quinta-feira, 17 de março de 2011

Pequeno guia para ter vontade de estudar


Por Luigi Ballerini

Interesse é um lema, ou melhor, uma questão que aparece frequentemente nas páginas deste jornal, na seção Educação. Recentemente, inclusive, com os artigos de Foppa Pedretti e de Francesco Valenti, que trouxeram à tona este tema de novo.
É uma questão que me preocupa muito, não bastasse tão somente a frequência com a qual escuto das pessoas que vêm me procurar coisas como: não me interessa, na variante fornecida pelo jovem ou não lhe interessa na lamentação dos pais. Comumente também esta última ainda mais radical e preditivamente definitiva: não lhe interessa nada!
Eu seria tentado a discutir a variante do adulto, que tão frequentemente está viciada pela falta de reconhecimento da realidade objetiva: não existe jovem algum a quem, de verdade, nada interesse, a menos que já viva o grave arrastar-se em direção a um estado catatônico. O mais comum mesmo é que o problema está no fato que seus interesses são diferentes daqueles que escolhemos nós, daqueles que desejamos para ele. É uma questão que se refere ao jovem ideal que, como adultos, temos na cabeça, que nos torna incapazes de olhar para o jovem real e partir dele. Talvez partir exatamente daquele seu único interesse que nunca devemos desprezar ou desencorajar, a menos que não lhe acarrete danos, mas que, pelo contrário, deve ser estimado simplesmente pelo fato de existir.
Neste contexto, sou obrigado a enfrentar o tema segundo uma perspectiva mais ampla. Gostaria de observar como a questão do interesse é, em geral, tratada a partir de um erro geral, que envolve adultos e jovens. Antes, primeiro os mais velhos.
Todos vivemos em meio a uma estranha crença, segundo a qual o interesse se gera sozinho. Seria, de fato, algo de indefinido, uma espécie de frisson da alma que, nos exortando por dentro, nos tornaria capazes de vontade, empenho e dedicação no perseguir um dado fim ou seguir uma certa estrada. Há aqueles que pendem mais para o lado sentimental, acreditando que seja uma emoção ou um arrepio interno; e há quem penda para um lado mais racional, considerando-o uma espécie de pura decisão do eu.
O erro comum é pensar que antes exista (ou chegue) o interesse e, depois, segue-se (quase que mecanicamente) o empenho com o objeto, de forma que a matéria de estudo escolar é entendida tão somente como uma das possíveis aplicações, ainda que seja ela aquela sobre a qual se tem maior tendência de se fixar. O interesse, pelo contrário, não se autodetermina, não nasce por abiogênese ou por geração espontânea. O interesse é sempre suscitado, solicitado pelo real.
Disso nasce a reviravolta que nos permite ajudar os jovens: não é porque a história interessa que se começa a estudá-la, mas ela interessará na medida em que começar a estudá-la. Verificada a correspondência que ela tem com você, por exemplo na sua capacidade de se permitir conexões, na sua utilidade para compreender o presente, no suscitar ideias novas.
Mesmo aqui não há nada de automático. Restarão ainda seguramente coisas menos correspondentes, menos fascinantes, mas só serão assim na medida do juízo do sujeito, não na medida de um preconceito. Consideremos, todavia, que tanto mais um sujeito está bem, tanto mais é potencialmente interessado por tudo.
Por isto, diante de uma certa apatia de um jovem – da qual nunca devemos nos resignar, resolvendo-a como um mal necessário da idade, sem nos perguntarmos sobre as suas reais motivações – é preciso intervir, fornecendo um suplemento de energia: comece a trabalhar! Mesmo se aquilo que você tem que enfrentar lhe pareça imediatamente distante de você. Depois, me diga... O convite não é ao empenho por causa de uma obediência genérica ou por mera obrigação, mas para experimentar a existência ou não de um ganho, de um suplemento.
O conceito de interesse que, pessoalmente, me preocupa é muito próximo daquele que tenho como correntista bancário: aplico o que é meu, ou seja, invisto, para obter algo a mais. E alguns casos – e sabemos que vale também para alguns investimentos financeiros – mesmo não previsíveis ou não predetermináveis no início.
Somente há muito pouco tempo é que comecei a entender um dito que eu usava na sua conotação mais negativa: vem ni mim vontade de estudar. Recentemente, descobri que essa pode ser a esperança para um jovem saudável, porque acontece exatamente assim: a vontade de estudar (mas também a de trabalhar, a de amar, a de se empenhar socialmente, a de assistir a um filme), no início, salta sobre nós, chega de outra coisa, representa o convite que o real – com tudo o que o constitui – me faz. Não nasce in primis de dentro, do meu esforço coerente ou teimoso.
Depois, certamente, caberá a mim prosseguir, mas nesse caso, o meu interesse – do qual derivam o empenho e a dedicação – será a forma que assume o desejo do repetir-se de uma experiência satisfatória, uma experiência de ganho pessoal.
Então, dizer me interessa raramente é um dado de partida. É muito mais um acontecimento, no sentido de que acontece. E além do mais o é na medida em que é um convite, aos treze ou aos cinquenta anos de idade.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 15 de março de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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