Asunción, 26 de janeiro de 2009.
Caros amigos,
A boca fala daquilo de que é cheio o coração. E, de fato, trago o coração transbordante de alegria depois da experiência com os Zerbini, com Alexandre e Carlos do Grupo Adulto (o primeiro de São Paulo e o segundo do Rio de Janeiro), dois médicos excepcionais que foram embora me dizendo: “vimos o Paraíso... e, se dependesse de nós, viríamos para cá para trabalhar”. Alexandre, pediatra, e superior da casa de São Paulo é o médico que encontrou os Zerbini; Carlos é ginecologista e professor universitário no Rio de Janeiro.
Cleuza e Marcos ficaram também com desejo de voltar e voltarão em maio próximo, porque descobriram que o Movimento (refere-se ao Movimento Comunhão e Libertação; ndt) é para todos. Viram o Vice-Presidente da República rezar e almoçar conosco; viram um travesti, doente de AIDS, fazer sua primeira comunhão; viram mendigos pedindo comida e vindo dormir na paróquia; viram velhos abandonados morando numa casa; viram crianças doentes de AIDS ou violentadas ou vítimas de todo tipo de violência tendo uma família. “Vimos que o movimento é para todos. Estamos felizes e nos sentimos confortados”.
Imaginem como eu estou... eu que vejo este povo a cada dia, “sujeito”, protagonista de tudo, da economia à assistência... que amor é esse! É, de fato, o início da nova evangelização, um relacionamento novo entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos... o início do fim do assistencialismo.
Ver como 38 pessoas – a maioria universitários de São Paulo e do Rio, muitos deles empenhados com os Zerbinis – fizeram cerca de 3 mil quilômetros para verem a clínica, a Redução de São Rafael e para estarem, por três dias, diante deste Acontecimento com os mesmos olhos de Marcelino (refere-se a Marcelino, personagem do filme “Marcelino, pão e vinho”, de Lasdislao Vajda; ndt), é mesmo algo desconcertante.
Domingo passado, juntos com o padre Julián de la Morena (da São Carlos e responsável, com Alexandre, pelo CLU de São Paulo), celebramos a Santa Missa na clínica. Nela, aconteceu a crisma de Celeste e a primeira comunhão de Ruben (antes Jéssica) que, apenas entrado na clínica, desejou ser reconhecido como um homem e não como uma mulher. Não consigo descrever tudo o que aconteceu.
Por três dias visitaram tudo e todos os detalhes, perguntando e sendo perguntados sobre tudo, estabelecendo uma relação de amizade com cada um a fim de crescerem juntos na fé. Nunca vi em ninguém tanta curiosidade, tanta paixão, tanto desejo de aprender. Pareciam crianças diante do pai, isto é, diante dos sinais inconfundíveis da Presença do Mistério.
Ficamos juntos por três dias – umas 18 horas por dia – sem nunca nos cansarmos. Nada de projetos, ou perguntas econômicas ou de gestão, mas apenas a apaixonante comunicação de Cristo, da realidade. Olhando para eles, eu entendia porque, na Idade Média, quando um rei, um chefe, se convertia todo o povo encontrava a fé. É o que está acontecendo com eles e, devagar, também aqui.
Como eu gostaria que Jesus e Nossa Senhora nos dessem aquela humildade da razão de que fala Carrón no texto escrito antes do Natal (refere-se ao texto "O Natal e a esperança", publicado no jornal La Reppublica, do dia 23 de dezembro de 2008; ndt); a humildade para reconhecermos, no que ele indica, os traços inconfundíveis do Mistério presente. Pessoalmente, peço apenas isto a Nossa Senhora e desejo somente esta posição para mim e para os meus amigos.
Agora, eu corro apenas para aqueles lugares onde me é indicada a vida, o sinal presente do Mistério. Com 62 anos de idade, tenho pouco tempo para perder... o tempo se fez breve e estou cansado de discussões, de problemáticas estéreis. Preciso apenas de amigos, de companheiros de caminho que me acompanhem na preparação para o encontro definitivo com Cristo. O futuro me fascina porque é como se, vendo o tempo que corre, eu quisesse chegar à meta tendo gasto cada respiração para que Jesus seja conhecido e amado, conhecido e amado por este povo que, cada dia, cresce em quantidade e em qualidade. Que aventura, amigos! “Sinto um fogo nos meus ossos que não consigo conter”. E, além do mais, tenho a certeza ,mais límpida que o sol, de que tudo o que acontece aqui é da Providência que vem... e Ela se encarrega e se encarregará de levar adiante tudo. Mas, vocês entendem? O que existe aqui não nasceu de mim, mas dEle... e, portanto, são negócios dEle. A mim, a nós, cabe apenas reconhecer e crer nEle. Em suma, esta obra tem necessidade apenas e exclusivamente de santos. Isto é, de pecadores para quem Cristo é tudo – dos cabelos à carteira de dinheiro, passando pela sexualidade, do pensamento à memória, passando pela vontade... passando por tudo, tudo.
Um abraço cheio de Cristo
P.e Aldo
P.S.: Gostaria de acrescentar um belíssimo exemplo do que significa o que Carrón nos tem indicado, quando fala da realidade e da humidade da razão. Nestes dias, tivemos um belíssimo e dramático diálogo entre médicos, falando sobre o pequeno Victor (a criança em estado vegetativo e sem crânio): fazer ou não fazer uma transfusão de sangue. Obviamente, não entro no mérito da questão porque – sou um pobre asno – é o outro o meu papel. A decisão última era de não fazer a transfusão, porque não melhoraria tanto assim a sua condição. Porém, o pediatra da clínica não estava de acordo com a decisão tomada. E, assim, se reabriu a discussão. Deus quis que Alexandre, o amigo dos Zerbini, do Grupo Adulto e pediatra, estivesse aqui. E ele também era da mesma opinião de nosso pediatra. Então, telefonei para o médico responsável, que estava no Brasil, e depois de um longo diálogo, Alexandre me disse: “as razões do médico responsável são razoáveis, não têm sequer um defeito. Ele trabalha com medicina paliativa e é razoável aquilo que diz. Porém, eu sou um pediatra e é inevitável dizer que, se se pode fazer ainda que uma vírgula a mais, eu faria. Porém, repito, o oncologista e sua equipe têm motivações razoáveis nesta discussão”. Mazzotti, o médico responsável pelo setor de oncologia, me telefona outra vez e me diz: “mesmo se fosse meu filho eu não faria a transfusão, porém escutemos o que nos diz o reitor do ‘João Paulo II’, de Roma”... Há dois dias eu já havia mandado a Padre Lívio todo o material necessário, preparado pelo médico responsável, para um juízo definitivo... Nesse meio tempo, Alexandre se encontrou com o nosso pediatra e, juntos, decidiram fazer a transfusão, depois que o médico responsável se disse de acordo com a tentativa desde que se usasse uma via periférica. Fizemos, então, segunda passada, a transfusão e o resultado se demonstrou positivo. Todos ficamos contentes. Porém, a coisa ainda mais bela foi a resposta que, hoje, sábado, pude ler do meu caro amigo Padre Lívio, o reitor da “João Paulo II” e que lhes mostro:
Caro Padre Aldo,
Domingo passado, juntos com o padre Julián de la Morena (da São Carlos e responsável, com Alexandre, pelo CLU de São Paulo), celebramos a Santa Missa na clínica. Nela, aconteceu a crisma de Celeste e a primeira comunhão de Ruben (antes Jéssica) que, apenas entrado na clínica, desejou ser reconhecido como um homem e não como uma mulher. Não consigo descrever tudo o que aconteceu.
Por três dias visitaram tudo e todos os detalhes, perguntando e sendo perguntados sobre tudo, estabelecendo uma relação de amizade com cada um a fim de crescerem juntos na fé. Nunca vi em ninguém tanta curiosidade, tanta paixão, tanto desejo de aprender. Pareciam crianças diante do pai, isto é, diante dos sinais inconfundíveis da Presença do Mistério.
Ficamos juntos por três dias – umas 18 horas por dia – sem nunca nos cansarmos. Nada de projetos, ou perguntas econômicas ou de gestão, mas apenas a apaixonante comunicação de Cristo, da realidade. Olhando para eles, eu entendia porque, na Idade Média, quando um rei, um chefe, se convertia todo o povo encontrava a fé. É o que está acontecendo com eles e, devagar, também aqui.
Como eu gostaria que Jesus e Nossa Senhora nos dessem aquela humildade da razão de que fala Carrón no texto escrito antes do Natal (refere-se ao texto "O Natal e a esperança", publicado no jornal La Reppublica, do dia 23 de dezembro de 2008; ndt); a humildade para reconhecermos, no que ele indica, os traços inconfundíveis do Mistério presente. Pessoalmente, peço apenas isto a Nossa Senhora e desejo somente esta posição para mim e para os meus amigos.
Agora, eu corro apenas para aqueles lugares onde me é indicada a vida, o sinal presente do Mistério. Com 62 anos de idade, tenho pouco tempo para perder... o tempo se fez breve e estou cansado de discussões, de problemáticas estéreis. Preciso apenas de amigos, de companheiros de caminho que me acompanhem na preparação para o encontro definitivo com Cristo. O futuro me fascina porque é como se, vendo o tempo que corre, eu quisesse chegar à meta tendo gasto cada respiração para que Jesus seja conhecido e amado, conhecido e amado por este povo que, cada dia, cresce em quantidade e em qualidade. Que aventura, amigos! “Sinto um fogo nos meus ossos que não consigo conter”. E, além do mais, tenho a certeza ,mais límpida que o sol, de que tudo o que acontece aqui é da Providência que vem... e Ela se encarrega e se encarregará de levar adiante tudo. Mas, vocês entendem? O que existe aqui não nasceu de mim, mas dEle... e, portanto, são negócios dEle. A mim, a nós, cabe apenas reconhecer e crer nEle. Em suma, esta obra tem necessidade apenas e exclusivamente de santos. Isto é, de pecadores para quem Cristo é tudo – dos cabelos à carteira de dinheiro, passando pela sexualidade, do pensamento à memória, passando pela vontade... passando por tudo, tudo.
Um abraço cheio de Cristo
P.e Aldo
P.S.: Gostaria de acrescentar um belíssimo exemplo do que significa o que Carrón nos tem indicado, quando fala da realidade e da humidade da razão. Nestes dias, tivemos um belíssimo e dramático diálogo entre médicos, falando sobre o pequeno Victor (a criança em estado vegetativo e sem crânio): fazer ou não fazer uma transfusão de sangue. Obviamente, não entro no mérito da questão porque – sou um pobre asno – é o outro o meu papel. A decisão última era de não fazer a transfusão, porque não melhoraria tanto assim a sua condição. Porém, o pediatra da clínica não estava de acordo com a decisão tomada. E, assim, se reabriu a discussão. Deus quis que Alexandre, o amigo dos Zerbini, do Grupo Adulto e pediatra, estivesse aqui. E ele também era da mesma opinião de nosso pediatra. Então, telefonei para o médico responsável, que estava no Brasil, e depois de um longo diálogo, Alexandre me disse: “as razões do médico responsável são razoáveis, não têm sequer um defeito. Ele trabalha com medicina paliativa e é razoável aquilo que diz. Porém, eu sou um pediatra e é inevitável dizer que, se se pode fazer ainda que uma vírgula a mais, eu faria. Porém, repito, o oncologista e sua equipe têm motivações razoáveis nesta discussão”. Mazzotti, o médico responsável pelo setor de oncologia, me telefona outra vez e me diz: “mesmo se fosse meu filho eu não faria a transfusão, porém escutemos o que nos diz o reitor do ‘João Paulo II’, de Roma”... Há dois dias eu já havia mandado a Padre Lívio todo o material necessário, preparado pelo médico responsável, para um juízo definitivo... Nesse meio tempo, Alexandre se encontrou com o nosso pediatra e, juntos, decidiram fazer a transfusão, depois que o médico responsável se disse de acordo com a tentativa desde que se usasse uma via periférica. Fizemos, então, segunda passada, a transfusão e o resultado se demonstrou positivo. Todos ficamos contentes. Porém, a coisa ainda mais bela foi a resposta que, hoje, sábado, pude ler do meu caro amigo Padre Lívio, o reitor da “João Paulo II” e que lhes mostro:
Caro Padre Aldo,
Tomei conhecimento do caso do pequeno Victor, que você me encaminhou.
Não sendo um especialista em medicina, pedi o parecer de uma professora do nosso Instituto, médica e especialista em bioética.
Com ela e com um outro colega, o Padre Noriega, revisamos toda a problemática que você nos expôs.
Ao final, a Doutora Di Pietro propôs o seguinte parecer, que reflete a opinião amadurecida em conjunto, e que lhe dou a conhecer:
“Tomado conhecimento das condições clínicas de Victor Quinones, nascido no dia 14 de abril de 2007 e, atualmente, internado na Casa Divina Providência de Asunción (Paraguai), sustentamos que – esperando uma definição diagnóstica das causas da anemia progressiva – seja oportuno proceder com a hemotransfusão, a partir de uma via venosa central. No caso em exame, de fato, a hemotransfusão parece ser a intervenção mais significativa para melhorar a qualidade de vida do paciente ou, ao menos, não permitir uma piora do quadro, eliminando a presente sintomatologia. A progressiva redução da hemoglobina e da oxigenação poderia expor os tecidos – e particularmente o cérebro – a uma condição de baixa oxigenação, que agravaria as suas já comprometidas condições. Em um segundo momento, deve-se continuar com o tratamento previsto no protocolo clínico.”
Espero que este parecer seja uma ajuda para você.
Asseguro-lhe uma viva recordação na minha oração ao Senhor da Vida.
Um abraço
P.e Lívio
Amigos caros, este é um exemplo que diz ainda mais o que compreendo por colaboração, por amizade, por humildade, por comunhão. Uma satisfação ainda maior é ver que o gesto precedeu a resposta, indicando uma sintonia... uma sintonia sobre temas delicados é apenas uma obediência à realidade que nos permite ter.
Paraguai, Brasil, Itália: a cooperação é apenas uma amizade, uma obediência à realidade, a um relacionamento. É isto o que está acontecendo entre os médicos da Itália, do Brasil etc.
Grandes perguntas exigem pessoas grandes para responder... assim como, há um tempo atrás, procurei por Giussani e, hoje, por Carrón... neste caso, procurei Monsenhor Melina Lívio. E Victor, decididamente, melhorou.
Mas, que graça é esta clínica... ou melhor: esta companhia!
Ah, se também com Eluana existisse um olhar assim... esta humildade da razão!
Amigos caros, este é um exemplo que diz ainda mais o que compreendo por colaboração, por amizade, por humildade, por comunhão. Uma satisfação ainda maior é ver que o gesto precedeu a resposta, indicando uma sintonia... uma sintonia sobre temas delicados é apenas uma obediência à realidade que nos permite ter.
Paraguai, Brasil, Itália: a cooperação é apenas uma amizade, uma obediência à realidade, a um relacionamento. É isto o que está acontecendo entre os médicos da Itália, do Brasil etc.
Grandes perguntas exigem pessoas grandes para responder... assim como, há um tempo atrás, procurei por Giussani e, hoje, por Carrón... neste caso, procurei Monsenhor Melina Lívio. E Victor, decididamente, melhorou.
Mas, que graça é esta clínica... ou melhor: esta companhia!
Ah, se também com Eluana existisse um olhar assim... esta humildade da razão!
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