Asunción, 26 de janeiro de 2010.
Caros amigos,
Sou, cada dia, mais comovido e grato porque “toco com as mãos” o significado das palavras de Carrón, quando diz que basta dizer “sim” ao Mistério, basta “olhar no rosto a Jesus”.
É tarde, enquanto lhes escrevo, mas não posso não comunicar aos amigos que o meu “sim” a Cristo me enche de letícia. Estou cheio de letícia, no meio da escuridão que frequentemente me envolve e na qual a minha emoção distraída é absorvida por aquele “Tu que me fazes”. Que ternura olhar para a própria humanidade com os olhos daquele Tu que é infinitamente mais potente do que a minha imaginação, que os meus fantasmas, que as minhas condições de saúde. “Tu, ó meu Deus”. Tu, ó meu Cristo,que me dás tudo, tudo o que vivo é para a Tua glória. Como um homem pode duvidar da Sua Presença? Todas A gritam.
Esta noite, na pizzaria, enquanto comia com Sérgio Franco, um amigo que leva para frente a obra de Deus que é o novo hospital, vi dois amigos na mesa da frente. Algumas piadas e, depois, rindo, digo a eles: “A Providência tem necessidade das nossas mãos e da nossa carteira...!”. E eles riram. Estava saindo da pizzaria, quando eles me chamaram e me disseram: “Padre, compramos uma Mercedes-Benz conversível de duas portas, rodamos 300 km, mas, para nós, altos e gordos, ela se mostrou muito incômoda. Decidimos dá-la de presente para você, para que faça um sorteio e use o dinheiro arrecadado para o novo hospital. Na próxima terça-feira, a traremos para o senhor”.
Os amigos não acreditavam no que estavam escutando... mesmo porque, vindo aqui, frequentemente escutam continuamente como a Providência opera. Não poderia mais viver se não fosse para gritar a todos que o problema é apenas um: dizer “sim” a Cristo. Uma obra ou nasce desse “sim” radical a Cristo ou não nasce e, se nasce sem esta consciência, a pessoa pode ser o “bocconiano” mais famoso que exista, mas não consegue avançar, não cresce. Vocês sabem como me dói quando ouço falarem de economia, entre nós, como se Cristo não tivesse nada que ver com ela. Fazem projetos, mas não nascem da comoção por dizer “Tu, ó meu Deus”. Por isso, falem os projetos e nós junto. Tudo é para a glória de Cristo ou é inútil. Constrói-se apenas se se está apaixonado por Deus.
Conto-lhes um fato: na paróquia, existem algumas pequenas empresas criadas pelos jovens, educados, dia após dia, a olhar para Cristo, única resposta à sua necessidade humana e também econômica. A pizzaria é gerida por 4 moças, que no passado estavam em condições humanas terríveis e pensavam em ir para a Espanha. O amor a Deus, sustentado por nós, fez com que criassem uma sociedade para gerir a pizzaria. Não foi fácil, mas a educação, essencial, que está na raiz da economia e que é a Divina Providência, deu frutos impressionantes. No ano de 2009 a pizzaria rendeu 600 milhões de guaranis, uma cifra astronômica para este país. E, como o Senhor da pizzaria, bem como todas as obras profit e as de caridade, é a Divina Providência, é também Ela que ditou o modo com o qual se administra o dinheiro. E se administra assim: daquilo que, a cada mês, se lucra, uma parte é para o salário (muito bom) das gerentes (que são aquelas 4 moças que trabalham), uma parte é usada para pagar todas as despesas etc. Do líquido, 40% é para elas e 60% é para a clínica. Assim, este ano, elas deram para a clínica a quantia de 120 milhões de guaranis. E o mesmo acontece com as outras obras, ainda que em escala menor. Dizer “sim” a Deus, olhar Deus no rosto, é também gerir assim uma empresa. Mas isto não seria possível sem a Escola de Comunidade semanal que faço com elas na pizzaria. Outro dia, na Escola de Comunidade, pedi o menu. Olhei para ele e lhes disse: “O ‘sim’ de vocês a Deus é frágil, porque vejo que está faltando a lista dos doces, e é insuficiente a lista de vinhos e cervejas etc.”. Olhar Deus no rosto é a possibilidade para olhar a realidade em 360º.
Enfim, um último exemplo. Na reunião com os médicos do hospital, eu lhes disse: “Mas, para que serve um hospital, visto que estamos terminando de construir o novo com 48 leitos? Para uma coisa apenas: para que vocês e os nossos doentes terminais possam dizer ‘eu sou Tu que me fazes’, possam e possamos entrar em uma familiaridade total com Deus. Mas, se um médico não ajuda o homem a descobrir que ele é relação com o Mistério, por que se tornou médico? Sem esta posição, enganamos o homem, iludindo-o de que viverá 10, 20, 30, 50 anos mais... e depois? Para que serve adiar em alguns anos a morte, se depois não há nada? Não encontram o rosto do Mistério? Eis a questão: ou o novo hospital serve, como este, para que nós e os nossos doentes possam dizer ‘Tu, ó meu Cristo’, ou é melhor que fique como está, ou seja, em construção, sem que se termine a obra. Nós estamos junto com os nossos doentes apenas para ajudá-los a olhar no rosto a Jesus. Se não fosse por isso, seríamos sádicos miseráveis... por que todos os nossos cuidados paliativos? Amigos, aqui, ou somos desejosos, tendidos ao Mistério, ou é melhor fechar, porque o que me interessa é que todos possam dizer, sãos ou doentes, ‘para mim, viver é Cristo’. Agradeço a vocês, porque vejo nos seus olhos (os pacientes testemunham isso) uma familiaridade com Cristo”.
Talvez eu os tenha cansado, amigos, mas não poderia não lhes contar a alegria do meu pobre “sim” cotidiano a Cristo. E me surpreendo até as lágrimas ver o que Deus fez e está fazendo com este asno, com este pobre homem, que tem necessidade também de alguns medicamentos para conseguir repousar, com este ‘ninguém’ que Deus escolheu para mostrar a Sua misericórdia e a Sua Providência.
Confio-me às orações de todos vocês, para que Jesus me faça totalmente Seu. Desejo, grito apenas por isso. E digam a Nossa Senhora que nos dê uma mão para que o meu olhar esteja todo ali: “Tu, meu Deus”. Eu rezo por vocês, para que possam saborear a doçura de Jesus e possam comunicá-la a todos. “Jesus dulcis memoria”: que beleza, tudo está contido aqui.
Padre Aldo.
P.S.: hoje, chegou o pessoal da Mercedes-Benz e me disse: “Padre, lhe dou um cheque de 58 mil dólares... e, assim, lhe tiro a dor de cabeça do sorteio”. Amigos, a crise econômica é a crise da razão e da fé. Enfim, para quem quiser saber o valor do câmbio dólar/guarani é: 1 dólar vale 4.600 guaranis. E, enquanto isso, a clínica segue o seu paciente caminho, porque Deus sabe que eu tenho 63 anos e não corro mais como há 20 anos. Mas é espetacular que, dia após dia, Ele me dá o necessário.
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