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sábado, 17 de dezembro de 2011

Comentário ao Evangelho do dia - Advento


Últimos dias antes do Natal - Dia 17 de dezembro

1ª Leitura - Gn 49, 2.8-10
Naqueles dias, Jacó chamou seus filhos e disse: "Juntai-vos e ouvi, filhos de Jacó, ouvi Israel, vosso pai! Judá, teus irmãos te louvarão; pesará tua mão sobre a nuca de teus inimigos, se prostrarão diante de ti os filhos de teu pai. Judá, filhote de leão: subiste, meu filho, da pilhagem; ele se agacha e se deita como um leão, e como uma leoa; quem o despertará? O cetro não será tirado de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha Aquele a quem pertencem, e a quem obedecerão os povos".

Salmo - Sl 71 (72)
R. Nos seus dias a justiça florirá 
e paz em abundância, para sempre.
Dai ao Rei Vossos poderes, Senhor Deus, *
Vossa justiça ao descendente da realeza!
Com justiça ele governe o Vosso povo, *
com equidade Ele julgue os Vossos pobres. R. 

Das montanhas venha a paz a todo o povo, *
e desça das colinas a justiça!
Este Rei defenderá os que são pobres, *
os filhos dos humildes salvará. R. 

Nos seus dias a justiça florirá *
e grande paz, até que a lua perca o brilho!
De mar a mar estenderá o Seu domínio, *
e desde o rio até os confins de toda a terra! R. 

Seja bendito o Seu nome para sempre! *
E que dure como o sol Sua memória!
Todos os povos serão nEle abençoados, *
todas as gentes cantarão o Seu louvor! R.

Evangelho - Mt 1, 1-17
Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos. Judá gerou Farés e Zara, cuja mãe era Tamar. Farés gerou Esrom; Esrom gerou Aram; Aram gerou Aminadab; Aminadab gerou Naasson; Naasson Gerou Salmon; Salmon gerou Booz, cuja mãe era Raab. Booz gerou Obed, cuja mãe era Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi. Davi gerou Salomão, daquela que tinha sido a mulher de Urias. Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão; Jorão gerou Ozias; Ozias gerou Joatão; Joatão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; Zorobabel gerou Abiud; Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azor; Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; Eliud gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó. Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. Assim, as gerações desde Abraão até Davi são quatorze; de Davi até o exílio na Babilônia, quatorze; e do exílio na Babilônia até Cristo, quatorze.

Comentário feito por São Leão Magno (? -c. 461)
papa e doutor da Igreja

A Encarnação do Verbo, a Palavra de Deus, diz respeito ao passado e ao futuro; nenhum tempo, por mais recuado que seja, foi privado do sacramento da salvação dos homens. O que os apóstolos pregaram é o que os profetas tinham anunciado, e não se pode dizer que o que se acreditou desde sempre se tivesse cumprido tardiamente. Adiando a obra da salvação, Deus tornou-nos, na Sua sabedoria e na Sua bondade, mais aptos para responder ao Seu apelo [...], graças a estes anúncios antigos e frequentes. Não é pois verdade que Deus tenha providenciado às questões humanas mudando de intenção e movido por uma misericórdia tardia: desde a criação do mundo, Ele decretou para todos um único e mesmo caminho de salvação. Com efeito, a graça de Deus, pela qual todos os Seus santos sempre foram justificados, não se iniciou com o nascimento de Cristo, antes cresceu com ele. Este mistério de um grande amor, que agora preencheu o mundo inteiro, já era igualmente poderoso em seus avisos; os que acreditaram quando lhes foi prometido não tiveram menos benefícios do que os que o receberam quando lhes foi dado.  Meus caros, foi pois com uma bondade evidente que as riquezas da graça de Deus foram derramadas sobre nós. Chamados à eternidade, não somos apenas sustentados pelo exemplo do passado, mas vimos aparecer a própria verdade sob uma forma visível e corporal. Devemos pois celebrar o dia do nascimento do Senhor com uma alegria fervorosa que não é deste mundo. [...] Graças à luz do Espírito Santo, saibamos reconhecer Aquele que nos recebeu nEle e que nós recebemos em nós: porque, tal como o Senhor Jesus tomou a nossa carne nascendo, também nós tomamos o Seu corpo renascendo. [...] Deus nos propôs o exemplo da Sua generosidade e humildade [...]: sejamos semelhantes ao Senhor na Sua humildade, se queremos ser como Ele na Sua glória. Ele próprio nos ajudará e nos conduzirá à realização do que prometeu.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cartas do P.e Aldo 209


Asunción, 28 de novembro de 2011.

Feliz Natal!
Caros amigos,
Nunca, como nestes tempos, fico mais consciente do meu nada, da verdade daquilo que Santa Catarina de Sena afirmava quando respondia a uma pergunta, dirigindo-se ao Senhor: “Quem sou eu, Senhor? Nada, e quem és Tu, Senhor? Tudo”. Quanto mais a pessoa vive intensamente a realidade, tanto mais entra nesta maravilhosa e dramática desproporção entre o próprio ser finito e Ele, o Infinito. De forma que, quando as pessoas dizem, por exemplo, “as obras de Padre Aldo”, não fazem outra coisa que aumentarem em mim esta desproporção entre o meu nada e Ele que é o tudo. E como eu gostaria que, pelo menos, os amigos vibrassem comigo por causa desta desproporção, porque este seria o sinal mais evidente de que pertencemos uns aos outros. A corresponsabilidade tem nisso a sua origem. Uma pessoa pertence a mim se, comigo, vive o “eu, Senhor, sou um nada” e o “Tu, Senhor, és tudo”. E isto é uma graça, é um caminho onde mendigar é ato contínuo, de forma que, se este pedido faltar, a pessoa pode até viver junto com outra por anos, a pessoa pode ser pai e filho, pode ser superior ou súdito, e no entanto continuar estranha uma para a outra, mesmo vivendo cotovelo com cotovelo. 
O que me sustenta nestas obras que nunca procurei porque, como sempre repito, não vim para o Paraguai por causa disso, é apenas esta desproporção na qual é evidente a Presença do Mistério que me pede tudo. Mas, se isto não fosse evidente, eu iria embora hoje mesmo, porque um homem não pode, com suas forças, sustentar nem mesmo uma palha. Há um fogo ardente, como diria o profeta, nos meus ossos e não posso impedir que arda. O simples pensamento de que Deus se fez carne para mim, me faz exultar de alegria e, por isto, não posso deixar de fazer-me tudo para todos, acolhendo, sobre estes pobres ombros, sustentados por Nossa Senhora, todos os que batem à nossa porta cheios de dor. E é este o motivo que me leva a bater às portas de todos, porque a Providência que governa o mundo, com o desígnio de amor, se serve da realidade, realidade que é todo o nosso ser, toda a nossa humanidade. Por isso, aproximando-se o Natal, gostaria de agradecer a todos que, pertencendo a esta amizade, a esta iniciativa divina, nos acompanham economicamente, seguindo os milhares de exemplos de que é feita a história da caridade na Igreja. A Providência agora se serve das nossas pobres mãos para realizar as Suas maravilhas. Serve-se de nós para nos mostrar o que um povo pode fazer quando reconhece o Senhor. O próprio Banco Mundial, através de dois de seus diretores, com quem me encontrei, em Washington, quando fui convidado a falar sobre a crise econômica (eu que estudei só até a quinta série numa escola pública... é para rir!), ficou tocado com o fato de que 76% dos nossos recursos para as despesas cotidianas são locais e apenas 24% vêm do exterior. E queriam entender por que e como. E foi bonito porque tive a oportunidade de dizer, com a minha experiência, o que significa que a realidade é providencial e que não há homem que, quando se deixa educar, não se torne protagonista do próprio destino. Mas, para que isto aconteça, é preciso vibrar com aquela paixão de Santa Catarina. Por isso, me permito, em nome dos rostos de Jesus que sofrem, pedir a quem é meu amigo, por ocasião do Natal, uma pequena gota da liberdade para fazer parte dos 24% que ajudam esta obra.
Agradeço com todo o meu coração os amigos da ONLUS (sigla para Organizzazione Non Lucrativa di Utilità Sociale, ou organização sem fins lucrativos de utilidade social; ndt) “Da zero a uno” pelo entusiasmo com o qual nos acompanham. Permito-me divulgar o código IBAN da ONLUS e a de nossa conta no Unicredit.
Padre Aldo

DA ZERO A UNO ONLUS
Banca Popolare di Milano
CODICE IBAN: IT 60 X 05584 01613 000000031365
_____________
                 
TRENTO ANTONIO
Unicredit Banca
FILIARI DI FONZASO, BELLUNO
CODICE IBAN: IT14 Z 02008 61120 000004701742

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cartas do P.e Aldo 200

Asunción, 6 de julho de 2011.

Caros amigos,
É impressionante como a Presença do Mistério se impõe na minha vida, na medida em que olho e vivo a realidade como sinal! Não existe coisa, circunstância, fato que não seja a evidência da desproporção entre o meu nada e o Mistério que a realidade me revela continuamente. Viver suspensos na certeza de sermos queridos agora, agora que posso estar mal ou estar bem, estar emocionalmente no alto ou embaixo, ser simpático ou não. Ser querido por um Outro, assim como sou, e olhar com ironia para os meus limites. Dar-me conta e me surpreender, a cada dia, com o imprevisto que desfaz os meus projetos, as minhas programações, fazendo-me ver como é a realidade de fato e descobrir como a Providência Divina me faz vibrar pelo cêntuplo evidente em cada instante da vida. Um cêntuplo que não apenas é um a mais de vida, de humanidade, mas também é um a mais econômico e também de ação.
Hoje, por exemplo, chegaram-me dois emails: um de Barcelona, e outro de Reggio Emilia.
O primeiro me comunicava a feliz notícia de que Jordi (o arquiteto-chefe da “Sagrada Família” de Barcelona) e  Sotoo – que alguns dias faz, num fim de semana, havia se retirado para rezar, meditar, estudar o projeto, na belíssima Basílica de Nossa Senhora de Montserrat – terminaram tanto os cálculos estruturais, como odesejo do conjunto de imagens esculpidas em pedra e que estarão na fachada da nova clínica. Trata-se de comentar, na pedra, a frase de São Paulo aos Romanos: “A natureza mesma geme as dores de parto, esperando a ressurreição do Filho de Deus”. Assim, a nova clínica terá como base a Capela toda incrustada em madeira revestida com o “pão de ouro” do Santíssimo Sacramento e, no ponto mais alto, a imagem de Cristo saindo da terra, como num parto, traz consigo (“arrastra”: em espanhol é mais profundo) toda a realidade na plenitude da vida, no paraíso que será a realidade na sua perfeição máxima. Por isso, em breve o braço direito de Sotoo, Manolo, virá para dar início à obra.
Hoje, Francisco morreu de AIDS, um jovem abandonado por todos, mas que morreu entre os nossos braços. Tudo isto só é possível porque, quando o eu é agarrado pelo Mistério, gera uma cadeia de relações, como me escreve de modo comovente esta minha amiga de Reggio Emilia:
Caro Padre Aldo,
Quando as suas cartas nos chegam, fico me perguntando como é que chegam exatamente quando precisamos! Obrigada.
Assim, queríamos que você soubesse que, entre as tantas, aquela do “testamento da viúva” (de 27 de março de 2011) nos comoveu tanto que nos sentimos cobrados e organizamos uma venda extraordinária de “cappelletti” (você sabe, somos de Reggio Emilia, e aqui, eles são bem quistos!) feitos em casa. Apresentamos a proposta aos nossos amigos e algumas mulheres nos encontramos (de todas as idades!) para fazê-los. Aquilo que foi arrecado foi enviado para você nesses dias, num depósito de 500 euros.
Não é muito, uma gota no mar de necessidade, mas nasce de uma comoção depois de outro, porque foi assim aquilo que vimos brotar deste nosso pequeno “movimento”, nascido de forma impetuosa, porque ficamos tocados pela simplicidade da pertença daquela mulher que, tendo encontrado “a verdade da sua vida”, quis deixar tudo o que tinha.
Obrigada! Em anexo vão algumas fotos do nosso trabalho e, abraçando-o, pedimos-lhe que se lembre de nós na sua oração, junto de todos aqueles que trabalharam conosco.
Maura Bezzecchi
Maura Caprari
P.S.: Da próxima vez que vier à Itália, será nosso convidado para comer “cappelletti” conosco.
Como podem ver, não se trata de dotes particulares ou de capacidades, mas tão somente de deixar-se tomar pelo Mistério que, numa das leituras da semana passada, na Missa, dizia, através de Moisés, ao povo judeu: “Tu és a minha propriedade”, “eu me apaixonei por ti, por ti que és o menor de todos os povos”.
Amigos, espero que vocês vivam juntos este tempo, comovidos, rezando, como dizia a oração da coleta do último domingo, “Deus, que por meio da humilhação do Teu Filho, levantou a humanidade decaída, concedei-nos a VERDADEIRA ALEGRIA, para que, libertos da escravidão do pecado, possamos atingir a plenitude da felicidade” (em espanhol, “a felicidade sem fim”), como que dizendo de plenitude em plenitude.
Padre Aldo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Cartas do P.e Aldo 182





Asunción, 21 de março de 2011.

Caríssimos amigos,
ei-la, olhem para ela, é Mariana, nascida no dia 15 de março daquela minha filha, que ainda é uma criança de 15 anos. Um mês se passou desde que a Providência abriu e inaugurou aquela nova obra de misericórdia, para acolher as meninas, as adolescentes violentadas e grávidas. Mariana é o primeiro fruto desta misericórdia que atua continuamente. Ela, como eu, não é o fruto dos seus antecedentes, mas daquele “Tu que me fazes”. Estou, estamos comovidos por ver como Deus tem piedade da órfã, da viúva, do estrangeiro, como diz a Sagrada Escritura. Olhando para elas, não posso não ficar comovido por ver como tantas mães tão jovens foram salvas pela ternura de Deus que venceu a brutalidade, o cinismo de quem queria que elas abortassem.
Cristo vence sempre e, por isto, vence a vida. O primeiro problema não é a batalha pela vida, mas o anúncio de Cristo, para que você se apaixone por Cristo. Mesmo para vocês, que estavam preocupados justamente com a lei que se discute no parlamento, obedientes às indicações dos bispos, é assim: nunca se esqueçam de que o verdadeiro problema está apenas na nossa paixão por Cristo. Somos chamados, como São Paulo, a anunciar “apertis verbis” Cristo, porque o mundo tem necessidade apenas disso. Eu experimentei isso falando, em Bolonha, para a Confindustria. Também eles voltaram para casa tocados por terem escutado um asno que conhece tão pouco de teologia, mas que foi tomado por Cristo.
Mariana nasceu porque sua mãe encontrou alguém que a olha como Jesus olhou para Zaqueu e para a mulher adúltera ou para a samaritana.
Ver a alegria de Padre Paolino porque Mariana nasceu, quando eu estava na Itália, é mesmo comovente, porque vejo que tenho um amigo capaz de amor, capaz de olhar como Giussani me olhou, como Carrón nos olha, como Marcos, Cleuza e tantos outros nos olham.
Rezem para que Mariana seja feliz.
Com afeto,
Padre Aldo

terça-feira, 8 de março de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mc 12,13-17
Naquele tempo, as autoridades mandaram alguns fariseus e alguns partidários de Herodes, para apanharem Jesus em alguma palavra. Quando chegaram, disseram a Jesus: "Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e não dás preferência a ninguém. Com efeito, tu não olhas para as aparências do homem, mas ensinas, com verdade, o caminho de Deus. Dize-nos: É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?". Jesus percebeu a hipocrisia deles, e respondeu: "Por que me tentais? Trazei-me uma moeda para que eu a veja". Eles levaram a moeda, e Jesus perguntou: "De quem é a figura e a inscrição que está nessa moeda?". Eles responderam: "É de César". Então Jesus disse: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". E eles ficaram admirados com Jesus.

Comentário feito por Tertuliano (c. 155-c. 220)
teólogo 

Na constituição do mundo, "tudo foi feito pela Palavra de Deus e nada foi feito sem ela" (Jo 1, 3). Quando se trata de criar o homem, é igualmente a Palavra de Deus que opera, dado que "sem a Palavra de Deus nada foi feito". Deus, com efeito, disse primeiro esta palavra: "Façamos o homem". Mas para exprimir a superioridade desta criatura sobre todas as outras, Deus deu-lhe forma com a Sua própria mão; por isso, está dito que "Deus modelou o homem" (Gn 2, 7). [...] "E Deus, diz a Escritura, modelou o homem com o barro da terra." Não era ainda senão barro, e já a palavra "homem" é pronunciada. Que honra prodigiosa para o lodo, esse nada, a de ser tocado pelas mãos de Deus! Esse simples contato não teria sido suficiente a Deus para formar o homem, sem mais nada? Mas, ao ver Deus trabalhar esta lama, compreende-se que se trata de uma obra extraordinária. As mãos de Deus trabalhavam, elas amassavam, esticavam, davam forma a esta lama, que não cessava de se enobrecer a cada impressão das mãos divinas. Imagina Deus ocupado, aplicado inteiramente nesta criação: mãos, espírito, atividade, conselho, sabedoria, providência, sobretudo o amor, orientavam o seu trabalho! É que através deste lodo que amassava, Deus entrevia já Cristo, que um dia seria homem como este lodo: Verbo feito carne, como esta terra que tinha entre as mãos. É este o sentido desta primeira palavra do Pai ao Seu Filho: "Façamos o homem à Nossa imagem e à Nossa semelhança" (Gn 1, 26). Deus modelou o homem segundo a imagem de Deus, quer dizer, segundo Cristo. [...] Portanto, este lodo que assumia a imagem de Cristo, tal como Ele se manifestaria na sua incarnação futura, não era somente obra de Deus, era também a fiança de Deus.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cartas do P.e Aldo 172

Asunción, 20 de dezembro de 2010.

Caros amigos,
No jornal local “Ultima Hora” foi publicado este artigo assinado pelo jornalista Cristian Cantero.
Desejo a todos um Bom Natal!!!

“No meio do correio eletrônico e dos votos de Natal e tantos outros cumprimentos, encontrei um que me chamou a atenção pelo seu título ‘De zero a um’.
Lendo o conteúdo, descobri que se trata de uma associação sem fins lucrativos, fundadas por amigos do Padre Aldo Trento, para ajudar as obras que se desenvolvem na paróquia San Rafael, neste caso em particular da Casinha de Belém. Para relatar a história da origem desta denominação, Padre Aldo, um dia, disse que, tendo recebido os boletins escolares de seus ‘filhos’ da Casinha de Belém, deu-se conta de que quase todos tinha tomado bomba; e, então, pensou que, ao invés de chamar a atenção deles e censurá-los, como qualquer pai de família faria, deveria organizar uma festa.
Segundo o relato do mesmo Padre Aldo, ele disse aos garotos naquele momento: ‘Meus filhos, eu os cumprimento porque a coisa mais importante da vida não é ter nota 5; ou seja, vocês eram considerados ‘ninguém’ e passaram a ser protagonistas da própria vida!’.
Para entender isto, é necessário recordar quem são estas crianças recolhidas por Padre Aldo: estão com ele porque foram abandonadas pelas suas famílias e esquecidas pela sociedade. Alguns são filhos órfãos dos doentes de AIDS que morreram na clínica Divina Providência ‘São Riccardo Pampurri’.
Poder-se-ia dizer que são crianças a quem a vida deu uma segunda oportunidade, por que encontraram um lugar, um lar, onde são valorizados e tratados com dignidade; um lugar onde aprendem a ser protagonistas da própria vida.
No mundo onde os parâmetros com os quais se medem as pessoas são o êxito, o poder, o dinheiro ou a fama a que se pode chegar, escutar ou ler histórias deste tipo nos permite compreender qual é o valor e o sentido verdadeiro da vida.
Tantas vezes, os pais nos preocupamos demais com o assegiurar o bem-estar material aos nossos filhos, reduzindo a educação à simples instrução ou à transmissão de dados, e é por isso que nos habituamos a medir a capacidade das crianças a partir dos resultados que obtêm, como se fosse uma simples fórmula matemática.
Mas, educar é muito mais ajudar uma pessoa a se tornar verdadeiramente homem. qualquer pessoa pode gerar filhos, mas poucos são aqueles que educam verdadeiramente os próprios filhos, isto quer dizer que o educam a enfrentar a vida, as circunstâncias de modo adequado e razoável. Se queremos educar, devemos respeitar e usar a razão e a liberdade dos nossos filhos, conscientes de que são pessoas diferentes de nós; o seu futuro não nos pertence.
É revelador o testemunho do psiquiatra vienense Viktor Frankl, que contava a confidência que um estudante americano lhe fez: ‘Tenho 22 anos, sou graduado, tenho um carro de luxo, sou economicamente independente, e tenho à disposição mais sexo e prestígio do que eu precisaria. Mas, apesar de tudo isso, me pergunto: que sentido tem ter tudo isto?’.
A educação verdadeira é ajudar a pessoa a entender o sentido da realidade em geral e o seu significado último. Mas, para fazer isto, é preciso que existam genitores que se deixem educar mesmo se tiverem 50 anos! Porque este processo dura a vida inteira e ninguém nunca termina de aprender. Como disse Padre Aldo, ‘apenas a partir da experiência de um abraço humano é que o meu eu desperta, se comove e se move’. E, assim, se converte em um desafio o passar de zero a um.
Cristian Cantero”

Ciao
Padre Aldo

Cartas do P.e Aldo 171





Asunción, 19 de dezembro de 2010.

Caros amigos,
Bom Natal! Particularmente aos muitíssimos amigos que, com seus emails, me confiaram suas dores, dificuldades, seus sofrimentos e, frequentemente, sua falta de vontade de viver. Para mim, foi uma graça, porque seja quem for que estiver sofrendo eu o sinto comigo e com o mar de dor que me circunda, da dor de Cristo, daquilo que falta à paixão de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja. Agradeço a vocês de coração, porque as feridas que carregam não apenas me impedem de ser um burguês, ou seja, um homem sem pergunta, sem dramaticidade, como também me ajudam a viver dentro das circunstâncias da vida com os olhos fixos no Mistério. É como se o dor de vocês, a nossa dor, me tornasse sempre mais consciente do significado de estar suspenso sobre um cheio, sobre uma certeza.
Confesso a vocês que todas as noites, quando já tarde, vou dormir, depois de ter visitado as várias obras da paróquia onde vejo e sinto somente a dor dos meus filhos, dos recém-nascidos abandonados, das meninas vítimas da violência, dos doentes terminais e dos velhos recolhidos das ruas, reconheço como o Mistério domina a minha vida, enchendo-a de paz. Que bonito é ser tomado, dominado por aquele “Tu” a cujos olhos sou precioso e digno de estima, porque sou Seu, como nos recorda o profeta Isaías. Como eu gostaria que as muitas pessoas deprimidas, cansadas de viver, vítimas das mil fantasias, que conheço muito bem, reconhecessem, mesmo quando a angústia parece sufocá-los, que, seja como for, o Mistério é um Fato presente, é um abraço que nunca permite que nos percamos. O problema não é a dor, a depressão, a doença, mas é a liberdade de reconhecer naquele “Tu que me fazes” a própria consistência. Há momentos em que não vejo nada, mas o juízo é claro e eu repito para mim mesmo continuamente: “Tu, ó meu Cristo!”, e sempre reencontro a energia para caminhar.
Peço a vocês, enquanto peço por mim mesmo, de não colocar os “se”, os “mas”, os “porém” entre Cristo e nós, porque isto seria a única grande fraude e perderíamos a festa da vida. O Mistério ama quem se arrisca, que não tem medo da realidade, e em geral se diverte permitindo-nos chegar até à borda do abismo, mas depois, de repente, quando tudo parece perdido, nos salva, pegando-nos pelos cabelos. Há vinte anos experimento este fato mesmo em nível econômico. Pensem nas centenas de milhares de euros de que precisam estas obras! E, no entanto, chega o último dia do mês e a Providência chega. No início, quem trabalhava comigo se assustava, a administração entrava em crise, enquanto que, para mim, era tudo simples e ainda o é: “Senhora (disse à administradora), estão faltando dois dias para pagar o salário dos 180 dependentes do Mistério, único chefe destas obras; por isso, por que você se preocupa?”. E no dia seguinte, a Providência chegava com o dinheiro necessário – e nada a mais ou a menos. Mesmo com respeito a isso o Mistério me mantém sempre suspenso e, portanto, sempre mendicando. Não sei como pagarei o salário de janeiro às 180 pessoas, ou melhor, famílias, mas, por isto, não perco o sono, porque tenho a certeza absoluta de que o Senhor, aquele “Tu que me fazes”, no momento certo, estará ali para pagar. Que liberdade eu sinto quando estou diante, diante daquele Tu que me domina, me abraçando.
Ontem, Ele me deu dois novos filhinhos. Olhem para eles nas fotos. São gêmeos, foram abandonados por sua mãe e, por causa dos maltratos que sofreram da “mãe”, ambos possuem uma paralisia cerebral, de forma que isso era motivo suficiente para recebê-los. Têm 1 ano e oito meses e pesam, cada um, 6 quilos. A história deles é de um sofrimento terrível. No entanto, o Mistério ocupou-se deles e os deu a mim. Na primeira noite, choraram durante toda a noite, mas nesta última noite, já estavam mais tranquilos entre os meus braços.
No fundo, se o nosso abraço é o fruto da experiência do “Tu que me fazes”, ele se transmite como que por osmose mesmo a eles, cuja inocência foi lacerada pelas violências de todos nós, quando nos esquecemos de ser relação com o Mistério.
Olhando-os, penso naquela pobre mulher que, certamente, mesmo ela, terá sido vítima de outra violência. Confio-os às orações de vocês, assim como confio a terceira Casinha de Belém e a nova casa para as meninas violentadas e grávidas, que iremos inaugurar na vigília de Natal.
Como vocês podem ver, Jesus me enche de presentes, presentes que também são para vocês. É mesmo bonito ser queimados pelo amor por Cristo, porque, assim, o coração queima de amor pelo homem.
Bom Natal.
Padre Aldo

P.S.: Amigos, desculpem o italiano, mas, não sabendo usar o computador, confio-me ao excelente secretário que faz o impossível para me traduzir. Olhem para a essência, para o coração.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cartas do P.e Aldo 164


Asunción, 3 de outubro de 2010.

Caros amigos,
antes de mais nada, peço perdão aos muitos que me escrevem sobre seus sofrimentos, muitas vezes no limite do desespero, para quem, sim ou sim, responderei nos próximos dias, quando, com meu companheiro de aventura, Padre Paolino, estarei no Brasil para festejar a vitória de Marcos, Cleuza e amigos nas eleições gerais do Brasil. Segunda-feira faremos uma peregrinação ao Santuário de Aparecida, onde, em julho passado, nos encontramos no início da campanha eleitoral para pedir a Nossa Senhora que esta circunstância importante se tornasse, para todos nós, amigos, uma grande ocasião para anunciar a Cristo, como de fato foi. E, nisso, já está a vitória, mesmo se hoje, sábado, estejamos ainda na véspera das eleições e, portanto, sabendo que o resultado só será conhecido amanhã à noite, por volta das 23h. “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”, de forma que já vencemos. 
Hoje, é a festa dos Anjos da Guarda e, enquanto escrevo, estou com dois bebês – que começaram a andar há poucos dias – no meu escritório, e eles o estão virando de cabeça para baixo. Porém, antes de chegar aqui, fiz minha meia hora de “corridinha” que sempre faço por causa da diabetes, e a fiz com as crianças que correm comigo. Depois, quando cheguei na gruta de Nossa Senhora, me ajoelhei e eles, ao verem o meu gesto, se ajoelharam também como podiam e se colocaram, como eu, com as mãos postas.
A educação é apenas uma pertença. Porém, ou se pertence a um sujeito cujo eu é totalmente relação com o mistério “eu sou Tu que me fazes” ou nos tornamos apenas capazes de violência, mesmo quando beijamos nossos filhos.
Nesses dias, experimentei, mesmo tendo passado por um pouco da insônia que me caracteriza, a beleza daquilo que Carrón nos disse, falando da conversão: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
Noite passada, estava com Nayeli nos braços, a bebê que foi encontrada num saco de lixo colocado perto de uma tumba por um homem simples que, no alvorecer, passava por ali e viu – a Providência! – uma mãozinha que aparecia do lado de fora do saco. Aproximou-se e se surpreendeu com a menina. Agora, já tem 5 meses é tão linda, loura, de olhos azuis. Eu a olho comovido: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
Meu Deus, pensem: abandonada num saco de lixo, suja de sangue... já na beira da morte, porém o Mistério teve piedade do seu, do meu nada. Olhem-na na foto, olhem-na bem: o Mistério a arrancou da tumba, através de um instrumento qualquer, um homem simples que passava por ali, com uma carroça, e a fez Sua, porque já era Sua. Como não chorar de comoção diante da piedade do Ser?
Na clínica, nesses dias, tive a graça de acompanhar para Deus alguns filhos de Deus Sem-Nome. Diante dos homens sem identidade, “não sabemos quem eram, não sabemos quem é, mas se fazia chamar pelo nome Jesus” [adaptação de um trecho da canção “Noi non sappiamo chi era”; ndt]. Eu também os olhava comovido porque “amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”. Dei a todos o batismo “sub conditione” antes de morrerem. Não podia pensar que morreriam sem identidade, e a identidade do homem acontece no batismo. Vocês entendem o que quer dizer “morrer cristão”? Não é um adjetivo que se acrescenta, é uma criatura nova que nasce e que, passando pela morte física, chega a ver o Mistério face a face. Todos os dias me ajoelho diante desses Jesus que, para o mundo, são Sem-Nome. Enquanto que, para nós, cada um é, física e ontologicamente, Jesus.
Na clínica, foram internadas duas crianças: Liz, de 5 anos, em coma, com um tumor na cabeça, e Gabrielle, com metástase. Vejo-as sofrendo e sofrendo muito... e, no entanto, mesmo para elas é verdade aquilo que é verdade para mim: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”. A dor nos lembra de que somos nada, e a morte lembra isso ainda mais potentemente, no entanto “amei-te de um amor eterno...”.
Amigos, mesmo na maior dor que me circunda, esta certeza me enche de paz, uma paz que se torna pergunta mesmo quando me canso do Senhor... mas, depois, revejo o Getsêmani e, então, me levanto e o dia se enche de luz: “eu sou Tu que me fazes”, mesmo se me pareço com um cretino que caminha.
Finalmente, animo a todos aqueles amigos a quem a Providência reservou a graça de sofrerem estas coisas, e não apenas, mas coisas muito piores. Carrón nos diz que mesmo estas coisas são um instrumento pedagógico que o Mistério usa para fazer-nos Seus. A pedagogia de Deus, como vocês podem ver, não tem nada que ver com aquela que se ensina nas universidades ou é proposta pelo Ministério da Educação.
Ciao... e rezem por mim, e rezem muito.
Padre Aldo

domingo, 5 de setembro de 2010

Cartas do P.e Aldo 160




Asunción, 5 de setembro de 2010.

Caros amigos,
Eis-me de volta a casa. Os meus filhos muito felizes. Vejam o que uma menina me escreveu: “Quero dizer que estou feliz com o seu retorno. Que graça saber que você voltou. Senti muito a sua falta. Agora, não quero mais chamar você de Padre Aldo, mas de papai Aldo. Papai Aldo, você é o melhor papai e eu o amo muito, e fico feliz por saber que você quer o meu bem, porque nem minha própria família me trata tão bem como me tratam na Casinha de Belém, que é a minha verdadeira família. Elizabeth”.
Deixo a vocês imaginarem o que significa para mim ver que tão logo pisei o solo dessa terra todos vieram ao meu encontro, dizendo: “Finalmente”. A minha alegria chegou às estrelas, mesmo porque o mais violento deles (há um tempo atrás), mostrando-me o boletim do segundo trimestre, tinha tirado 5 em todas as matérias, que é a nota máxima no Paraguai. Milagre do amor – “eu sou Tu que me fazes” – que penetra as fibras mais íntimas das minhas crianças e as muda.
Ao mesmo tempo, não vi mais o pequeno Alberto (vejam a foto), de dois anos, que morreu durante a minha ausência, deixando-nos todos cheios de dor.
Assim também, não encontrei mais o jovem Abraão, que tinha se casado antes de eu partir, doente de AIDS e com um câncer. Eu o havia deixado feliz, em lua de mel, na clinica, obviamente junto com Susana, a garota com a qual convivia e que tinha contagiado com AIDS e com a qual se tinha casado antes que eu partisse (vejam as fotos).
Ela me esperava com sua carga de amor e dor. Deu-me este bilhete comovente que é um soco no estômago, bilhete comovente, particularmente, para quem tem problemas (frequentemente infantis) de relacionamento no matrimônio: “Abraão se realizou como cristão e eu estou em paz, porque graças à AIDS pude conhecer a Deus, toda a Sua bondade, todo o Seu amor. Agora, fiquei sozinha, mas com um grande desejo de continuar vivendo, lutando por um novo amanhecer. Aqui, na Clínica Divina Providência, conheci pessoas capazes de tanto amor que espero que existam outros lugares como este para todos os doentes como eu, para que possam conhecer a Jesus. Tenho AIDS e não tenho medo dela. Não tenho medo de contar a minha história, porque encontrei a Jesus. Os meus pais, desde quando souberam disso, estão sofrendo muito, mas eu lhes digo, como a todos, que a morte é uma realidade que todos devemos enfrentar e, por isso, somos chamados a nos preparar bem, na certeza de que Deus nosso Pai está se preocupando por nós”.
Amigos, isto é o cristianismo, esta é a fé. Se os nossos olhos estivessem fixos nestes fatos, como seríamos livres e capazes de gratuidade!
Carrón, introduzindo o encontro de responsáveis em La Thuile nos chamava a atenção, na primeira noite, para a conversão e lembrava as palavras do profeta: “Amei-te com um amor eterno, atraindo-te para mim, tendo piedade do teu nada”.
Tudo o que acontece aqui é esta consciência, que, porém (isto é essencial e devemos pedir a Nossa Senhora para entender isso) pode acontecer, como vi em tantas pessoas humildes e que seguem a Carrón como filhos, olhando como ele vive esta certeza, mesmo na Itália. Ao invés, quem, estando na Itália não a vive, não a viverá em lugar algum.
Rezem por mim e por nós. É o gesto mais belo de amizade e somente disso temos necessidade porque, com isso, Jesus nos dá o resto.
Com afeto.
Padre Aldo

sábado, 19 de junho de 2010

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mt 6,24-34
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, com o que havereis de vestir. Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa? Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros? Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir? Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. Pelo contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia, bastam seus próprios problemas."

Comentário extraído do Catecismo da Igreja Católica
§§ 302-305 

A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada "em estado de caminho" (in statu viae) para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição. [...]:É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. Os livros santos afirmam com veemência a soberania absoluta de Deus no decurso dos acontecimentos: "Tudo quanto Lhe aprouve, o nosso Deus o fez, no céu e na terra" (Sl 115, 3); e de Cristo se diz "que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre" (Ap 3, 7); e "há muitos projetos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor que prevalece" (Pr 19, 21). [...] Jesus reclama um abandono filial à Providência do Pai celeste, que cuida das menores necessidades dos seus filhos: "Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos?' [...] O vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo" (Mt 6, 31-33).

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cartas do P.e Aldo 142

Asunción, 30 de abril de 2010.

Caros amigos,
vários me têm perguntado por que eu não escrevo mais como antes. A resposta é muito simples: é sempre mais necessário que nos eduquemos a seguir e a levar a sério o que Carrón nos ensina com o seu modo de viver o carisma de Giussani, enriquecido com o seu dom pessoal de entrar no coração da realidade, fazendo-nos colher toda a espetacular positividade que contém. É como se, olhando para ele, para a sua liberdade, para o seu modo de estar diante de Cristo, se percebesse sempre mais que, também para mim, é o mesmo.
“Olhar Cristo no rosto”: eis que nesta afirmação está contido todo o meu viver, estar diante dEle da manhã à noite. Estar diante dEle quando me levanto com mau humor e imediatamente preciso me colocar de joelhos para olhar no rosto a alvorada que desponta com um sorriso. Estar diante dEle para sair, fazer minha corridinha de meia hora para permitir que minha diabetes não brinque comigo... estar diante dEle rezando, possivelmente, os quatro mistérios do rosário para poder, mesmo que distraidamente, gozar da Sua vida tão bem sintetizada no rosário. Estar diante dEle tomando o café e, depois, correr, às 7h da manhã, para pegar as minhas crianças e levá-las para a escola, depois de ter dado um beijo em cada um delas - que tanto esperam - e depois de ter rezado com elas as orações diante de Nossa Senhora. Estar diante dEle quando, deixadas as crianças na escola, corro para a clínica onde, às 7h15, todos os dependentes da Divina Providência, a Chefe do hospital, esperam pela meia hora de adoração, dividida entre a procissão e a comunhão aos doentes, as leituras do evangelho e um pensamento que desperte em cada um a mesma posição do coração que há já mais de uma hora e meia enche o meu. Estar diante dEle quando me ajoelho diante de cada doente, dando-lhe um beijo no rosto e fazendo-lhe um carinho. É o momento mais bonito do dia: com a Eucaristia nas mãos, de joelhos diante de cada paciente. É reviver, em cada momento, o Mistério da paixão, morte e ressurreição. Este Mistério tão concreto do meu cotidiano, um cotidiano que começa cedo e termina tarde, quando, depois de ter dado um beijinho de boa noite nas minhas crianças (nem sempre consigo ir à Casinha de Belém, porque sempre tem um imprevisto), retorno para a clínica, para saudar as minhas pequenas hóstias brancas (Vítor, Cristina, Celeste, Aldo, Mário), frequentemente ainda acordados. Beijo-os, me ajoelho diante de cada um e, depois, tocando o rosto de um por um, faço o sinal da cruz. São o meu Jesus, o que mais sofre e que mais me conforta. Só depois de ter saudado este Crucifixo que são os meus pequenos doentes, é que saúdo Jesus Eucarístico e vou para a cama, tentar dormir... porém, olhando para Ele.
Vocês sabem quantas vezes eu retomo esse trecho da Escola de Comunidade no qual Giussani fala de olhar Cristo no rosto, e quantas vezes leio, releio as coisas que Carrón nos diz.
A surpresa mais bonita (vocês podem ler isso em Tempi) foi a visita de Marcos, Cleuza e Bracco (responsáveis do Brasil) na semana passada. Eu tinha voltado de uma longa viagem e todos sentíamos um grande desejo de nos vermos. Assim, eles pegaram o primeiro avião e vieram para cá. Eu estava muito cansado e precisava vê-los, estar com eles, porque, como diz Cleuza, “frequentemente, na vida, podemos nos encontrar no fundo de um poço. Então, você tem duas possibilidades: ou olhar em volta e se sentir sufocando, ou levantar os olhos e ver aquele metro quadrado de céu azul que lhe faz pedir, gritar por ajuda”. E, de fato, aconteceu assim: eles foram, para mim, aquele pedaço de céu azul. Mas, não porque tivéssemos feito um dia de retiro espiritual, mas pelo simples fato de que nos fizemos companhia, ajudando-nos com o texto de Carrón, publicado no jornal Repubblica, na Páscoa: “Feridos, voltamos a Cristo”. Todos somos feridos e, por isso, somos necessitados de voltar àquele Tu, àquele estar diante dEle.
Foi muito bonito, porque, vivendo com eles o que eu vivo todos os dias, foi como entrar ainda mais no coração da questão: a paixão pela glória de Cristo. E além do mais foi bonito porque mesmo os meus confrades vibram sempre mais com esta beleza. Porém, em Tempi, vocês vão encontrar todos os detalhes daqueles dias.
No dia primeiro de maio, a clínica faz 6 anos. Acompanhei mais de 700 pacientes para a morte entre os braços de Jesus. Em seis anos, a morte se tornou minha amiga e não tem mais o rosto feio como sempre eu a vi. Pensem: é o momento no qual você está para encontrar Jesus, aquele Jesus pelo qual eu acabei aqui, aquele Jesus pelo qual, graças a tantas misérias vividas, aprendi a tocar com a mão o significado do Horto do Getsemani, aquele Jesus que se serviu e se serve de um pobrezinho como eu, com um temperamento único e, frequentemente, com uma emotividade tão variada, mas que está bem ancorada na certeza de que nenhum problema é maior do que a resposta. Que nenhum problema é maior do que Jesus.
Uma enfermeira me dizia ontem: “O que move a minha vida é o milagre: tudo é, para mim, um milagre... do modo com o qual tiro uma fralda dos idosos ao modo como os limpo etc. A fé não é dizer ‘ou conta só até aqui’, mas a certeza de que Deus cumpre e, por isso, pede ajuda para você. Se eu estou aqui é porque o Senhor me quer aqui. A fé é a esperança que se cumpre. Por exemplo, quando chegam os mendigos, alguém poderia dizer: ‘Mas, estes não mudarão nunca, é inútil querer educá-los’. Porém, para mim, não é assim, porque tenho a certeza que nasce da fé de que, com o meu afeto, a esperança que algo lhes aconteça se tornará verdadeira. De fato, depois de meses, aprenderam a usar o banheiro, a aceitar os remédios, a ficar juntos na mesa usando mesmo o guardanapo. O milagre é o fruto da insistência da fé que é a esperança. Depende de mim que isso aconteça, porque se a minha liberdade não deixa uma fissura aberta para a graça, nem mesmo Deus pode fazer alguma coisa”.
E é belo ver como estas 150 pessoas que trabalham aqui, dependentes diretos do Pai Eterno, aprendam a viver assim o trabalho, aprendam a estar diante de Cristo e vejam, cada dia, os sinais da Sua Vitória. Chegam cheios de confusões e, no tempo, educados a estar diante dEle, mudam, se tornam humanos.
O mês de maio está às portas, e eu peço a vocês que rezem a Nossa Senhora para mim e para os meus doentes e para todos este povo que vive e sofre aqui.
Uma nota final: ontem, como a cada 15 dias, encontramos os doentes de AIDS para ficar com eles, porque o homem é uma companhia. Este é um índio, transexual com cabelos (tingidos) louros. É meu afilhado de crisma. É um daqueles que, graças ao afeto e aos remédios, de moribundo que era recomeçou a viver. Pois bem, veio de longe, tão pobre que disse: “Para vir ficar com vocês, em companhia, peguei emprestado um par de sapatos, porque, há meses, que ando descalço, porque não tenho nada, muitas vezes nada nem para comer”. Que comoção! É verdade: quando se há uma pergunto grande na vida, se busca uma companhia adequada e, não havendo sapatos para alcançá-la, pede-se emprestado a quem tem. Pergunta pequena, homens anãos. Pergunta grande, encontram-se gigantes.
“Feridos, buscamos Cristo”... levemos isso a sério... se não se está ferido... não se pede sapatos emprestado...
Com afeto,
Padre Aldo

quinta-feira, 4 de março de 2010

Cartas do P.e Aldo 139




Asunción, 02 de março de 2010.

Caríssimos,
que bonito! Finalmente, a Escola "Pa'i Alberto" foi inaugurada, com a presença do Vice-Presidente da República do Paraguai, do Núncio Apostólico (que estava muito feliz!), do Embaixador da Itália, do Padre Alberto etc.
Um trinfo da Providência que prefere os seus filhos pobres.
A "carta magna" se resume em três pontos:
1. calos nos joelhos (Eu sou Tu que me fazes);
2. calos no cérebro (estudo, ou melhor: "Muita observação e pouco raciocínio conduzem à verdade...");
3. calos nas mãos (e então se age...).
Amigos, a questão é apenas uma: "acreditamos mais nos princípios econômicos ou na Providência?".
Com afeto,
Padre Aldo

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 136

Asunción, 22 de fevereiro de 2010.

“Padre Aldo, o senhor crê nisto?” é a pergunta de Jesus a Marta diante do cadáver do irmão, e que Ele lança, em cada instante, à minha liberdade. E é maravilhoso viver respondendo à realidade: “sim, Senhor, eu creio”. Responder sempre e sempre com mais intensidade porque o Amor exige sempre mais Amor. Assim, hoje, disse “sim, creio”, olhando um de meus filhos morrer de câncer. Chamava-se Rômulo e tinha 19 anos. Ontem à noite, perguntei-lhe se queria se confessar. Fez uma confissão belíssima, respirando com dificuldade. O seu grito de perdão, o seu amor intenso por Jesus podia ser lido no esplendor do seu rosto. Logo depois, perto das 20h, quis receber a comunhão. Nesta manhã, quando cheguei com o Santíssimo para dar-lhe a comunhão, Jesus, naquele momento preciso, o tomou consigo. Eu estava para dizer “o Corpo de Cristo” e, de repente, a sua cabeça tombou como a de Jesus. Que morte santíssima! Que bela esta morte, como aquela de todos aqueles que morrem em nossa companhia. A dor é grande, mas maior é “sim, Jesus, eu creio”.
Como, em outro dia, quando me chamaram à casa para os mendigos São Joaquim, porque havia chegado um outro pobre Cristo. Parecia o servo de Iahweh de que fala Isaías: “Não tem nem forma nem beleza”. Toda a sujeira que revestia um esqueleto humano. Estavam limpando seu corpo como se fosse Jesus, e ele, do chuveiro (onde estava sentando em uma cadeira) perguntou quem era o padre, colocou juntas as mãos e me pediu a bênção. Mendigo, doente, havia pedido, na noite anterior, a um padre, que o deixasse dormir na calçada casa paroquial. E passou, então, a noite ali. De frente dessa casa paroquial estão as irmãs franciscanas, a quem pedia ajuda no alvorecer. E elas lhe diziam que tinham uma outra tarefa pastoral... de forma que lhe deram um pouco de comida e chamaram um táxi, dizendo: “Leve-o ao Padre Aldo”. E, assim, chegou... obviamente transtornando sempre a nossa comodidade, a organização, os esquemas... Mas, os meus amigos, os enfermeiros, que respiram sempre mais com as categorias que caracterizam a minha vida – as do imprevisto e da providência – o acolheram logo. Sim, porque sabem que, quando chega um pobre, a primeira coisa a fazer não é pedir ao chefe, ao responsável, mas é dizer “Tu, ó Cristo, entra. Tu, ó Cristo, toma, come e veste. Tu, ó Cristo, cheio de vermes (como Carlos que chegou, sem avisar, há alguns dias), vem que eu os tiro, um a um” etc.
Amigos, que depressão, câncer, miséria, fome... a grande aventura que vivemos entre amigos é apenas esta: “Sim, Senhor, eu creio que Tu sejas a resposta à minha humanidade”. E não é por que a doença deixa de existir e os problemas deixam de ser problemas... tudo é doloros, tudo pretende uma resposta... mas é tudo uma outra coisa dentro deste “Tu, ó meu Cristo”.
Eu senti necessidade de comunicar a vocês esta beleza, agora, tão logo celebrei os funerais do meu Rômulo, que ainda está ali, no leito, com seu belo rosto branco, cabelos pretos e olhos semi-cerrados, sinal estupendo da glória de Cristo, em quem já vive e vive definitivamente. Ele, finalmente, passou da fé e da esperança ao Amor: olhar eternamente o esplendor do rosto de Deus.
Rezem por mim e por meus doentes.
Padre Aldo

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 132

Asunción, 26 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Sou, cada dia, mais comovido e grato porque “toco com as mãos” o significado das palavras de Carrón, quando diz que basta dizer “sim” ao Mistério, basta “olhar no rosto a Jesus”.
É tarde, enquanto lhes escrevo, mas não posso não comunicar aos amigos que o meu “sim” a Cristo me enche de letícia. Estou cheio de letícia, no meio da escuridão que frequentemente me envolve e na qual a minha emoção distraída é absorvida por aquele “Tu que me fazes”. Que ternura olhar para a própria humanidade com os olhos daquele Tu que é infinitamente mais potente do que a minha imaginação, que os meus fantasmas, que as minhas condições de saúde. “Tu, ó meu Deus”. Tu, ó meu Cristo,que me dás tudo, tudo o que vivo é para a Tua glória. Como um homem pode duvidar da Sua Presença? Todas A gritam.
Esta noite, na pizzaria, enquanto comia com Sérgio Franco, um amigo que leva para frente a obra de Deus que é o novo hospital, vi dois amigos na mesa da frente. Algumas piadas e, depois, rindo, digo a eles: “A Providência tem necessidade das nossas mãos e da nossa carteira...!”. E eles riram. Estava saindo da pizzaria, quando eles me chamaram e me disseram: “Padre, compramos uma Mercedes-Benz conversível de duas portas, rodamos 300 km, mas, para nós, altos e gordos, ela se mostrou muito incômoda. Decidimos dá-la de presente para você, para que faça um sorteio e use o dinheiro arrecadado para o novo hospital. Na próxima terça-feira, a traremos para o senhor”.
Os amigos não acreditavam no que estavam escutando... mesmo porque, vindo aqui, frequentemente escutam continuamente como a Providência opera. Não poderia mais viver se não fosse para gritar a todos que o problema é apenas um: dizer “sim” a Cristo. Uma obra ou nasce desse “sim” radical a Cristo ou não nasce e, se nasce sem esta consciência, a pessoa pode ser o “bocconiano” mais famoso que exista, mas não consegue avançar, não cresce. Vocês sabem como me dói quando ouço falarem de economia, entre nós, como se Cristo não tivesse nada que ver com ela. Fazem projetos, mas não nascem da comoção por dizer “Tu, ó meu Deus”. Por isso, falem os projetos e nós junto. Tudo é para a glória de Cristo ou é inútil. Constrói-se apenas se se está apaixonado por Deus.
Conto-lhes um fato: na paróquia, existem algumas pequenas empresas criadas pelos jovens, educados, dia após dia, a olhar para Cristo, única resposta à sua necessidade humana e também econômica. A pizzaria é gerida por 4 moças, que no passado estavam em condições humanas terríveis e pensavam em ir para a Espanha. O amor a Deus, sustentado por nós, fez com que criassem uma sociedade para gerir a pizzaria. Não foi fácil, mas a educação, essencial, que está na raiz da economia e que é a Divina Providência, deu frutos impressionantes. No ano de 2009 a pizzaria rendeu 600 milhões de guaranis, uma cifra astronômica para este país. E, como o Senhor da pizzaria, bem como todas as obras profit e as de caridade, é a Divina Providência, é também Ela que ditou o modo com o qual se administra o dinheiro. E se administra assim: daquilo que, a cada mês, se lucra, uma parte é para o salário (muito bom) das gerentes (que são aquelas 4 moças que trabalham), uma parte é usada para pagar todas as despesas etc. Do líquido, 40% é para elas e 60% é para a clínica. Assim, este ano, elas deram para a clínica a quantia de 120 milhões de guaranis. E o mesmo acontece com as outras obras, ainda que em escala menor. Dizer “sim” a Deus, olhar Deus no rosto, é também gerir assim uma empresa. Mas isto não seria possível sem a Escola de Comunidade semanal que faço com elas na pizzaria. Outro dia, na Escola de Comunidade, pedi o menu. Olhei para ele e lhes disse: “O ‘sim’ de vocês a Deus é frágil, porque vejo que está faltando a lista dos doces, e é insuficiente a lista de vinhos e cervejas etc.”. Olhar Deus no rosto é a possibilidade para olhar a realidade em 360º.
Enfim, um último exemplo. Na reunião com os médicos do hospital, eu lhes disse: “Mas, para que serve um hospital, visto que estamos terminando de construir o novo com 48 leitos? Para uma coisa apenas: para que vocês e os nossos doentes terminais possam dizer ‘eu sou Tu que me fazes’, possam e possamos entrar em uma familiaridade total com Deus. Mas, se um médico não ajuda o homem a descobrir que ele é relação com o Mistério, por que se tornou médico? Sem esta posição, enganamos o homem, iludindo-o de que viverá 10, 20, 30, 50 anos mais... e depois? Para que serve adiar em alguns anos a morte, se depois não há nada? Não encontram o rosto do Mistério? Eis a questão: ou o novo hospital serve, como este, para que nós e os nossos doentes possam dizer ‘Tu, ó meu Cristo’, ou é melhor que fique como está, ou seja, em construção, sem que se termine a obra. Nós estamos junto com os nossos doentes apenas para ajudá-los a olhar no rosto a Jesus. Se não fosse por isso, seríamos sádicos miseráveis... por que todos os nossos cuidados paliativos? Amigos, aqui, ou somos desejosos, tendidos ao Mistério, ou é melhor fechar, porque o que me interessa é que todos possam dizer, sãos ou doentes, ‘para mim, viver é Cristo’. Agradeço a vocês, porque vejo nos seus olhos (os pacientes testemunham isso) uma familiaridade com Cristo”.
Talvez eu os tenha cansado, amigos, mas não poderia não lhes contar a alegria do meu pobre “sim” cotidiano a Cristo. E me surpreendo até as lágrimas ver o que Deus fez e está fazendo com este asno, com este pobre homem, que tem necessidade também de alguns medicamentos para conseguir repousar, com este ‘ninguém’ que Deus escolheu para mostrar a Sua misericórdia e a Sua Providência.
Confio-me às orações de todos vocês, para que Jesus me faça totalmente Seu. Desejo, grito apenas por isso. E digam a Nossa Senhora que nos dê uma mão para que o meu olhar esteja todo ali: “Tu, meu Deus”. Eu rezo por vocês, para que possam saborear a doçura de Jesus e possam comunicá-la a todos. “Jesus dulcis memoria”: que beleza, tudo está contido aqui.
Padre Aldo.

P.S.: hoje, chegou o pessoal da Mercedes-Benz e me disse: “Padre, lhe dou um cheque de 58 mil dólares... e, assim, lhe tiro a dor de cabeça do sorteio”. Amigos, a crise econômica é a crise da razão e da fé. Enfim, para quem quiser saber o valor do câmbio dólar/guarani é: 1 dólar vale 4.600 guaranis. E, enquanto isso, a clínica segue o seu paciente caminho, porque Deus sabe que eu tenho 63 anos e não corro mais como há 20 anos. Mas é espetacular que, dia após dia, Ele me dá o necessário.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 130




Asunción, 21 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Obrigado pela gratuidade de vocês.
Como podem ver, a clínica caminha. As fotos são de alguns lugares da pediatria. Obviamente, o caminho ainda é longo e, como sempre, a Providência vence sobre a longa distância. Quando Deus quer manifestar a Sua glória, o faz e o faz como quer.
Por isso, vivo cada dia suspenso na certeza de que Ele me conduz pela mão. Se vivo “suspenso” é porque, como uma sentinela, sou chamado a me mover a cada sobresalto da realidade.
Há anos vivo suspenso, atento aos mínimos acenos do meu senhor... e olhem o que Ele coloca em pé, e em que bagunça coloca este pobre homem que vive sempre no imprevisto. Como bom montanhês, porém, digo que é bonito viver suspenso, atento aos mínimos acenos do Mistério que, para mim, é mais certo e seguro do que os cumes das minhas Dolomitas (cadeias montanhosas dos Alpes, no norte da Itália; ndt). Lembro-me das escaladas... mal era suspenso no vazio e, às vezes, me vinham vertigens... hoje, estou suspenso na granítica certeza de que Ele conduz a minha vida, de forma que, como uma criança nos braços da mãe, me deixo ninar por Ele que me faz hora após hora. É mesmo bonito... mesmo porque, olhem que frutos Ele me faz saborear.
Ciao.
Padre Aldo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cartas do P.e Aldo 124

Asunción, 01 de dezembro de 2009.

Caros amigos,
“EX UNO OMNIA ET OMNIA LOQUUNTUR UNUM” (de uma coisa apenas e todas as coisas falam daquela única coisa). Se aqueles que me escrevem, recebendo os meus emails de amigos, levassem a sério esta provocação da Imitação de Cristo, não se agitariam tão facilmente, preocupando-se em fazer mil precisões sobre cada frase que digo e que nasce da minha experiência.
Refiro-me, particularmente, aos psicólogos, psicoterapeutas, psicanalistas que se preocupam com o que escrevo e se angustiam em tentar me explicar a necessidade ou a importância da sua profissão. E quem colocou, alguma vez, isso em discussão? O problema, amigos, é outro: o que quer dizer, para vocês, a provocação da Imitação de Cristo? O que quer dizer, para vocês, que o homem não é e nunca será o êxito do passado, que o homem não pode ser reduzido aos seus antecedentes biológicos, hereditários, psicológicos? MAS, O HOMEM É RELAÇÃO COM O INFINITO: o que quer dizer “EU SOU TU QUE ME FAZES”?
Amigos, sobre este ponto se joga tudo e não estou disposto a voltar atrás em nem mesmo uma vírgula, porque seria negar o meu EU e tudo aquilo que, aqui, a Providência me mostra. E exatamente porque, para mim, o homem é apenas relação com o Mistério, que eu vivo comovido com o capítulo X d’O Senso Religioso. Então, uma pessoa que vive assim ama a matemática, a física, a química, a astronomia, a psicologia, a psicanálise... assim como também ama a boa cozinha, o bom vinho, e se comove diante da beleza de uma montanha ou de uma mulher. Então, também, com os doentes, se preocupa que tenham os melhores médicos, os melhores psicólogos, os melhores psiquiatras etc. Então, como é o meu caso, usa, se for necessário, também os psicofármacos etc.
Vocês entendem, agora, porque no meu hospital, vivendo de joelhos diante de cada doente, porque é Cristo, se uma pessoa tem necessidade de um especialista, não ficamos preocupados com o custo, nós lhe damos uma especialista... e vivemos de caridade? Vocês entendem porque um doente terminal, que pode morrer no dia seguinte, se precisa, recebe, ao seu lado, o fisioterapeuta para que consiga mover o dedo ou para que consiga um mínimo de bem-estar no leito? “Padre, olha... consigo mover o dedo, graças ao fiseioterapeuta. Estou contente... está melhor”. E, no dia seguinte, o paciente morre. Vocês entendem o que acontece – e acontece apenas quando o “eu sou Tu que me fazes” se torna carne cotidiana, respiro cotidiano?
Amigos, as sutilezas de vocês, as preocupações que vocês têm de especificar, esclarecer – desculpem-me – me parecem falação de quem ão leva a sério quem é e quem é o homem. Para mim, graças a tanto sofrimento, isto é mais evidente do que o sol: o homem, eu, é. “Eu sou Tu que me fazes”.
Quando alguém faz uma experiência disso, então a frase da Imitação de Cristo enche a vida, porque a pessoa só vive por aquele “UNUM”, e o contragolpe é que começa a abraçar a todos: razão e fé são irmãs.
Permitam-me dizer que, nos anos mais “desesperados”, eu também fui a um psiquiatra... mas apenas para pedir-lhe pílulas (anti-depressivos etc.), que ainda uso. Mas apenas por isso, porque no meu DNA está gravado profundamente “EU SOU TU QUE ME FAZES”. Certamente que eu vi estrelas durante o dia e não apenas durante a noite, mas Cristo venceu e continua vencendo qualquer noite que me surpreender pelo caminho.
“Tudo, tudo [entendem?] posso nAquele e somente nEle que me dá a força”.
De Giussani eu herdei esta certeza de pedra, e peço a Nossa Senhora que me ajude a levar esta certeza até o túmulo, porque, por menos do que isso, não vale a pena respirar.
Bom Natal.
P.S.: Por favor, para entenderem ainda mais, leiam na Bíblia Eclo 38, 1-14. Boa meditação, senhores experts da mente.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cartas do P.e Aldo 121

Asunción, 29 de novembro de 2009.

Caros amigos,
perdoem-me se os incomodo retornando a um assunto sobre o qual já lhes havia pedido ajuda, em nome da Divina Providência. Mas, como vocês sabem, eu sou um mendigo de Deus, aquele Deus que se fez carne em Jesus: e Jesus vive, como nos recorda o capítulo 25 de Mateus, também nos pobres mais pobres como são os meus filhos. Jesus é cada um deles e, por isso, três vezes ao dia, eu me ajoelho diante de cada um deles, em adoração. Que belo: cada um é Jesus.
Vocês entendem qual é a graça que Jesus me dá? Ontem, acolhi um rapazinho de rua com um tumor de um quilo no pescoço, metástase generalizada e, além do mais, drogadicto. Eu o olhei, me ajoelhei... quanta dor, desde seu nascimento na rua. “Padre, que bonito que é aqui”, ele me disse.
Hoje, o Conselho Econômico me disse: “Padre, precisamos de 90 mil euros até o dia 31 de dezembro, para conseguir pagar aos 150 que trabalham aqui (novembro, dezembro, décimo terceiro, mais as despesas usuais)”. “Não se preocupem: eu sou as mãos, os pés, a língua da Providência... mas é Ela que resolve tudo. Então, rezem e fiquem certos de que, até o dia 31 de dezembro, tudo estará resolvido”.
Por isso, me permito pedir-lhes, para o Natal, que se recordem dos meus filhos. Vocês são tantos, e todos juntos permitiremos à Mãe da Divina Providência resolver a questão. Cada leito da clínica custa, para nós, 2.500 euros por mês, ou seja, 83 euros por dia. Os leitos, atualmente, são 27; de forma que, a cada mês, precisamos de 63.500 euros. Há cinco anos, Jesus e Maria têm, sempre e pontualmente, resolvido tudo. E este é o custo da Clínica, sem falar nas cazinhas para os idosos – que são duas, cujo custo mensal é de 7 mil euros ao todo – e a Casinha de Belém, cujo custo mensal é de 6 mil euros.
Assim, confio em cada um de vocês. E lembro-lhes de que a revista “Tempi”, no Natal, vai distribuir um DVD filmado pelo maior e mais famoso jornalista daqui, Humberto Rubin, que, depois de ter visitado a Clínica (lembrem-se de que ele é judeu e agnóstico), me disse chorando: “Se o que eu vi é Deus, então eu também posso acreditar”. Peço-lhes que comprem este DVD, porque, no seu dramático realismo, diz um pouco do que se vive aqui.
Recordo-lhe o número de minha conta corrente:
Trento Antonio
UNICREDIT BANCA – Filiale di Fonzaso (Belluno)
Codice IBAN : IT14Z0200861120000004701742
Bom Natal!
Padre Aldo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cartas do P.e Aldo 112

Asunción, 12 de outubro de 2009.

Caros amigos,
o Movimento nos ensina a olhar para a realidade, obedecer a ela, levar a sério o próprio coração, partir do dado objetivo, da história tal como se desenvolve. Por exemplo, nenhum de nós, há um ano atrás, poderia imaginar as coisas que o Carrón nos vem dizendo: "olhem para as testemunhas". Tanto menos poderíamos imaginar o que este olhar geraria. Para nós, significou uma mudança radical na compreensão dos relacionamentos, no olhar para as obras feitas exclusivamente pela Providência, no modo de compreender e obedecer à realidade.
Dizíamos – Marcos, Cleuza e eu: há um ano atrás, nós nem nos conhecíamos, e hoje não existe, para mim, meus sacerdotes e todos os que trabalham aqui (que são quase 150 pessoas), uma amizade mais cheia de autoridade do que esta. Uma amizade operativa que começou a fundar as bases de um novo modo de compreender esta obra, um modo onde não apenas o assistencialismo desapareceu, mas está nascendo um novo sujeito ativo, responsável e protagonista daquilo que a Providência está criando nos últimos 5 anos.
Um dos frutos operativos é também a nova amizade com alguns bio-engenheiros de Buenos Aires, do Grupo Adulto e do Movimento, que, gratuitamente, vêm a cada 15 dias (eles assumiram a responsabilidade da obra e também estão trabalhando nos hospitais “São João de Deus”) e pediram para colaborar mais de perto conosco, dizendo que nos ajudariam no campo científico e nós os ajudaríamos a redescobrir o carisma original. Obedecer aos fatos é a única inteligencia que nos é pedida. Nunca partir de um “a priori”. É como afirmou Alexis Carrel. Uma outra novidade é que acabamos criando um lugar de verificação… onde todos os pedidos de coração grande para virem nos ajudar encontram espaço. A nossa casa é uma grande e bela experiencia de amizade, a continuidade daquele abraço de dom Gius, que mudou a minha vida. Temos também, nesse momento, duas pessoas de Barcelona empenhadas com a clínica e com a Casinha de Belém; uma alemã, amiga dos nossos de Friburgo etc. Irma, a enfermeira de Barcelona, que já esteve aqui por dois meses, voltou para permanecer por um ano, porque “aqui reencontrou a Cristo”.
Assim, sendo que são muitos os pedidos (somente para vir trabalhar… porém), pedimos a Andréa Pompa, a responsável pelas relações públicas, que se tornasse o único ponto de referencia para todos aqueles que, por um motivo ou por outro, pedem para vir até aqui. Obviamente, isto vale para a Europa e para os EUA. Depois, os respectivos diretivos da Fundação decidirão segundo as exigencias. A última palavra caberá a nós, padres, junto ao diretivo responsável pela Fundação São Rafael. Para cá só se vem para trabalhar e para aprender um olhar sobre a vida, como repete sempre a Cleuza: “Nós viemos até aqui para encontrar este olhar, para nos fortalecermos na fé, para fazer, depois, um trabalho pessoal como nos pede o Carrón”. O mesmo motivo pelo qual eu vou a cada mês (ou mais) ao Brasil, para estar com eles.
Uma coisa importante para aqueles que vêm: obedecer e seguir o responsável de uma obra ou das obras. Aqui, se segue um projeto educativo unitário e claro, de forma que tudo, mesmo um presente, deve passar através deste método educativo.
O email de Andréa Pompa é sanrafael.andrea@gmail.com.
Obrigados de coração,
os Padres da Comunidade

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cartas do P.e Aldo 96





Asunción, 04 de agosto de 2009.

Caros amigos,
Ontem, segunda-feira, depois de 15 dias muito intensos (entre sábado e ontem, segunda, nove Santas Missas, sem contar o resto) e dolorosos para mim, que vi morrerem, em 8 dias, dez dos meus filhos, todos jovens se comparados a mim, peguei o avião e fui ver os Zerbini, em São Paulo. Ida e volta no mesmo dia: 4 horas de voo mais o tempo nos aeroportos. Com eles, fiquei 4 horas – das 16h, quando cheguei, às 20h45, para correr para o aeroporto.
Na casa da Cleuza, nos encontramos todos os amigos da nossa fraternidade. O tema: “como experimentamos a correspondência nestes últimos dias? Exemplos, fatos, perguntas, provocações...”. Foi muito bonito: nenhum discurso, mesmo porque a maioria de nós não é intelectual, mas gente de luta, que se levanta às 5h e vai dormir à meia-noite, inclusive nos domingos. Duas horas de Paraíso – para mim, de repouso – mesmo porque, em Asunción, eu estou sozinho há 15 dias, já que os outros padres estão na Itália. Que bela esta fraternidade na qual, como se diz, nunca se fala do “sexo dos anjos”, nem se repetem frases... já vivemos no país dos belíssimos papagaios tropicais.
Missa e janta. Todas as semanas é assim: a segunda-feira é sagrada e, das 16h às 23h, os meus amigos ficam juntos... e ficariam muito mais... mas, uma amizade é verdadeira quando nos lança dentro do mundo para gritar a alegria de ser de Cristo.
Depois, tive que correr, porque estava quase perdendo o horário do voo, e Marcos e Cleuza – sim ou sim – quiseram me acompanhar. Chegar ao aeroporto foi uma aventura, e peguei o avião quando o check-point já estava fechado e o voo já estava para partir... mas, a Providência...
Cheguei à 1h da manhã e, às 4h, morreu uma filha minha de 20 anos, doente de AIDS, por parada cardiorespiratória. Depois, escreverei contando quem era... mas, morreu como um anjo.
Mando-lhes a foto da belíssima Glória, de 27 anos, que tem metástase. Hoje de manhã, quando entrei no seu quarto, ela me disse: “estou muito bem”... e, outro dia, quando chegou, queria se suicidar.
O problema, amigos, é a fé e a compaixão de que nos fala Jesus.
Olhem para os últimos chegados à Casinha de Belém: Marta, de 15 anos, e a sua filhinha Lucia, de dois meses, 2 kg, sem olhos, sem nariz e um rostinho de camundongo. Que bela! Marta, todos os dias, me diz, orgulhosa: “Venha ver a minha filhinha!”.
Também Rosa, de 17 anos, com metástase, sem uma perna (amputada por causa do câncer). É feliz, quer estar sempre com as crianças... toma morfina. E, finalmente, o último chegado: Marco, de 4 anos, cuja mãe o teve com 13 anos de idade. Tem uma voz super bonita, como a dos anjos. Domingo, quando veio à Missa com meus outros 24 filhos, gritou, do fundo da Igreja, apontando o dedo em minha direção: “Papi! Papi!”.
Amigos, vocês estão de férias, mas creio que eu estou mais de férias do que vocês, com toda esta graça de Deus e com esta recarga de fé e de amigos que sempre me recolocam no ponto outra vez: “eu sou Tu que me fazes”.
Um abraço
Padre Aldo

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cartas do P.e Aldo 95




Assunción, 25 de julho de 2009.

Caros amigos,
eis os dois últimos filhos que a Providência me mandou:
1. Lúcia: tem dois meses e pesa dois quilos. Tem hidrocefalia, é cega, não tem nariz, respira pela boca e come com a sonda. É dramático olhá-la, mas é uma bela hóstia branca. Geme, mexe as mãozinhas. Com ela, Jesus me deu de presente também a mãe, que tem 15 anos. Vou poupar vocês da história.
2. Marco: tem quatro anos. A mãe o teve quando tinha 13 anos de idade. Agora, ela tem 17. Ela o deixou aqui, assinou um documento e foi embora. Marco não teve a oportunidade nem mesmo de dizer adeus para ela. Pobre menino. Não sabe nem mesmo fazer as suas necessidades. Onde quer que esteja, abaixa as calças e... hoje, mamãe Cristina já o ensinou a usar o banheiro. Mas, o amor faz tudo. Os 23 irmãozinhos estão felizes com os novos chegados.
Na casa para os velhinhos abandonados, acolhemos, da rua, três Jesus... e não lhes digo em que condições. Um deles tem problemas psiquiátricos, mas também ele é Jesus. Outro, é um Jesus sem pernas. E o outro é um Jesus com uma perna só.
Como vocês podem ver, cada circunstância é, de fato, bela porque me faz viver aquilo que o Carrón nos repete sempre: “eu sou Tu que me fazes”. Sou, de verdade, um preferido de Jesus... e sou humildemente grato e feliz por isso, como todos estes meus filhos.
Ontem à noite, o Vice-Presidente da República desejou festejar o seu aniversário com uma missa na clínica. Tinha os olhos cheios d’água, e quando escutou o testemunho de Fabiana – uma jovem de 19 anos que tem AIDS, chorou. No fim, conseguiu apenas dizer: “obrigado”. Um nó na garganta o impediu de falar.
Sou, de verdade, amigo desse tipo de pessoas, porque quem não se comove diante do real é apenas cúmplice. Agradeço a Deus e a Nossa Senhora por esta graça.
O Núncio Apostólico veio visitar a nova clínica. Ele é o expoente máximo dos estudos em arquitetura do Abruzzo. Ficou comovido e feliz ao ver esta obra de arte, toda feita de pedra “sillar” – a mesma usada pelos jesuítas para edificar as Reduções. Um grupo de escultores trabalha desde maio de 2008 com um martelo e uma ponta de ferro, como no tempo dos jesuítas e na Idade Média.
Finalmente, uma notícia espetacular: Sotoo, o escultor da Sagrada Família de Gaudì, decidiu ajudar-nos na parte final da Clínica, comentando a frase de São Paulo – “A natureza mesma geme as dores do parto, esperando a ressurreição do Filho de Deus”. E, além do mais, nos deu de presente o projeto.
Como vocês podem ver, o problema é apenas um – não dinheiro que tanto preocupa as economias e os economistas: a fé total na Divina Providência... Quando é que nos convenceremos disso?
Alguns me perguntam: se você morrer (o que é certo...) quem desejaria que levasse a frente esta obra? Resposta: 1) Este é um problema de Deus, porque Ele é o único protagonista; 2) quem me sucede – sim ou sim – deve ser uma pessoa para quem Cristo é tudo... e Jesus já me está indicando alguém assim. Não posso nem mesmo hipotetizar que seja alguém para quem a única preocupação não seja a santidade... em suma, um santo, assim como Giussani o entende; 3) e alguém que tenha uma confiança “cega”, totalizante, na Providência Divina, alguém que não tenha nem uma sombra de dúvida quanto aquilo que Carrón nos lembra, citando o Evangelho: “mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados”. Em uma palavra: um santo será sempre também um economista; enquanto que nem sempre um economista é um santo. Mais claro do que isso é a morte.
P.e Aldo