sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

É o conhecimento – e não o saber-fazer – que está no coração do risco educativo


Por Francesco Valenti

No debate sobre os resultados do aprendizado dos estudantes italianos e sobre a definição do sistema escolar do futuro, um elemento muitas vezes esquecido é o papel que o conhecimento deve assumir na organização geral da escola, inclusive para retomar com mais decisão um caminho virtuoso e favorecer melhores resultados. No atual ambiente cultural, porém, afirma-se a necessidade de se instruir com um pouco de noções tradicionais, mas construindo a escola em torno de critérios que, substancialmente, desvalorizem o momento cognoscitivo.
Estabeleceu-se, de fato, a convicção segundo a qual é preciso ensinar apenas saberes (lembre-se, no plural), habilidades e competências úteis para exercer um papel no mundo. E assim, como afirma Giorgio Chiosso, “ao mestre regulador de sabedoria – [...] ou seja, de saber que dá gosto e sentido para as coisas – se substitui o professor que fornece as competências necessárias para completar um ciclo de estudos, ou para assumir para si uma técnica útil no plano profissional ou, ainda, que é um simples companheiro de viagem que intervém quando o estudante, responsável por formar-se a si mesmo, solicita, por exemplo, através das intermináveis navegações na web”.
Fique dito, porém, que o enfoque de uma escola será muito diferente se ela for fundada sobre uma técnica funcional ao saber-fazer ou se for fundada sobre o conhecimento. Para se ter um exemplo: o papel de um professor é diferente se ele auxilia nos momentos de auto-aprendizagem, ou se ele propõe dados e métodos das disciplinas; diferente também é ter notícias acerca de muitas coisas ou conhecer, pensar e estabelecer nexos; diferente é uma escola organizada por âmbitos ou por classes; diferente é a relevância dada às disciplinas escolares, ao enfoque dos espaços de uma escola ou do momento de aula, e assim por diante.
O conhecimento conta na medida em que é levado a sério, na medida em que nós mesmos – como escreveu Rémi Brague – “somos o nosso conhecimento” e buscamos aquela verdade que “significa mais do que saber: o conhecimento da verdade tem como objetivo o conhecimento do bem. Este também é o sentido do interrogar-se socrático: qual é aquele bem que nos torna verdadeiros?” (da Alocução de Bento XVI que deveria ter sido pronunciada na Universidade La Sapienza, em Roma).
O conhecimento pode assumir particular relevância na escola, porque ali se desenrola um momento indispensável e particular da aventura cognoscitiva, segundo a dinâmica de introdução à realidade total que lhe é própria. O conhecimento nasce da evidência das coisas, do se dar conta da realidade, como centelha e possibilidade de que a razão se coloque à prova, indagando o mundo. Às infinitas perguntas que surgem, o conhecimento pede respostas, busca o por quê na aparência e na substância das coisas, abre-se aos inteligíveis.
O conhecimento nunca é um processo completamente separado da relação com a realidade e com a história cultural de um povo. É disto que se encarrega um professor durante a aula, quando convoca os alunos ao ser e ao existir das coisas, junto à sua cognoscibilidade racional. Ele faz conhecer as coisas e revela na consciência de todos os estudantes o surpreendente acontecer delas, carregado de um significado inteligível.
Acontece assim que à crise do conhecimento – nos termos que acenamos acima, como fator não secundário da conclamada crise escolar e educativa – responde, já há tempos, a presença de professores e de escolas que não esperam, para existirem e agirem bem, nem reconhecimentos, nem favores, nem reorganizações e reformas próximas ou futuras. Acerca desses temas é que se dedicará o Congresso “O conhecimento na escola”, que a Associação Cultural Educar é um risco e a Fundação para a Subsidiariedade estão organizando e acontecerá no próximo sábado, dia 19 de fevereiro, na Universidade Católica de Milão.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 18 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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