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sábado, 7 de abril de 2012

Comentário ao Evangelho do dia - Tríduo Pascal



Sábado Santo
    
1ª Leitura - Gn 1,1-2,2
No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!” E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. E à luz Deus chamou “dia” e às trevas, “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia. Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. E Deus fez o firmamento, e separou as águas que estavam embaixo, das que estavam em cima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento Deus chamou “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia. Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar e apareça o solo enxuto!”. E assim se fez. Ao solo enxuto Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. E Deus viu que era bom. Deus disse: “A terra faça brotar vegetação e plantas que deem semente, e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie, que tenham nele a sua semente sobre a terra”. E assim se fez. E a terra produziu vegetação e plantas que trazem semente segundo a sua espécie, e árvores que dão fruto tendo nele a semente da sua espécie. E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de sinais para marcar as épocas os dias e os anos, e que resplandeçam no firmamento do céu e iluminem a terra”. E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para presidir ao dia,e o luzeiro menor para presidir à noite, e as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para alumiar a terra, 18para presidir ao dia e à noite e separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. E houve uma tarde e uma manhã: quarto dia. Deus disse: “Fervilhem as águas de seres animados de vida e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam, em multidão, nas águas, segundo as suas espécies, e todas as aves, segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo as suas espécies”. E assim se fez. Deus fez os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos segundo as suas espécies e todos os répteis do solo segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. E Deus disse: “Eis que vos entrego todas as plantas que dão semente  sobre a terra, e todas as árvores que produzem fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou todos os  vegetais para alimento”. E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. E assim foram concluídos o céu e a terra com todo o seu exército. No sétimo dia, Deus considerou acabada toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia descansou de toda a obra que fizera.

Salmo - Sl 103
R. Enviai o vosso Espírito Senhor,
e da terra toda a face renovai.

Bendize, ó minha alma, ao Senhor!*
Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
De majestade e esplendor vos revestis*
e de luz vos envolveis como num manto. R.

A terra vós firmastes em suas bases,*
ficará firme pelos séculos sem fim;
os mares a cobriam como um manto,*
e as águas envolviam as montanhas. R.

Fazeis brotar em meio aos vales as nascentes*
que passam serpeando entre as montanhas;
às suas margens vêm morar os passarinhos,*
entre os ramos eles erguem o seu canto. R.

De vossa casa as montanhas irrigais,*
com vossos frutos saciais a terra inteira;
fazeis crescer os verdes pastos para o gado*
e as plantas que são úteis para o homem. R.

Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras,*
e que sabedoria em todas elas!
Encheu-se a terra com as vossas criaturas!*
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! R.

2ª Leitura - Gn 22,1-18
Naqueles dias, Deus pôs Abraão à prova. Chamando-o, disse: “Abraão!”. E ele respondeu: “Aqui estou”. E Deus disse: “Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um monte que eu te indicar”. Abraão levantou-se bem cedo, selou o jumento, tomou consigo dois dos seus servos e seu filho Isaac. Depois de ter rachado lenha para o holocausto, pôs-se a caminho, para o lugar que Deus lhe havia ordenado. No terceiro dia, Abraão, levantando os olhos, viu de longe o lugar. Disse, então, aos seus servos: “Esperai aqui com o jumento, enquanto eu e o menino vamos até lá. Depois de adorarmos a Deus, voltaremos a vós”. Abraão tomou a lenha para o holocausto e a pôs às costas do seu filho Isaac, enquanto ele levava o fogo e a faca. E os dois continuaram caminhando juntos. Isaac disse a Abraão: “Meu pai”. “Que queres, meu filho?”, respondeu ele. E o menino disse: “Temos o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?”. Abraão respondeu: “Deus providenciará a vítima para o holocausto, meu filho”. E os dois continuaram caminhando juntos. Chegados ao lugar indicado por Deus, Abraão ergueu um altar, colocou a lenha em cima, amarrou o filho e o pôs sobre a lenha em cima do altar. Depois, estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho. E eis que o anjo do Senhor gritou do céu, dizendo: “Abraão! Abraão!”. Ele respondeu: “Aqui estou!”. E o anjo lhe disse: “Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único”. Abraão, erguendo os olhos, viu um carneiro preso num espinheiro pelos chifres; foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho. Abraão passou a chamar aquele lugar: “O Senhor providenciará”. Donde até hoje se diz: “Sobre o monte o Senhor providenciará”. O anjo do Senhor chamou Abraão, pela segunda vez, do céu, e lhe disse: “Juro por mim mesmo - oráculo do Senhor -, uma vez que agiste deste modo e não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste”.

Salmo - Sl 15
R. Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

Ó Senhor, sois minha herança e minha taça,*
meu destino está seguro em vossas mãos!
Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,*
pois se o tenho a meu lado não vacilo. R.

Eis por que meu coração está em festa,
minha alma rejubila de alegria,*
e até meu corpo no repouso está tranqüilo;
pois não haveis de me deixar entregue à morte,*
nem vosso amigo conhecer a corrupção. R.

Vós me ensinais vosso caminho para a vida;
junto a vós, felicidade sem limites,*
delícia eterna e alegria ao vosso lado! R.

3ª Leitura - Ex 14,15-15,1
Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha. Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. De minha parte, endurecerei o coração dos egípcios, para que sigam atrás deles, e eu seja glorificado às custas do Faraó, e de todo o seu exército, dos seus carros e cavaleiros. E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do Faraó, dos seus carros e cavaleiros”. Então, o anjo do Senhor, que caminhava à frente do acampamento dos filhos de Israel, mudou de posição e foi para trás deles; e com ele, ao mesmo tempo, a coluna de nuvem, que estava na frente, colocou-se atrás, 20inserindo-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento dos filhos de Israel. Para aqueles a nuvem era tenebrosa, para estes, iluminava a noite. Assim, durante a noite inteira, uns não puderam aproximar-se dos outros. Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante toda a noite o Senhor fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte; e as águas se dividiram. Então, os filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam como que uma muralha à direita e à esquerda. Os egípcios puseram-se a persegui-los, e todos os cavalos do Faraó, carros e cavaleiros os seguiram mar adentro. Ora, de madrugada, o Senhor lançou um olhar, desde a coluna de fogo e da nuvem, sobre as tropas egípcias e as pôs em pânico. Bloqueou as rodas dos seus carros, de modo que só a muito custo podiam avançar. Disseram, então, os egípcios: “Fujamos de Israel! Pois o Senhor combate a favor deles, contra nós”. O Senhor disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem contra os egípcios, seus carros e cavaleiros”. Moisés estendeu a mão sobre o mar e, ao romper da manhã, o mar voltou ao seu leito normal, enquanto os egípcios, em fuga, corriam ao encontro das águas, e o Senhor os mergulhou no meio das ondas. As águas voltaram e cobriram carros, cavaleiros e todo o exército do Faraó, que tinha entrado no mar em perseguição de Israel. Não escapou um só. Os filhos de Israel, ao contrário, tinham passado a pé enxuto pelo meio do mar, cujas águas lhes formavam uma muralha à direita e à esquerda. Naquele dia, o Senhor livrou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, e a mão poderosa do Senhor agir contra eles. O povo temeu o Senhor, e teve fé no Senhor e em Moisés, seu servo. Então, Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor este cântico.

Salmo - Ex 15, 1-5.17-18
R. O Senhor é rei para sempre.

“Cantarei ao Senhor, porque ele manifestou sua glória.
Precipitou no mar cavalos e cavaleiros.         
O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico;
foi ele quem me salvou.

Ele é o meu Deus – eu o celebrarei;
o Deus de meu pai – eu o exaltarei.   
O Senhor é o herói dos combates, seu nome é Javé.
Lançou no mar os carros do faraó e o seu exército;
a elite de seus combatentes afogou-se no mar Vermelho;

o abismo os cobriu; afundaram-se nas águas como pedra.
Conduzi-lo-eis e o plantareis na montanha que vos pertence,
no lugar que preparastes para vossa habitação,
Senhor, no santuário, Senhor, que vossas mãos fundaram.
O Senhor é rei para sempre, sem fim!”.

4ª Leitura - Is 54,5-14
Teu esposo é aquele que te criou, seu nome é Senhor dos exércitos; teu redentor, o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. O Senhor te chamou, como a mulher abandonada e de alma aflita; como a esposa repudiada na mocidade, falou o teu Deus. Por um breve instante eu te abandonei, mas com imensa compaixão volto a acolher-te. Num momento de indignação, por um pouco ocultei de ti minha face, mas com misericórdia eterna compadeci-me de ti, diz teu salvador, o Senhor. Como fiz nos dias de Noé, a quem jurei nunca mais inundar a terra, assim juro que não me irritarei contra ti nem te farei ameaças. Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu misericordioso Senhor. Pobrezinha, batida por vendavais, sem nenhum consolo, eis que assentarei tuas pedras sobre rubis, e tuas bases sobre safiras; revestirei de jaspe tuas fortificações, e teus portões, de pedras preciosas, e todos os teus muros, de pedra escolhida. Todos os teus filhos serão discípulos do Senhor, teus filhos possuirão muita paz; terás a justiça por fundamento. Longe da opressão, nada terás a temer; serás livre do terror, porque ele não se aproximará de ti.

Salmo - Sl 29
R. Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes!

Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,*
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
Vós tirastes minha alma dos abismos*
e me salvastes, quando estava já morrendo! R.

Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,*
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
Pois sua ira dura apenas um momento,*
mas sua bondade permanece a vida inteira;
se à tarde vem o pranto visitar-nos,*
de manhã vem saudar-nos a alegria. R.

Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!*
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
Transformastes o meu pranto em uma festa,*
Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos! R.

5ª Leitura - Is 55,1-11
Assim diz o Senhor, “Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças concedidas a Davi. Eis que fiz dele uma testemunha para os povos, chefe e mestre para as nações. Eis que chamarás uma nação que não conhecias, e acorrerão a ti povos que não te conheciam, por causa do Senhor, teu Deus, e do Santo de Israel, que te glorificou. Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto. Abandone o ímpio seu caminho, e o homem injusto, suas maquinações; volte para o Senhor, que terá piedade dele, volte para nosso Deus, que é generoso no perdão. Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra. Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

Salmo - Is 12, 2.4-6
R. Com alegria bebereis do manancial da salvação.

Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo;*
o Senhor é minha força, meu louvor e salvação.
Com alegria bebereis do manancial da salvação. R.

e direis naquele dia: “Dai louvores ao Senhor,
invocai seu santo nome, anunciai suas maravilhas,*
entre os povos proclamai que seu nome é o mais sublime. R.

Louvai cantando ao nosso Deus, que fez prodígios e portentos,*
publicai em toda a terra suas grandes maravilhas!
Exultai cantando alegres, habitantes de Sião,*
porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!”. R.

6ª Leitura - Br 3,9-15.32-4,4
Ouve, Israel, os preceitos da vida; presta atenção, para aprenderes a sabedoria. Que se passa, Israel? Como é que te encontras em terra inimiga? Envelheceste num país estrangeiro, te contaminaste com os mortos, foste contado entre os que descem à mansão dos mortos. Abandonaste a fonte da sabedoria! Se tivesses continuado no caminho de Deus, viverias em paz para sempre. Aprende onde está a sabedoria, onde está a fortaleza e onde está a inteligência, e aprenderás também onde está a longevidade e a vida, onde está o brilho dos olhos e a paz. Quem descobriu onde está a sabedoria? Quem penetrou em seus tesouros? Aquele que tudo sabe, conhece-a, descobriu-a com sua inteligência; aquele que criou a terra para sempre e a encheu de animais e quadrúpedes; aquele que manda a luz, e ela vai, chama-a de volta, e ela obedece tremendo. As estrelas cintilam em seus postos de guarda e alegram-se; ele chamou-as, e elas respondem: “Aqui estamos”; e alumiam com alegria o que as fez. Este é o nosso Deus, e nenhum outro pode comparar-se com ele. Ele revelou todo o caminho da sabedoria a Jacó, seu servo, e a Israel, seu bem-amado. Depois, ela foi vista sobre a terra e habitou entre os homens. A sabedoria é o livro dos mandamentos de Deus, é a lei, que permanece para sempre. Todos os que a seguem, têm a vida, e os que a abandonam, têm a morte. Volta-te, Jacó, e abraça-a; marcha para o esplendor, à sua luz. Não dês a outro a tua glória nem cedas a uma nação estranha teus privilégios. Ó Israel, felizes somos nós, porque nos é dado conhecer o que agrada a Deus.

Salmo - Sl 18
R. Senhor, tens palavras de vida eterna.

Alei do Senhor Deus é perfeita,*
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,*
sabedoria dos humildes. R.

Os preceitos do Senhor são precisos,*
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,*
para os olhos é uma luz. R.

É puro o temor do Senhor,*
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos*
e justos igualmente. R.

Mais desejáveis do que o ouro são eles,*
do que o ouro refinado.
Suas palavras são mais doces que o mel,*
que o mel que sai dos favos. R.

7ª Leitura - Ez 36,16-17a.18-28
A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: “Filho do homem, os da casa de Israel estavam morando em sua terra. Mancharam-na com sua conduta e suas más ações. Então derramei sobre eles a minha ira, por causa do sangue que derramaram no país e dos ídolos com os quais o mancharam. Eu dispersei-os entre as nações, e eles foram espalhados pelos países. Julguei-os de acordo com sua conduta e suas más ações. Quando eles chegaram às nações para onde foram, profanaram o meu santo nome; pois deles se comentava: ‘Esse é o povo do Senhor; mas tiveram de sair do seu país!’. Então eu tive pena do meu santo nome que a casa de Israel estava profanando entre as nações para onde foi. Por isso, dize à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus: Não é por causa de vós que eu vou agir, casa de Israel, mas por causa do meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. Vou mostrar a santidade do meu grande nome, que profanastes no meio das nações. As nações saberão que eu sou o Senhor - oráculo do Senhor Deus - quando eu manifestar minha santidade à vista delas por meio de vós. Eu vos tirarei do meio das nações,  vos reunirei de todos os países, e vos conduzirei para a vossa terra. Derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados. Eu vos purificarei de todas as impurezas e de todos os ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei o meu espírito dentro de vós e farei com que sigais a minha lei e cuideis de observar os meus mandamentos. Habitareis no país que dei a vossos pais. Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus.

Salmo - Sl 41
R. A minh’alma tem sede de Deus.

A minh’alma tem sede de Deus,*
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver*
a face de Deus? R.

Peregrino e feliz caminhando*
para a casa de Deus,
entre gritos, louvor e alegria*
da multidão jubilosa. R.

Enviai vossa luz, vossa verdade:*
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso Monte santo,*
até a vossa morada! R.

Então irei aos altares do Senhor,*
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei, ao som da harpa,*
meu Senhor e meu Deus! R.

Evangelho - Mc 16,1-7
Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?”. Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra já tinha sido retirada. Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado do lado direito, vestido de branco. E ficaram muito assustadas. Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”.

Comentário feito por São Cromácio de Aquileia (?-407)
bispo

O mundo inteiro, que celebra a Vigília Pascal durante toda esta noite, testemunha a grandeza e a solenidade da mesma. E com razão: nesta noite a morte foi vencida, a Vida está viva, Cristo ressuscitou dos mortos. Outrora, Moisés dissera ao povo, a propósito desta Vida: “Sentireis a vossa vida suspensa e tremereis noite e dia” (Dt 28,66). [...] Que aqui se trata de Cristo Senhor, é Ele próprio que no-lo mostra no Evangelho, quando diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele Se diz o caminho, porque conduz ao Pai; a verdade, porque condena a mentira; e a vida, porque comanda a morte [...]: “Onde está, ó morte, a tua vitória?  Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor 15,55). Porque a morte, que sempre fora vitoriosa, foi vencida pela morte dAquele que a venceu. A Vida aceitou morrer para desconcertar a morte. Da mesma forma que, ao nascer do dia, as trevas desaparecem, assim foi a morte aniquilada, quando se ergueu a Vida eterna. [...] Eis, pois, o Tempo Pascal. Outrora, Moisés falou ao seu povo dizendo: “Este mês será para vós o primeiro dos meses; ele será para vós o primeiro dos meses do ano” (Ex 12,2). [...] O primeiro mês do ano não é, portanto, janeiro, em que tudo está morto, mas o Tempo Pascal, em que tudo retorna à vida. Porque é agora que a erva dos prados, de certa forma, ressuscita da morte, é agora que há flores nas árvores e que as vinhas têm rebentos, é agora que o próprio ar parece feliz com o início de um novo ano. [...] Este Tempo Pascal é, assim, o primeiro mês, o tempo novo [...] e, também neste dia, o gênero humano é renovado. Pois hoje, no mundo inteiro, inumeráveis povos ressuscitam, pela água do batismo, para uma vida nova. [...] E nós, que acreditamos que o Tempo Pascal é, na verdade, o ano novo, devemos celebrar esse santo dia com toda a alegria e exultação e júbilo espiritual, para podermos dizer, verdadeiramente, este refrão do salmo: “Este é o dia da vitória do Senhor: cantemos e alegremo-nos nele!” (117,24).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quaresma: tempo propício para renovarmos nosso caminho de fé


Mensagem de Sua Santidade
Papa Bento XVI
para a Quaresma de 2012

“Prestemos atenção uns aos outros,
para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10, 24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito, este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor “com um coração sincero, com a plena segurança da ” (v. 22), de conservarmos firmemente “a profissão da nossa esperança” (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, “o amor e as boas obras” (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

1. “Prestemos atenção”: a responsabilidade pelo irmão
O primeiro elemento é o convite a “prestar atenção”: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a “observar” as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a “dar-se conta” do cisco que têm na própria vista antes de reparar na trave que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também em outro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a “considerar Jesus” (Lc 3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela “esfera privada”. Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o “guarda” dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: “O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo” (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é “bom e faz o bem” (Sl 119, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de “anestesia espiritual”, que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, “seguiram adiante” do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de “prestar atenção”, de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de “ter misericórdia” por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: “O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende” (Pr 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança “dos que choram” (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O fato de “prestar atenção” ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje se é muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa ao bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: “Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele se tornará ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber” (Pr 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de “corrigir os que erram”. É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: “Se porventura um homem for surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, para não seres surpreendido, tu também, pela tentação” (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que “sete vezes cai o justo” (Pr 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. “Uns aos outros”: o dom da reciprocidade
O fato de sermos o “guarda” dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de considerá-la na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode se tornar surda tanto aos sofrimentos físicos, quanto às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que “leva à paz e à edificação mútua” (Rm 14, 19), favorecendo o “próximo no bem, visando à edificação da comunidade” (Rm 15, 2), sem buscar “o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos” (1Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm que ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, tanto no bem quanto no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas se alegra contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que “os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros” (1Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, cada cristão pode expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e onipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).

3. “Para nos estimularmos ao amor e às boas obras”: caminhar juntos na santidade
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (Hb 10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1Cor 12, 31-13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efecivo sempre maior, “como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia” (Pr 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de “colocar para render os talentos” que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à “medida alta da vida cristã” (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: “Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima” (Rm 12, 10).
Que todos, diante de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Hb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI

* Extraído do site do Vaticano. Revisado e adaptado por Paulo R. A. Pacheco.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O que resta do Pai?



Por Jonah Lynch

Impressiona pela profundidade das intuições o último trabalho do psicanalista Massimo Recalcati, Cosa resta del padre? (O que resta do pai?, em tradução livre; ndt), na livrarias pela editora de Raffaello Cortina. 
Vai muito além das minhas competências avaliar a interpretação de Lacan que nutre e sustenta o pensamento do autor. O que gostaria de considerar é apenas uma pequena parte do livro, que porém é uma janela útil para se chegar ao conjunto da proposta de Recalcati. Trata-se de um dos exemplos literários tomados como “testemunhos” ao final do livro: a figura do pai em A estrada, de Cormac McCarthy. Recalcati sintetiza assim a lição que aquele pai nos dá, através do seu testemunho da esperança, do seu “levar o fogo”: “A vida não é abuso, não é luta para o triunfo do mais forte, não é violência cega. A vida é dedicação, cuidado, presença. A dedicação de um pai a um filho. O amor não é amor da vida, não é amor pelo mundo. O amor é amor do nome, é amor por um nome próprio, pelo mais particular, é amor de um pai por um filho. Nunca é amor pelo universal” (p. 162). Na página seguinte, o autor afirma nas entrelinhas uma novidade desta posição quanto ao que diz respeito à tradição cristã: “O verbo existe apenas através de uma criança. Não é mais aquilo que redime e justifica a vida, não é mais aquilo que pode salvar o mundo, mas é aquilo que pode continuar a existir somente através da singularidade de uma vida” (p. 163). O autor conclui a sua interpretação de McCarthy com um decálogo minimalista: “... algo que resiste, que não cede diante do próprio desejo, a algo, uma sobra de pai que, mesmo no esfacelamento e na decomposição niilista de todos os valores, insiste em transmitir com o fogo a vida como possível. Não matar, não comer, não violentar o outro homem. O que sobra do pai é o ser portador do fogo na noite escura de um mundo sem Deus” (p. 168).
Foi exatamente isto que me comoveu em A estrada. O mundo é mais feio quando vivido sem doação. O egoísmo não nos realiza. Com Recalcati, estou convicto de que seja melhor, mais conveniente para si e para os outros, viver a gratuidade, mesmo que seja na ausência de alguma justificativa transcendente.
Mas, me pergunta se a beleza sedutora de afirmar o outro não obstante tudo, “na noite escura de um mundo sem Deus”, não possa também esconder uma falsidade sutil. Este altruísmo parece ter necessidade da cenografia de um mundo desesperado e brutal. De outra forma, o seu esforço nobre e trágico não ressaltaria. Mas quem me garante que o sacrifício e o meu fazer as vezes do Pai-eterno ausente não seja, na realidade, a minha necessidade de me sentir um herói?
A resposta a esta pergunta está na experiência do sacrifício por amor, tema pouco valorizado no livro de Recalcati. Ele chega à soleira do problema, nas últimas páginas, dedicadas ao filme de Clint Eastwood, Gran Torino, mas não o enfrenta.
Não insisto sobre este ponto apenas por um senso de conservadorismo militante, mas porque é estranho como Recalcati recusa o Deus cristão e, ao mesmo tempo, acaba fazendo um retrato Seu em muitos aspectos preciso, comovente e desejável.
Parece que o axioma tantas vezes repetido do “céu vazio” seja simplesmente uma opinião do autor que tem pouco que ver com o conteúdo da sua proposta. Estamos de acordo praticamente em tudo: graças a Deus que o céu não contém a terrível presença do deus de Sartre ou de um pai-tirano como Zeus. Tem razão, é muito sugestivo descrever o pai, com Lacan, como aquele que une desejo e Lei. É fundamental a experiência do limite e da falha, assim como é fundamental experimentar a vida como mistério superabundante, e viver tanto a errância quanto a pertença, trazidas à tona pelo autor com uma referência ao filho pródigo.
Mas quem foi que disse que não há um vínculo forte e real entre a doação de um pobre pai perdido nas cinzas pós-apocalípticas e a suma gratuidade do Pai criador? Por que não afirmar também esta possibilidade? Ela exalta, não elimina, a beleza da “singularidade de uma vida”.
Fico tocado que aquilo que Recalcati propõe e deseja seja justamente aquilo que Jesus fez. Ele não resolveu os problemas. O Onipotente não dominou com seu poder, mas se humilhou e se comunicou a poucas vidas singulares, aos apóstolos.
Não iluminou a noite com uma mágica solução deus ex machina. Mais do que isso: ele transmitiu o fogo da caridade, que rende a vida possível e belíssima, mesmo quando é inteiramente vivida no vale escuro do mundo hiper-moderno. Tu estás comigo: não temerei mal algum. Sobretudo, não temerei que amanhã seja inevitavelmente pior do que hoje. Aquele fogo que Tu me acendeste poderá passar não apenas a um filho, mas a dois, talvez três. Será preciso o tempo, mas assim nascerá um povo luminoso.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 12 de outubro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Bin Laden e o perdão


Por Lorenzo Albacete

Não há dúvida de que quem sofreu na carne ou viu sofrendo algum ente querido as consequências dos ataques terroristas de 2001 a notícia da morte de Bin Laden tenha suscitado um sentimento de “saúde emotiva”. Como na reação de Lee Lelpi, um bombeiro aposentado de New York cujo filho, que também era um bombeiro, perdeu a vida no desabamento das Torres Gêmeas, e que declarou no Il Politico: “não tenho palavras; estou aqui, sentado, chorando. Temia que este dia nunca fosse chegar... mas, a justiça prevaleceu”.
Posso entender esta reação, pensando nos parentes dos hispânicos, na paróquia na qual eu trabalhava, que morreram no atentado terrorista. O que me perturba é outro tipo de reação. Tão logo se difundiu a notícia da execução de Bin Laden, no final da noite de domingo, uma multidão aplaudindo e agitando bandeiras se amontoou diante da Casa Branca. Esse encontro desencadeou uma entusiasmada expressão de alegria e de orgulho patriótico, que muitos compararam à solidariedade que uniu todos os norte-americanos no dia 11 de setembro de 2001.
Outra massa de pessoas se reuniu para festejar em New York, em torno do venerado Ground Zero. Pouco a pouco, o mesmo aconteceu por toda a nação, especialmente perto dos campi universitários, inclusive da Academia Militar de West Point. Como alguém me disse: “Parecia a comemoração da vitória de um time de futebol”.
Michael Bloomberg, prefeito de New York, tentou explicar assim estas reações: “O assassinato de Osama Bin Laden não diminui o sofrimento que os nova-iorquinos e os norte-americanos experimentaram por sua causa, mas é uma vitória muito importante para a nossa nação. Em New York, esperamos por esta notícia por quase dez anos. A minha esperança é que traga conforto e um pouco de paz a todos aqueles que perderam alguém no dia 11 de setembro de 2001”. O problema desta explicação é que os participantes destas manifestações públicas eram universitários, que tinham 10 ou 12 anos quando dos ataques terroristas, e fica difícil imaginar que tenham esperado dez anos para essa comemoração.
Uma reação semelhante foi a de Condoleezza Rice, ex-Secretária de Estado e conselheira para a segurança nacional de Bush, que definiu a notícia como “absolutamente excitante”. “O fim de Osama Bin Laden é uma vitória enorme para o povo norte-americano”, disse Rice, “nada pode fazer com que as vítimas de Bin Laden voltem à vida, mas talvez isto possa ser uma bálsamo para as feridas de seus entes queridos que sobreviveram”.
Todavia, os funcionários que agiram durante os devastantes ataques, sobretudo os de New York, saudaram a morte de Bin Laden como um triunfo, mas nunca como uma contrapartida de mesma medida das vidas perdidas nestes fatos. Outros, porém, veem o assassinato de Bin Laden como um ato divino. Um bombeiro disse: “Deus abençoe o presidente Bush e Deus abençoe o presidente Obama por isso. É um grande alívio para as famílias, tanto quanto poderiam ter. É algo de grande para nós”.
Até ao final da manhã, os automóveis, nas ruas perto da Casa Branca, marcavam ao som de buzina o seu júbilo, enquanto que os pedestres se reuniam nas esquinas, como que seguindo o convite do presidente Obama: “Esta noite, lembremo-nos do sentido de unidade que prevaleceu” no momento dos ataques terroristas. “O resultado de agora é um testemunho da grandeza de nosso país e da determinação do povo norte-americano”.
Alguns entreviram a mão da divina Providência na data da execução de Bin Laden. No dia primeiro de maio, mais ou menos na mesma hora do discurso de Obama para a nação, a rádio alemã, em 1945, anunciava a morte de Hitler; e também nesse dia, J. Edgar Hoover era nomeado chefe do FBI. Aqueles, porém, que haviam definido o ataque terrorista um juízo de Deus sobre a imoralidade americana ainda não deram o ar da graça.
No entanto, há ainda outra possível manifestação do juízo divino nesta semana: a beatificação do Papa João Paulo II, no dia primeiro de maio, durante as celebrações do Domingo da Divina Misericórdia, festa criada pelo mesmo Beato João Paulo II. Lembro-me muito bem do estupor dos norte-americanos diante da capa da Time Magazine que mostrava o Papa enquanto abraçava aquele que havia tentado assassiná-lo.
A grande palavra da semana foi “alívio”, em sentido psicológico. Agora, finalmente, podemos “curar” os nossos corações feridos. Mas, será de fato possível? Podemos, verdadeiramente, ficar satisfeitos com a justiça feita por um poder humano?
A justiça que pode trazer uma verdadeira paz para os nossos coração feridos se chama perdão e deriva da fé em Cristo, como o Beato João Paulo II nos mostrou. Esta é a Divina Misericórdia que Jesus mesmo demonstrou ao homem crucificado ao Seu lado, um criminoso que, em termos modernos, chamaríamos de terrorista.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 4 de maio de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sábado, 30 de abril de 2011

... o caminho não apenas para transformar a nós mesmos, mas também para transformar o mundo

Bento XVI

Audiência Geral

Praça São Pedro
Quarta-feira, 27 de abril de 2011.

A Oitava de Páscoa

Caros irmãos e irmãs,
Nestes primeiros dias do Tempo Pascal, que se prolonga até ao Pentecostes, estamos ainda cheios do frescor e da alegria nova que as celebrações litúrgicas trouxeram para os nossos corações. Por isso, hoje, gostaria de refletir convosco, brevemente, sobre a Páscoa, coração do mistério cristão. Tudo, de fato, tem início aqui: Cristo ressuscitado dos mortos é o fundamento da nossa fé. Da Páscoa se irradia, como de um centro luminosos, incandescente, toda a liturgia da Igreja, tirando dela conteúdo e significado. A celebração litúrgica da morte e ressurreição de Cristo não é uma simples comemoração deste evento, mas é a sua atualização no mistério, para a vida de cada cristão e de cada comunidade eclesial, para a nossa vida. De fato, a fé no Cristo ressuscitado transforma a existência, operando em nós uma contínua ressurreição, como escrevia São Paulo aos primeiros crentes: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade” (Ef 5, 8-9).
Como podemos, então, tornar a Páscoa uma “vida”? Como a nossa existência interior e exterior pode assumir uma “forma” pascal? Temos que partir da compreensão autêntica da ressurreição de Jesus: tal evento não é um simples retorno à vida precedente, como foi para Lázaro, para a filha de Jairo ou para o jovem de Nain, mas é algo de completamente novo e diferente. A ressurreição de Cristo é a porta para uma vida não mais submetida à caducidade do tempo, uma vida imersa na eternidade de Deus. Na ressurreição de Jesus tem início uma nova condição do ser homens, que ilumina e transforma o nosso caminho de todo dia e abre um futuro qualitativamente diverso e novo para a humanidade inteira. Por isto, São Paulo não apenas liga, de maneira incindível, a ressurreição dos cristãos à de Jesus (cf. 1Cor 15, 16.20), mas indica também como se deve viver o mistério pascal na cotidianidade da nossa vida.
Na Carta aos Colossenses ele escreve: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra” (3, 1-2). À primeira vista, lendo este texto, poderia parecer que o Apóstolo pretenda favorecer o desprezo das realidades terrenas, convidando a esquecermo-nos deste mundo de sofrimentos, de injustiças, de pecados, para viver antecipadamente num paraíso celeste. O pensamento do “céu” seria, nesse caso, uma espécie de alienação. Mas, para entender o sentido verdadeiro destas afirmações paulinas, basta que não as separemos do contexto. O Apóstolo precisa muito bem aquilo que pretende pelas “coisas lá de cima” que o cristão deve buscar, e as “da terra”, das quais deve ser guardar. Eis, antes de mais nada, quais são “as coisas da terra” que é preciso evitar: “Mortificai, pois – escreve São Paulo –, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria” (3, 5). Fazer morrer em nós o desejo insaciável de bens materiais, o egoísmo, raiz de todo pecado. Portanto, quando o Apóstolo convida os cristãos a separar-se decididamente das “coisas da terra”, quer claramente que entendamos que se trata das coisas que pertencem ao “homem velho” de que o cristão deve se despir, para se revestir de Cristo.
Assim como foi claro ao dizer quais são as coisas em direção aos quais não devemos fixar o nosso coração, com a mesma clareza São Paulo nos indica quais são as “coisas lá de cima”, que o cristão devem, pelo contrário, buscar e saborear. Elas dizem respeito àquilo que pertence ao “homem novo”, que se revestiu de Cristo uma vez por todas no Batismo, mas que sempre precisa renovar-se “à imagem dAquele que o criou” (Col 3, 10). Eis como o Apóstolo dos Gentios descreve estas “coisas lá de cima”: “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente (...). Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col 3, 12-14). São Paulo está, portanto, muito distante de querer convidar os cristãos, cada um de nós, a evadirem do mundo no qual Deus nos colocou. É verdade que somos cidadãos de uma outra “cidade”, onde se encontra a nossa verdadeira pátria, mas o caminho em direção a esta meta deve ser percorrido por nós cotidianamente nesta terra. Participando desde agora da vida de Cristo ressuscitado devemos viver como homens novos neste mundo, no coração da cidade terrena.
E este é o caminho não apenas para transformar a nós mesmos, mas também para transformar o mundo, para dar à cidade terrena um rosto novo que favoreça o desenvolvimento do homem e da sociedade segundo da lógica da solidariedade, da bondade, no profundo respeito pela dignidade própria de cada um. O Apóstolo nos recorda quais são as virtudes que devem acompanhar a vida cristã; no vértice está a caridade, à qual todas as outras estão ligadas como que à fonte e à matriz. Ela resume e compendia “as coisas do céu”: a caridade que, com a fé e a esperança, representa a grande regra de vida do cristão e define sua natureza profunda.
A Páscoa, portanto, leva a novidade de uma passagem profunda e total de um vida sujeita à escravidão do pecado a uma vida de liberdade, animada pelo amor, força que abate toda barreira e constrói uma nova harmonia no próprio coração e no relacionamento com os outros e com as coisas. Todo cristão, assim como toda comunidade, se vive a experiência desta passagem de ressurreição, deve ser fermento novo no mundo, dando-se sem reservas para as causas mais urgentes e mais justas, como demonstram os testemunhos dos Santos em todas as épocas e todos os lugares. São tantas as expectativas do nosso tempo: nós cristãos, crendo firmemente que a ressurreição de Cristo renovou o homem, sem tirá-lo do mundo no qual constrói a sua história, devemos ser as testemunhas luminosas desta vida nova que a Páscoa trouxe. A Páscoa é, portanto, dom para ser acolhido sempre mais profundamente na fé, para poder operar em toda situação, com a graça de Cristo, segundo a lógica de Deus, a lógica do amor. A luz da ressurreição de Cristo deve penetrar este nosso mundo, deve atingir, como mensagem de verdade e de vida, a todos os homens através do nosso testemunho cotidiano.
Caros amigos, sim, Cristo ressurgiu verdadeiramente! Não podemos manter só para nós a vida e a alegria que Ele nos deu na sua Páscoa, mas devemos dá-la a todos que se aproximam de nós. É a nossa tarefa e a nossa missão: fazer ressurgir no coração do próximo a esperança onde há desespero, a alegria onde há tristeza, a vida onde há morte. Testemunhar todos os dias a alegria do Senhor ressuscitado significa viver sempre de “modo pascal” e fazer ressoar o feliz anúncio de que Cristo não é uma ideia ou uma recordação do passado, mas uma Pessoa que vive conosco, para nós e em nós, e com Ele, por e nEle podemos fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5).

* Extraído do site do Vaticano, do dia 27 de abril de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

São os “justos” que alimentam a esperança dos homens


Por Giovanni Cominelli

Gabriele Nissim é presidente do Comitê para a Floresta dos Justos, além de ser autor de livros que descreveram os protagonistas de ações justas e às vezes heroicas contra os totalitarismos modernos.
O seu último livro – La bontà insensata: il segreto degli uomini giusti (A bondade insensata: o segredo dos homens justos – em tradução livre –; ainda não tem publicação prevista no Brasil. Na Itália, o livro foi publicado pela Editora Mondadori; ndt) – não é exatamente o que se poderia chamar de ensaio histórico. Não faltam nele histórias de personagens e de eventos, mas nas entrelinhas se lê a autobiografia de um itinerário intelectual e espiritual. Como muitos de sua geração, Nissim compartilhou esperanças ativamente, além de mitos, ilusões daquele universo que pareceu a eles (a nós!), na época, em expansão infinita: o 1968. E quando da cultura dos direitos civis e da liberdade sinônimo de permissividade, o movimento final do segundo “biênio vermelho” do século XX desviou-se, num caminho de retorno em direção aos arquivos da história do movimento operário dos anos 1920 e 1930 e roubou dele as análises, as categorias e visões, também Gabriele Nissim resolveu assumir esse caminho. Mas, o estudo mais aproximativo do subsolo das dissidências nos países do Leste Europeu o levou, em fins dos anos 1970 e durante todo a década de 1980, em direção a uma derrubada radical da mitologia “revolucionária”.
Esta ruptura epistemológica não aconteceu somente em linhas filosóficas internas, mesmo que a meditação sobre os livros de Hannah Arendt lhe tenha aberto novoso horizontes. Teve papel decisivo, na verdade, o confronto com experiências de antitotalitarismo militante na Tchecoslováquia , Polônia, Hungria, União Soviética... Nissim encontrou, naqueles anos, os grupos perseguidos ou não tolerados pela dissidência que, depois de 1989, ascenderam a postos de responsabilidade em quase todos os países do Leste Europeu. A ideia revolucionária prometia “novos céus e nova terra”, povoados, naturalmente, por uma nova espécie de homem, que ultrapassava o homo sapiens: o homo novus. O homem atual é um animal imperfeito: o comunismo lhes arrancará as imperfeições, por força de duro cinzel, assim como Michelangelo fez emergir a sublime Pietà Rondanini da pedra bruta.  Será necessário sacrificar algumas gerações, aniquilar alguns milhões de homens reais e destinar ao futuro a satisfação das necessidades elementares presentes, mas, no final, o Mal será eliminado da história e da alma do homem.
De resto, já Hegel havia dito: o Absoluto percorre a história com passo pesado, pisando as flores no caminho. A plena separação entre Bem e Mal, o triunfo do Bem e a eliminação do Mal é o sonho antigo do dualismo iraniano, do messianismo judaico, do milenarismo de Gioachino da Fiore, do utopismo dos séculos XVI-XVII, do hegelianismo, do marxismo e do positivismo e, mais recentemente, do neo-milenarismo biotecnológico. É a tensão inextirpável do coração do homem em direção ao Absoluto que, se não vigiada, acaba se curvando ante algum tipo de bezerro de ouro. Quanto a estas sugestivas e trágicas construções teóricas, este livro não oferece um edifício teórico alternativo. Muitos filósofos e pensadores políticos já o fizeram, Nissim cita Hannah Arendt como exemplo maior.
Mas, me vem à mente Albert Camus, que nos primeiros anos da década de 1960, antes de morrer, invocava a adoção de “um pensamento político modesto, ou seja, livre de toda forma de messianismo e vazio da nostalgia do paraíso terrestre”. O escrito de Nissim oferece histórias de personagens como Moshe Bejski, o idealizador do Jardim dos Justos de Jerusalém; Guelfo Zamboni, cônsul geral da Itália em Salônica durante a ocupação alemã; Khaled Abdul Wahab, freqüentador de bordéis tunisianos e salvador de mulheres judias; Zofia Kossak, polonesa católica e antissemita, mas protetora dos judeus; Vasili Grossman, grande escritor que, na época da idealização estalinista do “complô dos médicos judeus” contra a URSS, silenciou; Pavel Florenski, que resistiu a Stálin até morrer; o poeta Mandelstam; o escritor Soljenítsin; Václav Havel... Quais são os pensamentos que eles têm em comum? Bejski, numa conversa com Nissim, pouco antes de morrer num hospital em Jerusalém, diz: “... nunca conseguiremos debelar da História o mal que os homens cometem contra outros homens”. Depois de Auschwitz, houve outro. E ainda está acontecendo...
Então, onde pode estar o fundamento da esperança? Eis a resposta: “podemos sempre contar com a obra dos homens justos, que, em cada época, têm a coragem de enfrentar o mal e que, a cada vez, salvam o mundo”. Os homens justos quase nunca são heróis. São pessoas cotidianas, com o seu mal e os seus medos, às vezes são também um pouco canalhas, e podem até mesmo ser antissemitas, fascistas, nazistas, estalinistas. O bem nem sempre é luminoso. Frequentemente, ele habita terras cinzentas. No entanto, homens e mulheres, assim, decidem realizar atos de “bondade insensata” por um outro homem, segundo a esplêndida definição que Vasili Grossman utiliza. De onde vem esta capacidade de se opor, de dizer não? Vem de uma teoria, de uma filosofia do Bem, de uma fé, de uma teologia? Vem do “coração do homem”. E é este quid incompreensível que mantém a história dos homens sempre aberta; que dá a força para “não participar pessoalmente da mentira”, assim como Soljenítsin convidou a fazer no dia seguinte à sua prisão; que faz aparecer a solidão do justo como lugar criativo de uma renovada posição diante do mundo, como escreve Jan Patocka, o filósofo tchecoslovaco duramente perseguido pelo regime; que cria a “polis paralela”, como escreveu Václav Havel; que não tem pretensões de vanguarda revolucionária, mas que é revolucionária.
No fundo, está a fidelidade à verdade, ao viver a verdade: “é melhor estar em desacordo com o mundo do que com a própria consciência”. Não seria, talvez, verdadeiro que “a verdade vos libertará”? Certamente, mesmo aqui há uma antropologia subjacente, uma ideia do mundo, que é também aquela do Autor da frase: disponhamos, em nosso caminho humano, de um pequeno espaço, só nosso, o da nossa responsabilidade e liberdade. É uma antropologia do limite e da finitude. É o espaço dos nossos “dias contados”. Aqui, a nossa liberdade se encontra com o nosso destino. O belo deste livro é que estas verdades profundas e elementares não advêm de um tratado de filosofia política, mas de pessoas reais, de testemunhas do nosso tempo. Por isso, é um livro profundamente didático e educativo.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 13 de abril de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Comentário ao evangelho do dia

5ª-feira da 3ª Semana Quaresma

1ª Leitura - Jr 7,23-28
Assim fala o Senhor: "Dei esta ordem ao povo dizendo: Ouvi a minha voz, assim serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e segui adiante por todo o caminho que eu vos indicar para serdes felizes. Mas eles não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para a frente, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até ao dia de hoje. A todos enviei meus servos, os profetas, e enviei-os cada dia, começando bem cedo; mas não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, obstinaram-se no erro, procedendo ainda pior que seus pais. Se falares todas essas coisas, eles não te escutarão, e, se os chamares, não te darão resposta. Dirás, então: Esta é a nação que não escutou a voz do Senhor, seu Deus, e não aceitou correção. Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca".

Evangelho - Lc 11,14-23
Naquele tempo, Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. Mas alguns disseram: "É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios". Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: "Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa".

Comentário feito por Bento XVI
Encíclica "Spe Salvi" §§ 30-31

A época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a uma política cientificamente fundada, parecia tornar-se realizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro "reino de Deus". Esta parecia finalmente a esperança grande e realista de que o homem necessita. Estava em condições de mobilizar – por um certo tempo – todas as energias do homem. [...] Mas, com o passar do tempo tornou-se claro que esta esperança escapava sempre para mais longe. Primeiro, compreendemos que esta era talvez uma esperança para os homens de amanhã, mas não uma esperança para mim. E, embora o elemento "para todos" faça parte da grande esperança – com efeito, não posso ser feliz contra e sem os demais –, o certo é que uma esperança que não diga respeito a mim pessoalmente não é sequer uma verdadeira esperança. E tornou-se evidente que esta era uma esperança contra a liberdade. [...] Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar todo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Precisamente o ser gratificado com um dom faz parte da esperança. Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim: a cada indivíduo e à humanidade no seu conjunto. O Seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais chega; o Seu reino está presente onde Ele é amado e onde o Seu amor nos alcança.