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domingo, 18 de dezembro de 2011

Comentário ao Evangelho do dia - Advento


4º Domingo do Advento

1ª Leitura - 2Sm 7, 1-5.8b-12.14a.16
Tendo-se o rei Davi instalado já em sua casa e tendo-lhe o Senhor dado a paz, livrando-o de todos os seus inimigos, ele disse ao profeta Natã: "Vê: eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!". Natã respondeu ao rei: "Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo". Mas, naquela mesma noite, a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: "Vai dizer ao meu servo Davi: 'Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel. Estive contigo em toda a parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens mais famosos da terra. Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora, no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa. Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre'".

Salmo - Sl 88
R. Ao Senhor, eu cantarei eternamente o Vosso amor! 
Ao Senhor, eu cantarei eternamente o Vosso amor,* 
de geração em geração eu cantarei Vossa verdade!
Porque dissestes: "O amor é garantido para sempre!"* 
E a Vossa lealdade é tão firme como os céus. R.

"Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito,* 
e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor.
Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem,* 
de geração em geração garantirei o teu reinado!" R.

Ele, então, me invocará: "Ó Senhor, Vós sois meu Pai, sois 
meu Deus,* sois meu Rochedo onde encontro a salvação!"
Guardarei eternamente para ele a minha graça* 
e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel. R.

2ª Leitura - Rm 16, 25-27
Irmãos, glória seja dada Àquele que tem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu evangelho e à pregação de Jesus Cristo, de acordo com a revelação do mistério mantido em sigilo desde sempre. Agora este mistério foi manifestado e, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé. A Ele, o único Deus, o sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém!

Evangelho - Lc 1,26-38
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!". Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: "Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o Seu reino não terá fim". Maria perguntou ao anjo: "Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?". O anjo respondeu: "O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altissimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível". Maria, então, disse: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!". E o anjo retirou-se.

Comentário feito por São Bernardo (1091-1153)
monge cisterciense e doutor da Igreja

Ouviste, ó Virgem, que conceberás e darás à luz um Filho, não de um homem – como compreendeste –, mas do Espírito Santo. O anjo espera a tua resposta: tem de regressar para junto dAquele que o enviou. Nós também esperamos, ó Senhora nossa. Miseravelmente acabrunhados por uma sentença de condenação, esperamos uma palavra de piedade. Ora, eis que te é oferecido o resgate da nossa salvação. Aceita e somos livres. Todos fomos criados no Verbo Eterno de Deus; mas, infelizmente, a morte fez a sua obra em nós. Uma breve resposta tua basta para nos recriar, de modo que sejamos de novo chamados à vida. [...] Não demores, Virgem Maria, dá a tua resposta. Ó Senhora nossa, pronuncia essa palavra que a terra, os infernos e até os próprios céus esperam. Vê: o Rei e Senhor do universo, Ele que "Se deixou prender pela tua beleza" (cf. Sl 44,12), deseja, com o mesmo ardor, o sim da tua resposta. Ele quis fazer depender da tua resposta a salvação do mundo. Agradaste-Lhe com o teu silêncio; agradar-Lhe-ás ainda mais agora com a tua palavra. Eis que Ele próprio te interpela lá do alto: "ó mais bela das mulheres, [...] deixa-Me ouvir a tua voz". [...] Sim, responde rapidamente ao anjo, ou antes, pelo anjo, ao Senhor. Responde numa palavra e acolhe o Verbo; pronuncia a tua própria palavra e concebe o Verbo divino; emite uma palavra passageira e envolve o Verbo eterno. [...] Maria disse então: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra".

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Comentário ao evangelho do dia


Nossa Senhora do Rosário

1ª Leitura - At 1,12-14
Depois que Jesus foi elevado ao céu, os apóstolos voltaram para Jerusalém, vindo do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, a mais ou menos um quilômetro. Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Evangelho - Lc 1,26-38
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria O anjo entrou onde ela estava e disse: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!". Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: "Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim". Maria perguntou ao anjo: "Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?". O anjo respondeu: "O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altissimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível". Maria, então, disse: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!". E o anjo retirou-se.

Comentário feito por Luigi Giussani (1922-2005)
fundador de Comunhão e Libertação

“Maria, então, disse: ‘Eis a serva do Senhor’. [...] E o anjo retirou-se” (cf. Lc 1,38). Pensemos agora no momento em que Maria fica sozinha em casa: sozinha diante daquela coisa enorme que lhe havia sido proposta, que lhe havia sido dita. Nada a impediria de dizer: “Não escutei nada, foi uma ilusão!”. Mas não é isso que acontece. Daqui nasce [...] a energia, a força para permanecer no Senhor, para permanecer naquilo que vimos. Nós, ao contrário, diante da primeira dificuldade, criamos uma objeção, dizemos: “Não é verdade”. Maria fica sozinha, passa por todas as dificuldades, mas se mantém “firme”. Sua simplicidade está unida a uma força grandiosa e simples. O próprio Abraão tinha se lamentado; Moisés também tinha tremido: Maria, em sua solidão, está plenamente segura. Maria é uma fortaleza, grande e simples. [...] Uma simplicidade impávida (ou seja, repleta de emoção), que desafiou a vida inteira, sozinha com “aquela coisa” que lhe havia sido dita. Sozinha diante das pessoas que não creem, diante do trabalho que tem a fazer: a solidão existe, mas existe também a sua adesão ao Senhor. O que nunca deve diminuir em nós é a adesão da nossa fé: quando já não existem as emoções, quando você já não tem o vigor do início, quando não estão ali os amigos, o que deve continuar a existir é a nossa fidelidade à adesão que demos a Cristo. [...] Os três elementos que distinguem a maturidade da fé são: 1. A consciência de pertencer a um Outro (pertencer, com todo o peso que carregamos, com todos os nossos pecados, ao Corpo visível de Cristo, a Sua Igreja). 2. A energia do “sim”: a simplicidade da liberdade. Nada se transforma em objeção. Uma simplicidade que nos permite viver como homens conscientes. (Você precisa dizer “sim”, pois, com os “mas” e “porém”, jamais chegará à convicção.). 3. A fidelidade: a energia para permanecer no Senhor, em sua Igreja.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cartas do P.e Aldo 202

Asunción, 26 de julho de 2011.

Caros amigos,
Tão logo terminaram os encontros com milhares de jovens, Marcos e Cleuza pegaram o avião, à meia-noite do domingo passado, e chegaram a Asunción. Dois dias passados juntos para poder dizer outra vez o nosso “sim” a Cristo. Encontramo-nos apenas para que reconfirmemos este sim. De outra forma, que sentido teria qualquer relação, ou tanta dificuldade num mundo que, para a grande maioria, as relações vividas são virtuais ou formais?
O nosso sim a Cristo não pode passar através do “mundo virtual”, porque Deus se fez companhia para o homem, fez-se carne. E sem a carne não existe nem Cristo nem o homem.
No dia seguinte, nos encontramos na nossa fazenda – toda a nossa Fraternidade. Depois de retomar o que havíamos dito um mês atrás e que Cleuza havia resumido com uma expressão belíssima em forma de pergunta: “somos cristãos ‘coca-cola’ ou homens apaixonados por Cristo?”. O Movimento, para nós, é uma coca-cola ou um dinamismo no qual a razão e o sentimento caminham juntos? Por que esta imagem da coca-cola? Porque quando tiramos a tampinha, faz pssssss e, em seguida, tudo acaba. Podemos usar também a imagem dos fogos de artifício.
Logo depois, começaram as intervenções. Uma pessoa em particular sublinhava seu drama pessoal, um drama que havia levado a sua pessoa à exaustão. “Tudo funcionava bem na minha vida, vivia a minha responsabilidade, jogando-me inteira até ao ponto de ser definida pelo meu trabalho. E fazendo assim eu pensava estar servindo bem a Deus. Mas, com o tempo, cedi... porque essa maneira de trabalhar para Deus me colocou em nocaute”.
Cleuza aproveita a deixa e, depois de ter descrito como também ela, antes de encontrar Carrón e o Movimento, passou anos determinada pela depressão, fruto de seu constante empenho em favor de Deus e dos pobres, disse: “Olha só, eu também vivi uma vida cheia de tormento e de amargura, convencida de estar servindo a Cristo. Tomei antidepressivos por anos, até ao dia em que encontrei o Movimento. Encontrando o Movimento, encontrei o valor da minha vida. Valor que percebi claramente no fato de que Deus não me criou para ser empregada doméstica, Sua empregada, mas por um ato de amor, me fez para Ele. Dentro do Movimento, entendi que eu não sou a serva de Deus, mas o objeto do Seu amor e, nesta perspectiva, os outros se tornam a minha alegria. Porque apenas se eu vibrar do amor de Cristo poderia ajudar os outros. Assim, os outros se tornam um presente para mim. Muitos me perguntam ‘por que vocês ainda vão ao Paraguai?’. Porque preciso escrever o meu sim a Cristo com vocês e vocês me foram dados. As coisas são guiadas por Ele e Ele conhece o número dos meus cabelos. (...) É preciso que tiremos nossas máscaras [e aqui ela conta a história de uma mulher humanamente destruída que ela havia tirado da rua e levado para sua casa, e do longo diálogo que teve com ela], para que Cristo se revele para nossa humanidade do jeito como Ele é. E é isto o que acontece na clínica para os doentes, que despojados de tudo pela doença pedem com urgência o próprio Cristo. Somente se arrancarmos as máscaras é que Cristo se revelará a cada um”.
O diálogo continuou por dois dias, compartilhando tudo. Mas, acredito que só isto já seja suficiente por agora, caros amigos. Seja como for, ou uma amizade tem este horizonte ali onde estamos, ou é uma cumplicidade mesmo se usarmos continuamente a palavra “Cristo”.
“Encontramo-nos para escrever o nosso sim a Cristo”. Que bonito!
Boas férias
Padre Aldo

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cartas do P.e Aldo 198


Asunción, 21 de junho de 2011.

Caríssimos,
Eis a foto de recordação das 11 crianças da Casinha de Belém batizadas neste domingo. A maioria delas não tem ninguém, mas agora podem dizer “Pai” para o Mistério. Que responsabilidade, para mim e os amigos, nos foi presenteada com o batismo delas! Uma responsabilidade possível de viver apenas se o meu eu é definido, momento após momento, pela certeza “eu sou Tu que me fazes”. Desta certeza depende todo o caminho educativo e a sua maturidade.
Olho-os e vejo a grandeza e a beleza do Mistério que permitiu que nascessem em condições desumanas e violentas para, depois, retomá-los e levá-los para onde Sua Presença é evidente.
Olho-os e, comovido, penso naquilo que o profeta disse: “antes de te formares no ventre de tua mãe, pronunciei o teu nome”.
Que bonito: eu, como os meus pequenos, fomos pensados, desde sempre, por Deus! Que bonito: eu, como as minhas crianças, fomos chamados pelo nome, ou seja, somos Seus, pertencemos-Lhe desde sempre. Então, o modo com o qual fomos concebidos é secundário (não porque não seja importante... pelo contrário), porque a nossa identidade vem antes, vem da eternidade. Então, mesmo se concebido na violência, isto não define mais a minha personalidade. 
O aborto é terrível porque elimina um nome que Deus pronunciou desde sempre. Então, entendem porque as meninas grávidas são, para mim, tesouros, mesmo que tenham 12 anos de idade. Elas moram conosco, salvas daquelas diabólicas ONGs que fazem de tudo para que abortem.
Uma garotinha da favela, vítima do crack desde os 9 anos de idade, não queria a criança de que estava grávida e chegou aqui em condições indescritíveis. Deu à luz uma menina lindíssima (hoje, a mãe tem 15 anos) e, no início não a queria. Três meses se passaram e ela, a mãe, é outra pessoa, é uma verdadeira mulher, uma verdadeira mãe. Mesmo o seu aspecto físico mudou: está bonita, bem vestida, limpa, orgulhosa da sua feminilidade. Vê-la amamentando a sua menina é de uma ternura enorme.
Não mais o passado como “piranha” (é como são chamadas essas crianças), mas um início de consciência de ser fruto do SER, daquele “Tu que me fazes”. Mas, dentro de uma companhia de 24 horas por dia. Porém, é assim que o Mistério nos faz companhia. Lucilla, a filha do meu amigo Luigi Amiconi, dizia: “Tudo o que eu faço é dizer ‘sim’ a Liz (uma menina com gravíssimos problemas psíquicos, físicos e de mobilidade), e este ‘SIM’ mudou Liz e me mudou. E dizer ‘SIM’ quer dizer responder às suas necessidades, quer dizer estar sempre com ela. E este ‘SIM’ que digo a ela, eu o digo a todas as crianças. Mas, posso dizê-lo porque um outro o diz para mim”.
E é mesmo bonito ver esta garota de 12 anos, que parece ter a metade, e que não fala, é mesmo bonito vê-la feliz e fazendo de tudo para responder às provocações de Lucilla. E Lucilla que a olha, a olha para perceber o que quer, o que a realidade lhe pede para poder responder “SIM”. Educar é apenas dizer “SIM” à realidade.
Padre Aldo

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Jo 21,15-19
Jesus manifestou-se aos seus discípulos e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?". Pedro respondeu:  "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse: "Apascenta os meus cordeiros". E disse de novo a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?". Pedro disse: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas". Pela terceira vez, perguntou a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?". Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe:  "Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir". Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou : "Segue-me".

Comentário feito por Beato João Paulo II
papa

Na hora da prova, Pedro renegou o Mestre três vezes. E a voz tremia-lhe quando respondeu: "Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo" (Jo 21,15). Contudo, não respondeu "Todavia, Senhor, eu Te enganei", mas: "Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo". Dizendo isto, já sabia que Cristo é a pedra angular sobre a qual, apesar de toda a fraqueza humana, pôde crescer nele, Pedro, esta construção que terá a forma do amor. Através de todas as situações e todas as provas. Até ao fim. Por isso ele escreverá um dia [...]: "Vós mesmos, como pedras vivas, entrais na construção de um edifício espiritual, por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus tão só por Jesus Cristo" (1 Ped 2,5). Tudo isto significa tão só responder sempre e constantemente, com tenacidade e de maneira consequente, a esta única pergunta: Amas-Me? Tu Me amas? Tu Me amas mais? É com efeito esta resposta, quer dizer, este amor, que faz com que sejamos "raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido" (1 Ped 2,9). Ela é que faz que proclamemos as obras maravilhosas dAquele que nos "chamou das trevas para a Sua luz admirável" (1 Ped 2,9). Tudo isto soube-o Pedro na absoluta certeza da sua fé. E sabe tudo isto e continua a confessá-lo também nos seus sucessores. 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Cartas do P.e Aldo 190

Asunción, 21 de abril de 2011.

Caríssimos amigos,
Boa Páscoa!
O Senhor venceu o meu e o seu mal. Somos criaturas novas. Qualquer que seja a condição na qual vivamos, cheios de misérias até ao pescoço. Nós que somos preferidos pelo Mistérios somos Seus, Sua propriedade. Ele sabia, desde a eternidade, tudo sobre nós e nos escolheu assim mesmo. Que espetáculo de misericórdia, que comoção, se em todos os instantes vivêssemos com esta certeza. Eu lhes digo isso com todo o meu coração porque, para mim, é assim. É o espetáculo do ver, comovido, o que acontece na minha vida, vivendo como Abraão: “eis-me aqui, Senhor”. É o SIM de Maria.
Agradeço a todos que, com seu sacrifício, nos ajudam a levar a frente esta obra de Deus. Compartilhar, na Páscoa, a dor de Cristo que sofre e ressurge é como viver o capítulo 25 de São Mateus. Deus é o senhor, e nós somos Suas mãos. Recordemo-nos sempre de sustentar, mesmo que com uma balinha, aquilo que Deus está fazendo aqui, usando-nos, pobres homens apaixonados por Ele e, portanto, pelo homem que sofre. 
Boa Páscoa
Padre Aldo e comunidade

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Comentário ao evangelho do dia

São Francisco Xavier

Evangelho - Mt 9,27-31
Naquele tempo, partindo Jesus, dois cegos o seguiram, gritando: "Tem piedade de nós, filho de Davi!". Quando Jesus entrou em casa, os cegos se aproximaram dele. Então Jesus perguntou-lhes: "Vós acreditais que eu posso fazer isso?". Eles responderam: "Sim, Senhor". Então Jesus tocou nos olhos deles, dizendo: "Faça-se conforme a vossa fé". E os olhos deles se abriram. Jesus os advertiu severamente: "Tomai cuidado para que ninguém fique sabendo". Mas eles saíram, e espalharam sua fama por toda aquela região.

Comentário feito por Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022)
monge grego, santo das Igrejas Ortodoxas 

[Diz Cristo:] 
Quando criei Adão, permiti-lhe que Me visse 
e por isso que ficasse colocado na dignidade dos anjos. [...] 
Ele via tudo o que Eu havia criado com os seus olhos corpóreos, 
mas com os da inteligência 
via o Meu rosto, o rosto do seu Criador. 
Contemplava a Minha glória 
e conversava Comigo o tempo todo. 
Mas quando, transgredindo as Minhas ordens, 
provou da árvore, 
ficou cego 
e caiu na obscuridade da morte. [...] 

Mas Eu tive piedade dele e vim lá do alto. 
Eu, o absolutamente invisível, 
partilhei a opacidade da carne. 
Recebendo da carne um começo, tornado homem, 
fui visto por todos. 
Por que aceitei fazer isso? 
Porque esta era a verdadeira razão 
para ter criado Adão: para Me ver. 
Quando ele ficou cego 
e, na sequência dele, todos os seus descendentes, 
não suportei permanecer 
na glória divina e abandonar [...] 
aqueles que criara com as Minhas mãos; 
mas tornei-Me semelhante em tudo aos homens, 
corporal com os corporais, 
e uni-Me a eles voluntariamente. 
Por aqui podes ver o Meu desejo de ser visto pelos homens. [...] 
Como podes então dizer que Me escondo de ti, 
que não Me deixo ver? 
Na verdade, Eu brilho, mas tu não olhas para Mim.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cartas do P.e Aldo 149

Asunción, 16 de junho de 2010.

Caros amigos,
Esta noite, enquanto eu passava com o Santíssimo Sacramento diante de cada doente, chegando ao leito de Ermínia (uma jovem bela mulher, mãe de duas crianças, gravemente doente de AIDS, câncer e vítima de uma terrível depressão), depois de tê-la abençoado com Jesus, acariciando-a com ternura, lhe disse: “Ânimo! Jesus ama você, quer que você sorria”. Uma frase simples, mas dita com a consciência daquele “Tu” que domina tudo, de que fala Carrón nos exercícios (refere-se aos Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação; ndt), mudou o rosto desta minha filha. Ela me respondeu com uma ternura tipicamente feminina, olhando-me nos olhos: “Obrigada”. Quis contar isso para vocês porque aquele “obrigada”, dito devagarzinho, continha toda a ternura de Cristo.
Joana é uma jovem que viveu na rua e, de relacionamentos ocasionais, teve dois filhos. Tem 26 anos, é doente de AIDS. Chegou “desfeita”: queria morrer, recusou comida etc. Dias imprevisíveis. A única coisa que eu podia fazer foi fazer aquilo que a pecadora fez com Jesus, quando entrou na casa de Simão. Eu a acariciei, beijei com ternura, alisei seus cabelos pretos, disse a ela que a amo. Vi nela a ternura do Mistério. Depois, aconteceu o milagre: à proposta de confessar-se, me respondeu “sim”. Daquele momento em diante tudo mudou. Fez a comunhão, voltou a comer e a sorrir. Ela também é dependente de droga, mas a caridade, a ternura fez o milagre. Uma vez mais aquele “Tu, meu Cristo”, que fez uma coisa só do meu eu com Ele, me mostrou que o problema é apenas a fé. Desejo a todos, meus amigos, que nunca duvidem da Sua ternura, mesmo se acontecesse o pior terremoto.
Um rapazinho da Casinha de Belém é insuportável. O pensamento de mandá-lo embora foi se aninhando na minha mente. A diretora da escola me disse: “Padre, mas este menino é Jesus e, então, olhemos para ele na sua totalidade”. Como dizer: não vê o caminho que ele fez durante estes dois anos? Bastou aquele “o menino é Jesus” para que a minha mente revesse a possível decisão e mantê-lo comigo ainda mais. Um sinal claro do que é uma amizade entre educadores.
O grande escultor da “Sagrada Família” de Barcelona veio me encontrar para ver como finalizar a nova clínica. Que comoção! “Esta obra é maior do que a Sagrada Família porque, aqui, eu vi Cristo que morre e ressuscita. Padre, não faz o teto dos quartos de branco. Os doentes, em particular os moribundos, olham para o teto, olham para o alto e, por isso, o teto de cada quarto deve ser da cor do céu, com sutis nuvens brancas, assim como é belo o céu do Paraguai. O doente tem necessidade de ver sempre o céu com algumas nuvezinhas brancas e, quem sabe até, com o sol que nasce. Padre, eu o ajudarei a pensar o teto de cada quarto, olhando para este belíssimo céu paraguaio”.
Depois, ele me explicou como deseja terminar a clínica, explicando uma frase de que eu gosto muito, de São Paulo: “A natureza geme as dores do parto, esperando a ressurreição dos filhos de Deus”. De repente, se mostrou a genialidade deste homem. De fato: meu Jesus, quem sou eu para que Sotoo tenha vindo, de propósito, visitar-me, encontrar-me? Nós nos havíamos conhecido junto com Marcos, Cleuza e Julián de la Morena, no ano passado, em Barcelona. Foi suficiente um olhar cheio de ternura de Cristo para nos tornarmos amigos por toda a eternidade. Assim como é cada dia com os meus doentes, velhos e crianças, vítimas das violências.
Há uma última graça recebida hoje que não posso omitir. Acompanhando Marcos e Cleuza ao aeroporto (em quinze dias, nós nos vimos três vezes – duas no Brasil e uma aqui... potência do afeto por Carrón, da paixão por viver aquilo que ele nos testemunha e do grito humano que trazemos no coração), eles me dizem: “Esta não é mais a clínica do padre Aldo... esta é a nossa clínica. Estas não são mais as obras do padra Aldo e de Paolino, são as nossas obras”. Que comoção, para mim, e que resposta para quem se preocupa com o que acontecerá quando eu morrer!
Amigos, destes dias que passei com eles terei a oportunidade de falar depois... porque o segredo do milagre que vivemos é fruto apenas da nossa liberdade que vive uma estreita filiação com Carrón. Sem esta posição, o carisma de Dom Giussani se tornaria velho, morreria e não seria capaz de gerar um povo, filhos novos como está acontecendo por aqui. Nós nos encontramos apenas para aprender a olhar para o Carrón, como ele vive o carisma que Giussani lhe confiou. Garanto a vocês que cada instante é a experiência do homem novo.
Um abraço a todos,
Padre Aldo

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Jo 21,15-19
Jesus manifestou-se aos seus discípulos e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?". Pedro respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse: "Apascenta os meus cordeiros". E disse de novo a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?". Pedro disse: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas". Pela terceira vez, perguntou a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?". Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir". Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou : "Segue-me".

Comentário feito por Bem-aventurado João XXIII (1881-1963)
papa

O sucessor de Pedro sabe que, na sua pessoa e na sua atividade, é a graça e a lei do amor que sustenta, vivifica e embeleza tudo; e, diante do mundo inteiro, a Igreja Santa apoia-se no intercâmbio de amor entre Jesus e ele, Simão Pedro, filho de João, como sobre um alicerce visível e invisível: Jesus invisível aos olhos da carne, o Papa, Vigário de Cristo, visível ao mundo inteiro. Meditando neste mistério de amor íntimo entre Jesus e o Seu Vigário, que honra e que felicidade para mim, mas ao mesmo tempo que motivo de confusão pela pequenez, pelo nada que sou. A minha vida deve ser toda de amor a Jesus e, simultaneamente, uma completa efusão de bondade e de sacrifício por cada alma e por todo o mundo. É rapidíssima a passagem do episódio evangélico que proclama o amor do Papa a Jesus e, através Dele, às almas, à lei do sacrifício. O próprio Jesus anuncia-o assim a Pedro: "Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir" (Jo 21, 18). Pela graça do Senhor, ainda não entrei nesta velhice mas, com os meus oitenta anos feitos, encontro-me à porta. Portanto, devo estar preparado para este último trajeto da minha vida, em que me esperam limitações e sacrifícios, até ao sacrifício da vida corporal e ao abrir da vida eterna. Jesus, estou disposto a estender as minhas mãos, já trêmulas e fracas, a deixar que outro me ajude a vestir-me e me ajude na caminhada. Senhor, a Pedro acrescentaste: "e te levará para onde não queres ir". Depois de tantas graças, multiplicadas durante a minha longa vida, não há nada que não queira. Jesus, Tu me revelaste o caminho: "Seguir-Te-ei para onde quer que fores" (Mt 8, 19).

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cartas do P.e Aldo 144



Asunción, 05 de maio de 2010.

Caros amigos,
Somente olhando Jesus no rosto cada aspecto da realidade é uma provocação a dizer “Sim”. E no Sim a Cristo nasce a liberdade para viver o próprio “eu” como dom comovido de si. Ontem, um juiz de menores me trouxe este pequeno Jesus, que uma garotinha deu à luz, colocou numa sacola plástica, sem nenhuma proteção, e deixou num nicho daqueles que existem ao longo das estradas, onde se costuma colocar uma cruz para lembrar uma pessoa morta em um acidente automovilístico. Ela a deixou exatamente aos pés da cruz. Às cinco horas da manhã, fazia frio e chovia, passa um camponês por ali. Escuta os gemidos, se vira e vê uma mãozinha saindo de dentro da sacola plástica. Corre, pega a sacola: é uma menininha recém-nascida. Leva-a para o hospital e, depois, o juiz me trouxe ela como presente. Nós a chamamos de Nageli, Natalia e Milagro. Nageli e Natalia para recordar as duas meninas mortas de mamãe Cristina. Milagro, porque é um milagre. Deixo a cada um de vocês imaginar a minha comoção.
Em dois dias, dois pequenos Jesus vieram me encontrar. Rezem pelos meus filhinhos e por mim, para que o meu Sim a Cristo, à realidade, seja sempre imediato, preciso e concreto como aquele de Nossa Senhora.
Com afeto,
Padre Aldo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 20

Asunción, 13 de abril de 2009.

Caros amigos,
Suzanna é uma mulher sozinha, doente de câncer, internada na minha clínica. Vive, dia e noite, rezando. A sua vida é cheia de letícia, certa como é de que Cristo lhe quer bem. A sua história é cheia de dor. Há oito anos, um avião, quando tentava aterrissar no aeroporto de Asunción, caiu em sua casa. Balanço: seu marido e seus cinco filhos, mais 14 parentes, todos mortos no desastre.
Desde então, para Suzanna, o vazio, a solidão se abriram de um modo assustador diante de seus olhos. Devagar ela reencontrou, na fé, as certezas, aquelas certezas que, neste momento, todos precisamos, aquelas certezas que nos permitem responder como Marta, a irmã de Lázaro – o morto que já fedia –, à pergunta de Jesus: “Teu irmão não está morto, mas vive. Acreditas nisto?”. E ela: “Sim, Senhor, eu acredito”. Vê-la no leito, cheia de paz enquanto o câncer a consome, com o rosário na mão, me faz tocar com as mãos o que é a fé, a esperança e a caridade. A dor por ela nunca foi objeção a Cristo, mas o caminho para uma familiaridade com Cristo que enche de paz. Um sinal inconfundível do Mistério.
Hipólito é uma daquelas surpresas da Providência, que nunca me deixam tranquilo. Deus é imprevisto. E a realidade é a Sua manifestação. Deus rompe, rompe sempre... de tal forma que você, que O segue, rompe, rompe a todos que não entendem. E a realidade é a Sua voz, é a modalidade com a qual Ele rompe.
Domingo de Ramos. Os três irmãozinhos – um dos quais, se olhado a partir do seu peso, é um irmãozão – estão na cozinha desde as 7h15 da manhã, depois da oração, tomando um café. Depois de cinco minutos, cada um com os paramentos litúrgicos, estamos todos prontos para a procissão. Batem na porta: é a polícia. Surpreso, pergunto: “Vocês estão procurando Padre Paolino, o comediante da casa?”. “Não, padre, procuramos pelo senhor”. “O que aconteceu agora?”, pergunto. “Padre, temos um presente para o senhor no porta-malas do furgão. É um mendigo que o furacão da noite trouxe junto com o colchão. Não tem ninguém, é velho, treme de frio porque está ensopado”. Fico desconcertado e, se não fosse por aquele abraço de 20 anos atrás – de Dom Gius, de Alberto, de Massimo, de Carrón –, teria feito como todos, padres e não padres: “desculpem-me, mas tenho mais o que fazer... tenho a procissão, tenho a regra da casa, tenho um programa, sou o pároco... e quem tiver mais que dê mais”. Mas, aquele abraço de 20 anos atrás, aquelas famosas palavras – “como seria belo, Aldo, que alguém lhe fizesse companhia neste verão! ” – às quais eu respondi “mas onde, Giussani, você pode encontrar um padre, que sempre tem alguma coisa a fazer, disposto a fazer companhia a este homem abandonado por todos?”, e ele que me respondeu “muito bem! Você vem comigo”... a memória daquele abraço, daquelas palavras, me venceram de repente e eu disse aos padres: “vão vocês à procissão, celebrem a Missa e eu fico em casa com este pobre Cristo. Sim, este pobre Cristo, porque se trata de Cristo – desculpem-me se é uma blasfêmia – mais Cristo que O da liturgia”. Abracei-o e beijei-o e, depois, me ajoelhei diante dele e rezei. Não podia acreditar nos meus olhos. Abracei a Cristo, adorei a Cristo. Depois, imediatamente o alimentamos, limpamos e demos um quartinho. Hipólito se tornou uma outra pessoa. Sorriu – entendem? –, sorriu.
Já se passaram oito dias. Pois bem, aquele homem é, hoje, a pedra angular da nossa Casinha-Família para idosos abandonados, homens. Já existia a das mulheres. Hoje, nasceu a casa São Joaquim. Decorada, belíssima: como nenhuma casa onde eu tenha vivido nos meus 62 anos. Uma competição de generosidade de pessoas comovidas por Cristo fez o milagre da segunda casa para idosos. Começamos na segunda-feira com três e, depois, outros três. Seis ao todo. Nada de programado, de hipotetizado. Mas, Deus, o Mistério não programa. É o imprevisto por excelência. É um Acontecimento.
A realidade é o meu drama cotidiano, porque a realidade não apenas nunca me deixa tranquilo, estraga meus planos, mas também grita: “Ele está aqui. Não O vês?”. A realidade me torna familiar o Mistério. Muitos me dizem que sou imprevisível e difícil de conter. E o que posso responder? Tudo o que faço é indicar que não sou eu que procuro essas coisas, mas é a realidade que indica o caminho. Mas a realidade é sempre providencial. Assim, enquanto Hipólito dormia no Domingo de Ramos no horário da missa das 19h, a Providência me agradecia o gesto daquela manhã. Como? Aproxima-se de mim um grande industrial e me diz: “diga-me do que você precisa para o seu novo hospital, para a nova Casinha de Belém e eu daria a você”. Aviso, então, ao engenheiro, que lhe manda um email: “para começar a fechar as paredes da clínica, precisamos de 150 mil tijolos etc.”. No dia seguinte, os primeiros caminhões chegavam. Mas, a Providência não parou aqui. No mesmo domingo, às 22h, Padre Paolino recebe um telefonema. É o tesoureiro: “Padre Paolino, na coleta tem uma doação de 5.000 dólares dirigida a Padre Aldo... a assinatura é de um certo Enzo”. Paolino me deixa dormir, mas, no dia seguinte, a primeira coisa que faz é “olha...”. Fiquei comovido: era a mesma pessoa dos tijolos.
Amigos, “vocês acreditam nisso?”. Há vinte anos, cada dia, cada instante, para mim, esta é a única pergunta verdadeira, humana, séria e economicamente inteligente. Ah se os estudantes da Bocconi entendessem isso! Mas, o que importa? Hipólito, agora, está contente e, graças a ele, nasceu a segunda casinha para idosos e outros mendigos ficarão felizes, e outros terão trabalho. Tudo isso aconteceu no Domingo de Ramos, em cinco minutos que “desordenaram” a ordem, o programa dos três padres prontos para a procissão.
Padre Paolino, irônico como sempre, disse: “mas, para nós, a única coisa que nos interessa e da qual dependemos é do imprevisto!”, uma desordem contínua que cria uma ordem que impressiona. Mas, é a realidade que é assim. O problema é que, para nós, a ordem coincide com os nossos bons pensamentos e não com o olhar para a realidade assim... ou é como “as sentinelas de Assis” ou é impossível.
Um abraço
P.e Aldo

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 10


Asunción, 05 de fevereiro de 2009.

Caros amigos,
olhar para a realidade, vivê-la, é sempre um estar em pé olhando para o Mistério, com aquela dramaticidade que lhe faz dizer continuamente “eu sou Tu que me fazes”. O Mistério de que a realidade é sinal e caminho me faz viver comovido e sempre como as “scolte di Asisi”. Por isso, vivo surpreso por tudo e cada coisa é um imprevisto, uma novidade.
Ontem de manhã, o Arcebispo de Asunción me telefonou: “Padre Aldo, preciso de um favor seu. O Arcebispo emérito Dom Santiago Benitez Avalo (nasceu no dia 1° de maio de 1926, na cidade de Piribebuy, no Paraguay, e faleceu no último dia 19 de março, na cidade de Asunción; ndt) está quase chegando na meta e gostaríamos de interná-lo na clínica São Riccardo Pampuri, pois acabou de se recupear de uma infecção hospitalar (estava internado no mais belo hospital de Asunción). Por favor, vocês têm um quarto?”. “Claro que sim, Eminência. Desde a construção da clínica o primeiro pensamento que tive foi que deveria ser para sacerdotes, religiosos, bispos, que nessa terra não têm nenhuma estrutura que os acolha. Além do mais, D. Benitez, além de ser um dos maiores bispos do Paraguai e da América Latina (padre conciliar; redator, com o Papa atual, do Catecismo da Igreja Católica; desempenhou papéis fundamentais no CELAM etc.), foi o padre que, há 20 anos, me acolheu e primeiro quis CL no Paraguai. Deus se serviu dele para acolher este filho pródigo mandado por Giussani e, agora, o filho pródigo acolhe o Pai que tanto se prodiga por ele. Bem, que venha D. Benitez”.
Imaginem a minha alegria: assistir àquele que me acolheu, aquele que foi, aqui, a dilatação do grande abraço de Giussani para mim! Que graça este hospital, onde todo tipo de pessoa é acolhida, amada, ajudada a morre em letícia. Vocês já se perguntaram por que São Francisco chamava “nossa santa morte corporal” ou “irmã morte”?
A realidade é o corpo de Cristo. Olhem esta foto: é um doente de AIDS que está se casando. Aconteceu no domingo passado, dia 1° de fevereiro. Logo depois que disse “sim” e colocou o anel no dedo de sua mulher, entrou em coma. Impressionante: SIM e, depois, perdeu os sentidos. Alguém poderia dizer: mas de que lhe serviu se casar naquelas condições? Amigos, o amor é eterno. O que acaba é o aspecto fenomênico da sexualidade, mas a sexualidade, dimensão constitutiva do eu e origem de cada relação, é para sempre. Não esqueçamos o dogma da Assunção...
O SIM deles não era ligado ao uso dos genitais, mas ao destino deles, depois de 35 anos de concubinato. De outra forma, não conseguirei entender porque todos os meus doentes, antes de morrer – aqueles que vivem em concubinato –, querem se casar, usando como motivo: “quero morrer em paz”. Deixo a vocês o desafio de entrar na profundidade dessa afirmação que, como nada mais, explica o que significa amar, o que significa o sacramento do Matrimônio. Para mim, a morte, o olhar para ela em cada instante, encará-la é, de fato, reviver a beleza, a majestade de cada detalhe da liturgia para os defuntos. Peço-lhes, experimentem pedir a um padre que lhes mostre como a Igreja educa para a morte. Para não falar dos cantos, da Missa de Requiem, no “Dies Irae” (hino composto, no século XIII, por Thomas de Celano; ndt) ou no “De Profundis” (trata-se do salmo 130 - 129 da Vulgata; ndt) etc. Como é bela a realidade, porque a liturgia é a realidade na sua máxima expressão. Sempre mais a clínica está se tornando um lugar de missão. Muitos dos internados são evangélicos que se afastaram da Igreja católica por diversos motivos, mas um motivo em particular se repete: não tem espaço para escutar o homem.
Obviamente que o simples pensamento de encontrar um padre ou um quadro de Nossa Senhora pendurado na parede ou a Eucaristia já cria neles um mal-estar... que, porém, dura poucos dias. O que acontece? Três vezes ao dia faço a procissão com o Santíssimo Sacramento, mas nos quartos onde estão evangélicos paro à porta e lhes dou uma bênção. Enquanto que, com os outros, não apenas os abençoo, mas me coloco de joelhos e beijo a cada um deles. Com os evangélicos, pelo contrário, coloco-me de joelhos e lhes dou um beijo, sem Jesus nas mãos. Ou seja, parto deles, da certeza de que a realidade é o corpo de Cristo. Parto deles, não de Cristo, para que consigamos nos entender... e, com o tempo, aquela realdiade que é o corpo de Cristo lhes conduz a pedir os Sacramentos, a beijar um santinho, a gritar pela Eucaristia. Como é verdade que a missão é a alegria de viver a realidade com a certeza de que ela é o corpo de Cristo.
Assim, vocês entendem o quanto me faz sofrer ler, nos jornais daqui, notícias a respeito de Eluana... sofro porque ela é o corpo de Cristo. E olho para Victor que está em condições muito piores: mas ele é o corpo de Cristo. Amigos, a batalha por Eluana é somente para que o capítulo décimo d’O Senso Religioso se torne nosso e de todos. De outra forma, cairemos na ideologia. Se vocês viverem aquele capítulo como comoção, poderão entender porque falo, olho a morte com certos olhos e desejo que todos a olhem assim, porque é a única maneira de olhar para a vida, para a realidade.
P.e Aldo