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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A atualidade de Padre Giussani


Por Giorgio Chiosso

Às crescentes dúvidas de que o chamado “pensamento débil” seja capaz de suportar os desafios das mudanças que estão em curso, opõem-se, cada vez mais numerosos, aqueles que pensam que contra os processos descontrutivos, frutos da racionalidade niilista, seja necessário opor o chamado de atenção à virtude e ao bem-comum, resultado do exercício racional capaz de comparar-se com a realidade.
O campo da educação pode ser assumido como caso paradigmático da urgência de uma mudança de rumo. Muitos jovens crescem no liberalismo e quase na anarquia moral, muitos mestres ruins vivem encerrados no narcisismo cotidiano, muitas palavras desapareceram – ou quase – do vocabulário educativo cotidiano, como é o caso de empenho, rigor, exemplo, mestre, interioridade, bem, autoridade. E, pelo contrário, pais, professores, educadores pedem ajuda e multiplicam os esforços para responder à necessidade educativa cada vez mais difundida e premente.
A releitura do Educar é um risco e das muitas páginas ricas de profundidade pedagógica que se encontram nas obras de Luigi Giussani fornecem importantes contribuições, úteis para repropor algumas reflexões significativas acerca da cultura educativa cristã do século passado, na esteira de Maritain e Guardini, de Ricoeur e Ratzinger.
O fundamento da proposta pedagógica giussaniana está na concepção “plena” da educação: um evento que envolve a pessoa na sua globalidade feita de inteligência, afetividade, comunhão com os outros, abertura ao transcendente e uma experiência realizada entre pessoas vivas e não apenas confiadas a “especialistas” (formadores, instrutores, operadores, terapeutas etc.) que, sempre mais, se preocupam com o outro como uma pessoa a ser “plasmada” ou a ser “cuidada” e não que deva crescer na sua liberdade. Contra todo reducionismo antropológico, Giussani adverte que o homem não é um simples produto da natureza ou da sociedade.
Para que a educação seja “plena” é preciso que ela seja livre. A introdução à “realidade total” (como Giussani define a educação) se realiza, de fato, através do mostrar-se apto, com o inevitável “risco” aí implicado, porque a aptidão do humano envolve e, às vezes, perturba todas as nossas fibras. Mas é somente através deste mostrar-se em toda a sua aptidão que se conquista a dignidade de pessoas livres e capazes de querer.
Contra a absurda ideia da liberdade que encontra a si mesma na ruptura de todo vínculo, no vazio das infinitas possibilidades do Nada, Giussani nos fala, ao invés, de uma liberdade que, para crescer, precisa de “alguém” e de “algo”, ou seja, de um testemunho pessoal e de uma história para ser vivida. A educação se realiza quando se manifesta “o desejo de reviver a experiência da pessoa que se encarregou de você”, não para se tornar como “aquela pessoa na sua concretude cheia de limites”, mas “como aquela pessoa por aquilo que amou em você”. Dito de outra forma, e sempre com as palavras de Giussani, “educar é propor uma resposta”.
Ninguém se “faz por si mesmo”. Hoje, somos pobres de educação, porque são escassos os adultos capazes de testemunhar e de amar, de acompanhar e sustentar, adultos credíveis que não digam “faça assim”, mas “faça comigo”, adultos dispostos a empreender o caminho com filhos e alunos, com paciência e esperança, duas palavras “pedagógicas” por excelência. A vida tem as suas lentidões e o homem liberta-se, lentamente, dos seus impulsos e da sua natural espontaneidade. Sem a esperança, cede-se ao absurdo: tudo se destrói porque nada pode ser alcançado.
Para quem pensa melhorar as escolas aumentando os testes e para quem se ilude de vencer a solidão dos jovens com “balcões de psicologia”, Giussani responde que a educação é algo de muito mais profundo: é o encontro entre pessoas verdadeiras que amam, aspiram ao belo, sofrem e se alegram, estão abertas ao Mistério. Nisto está a atualidade do seu ensinamento: a educação como experiência viva, não uma técnica.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 22 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

É o conhecimento – e não o saber-fazer – que está no coração do risco educativo


Por Francesco Valenti

No debate sobre os resultados do aprendizado dos estudantes italianos e sobre a definição do sistema escolar do futuro, um elemento muitas vezes esquecido é o papel que o conhecimento deve assumir na organização geral da escola, inclusive para retomar com mais decisão um caminho virtuoso e favorecer melhores resultados. No atual ambiente cultural, porém, afirma-se a necessidade de se instruir com um pouco de noções tradicionais, mas construindo a escola em torno de critérios que, substancialmente, desvalorizem o momento cognoscitivo.
Estabeleceu-se, de fato, a convicção segundo a qual é preciso ensinar apenas saberes (lembre-se, no plural), habilidades e competências úteis para exercer um papel no mundo. E assim, como afirma Giorgio Chiosso, “ao mestre regulador de sabedoria – [...] ou seja, de saber que dá gosto e sentido para as coisas – se substitui o professor que fornece as competências necessárias para completar um ciclo de estudos, ou para assumir para si uma técnica útil no plano profissional ou, ainda, que é um simples companheiro de viagem que intervém quando o estudante, responsável por formar-se a si mesmo, solicita, por exemplo, através das intermináveis navegações na web”.
Fique dito, porém, que o enfoque de uma escola será muito diferente se ela for fundada sobre uma técnica funcional ao saber-fazer ou se for fundada sobre o conhecimento. Para se ter um exemplo: o papel de um professor é diferente se ele auxilia nos momentos de auto-aprendizagem, ou se ele propõe dados e métodos das disciplinas; diferente também é ter notícias acerca de muitas coisas ou conhecer, pensar e estabelecer nexos; diferente é uma escola organizada por âmbitos ou por classes; diferente é a relevância dada às disciplinas escolares, ao enfoque dos espaços de uma escola ou do momento de aula, e assim por diante.
O conhecimento conta na medida em que é levado a sério, na medida em que nós mesmos – como escreveu Rémi Brague – “somos o nosso conhecimento” e buscamos aquela verdade que “significa mais do que saber: o conhecimento da verdade tem como objetivo o conhecimento do bem. Este também é o sentido do interrogar-se socrático: qual é aquele bem que nos torna verdadeiros?” (da Alocução de Bento XVI que deveria ter sido pronunciada na Universidade La Sapienza, em Roma).
O conhecimento pode assumir particular relevância na escola, porque ali se desenrola um momento indispensável e particular da aventura cognoscitiva, segundo a dinâmica de introdução à realidade total que lhe é própria. O conhecimento nasce da evidência das coisas, do se dar conta da realidade, como centelha e possibilidade de que a razão se coloque à prova, indagando o mundo. Às infinitas perguntas que surgem, o conhecimento pede respostas, busca o por quê na aparência e na substância das coisas, abre-se aos inteligíveis.
O conhecimento nunca é um processo completamente separado da relação com a realidade e com a história cultural de um povo. É disto que se encarrega um professor durante a aula, quando convoca os alunos ao ser e ao existir das coisas, junto à sua cognoscibilidade racional. Ele faz conhecer as coisas e revela na consciência de todos os estudantes o surpreendente acontecer delas, carregado de um significado inteligível.
Acontece assim que à crise do conhecimento – nos termos que acenamos acima, como fator não secundário da conclamada crise escolar e educativa – responde, já há tempos, a presença de professores e de escolas que não esperam, para existirem e agirem bem, nem reconhecimentos, nem favores, nem reorganizações e reformas próximas ou futuras. Acerca desses temas é que se dedicará o Congresso “O conhecimento na escola”, que a Associação Cultural Educar é um risco e a Fundação para a Subsidiariedade estão organizando e acontecerá no próximo sábado, dia 19 de fevereiro, na Universidade Católica de Milão.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 18 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.