encontra as gaiolas com os pássaros, as flores, as plantas e se pregunta: mas, por que o Padre Aldo colocou todo este verde aqui e mantém estes animais? “Porque os meus pais gostavam de pássaros, de plantas, de flores, do verde, mesmo sendo humildes camponeses.”
É o que acontece nas Casinhas de Belém. Os meus filhos das Casinhas, que reconhecem em Cristina e em mim os seus pais, evidentemente nos imitam, até no comer maças verdes, porque eu gosto muito delas e as como porque tenho diabete.
A criança age por imitação, mas a imitação surge como desejo na medida em que a pessoa se sente amada.
A educação é a introdução da criança ao conhecimento da realidade na sua totalidade. Por este motivo, por exemplo, estando agora de férias, nós as levamos, por dois dias, para um passeio, visitando as Reduções jesuíticas e a fazenda Padre Pio. Quando estão em casa, têm muito tempo livre e, portanto, é necessário que cada instante seja vivido dentro de uma proposta clara, de outra maneira as crianças acabam fazendo uma grande bagunça.
Assim, nasceram diferentes atividades de recreação, de trabalho e de estudo, de modo que as crianças não ficam vítimas do ócio. Os armários das crianças estão sempre em orden, porque a mamãe Cristina o exige e eles entendem, conhecendo o seu amor por eles. Quando acabam de comer, cada um leva seus pratos e talheres para a pia, porque aprenderam assim conosco. Enfim, a educação é uma proposta humana, que entra em todos os detalhes que suscitam nas crianças o desejo de imitar aqueles que reconhecem como pais.
O que vale para as crianças, portanto, vale também para os adultos e para os idosos. Quando recolhemos os idosos abandonados na Casinha São Joaquim, eles não sabiam o que era o banheiro, não sabiam nada da realidade.
Tinha aqueles que “cagavam” enquanto caminhavam pela belíssima casa. Tinha aqueles que urinavam do lado da cama, quem cuspia nas paredes ou no chão, quem não comia, quem comia com as mãos sem usar os talheres, quem não sabia o que era um prato e, pior ainda, quem não sabia para que servia o papel higiênico. Dois meses se passaram e, agora, são – como se diz em guarani – Karai, ou seja, verdadeiros homens. A presença de Carlos e de seus colaboradores fez um milagre.
Lembro-me do quanto foi difícil para eles aprenderem a usar o banheiro. No início, parecia que não era possível. Depois, aprenderam a usar o vaso sanitário, depois aprenderam a dar descarga. Também aprender a lavar as mãos foi um belo trabalho. Uma vez feitas as necessidades e aprendido o uso do papel higiênico (outro trabalho difícil!), devagar, os ajudamos a entender a importância de lavar as mãos.
O primeiro grande sucesso foi aprender a abrir a torneira, o segundo passo foi aprender a usar o sabão. O problema era que, depois de lavarem as mãos, ao invés de secá-las na toalha, as secavam nas calças. Com paciência, acabaram aprendendo que não deviam fazer mais isso, mesmo aqueles que ao invés de usarem a toalha ou as calças, sacodiam as mãos. Finalmente, depois de muitas semanas, conseguiram entender por que usar as toalhas e, agora, este tipo de problema não existe mais.
São, de fato, autênticos Karai: comem à mesa, usam o guardanapo, os talheres, ficam assentados adequadamente, lavam as mãos, usam o banheiro, tomam banho, vestem o pijama...
Na verdade, o único problema é educar e encontrar educadores.
A beleza da experiência que vivemos na nossa comunidade é o fruto milagroso da educação.
* Artigo publicado no último número do boletim paroquial da Paróquia São Rafael. Enviado pelo secretário do P.e Aldo, no dia 13 de julho de 2009. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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