quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 133

Asunción, 27 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Quantas vezes Giussani nos repetiu que o Movimento é uma amizade, uma companhia guiada ao destino... e assim Carrón define também: “rostos tendidos ao Infinito”. A graça de experimentar todo dia esta verdade está na origem de um Acontecimento que nunca havia ocorrido antes na América Latina: 900 pessoas do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Equador se encontraram para compartilhar juntos um gesto simples como são as férias de verão. A tarefa de descrevê-las vou deixar a outros, porém, cabe a mim o desejo de compartilhar com vocês algumas coisas:
1. Na origem deste fato que derrubou todas as fronteiras do continente foi o levar a sério a amizade, as provocações de Carrón. Deste trabalho desabrochou uma amizade operativa, concreta, apaixonada, entre alguns de nós: Marcos, Cleuza, Julián de la Morena, eu e outros. Quando Carrón, em outubro de 2008, nos disse que precisábamos olhar para algumas pessoas e lugares, Marcos e Cleuza foram os primeiros a pegar o avião e vir até aquí, surpreendendo-me porque eu não me havia dado conta ainda do que estava acontecendo. Desde aquele dia – 17 de novembro de 2008 – o olhar, para mim, cruzou com Marcos e Cleuza (Julián de la Morena já era um velho conhecido e amigo)... também eles definidos por aquele “Tu” que nos faz em cada momento. É isso: tudo partiu de uma dramaticidade que, em cada instante, nos faz vibrar com uma febre de vida que se tornou um imã que nos permite nos vermos a cada 15 dias. Para fazer o quê? Para contarmos uns para os outros como estamos seguindo a Carrón, os passos que estamos fazendo, as dificuldades que encontramos, as perguntas que a Escola de Comunidade suscita em nós. Uma amizade como a dos apóstolos com Jesus. Vocês sabem que comoção é estar juntos “olhando Jesus no rosto”, sem nunca tirar o olhar dEle?! Percorremos milhares de quilômetros para olhar juntos no rosto de Jesus, para poder dizer-Lhe pessoalmente “Tu, ó meu Cristo”. Trata-se de entrar, cada dia mais, em uma intimidade com Ele, da qual nasceram as férias em Iguaçu, da qual nasce aquele ímpeto que nos leva do México à Argentina, chamados por outros amigos desejosos de dizer “Tu” a Jesus.
2. E, assim, um dia, com Julián de la Morena, nos dissemos: “Por que não propomos o que acontece conosco – esta familiaridade com Deus e tudo o que vivemos – para o continente? Nunca podíamos esperar 900 pessoas... sem contar aquelas que, de cada país, quiseram vir, mas não puderam por causa da distância e do custo. Somos um grupo de amigos que dizem aos outros: “Vinde e vede”; como, naquele dia, no rio Jordão, um grupinho de amigos desejosos de compartilhar o significado do “olhar Jesus no rosto”, dizer-Lhe “Tu, ó meu Cristo”. E assim aconteceu o milagre.
3. O milagre de fazer juntos o percurso do conhecimento, da fé, trabalhando sobre a mensagem de Natal de Carrón. Trabalhar significa verificar também dentro da confusão (não faltavam nunca... e, depois, estávamos na América Latina!) o que significa fazer experiência, prestar contas com a realidade (900 pessoas... 40º, clima tropical, com o ar condicionado que mal funcionava), olhar a nossa humanidade com simpatia, saborear a beleza da liberdade etc. É um trabalho, não algo confeccionado. Provocações contínuas e não respostas imediatas e baratas. Tratava-se de fazer o percurso em primeira pessoa, em cada coisa. Gestos essenciais e o cotidiano continuamente verificado com o coração.
4. A maravilha com a qual cada um voltou para casa: “Finalmente o nosso coração vibrou como há vinte anos, quando dom Giussani vinha à América Latina. Aquele que era, para nós, um velho desejo, um sonho, tornou-se realidade”. Não mais latino-americano como coração, como identidade, mas Ele. Quem poderia imaginar colocar os argentinos junto com o resto??? Só um Acontecimento que nos arrastou a todos. Hoje, o continente é uma febre de vida... São homens que se deslocam... tornamo-nos como os pastores, como os Magos naquele dia. De fato, as cascatas do Iguaçu, belíssimas, foram como que uma gota d’água se comparadas com tudo o que aconteceu. Voltamos para casa certos de que podemos finalmente tratar o Mistério como um “Tu” e, por isso, não mais pequenas ilhas, mas uma grande companhia com os olhos escancarados para o Infinito. Pessoalmente, fiquei comovido, porque “toco com a mão”, a cada dia, o fato que, quando o coração é de Cristo, a vida ressurge. E bastam quatro amigos apaixonados por Jesus para que aconteça um “terremoto”, mas um terremoto que vira de cabeça para baixo a vida, como aquele dia, nas margens do Jordão, quando João e André encontraram Jesus. E, além do mais, a novidade, graças a Carrón, de experimentar que o Movimento não é um “club” que faz gestos, iniciativas, obedece a um chefe, mas a liberdade do “eu” que, tocada e comovida por uma ternura, por um olhar, começa a olhar no rosto o Mistério. Assim, agora vejo realizado o meu desejo: também os meus doentes de AIDS, homossexuais ou travestis, os meus velhinhos e as crianças são movimiento. Não somos mais apenas eu e eles. “Agora – me dizem –, o que você vive é possível também para nós, que não podemos participar de nenhum gesto, que não podemos pagar o dízimo, que não podemos nunca tirar férias... Também para nós que fizemos muita porcaria, para nós cujo fim é próximo”. Meu Deus, precisei esperar quase 40 anos para entender, graças a Carrón, que este é o Movimento, como sempre Giussani (com o seu olhar aberto a 360º e o seu abraço) nos educou a vivê-lo. Vocês entendem que, talvez, tenhamos feito do Movimento um club? Agora – que belo! – os 100 mil de Marcos e Cleuza, as minhas crianças, os meus doentes, os meus mendigos, os meus moribundos finalmente descobrimos ser um corpo vivo, um Movimento! Não apenas, mas os políticos, o Vice-Presidente (agora, da família), centenas de pessoas ricas e pobres, os “Zaqueus”, as prostitutas (como no tempo de Jesus), são uma grande família comovida e que diz: “Mas, aquilo que Carrón escreve e diz é o que o nosso coração desejava e buscava”. Por isso, trago dentro de mim a certeza que, se uma obra, um hospital (por exemplo) não existe para nutrir o coração do homem, é melhor fechá-lo, porque o fim do hospital é que o homem possa dizer “Tu, ó Cristo”. E isto depende de mim, porque a graça opera sempre. Mas, se para mim – médico, padre, enfermeiro ou quem quer que eu seja – a familiaridade com Cristo é morna (e isto é possível ver), por que fazer um hospital? Para iludir as pessoas, postergando a morte alguns anos. Um hospital serve apenas se um homem que trabalha nele ou está internado nele tem a graça de poder dizer “Tu, ó meu Cristo”. No meu hospital chega de tudo. Agora, há um homem N.N. (nomen nescio = nome desconhecido; ndt), mas também a ele foi dada a graça de dizer “Tu, ó meu Cristo”. Não fala, tem os olhos perdidos no vazio e, assim, conferi-lhe o batismo sob condição. Mas, depois, tem os que se casam, os que recebem os sacramentos, quem volta para a fé católica. Há uma bela doutora menonita (adepta do Menonismo, doutrina anabatista fundada por Meno Simonis, no século XVI; ndt), de nome Angélica, que está participando da Missa. Ou seja, tudo é estruturado para que a liberdade diga “Tu, ó meu Cristo”. Milagre do diretor de saúde: “O Santíssimo Sacramento exposto trabalha 24 horas por dia”. É apenas uma questão de fé, mas de um fé que nos leve a dizer a uma árvore “arranca-te daí e planta-te no mar”. É tudo uma questão de fé, um grãozinho de fé, como disse Jesus no Evangelho. Pensem que Cleuza se comprometeu a falar de Jesus a pelo menos 10 pessoas por dia. Tentemos também nós.
Padre Aldo

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