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sábado, 15 de outubro de 2011

Santa Teresa de Ávila

15 de outubro


Santa Teresa de Ávila,
rogai por nós!

Nada te turbe 
Nada te espante 
Dios no muda 
Todo se pasa 
La paciencia 
Todo lo alcanza 
Quien a Dios tiene 
Nada le falta 
Solo Dios basta


Nada te perturbe 
Nada te espante 
Tudo passa, 
Só Deus não muda. 
A paciência 
Tudo alcança 
Quem tem a Deus, 
Nada lhe falta. 
Só Deus basta

“Uma prova de que Deus esteja conosco não é o fato de que não venhamos a cair, mas que nos levantemos depois de cada queda”

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Na oração, permanecer abertos à esperança e firmes na fé em Deus


Bento XVI

Audiência Geral

Praça São Pedro
Quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O homem em oração

Caros irmãos e irmãs,
Nas catequeses anteriores meditamos sobre alguns Salmos de lamento e de confiança. Hoje gostaria de refletir convosco sobre um Salmo das noites de festa, uma oração que, na alegria, canta as maravilhas de Deus. É o Salmo 126 – segundo a numeração greco-latina é o 125 –, que celebra as grandes coisas que o Senhor operou com o seu povo e que continuamente opera com cada crente.
O Salmista, em nome de toda Israel, começa a sua oração recordando a experiência da salvação:
“Quando o Senhor reconduzia os cativos de Sião, estávamos como sonhando. Em nossa boca só havia expressões de alegria, e em nossos lábios canto de triunfo.” (vv. 1-2a).
O Salmo fala de uma “recondução”, ou seja de uma sorte restituída ao estado original, em toda a sua positividade anterior. Parte-se, portanto, de uma situação de sofrimento e de necessidade à qual Deus responde operando salvação e levando o orante de volto à condição inicial, enriquecida e mudada para melhor. É o que acontece com Jó, quando o Senhor lhe dá de volta tudo o que havia perdido, duplicando e derramando uma bênção ainda maior (cf. 42, 10-13), e é o que experimenta o povo de Israel voltando para a pátria vindo do exílio na Babilônia. É exatamente em referência ao fim da deportação em terra estrangeira que este Salmo é interpretado: a expressão “reconduzir os cativos de Sião” é lida e compreendida pela tradição como um “fazer retornar os prisioneiros de Sião”. Com efeito, o retorno do exílio é paradigma de toda intervenção divina de salvação, porque a queda de Jerusalém e a deportação para a Babilônia foram uma experiência devastante para o povo eleito, não apenas no plano político e social, mas também e sobretudo no plano religioso e espiritual. A perda da terra, o fim da monarquia davídica e a destruição do Templo são vistos como uma negação das promessas divinas, e o povo da aliança, disperso entre os pagãos, se interroga dolorosamente sobre um Deus que parece tê-lo abandonado. Por isso, o fim da deportação e o retorno para a pátria são experimentados como um maravilhoso retorno à fé, à confiança, à comunhão com o Senhor; é uma “restauração da sorte” que implica também conversão do coração, perdão, reencontro da amizade com Deus, consciência da sua misericórdia e renovada possibilidade de louvá-Lo (cf. Jr 29, 12-14; Jr 30, 18-20; Jr 33, 6-11; Ez 39, 25-29). Trata-se de uma experiência de alegria transbordante, de sorrisos e de gritos de júbilo, de tal forma bela que “parece que estávamos sonhando”. As intervenções divinas, frequentemente, têm formas inesperadas, que vão além do que homem possa imaginar; eis então a maravilha e a letícia que se exprimem no louvor: “O Senhor fez grandes coisas”. É o que dizem as nações, e é o que Israel proclama:
“Entre os pagãos se dizia: O Senhor fez por eles grandes coisas. Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; ficamos exultantes de alegria!” (vv. 2b-3).
Deus faz maravilhas na história dos homens. Operando a salvação, se revela a todos como Senhor poderoso e misericordioso, refúgio do oprimido, que não esquece o grito do pobre (cf. Sl 9, 10.13), que ama a justiça e o direito e cujo amor enche a terra (cf. Sl 32, 5). Por isso, diante da libertação do povo de Israel, todas as gentes reconhecem as coisas grandes e estupendas que Deus realiza pelo seu povo e celebram o Senhor na sua realidade de Salvador. E Israel ecoa a proclamação das nações, e a retoma repetindo-a, mas como protagonista, como destinatário direto da ação divina: “o Senhor fez por nós grandes coisas”; “por nós”, ou ainda mais precisamente, “conosco”, em hebraico ‘immanû, afirmando assim aquele relacionamento privilegiado que o Senhor mantém com seus eleitos e que encontrará no nome Emanuel, “Deus conosco”, com o qual Jesus é chamado, o seu ponto alto e a sua plena manifestação (cf. Mt 1, 23).
Caros irmãos e irmãs, na nossa oração devemos olhar mais frequentemente para como, nos acontecimentos da nossa vida, o Senhor no protegeu, guiou, ajudou e louvá-Lo pelo que fez e faz por nós. Devemos ser mais atentos às coisas boas que o Senhor nos dá. Estamos sempre atentos aos problemas, às dificuldades e quase não queremos perceber que existem coisas belas que vêm do Senhor. Esta atenção, que se torna gratidão, é muito importante para nós e cria em nós uma memória do bem que nos ajuda mesmo nas horas difíceis. Deus realiza coisas grandes, e quem faz experiência disso – atento à bondade do Senhor com a atenção do coração – fica cheio de alegria. É com essa nota de festa que se conclui a primeira parte do Salmo. Ser salvos e voltar para a pátria, saindo do exílio, é como voltar à vida: a libertação abre ao sorriso, mas também à espera de uma realização ainda desejada e pedida. É esta a segunda parte do nosso Salmo que soa assim:
“Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria. Na ida, caminham chorando, os que levam a semente a espargir. Na volta, virão com alegria, quando trouxerem os seus feixes.” (vv. 4-6).
Se no início da oração, o Salmista celebrava a alegria de uma sorte restaurada pelo Senhor, agora, pelo contrário, ele a pede como algo que ainda precisa se realizar. Se este Salmo se aplica à volta do exílio, esta aparente contradição se explicaria com a experiência histórica, feita por Israel, de um retorno difícil para a pátria, somente parcial, que induz o orante a solicitar ainda outra intervenção divina, para levar à plenitude a restauração do povo.
Mas, o Salmo vai além do dado puramente histórico para se abrir a dimensões mais amplas, de tipo teológico. A experiência consoladora da libertação da Babilônia é, de toda forma, ainda incompleta, “já” ocorrida, mas “ainda não” marcada pela plenitude definitiva. Assim, enquanto que na alegria celebra a salvação recebida, a oração se abre para a espera da plena realização. Por isto, o Salmo utiliza imagens particulares, que, com a sua complexidade, remetem à realidade misteriosa da redenção, em que se entrelaçam o dom recebido e o que ainda se espera, vida e morte, alegria sonhadora e lágrimas dolorosas. A primeira imagem faz referência às torrentes secas do deserto do Negev, que com as chuvas se enchem de água impetuosa que dá vida outra vez para o terreno seco e o faz reflorescer. A solicitação do Salmista é, portanto, que a restauração da sorte do povo e o retorno do exílio sejam como aquela água, irresistível e irrefreável, e capaz de transformar o deserto numa imensa extensão de ervas verdes e flores.
A segunda imagem se desloca das colinas áridas e rochosas do Negev para os campos que os camponeses cultivam para tirar deles o alimento. Para falar da salvação, se remete neste ponto à experiência que a cada ano se renova no mundo agrícola: o momento difícil e cansativo da semeadura e depois a alegria irresistível da colheita. Uma semeadura que é acompanhada por lágrimas, porque se joga aquilo que ainda poderia servir para fazer pão, expondo-se a uma espera cheia de incertezas: o camponês trabalha, prepara o terreno, lança a semente, mas, como ilustra bem a parábola do semeador, não sabe onde esta semente vai cair, se os pássaros a comerão, se vai se firmar, se conseguirá lançar raízes, se se tornará espiga (cf. Mt 13, 3-9; Mc 4, 2-9; Lc 8, 4-8). Jogar a semente é um gesto de confiança e de esperança é necessária a operosidade do homem, mas também é preciso se colocar numa espera impotente, sabendo bem que muitos fatores serão determinantes para o bom êxito da colheita e que o risco de uma falha está sempre à espreita. E no entanto, ano após ano, o camponês repete o seu gesto e lança a sua semente. E quando ela se torna espiga, e os campos se enchem com a lavoura, eis a alegria de quem está diante de um prodígio extraordinário. Jesus conhecia bem esta experiência e falava sobre ela com os seus: “Dizia também: O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra. Dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota e cresce, sem ele o perceber.” (Mc 4, 26-27). É o mistério escondido da vida, são as maravilhosas “grandes coisas” da salvação que o Senhor opera na história dos homens e de que os homens ignoram o segredo. A intervenção divina, quando se manifesta em plenitude, mostra uma dimensão impetuosa, como as torrentes do Negev e como o grão nos campos, este último evoca inclusive uma desproporção típica das coisas de Deus: desproporção entre a fadiga da semeadura e a imensa alegria da colheita, entre a ânsia da espera e a serena visão dos celeiros cheios, entre as pequenas sementes lançadas na terra e os grandes feixes dourados pelo sol. Na colheita, tudo se transforma, o pranto acaba, dando lugar ao grito de alegria exultante.
O Salmista se refere a tudo isto para falar da salvação, da libertação, da restauração da sorte, do retorno do exílio. A deportação para a Babilônia, assim como toda situação de sofrimento ou de crise, com sua escuridão feita de dúvidas e de aparente distância de Deus, na realidade, é como uma semeadura, diz o nosso Salmo. No Mistério de Cristo, à luz do Novo Testamento, a mensagem se faz ainda mais explícita e clara: o crente que atravessa aquela escuridão é como o grão de trigo caído na terra que morre, mas para dar muitos frutos (cf. Jo 12, 24); ou então, retomando uma outra imagem cara a Jesus, é como a mulher que sofre as dores do parto para poder chegar à alegria de ter dado à luz uma nova vida (cf. Jo 16, 21).
Caros irmãos e irmãs, este Salmo nos ensina que, na nossa oração, devemos permanecer sempre abertos à esperança e firmes na fé em Deus. A nossa história, ainda que marcada frequentemente pela dor, pelas incertezas, por momentos de crise, é uma história de salvação e de “restauração das sortes”. Em Jesus, todo exílio porque passamos acaba, e toda lágrima é enxugada, no mistério da Sua Cruz, da morte transformada em vida, como o grão de trigo que se rompe na terra e se transforma em espiga. Também para nós esta descoberta de Jesus Cristo é a grande alegria do “sim” de Deus, do restabeleciento da nossa sorte. Mas como aqueles que – voltando da Babilônia cheios de alegria – encontraram uma terra empobrecida, devastada, assim como a dificuldade da semeadura e sofreram chorando sem saber se realmente, no fim, haveria alguma colheita, assim também nós, depois da grande descoberta de Jesus Cristo – a nossa vida, a verdade, o caminho –, entrando no terreno da fé, na “terra da fé”, encontramos também frequentemente uma vida escura, dura, difícil, uma semeadura com lágrimas, mas seguros de que a luz de Cristo nos dá, no fim, realmente, a grande colheita. E devemos aprender isto mesmo nas noites escuras; não esquecer que a luz existe, que Deus já está em nossa vida e que podemos semear com grande confiança de que o “sim” de Deus é mais forte do que todos nós. É importante não perder esta recordação da presença de Deus na nossa vida, esta alegria profunda porque Deus entrou na nossa vida, libertando-nos: é a gratidão pela descoberta de Jesus Cristo, que veio até nós. E esta gratidão se transforma em esperança, é estrela da esperança que nos dá a confiança, é a luz, porque exatamente as dores da semeadura são o início da nova vida, da grande e definitiva alegria de Deus.

* Extraído do site do Vaticano, do dia 12 de outubro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sábado, 8 de outubro de 2011

"Tu estás comigo": esta é a certeza que nos sustenta


Bento XVI

Audiência Geral

Praça São Pedro
Quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O homem em oração

Caros irmãos e irmãs,
Voltar-se para o Senhor na oração implica um radical ato de confiança, na consciência de se confiar a Deus que é bom, “misericordioso e piedoso, lento para a ira e rico de amor e de fidelidade” (Ex 34, 6-7; Sl 85, 15; cf. Jl 2, 13; Gn 4, 2; Sl 102, 8; Sl 144, 8; Ne 9, 17). Por isto, hoje, gostaria de refletir convosco sobre um Salmo todo permeado de confiança, no qual o Salmista exprime a sua serena certeza de ser guiado e protegido, colocado em segurança contra todo perigo, porque o Senhor é o seu pastor. Trata-se do Salmo 23 – segundo a datação greco-latina 22 –, um texto familiar a todos e amado por todos.
“O Senhor é meu pastor, não me faltará”: assim começa esta bela oração, evocando o ambiente nômade do pastoreio e a experiência de conhecimento recíproco que se estabelece entre o pastor e as ovelhas que compõem o seu pequeno rebanho. A imagem remete a uma atmosfera de confiança, intimidade, ternura: o pastor conhece as suas ovelhas uma a uma, as chama pelo nome e elas o seguem porque o reconhecem e se confiam a ele (cf. Jo 10, 2-4). Ele cuida delas, as custodia como bens preciosos, pronto para defendê-las, garantir o seu bem-estar, fazê-las viver na tranquilidade. Nada pode faltar se o pastor está com elas. O Salmista se refere a esta experiência, chamando Deus de seu pastor, e deixando-se guiar por Ele rumo a pastos seguros: “Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome” (vv. 2-3).
A visão que se abre aos nossos olhos é a de prados verdes e fontes de água límpida, oásis de paz rumo aos quais o pastor acompanha o rebanho, símbolos dos lugares de vida para os quais o Senhor conduz o Salmista, que se sente como as ovelhas deitadas na erva ao lado de uma fonte, em situação de repouso, não em tensão ou em estado de alarme, mas confiantes e tranquilas, porque o lugar é seguro, a água é fresca, e o pastor as vigia. E não esqueçamos aqui que a cena evocada pelo Salmo é ambientada numa terra em grande parte desértica, ferida pelo sol escaldante, onde o pastor seminômade do Oriente Médio vive com o seu rebanho nas estepes secas que se estendem ao redor dos vilarejos. Mas, o pastor sabe onde encontrar erva e água fresca, essenciais para a vida, sabe levar para o oásis no qual a alma “se refresca” e é possível retomar as forças e novas energias para se colocar outra vez no caminho.
Como diz o Salmista, Deus o guia para “verdes prados” e “águas refrescantes”, onde tudo é superabundante, tudo é dado copiosamente. Se o Senhor é o pastor, mesmo no deserto, lugar de ausência e de morte, não diminui a certeza de uma radical presença de vida, a ponto de poder dizer: “nada me faltará”. O pastor, de fato, traz no coração o bem do seu rebanho, adéqua os seus ritmos e exigências às de suas ovelhas, caminha e vive com elas, guiando-as por caminhos “retos”, ou seja, adequados para elas, com atenção às suas necessidades e não às suas próprias. A segurança do seu rebanho é a sua prioridade e ele obedece a ela quando o guia.
Caros irmãos e irmãs, também nós, como o Salmista, se caminhamos atrás do “Bom Pastor”, por mais difíceis, tortuosos ou longos que possam parecer ser os percursos da nossa vida, frequentemente também em zonas desérticas espiritualmente, sem água e com um sol de racionalismo escaldante, sob a guia do bom pastor, Cristo, estaremos certos de estar seguindo por caminhos “retos” e de que o Senhor nos guia e sempre estará por perto e nunca nos faltará.
Por isto, o Salmista pode declarar uma tranquilidade e uma segurança sem incertezas ou temores: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo” (v. 4).
Quem segue com o Senhor, mesmo nos vales escuros do sofrimento, da incerteza e de todos os problemas humanos, se sente seguro. Tu estás comigo: esta é a nossa certeza, a que nos sustenta. O escuro da noite causa medo, com suas sombras mutantes, a dificuldade para distinguir os perigos, o seu silêncio cheio de ruídos indecifráveis. Se o rebanho se move depois que o sol se põe, quando a visibilidade se faz incerta, é normal que as ovelhas fiquem inquietas, há o risco de tropeçar ou mesmo de se afastar e se perder, e há ainda o temor de possíveis agressores que se escondem na obscuridade. Para falar do vale “escuro”, o Salmista usa uma expressão hebraica que evoca as trevas da morte, de forma que o vale a ser atravessado é um lugar de angústia, de ameaças terríveis, de perigo de morte. E mesmo assim, o orante segue seguro, sem medo, porque sabe que o Senhor está com ele. Aquele “tu estás comigo” é uma proclamação de confiança firme, e sintetiza a experiência de fé radical; a proximidade de Deus transforma a realidade, o vale escuro perde toda periculosidade, se esvazia de toda ameaça. O rebanho, agora, pode caminhar tranquilo, acompanhado pelo ruído familiar do bastão que bate no terreno e assinala a presença tranquilizadora do pastor.
Esta imagem reconfortante encerra a primeira parte do Salmo, e deixa o lugar para uma cena diferente. Estamos ainda no deserto, onde o pastor vive com o seu rebanho, mas agora somos transportados para a sua tenda, que se abre para oferecer hospitalidade: “Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos. Derramais o perfume sobre minha cabeça, e transborda minha taça” (v. 5).
Agora, o Senhor é apresentado como Aquele que acolhe o orante, com os sinais de uma hospitalidade generosa e cheia de atenção. O anfitrião divino prepara a refeição sobre a “mesa”, um termo que, em hebraico, indica, no seu sentido primitivo, a pele de animais que era estendida no chão e sobre a qual os convivas se assentavam para comer juntos. É um gesto de compartilhamento não apenas do alimento, mas também da vida, numa oferta de comunhão e de amizade que cria vínculos e exprime solidariedade. E ainda há o dom munificente do óleo perfumado sobre a cabeça, que dá alívio para o calor do sol do deserto, refresca e acalma a pele e eleva o espírito com sua fragrância. Enfim, o cálice transbordante acrescenta uma nota de festa, com o seu vinho delicioso, compartilhado com generosidade superabundante. Alimento, óleo, vinho: são os dons que fazem viver e dão alegria porque vão além daquilo que é estritamente necessário, e exprimem a gratuidade e a abundância do amor. O Salmo 103 proclama, celebrando a bondade providente do Senhor: “Fazeis brotar a relva para o gado, e plantas úteis ao homem, para que da terra possa extrair o pão e o vinho que alegra o coração do homem, o óleo que lhe faz brilhar o rosto e o pão que lhe sustenta as forças” (vv. 14-15). O Salmista é feito objeto de tantas atenções, de forma que se vê como um viandante que encontra abrigo numa tenda acolhedora, enquanto que seus inimigos são obrigados a parar e olhar, sem poder intervir, porque aquele que consideravam sua presa foi colocado em segurança, se tornou hóspede sagrado, intocável. E o Salmista somos nós se crermos realmente e estivermos em comunhão com Cristo. Quando Deus abre a sua tende para nos acolher, nada nos pode fazer mal.
Quando, depois, o viandante vai embora, a proteção divina se prolonga e o acompanha na sua viagem: “A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias” (v. 6)
A bondade e a fidelidade de Deus são a escolta que acompanha o Salmista que sai da tenda e se coloca no caminho outra vez. Mas, é um caminho que adquire um novo sentido, e se torna peregrinação rumo ao Templo do Senhor, o lugar santo no qual o orante quer “habitar” para sempre e para o qual quer também “retornar”. O verbo hebraico utilizado aqui tem o sentido de “voltar”, mas, com uma pequena modificação vocálica, pode ser compreendido como “habitar”, e assim é traduzido pelas antigas versões e pela maior parte das traduções modernas. Ambos os sentidos podem ser mantidos: voltar para o Templo e nele habitar é o desejo de todo Israelita, e habitar perto de Deus próximo dEle e de sua bondade é o anseio e a nostalgia de todo crente: poder habitar realmente onde Deus está, próximo de Deus. Seguir o Pastor leva à sua casa, é esta a meta de todo caminho, oásis desejado no deserto, tenda de refúgio na fuga dos inimigos, lugar de paz onde se experimenta a bondade e o amor fiel de Deus, dia após dia, na alegria serena de um tempo sem fim.
As imagens deste Salmo, com a sua riqueza e profundidade, acompanharam toda a história e a experiência religiosa do povo de Israel e acompanham os cristãos. A figura do pastor, particularmente, evoca o tempo originário do Êxodo, o longo caminho no deserto, como um rebanho sob a guia do Pastor divino (cf. Is 63, 11-14; Sl 76, 20-21; Sl 77, 52-54). E na Terra Prometida era o rei que tinha a tarefa de pastorear o rebanho do Senhor, como Davi, pastor escolhido por Deus e figura do Messias (cf. 2Sam 5, 1-2; 2Sam 7, 8; Sl 77, 70-72). Além do mais, depois do exílio na Babilônia, quase num novo Êxodo (cf. Is 40, 3-5.9-11; Is 43, 16-21), Israel é levado de volta para a sua pátria como ovelha dispersa e recuperada, reconduzida por Deus a pastor verdejantes e lugares de repouso (cf. Ez 34, 11-16.23-31). Mas é no Senhor Jesus que toda a força evocativa do nosso Salmo alcança a completude, encontra a sua plenitude de significado: Jesus é o “Bom Pastor” que vai em busca da ovelha perdida, que conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas (cf. Mt 18, 12-14; Lc 15, 4-7; Jo 10, 2-4.11-18), Ele é o caminho, a estrada reta que nos leva à vida (cf. Jo 14, 6), a luz que ilumina o vale escuro e vence todo o nosso medo (cf. Jo 1, 9; Jo 8, 12; Jo 9, 5; Jo 12, 46). Ele é o anfitrião generoso que nos acolhe e nos coloca a salvo dos inimigos, preparando-nos a mesa do seu corpo e do seu sangue (cf. Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22, 19-20) e a mesa definitiva do banquete messiânico no Céu (cf. Lc 14, 15ss; Ap 3, 20; Ap 19, 9). É Ele o Pastor real, rei na mansidão e no perdão, entronizado sobre o lenho glorioso da cruz (cf. Jo 3, 13-15; Jo 12, 32; Jo 17, 4-5).
Caros irmãos e irmãs, o Salmo 22 nos convida a renovar a nossa confiança em Deus, abandonando-nos totalmente nas suas mãos. Peçamos, portanto, com fé, que o Senhor nos conceda, mesmo nos caminhos difíceis do nosso tempo, poder caminhar sempre em seus caminhos como rebanho dócil e obediente, nos acolha na sua casa, à sua mesa, e nos conduza para “águas refrescantes”, para que, no acolhimento do dom do seu Espírito, possamos beber em suas fontes, fontes daquela água viva que “jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14; cf. Jo 7, 37-39). Obrigado

* Extraído do site do Vaticano, do dia 5 de outubro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?


Bento XVI

Audiência Geral

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O homem em oração

Caros irmãos e irmãs,
Na catequese de hoje gostaria de apresentar um Salmo de fortes implicações cristológicas, que continuamente aflora nos relatos da paixão de Jesus, com a sua dupla dimensão de humilhação e de glória, de morte e de vida. É o Salmo 22, segundo a tradição judaica, ou 21, segundo a tradição greco-latina, uma oração sincera e tocante, de uma densidade humana e de uma riqueza teológica que fazem com este seja um dos Salmos mais rezados e estudados de todo o Saltério. Trata-se de uma longa composição poética, e nós nos dedicaremos particularmente à sua primeira parte, que está centrada no lamento, a fim de aprofundar algumas dimensões significativas da oração de súplica a Deus.
Este Salmo apresenta a figura de um inocente perseguido e cercado por adversários que querem a sua morte; e ele recorre a Deus num lamento doloroso que, na certeza da fé, se abre misteriosamente para o louvor. Na sua oração, a realidade angustiante do presente e a memória consoladora do passado se alternam, numa sofrida tomada de consciência da própria situação desesperada que, porém, não quer renunciar à esperança. O seu grito inicial é um apelo dirigido a um Deus que parece distante, que não responde e parece havê-lo abandonado:
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? E permaneceis longe de minhas súplicas e de meus gemidos? Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis; imploro de noite e não me atendeis.” (vv. 2-3)
Deus silencia, e este silêncio despedaça o espírito do orante, que chama incessantemente, mas sem encontrar resposta. Os dias e as noites se sucedem, numa busca incansável de uma palavra, de uma ajuda que não chega; Deus parece tão distante, tão esquecido, tão ausente. A oração pede escuta e resposta, solicita um contato, busca uma relação que possa dar conforto e salvação. Mas, se Deus não responde, o grito de ajuda se perde no vazio e a solidão se torna insustentável. No entanto, o orante do nosso Salmo, por mais três vezes, no seu grito, chama o Senhor de “meu” Deus, num extremo ato de confiança e de fé. Não obstante toda aparência, o Salmista não pode acreditar que o vínculo com o Senhor tenha sido interrompido totalmente; e enquanto pergunta sobre o presumido abandono incompreensível, afirma que o “seu” Deus não o pode abandonar. 
Como se vê, o grito inicial do Salmo – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” – é referido pelos Evangelhos de Mateus e de Marcos como o grito lançado por Jesus morrendo na cruz (cf. Mt 27, 46; Mc 15, 34). Ele exprime toda a desolação do Messias, Filho de Deus, que está diante do drama da morte, uma realidade totalmente contrária ao Senhor da vida. Abandonado por quase todos os seus, traído e renegado por discípulos, circundado por quem o insulta, Jesus está sob o peso  esmagador de uma missão que deve passar pela humilhação e pela aniquilação. Por isso, grita ao Pai, e o seu sofrimento assume as palavras doloridas do Salmo. Mas, o seu grito não é desesperado, da mesma forma que não o era o grito do Salmista, que, na sua súplica, percorre um caminho atormentado que chega, finalmente, numa perspectiva de louvor, na confiança da vitória divina. E visto que, no costume judaico, citar o início de um Salmo implicava uma referência ao poema inteiro, a oração desoladora de Jesus, mesmo mantendo a sua carga de indizível sofrimento, se abre para a certeza da glória. “Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?”, dirá, mais tarde, o Ressuscitado para os discípulos de Emaús (Lc 24, 26). Na sua paixão, em obediência ao Pai, o Senhor Jesus atravessa o abandono e a morte para chegar à vida e dá-la a todos os crentes.
A este grito de súplica inicial, no nosso Salmo 21(22), segue-se, em doloroso contraste, a recordação do passado:
“Nossos pais puseram sua confiança em vós, esperaram em vós e os livrastes. A vós clamaram e foram salvos; confiaram em vós e não foram confundidos.” (vv. 5-6).
Aquele Deus que, para o Salmista, hoje, parece tão distante, é, porém, o Senhor misericordioso que Israel sempre experimentou na sua história. O povo a que pertence o orante foi objeto do amor de Deus e pode testemunhar a sua fidelidade. A começar dos Patriarcas, passando pelo Egito e pela longa peregrinação no deserto, a permanência na terra prometida em contato com povos agressivos e inimigos, até à escuridão do exílio, toda a história bíblica foi uma história de grito de ajuda por parte do povo e de respostas salvífica por parte de Deus. E o Salmista se refere à fé constante de seus pais, que “confiaram” – esta palavra é repetida por três vezes – sem que nunca fossem desiludidos. Agora, porém, parece que esta cadeia de invocações confiantes e respostas divinas tenha sido interrompida; a situação do Salmista parece desmentir toda a história da salvação, tornando ainda mais dolorosa a realidade presente.
Mas, Deus não pode desmentir a si mesmo, e eis que, então, a oração volta a descrever a situação penosa do orante, a fim de induzir o Senhor a ter piedade e intervir, como sempre fez no passado. O Salmista se define um “verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe” (v. 7), é objeto de zombaria e escárnio (cf. v. 8) e é ferido exatamente na fé: “Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama” (v. 9), dizem. Sob os golpes zombeteiros da ironia e do desprezo, quase parece que o perseguido tenha perdido exatamente as características humanas, assim como o Servo sofredor descrito pelo Livro de Isaías (cf. Is 52, 14; 53, 2b-3). Ou como o justo oprimido do Livro da Sabedoria (cf. 2, 12-20), ou ainda como Jesus no Calvário (cf. Mt 27, 39-43). O Salmista também vê colocado em questão o seu relacionamento com o seu Senhor, quando sublinham cruel e sarcasticamente aquilo que o está fazendo sofrer: o silêncio de Deus, a sua aparente ausência. E no entanto, Deus esteve presente na existência do orante com uma proximidade e uma ternura incontestáveis. O Salmista lembra o Senhor disso: “Sim, fostes vós que me tirastes das entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio. Eu vos fui entregue desde o meu nascer” (vv. 10-11a). O Senhor é o Deus da vida, que faz nascer e acolhe o recém-nascido e cuida dele com afeto de pai. E se, antes, havia sido feita a memória da fidelidade de Deus na história do povo, agora o orante reevoca a própria história pessoal de relacionamento com o Senhor, chegando até ao momento particularmente significativo do início da sua vida. E ali, não obstante a desolação presente, o Salmista reconhece uma proximidade e um amor divinos tão radicais a ponto de poder, então, exclamar, numa confissão cheia de fé e de geradora de esperança: “desde o ventre de minha mãe vós sois o meu Deus” (v. 11b).
O lamento se torna, nesse ponto, uma súplica sincera: “Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado; vinde para perto de mim, porque não há quem me ajude” (v. 12). A única proximidade que o Salmista percebe e que o assusta é a dos inimigos. É, portanto, necessário que Deus se faça próximo e socorra, porque os inimigos rodeiam o orante, como leões que escancaram suas fauces para rugir e devorar (cf. vv. 13-14). A angústia altera a percepção do perigo, engrandecendo-o. Os adversários parecem invencíveis, tornaram-se como animais ferozes e muito perigosos, enquanto que o Salmista se vê como um vermezinho, impotente, sem nenhuma defesa. Mas estas imagens usadas no Salmo servem também para dizer que, quando o homem se torna brutal e agredi o irmão, algo de animalesco toma a frente nele, parece perder tudo o que é de humano; a violência sempre tem, em si, algo de bestial e somente a intervenção salvífica de Deus pode restituir o homem à sua humanidade. Ora, para o Salmista, objeto de uma agressão tão feroz, parece não haver saída, e a morte começa a se apoderar dele: “Derramo-me como água, todos os meus ossos se desconjuntam; (...) minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua (...). Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica” (vv. 15.16.19). Com imagens dramáticas, que podemos encontrar de novo nos relatos da paixão de Cristo, descreve-se o desfalecimento do corpo do condenado, o sede insuportável que atormenta o moribundo e que encontra eco no pedido de Jesus – “Tenho sede” (cf. Jo 19, 28) –, até chegar ao gesto definitivo dos algozes que, como os soldados sob a cruz, repartem as vestes da vítima, já considerada morta (cf. Mt 27, 35; Mc 15, 24; Lc 23, 34; Jo 19, 23-24).
Eis então, urgente, novamente o pedido de socorro: “Porém, vós, Senhor, não vos afasteis de mim; ó meu auxílio, bem depressa me ajudai. Salvai-me” (vv. 20.22a). Este é grito que abre os céus, porque proclama uma fé, uma certeza que vai além de toda dúvida, de toda escuridão e de toda desolação. E o lamento se transforma, deixa o lugar para o louvor na acolhida da salvação: “Vós me respondestes. Anunciarei, então, vosso nome a meus irmãos, e vos louvarei no meio da assembleia” (vv. 22c-23). Assim, o Salmo se abre à ação de graças, ao grande hino final que envolve todo o povo, os fiéis do Senhor, a assembleia litúrgica, as gerações futuras (cf. vv. 24-32). O Senhor veio em socorro, salvou o pobre e lhe mostrou seu rosto de misericórdia. Morte e vida se cruzaram num mistério inseparável, e a vida triunfou, o Deus da salvação se mostrou Senhor inconteste, que todos os confins da terra celebram e, diante de quem, todas as famílias dos povos se prostrarão. É a vitória da fé, que pode transformar a morte em dom da vida, o abismo da dor em fonte de esperança.
Irmãos e irmãs muito queridos, este Salmo nos levou ao Gólgota, aos pés da cruz de Jesus, para reviver a sua paixão e compartilhar a alegria fecunda da ressurreição. Deixemo-nos, portanto, invadir pela luz do mistério pascal mesmo na aparente ausência de Deus, mesmo no silêncio de Deus, e, como os discípulos de Emaús, aprendamos a discernir a verdadeira realidade para além das aparências, reconhecendo o caminho da exaltação exatamente na humilhação, e o pleno manifestar-se da vida na morte, na cruz. Assim, colocando outra vez toda a nossa confiança e a nossa esperança em Deus Pai, em todas as angústias poderemos, também nós, rezar a Ele com fé, e o nosso grito de ajuda se transformará em canto de louvor. Obrigado.

* Extraído do site do Vaticano, do dia 14 de setembro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Deus está sempre por perto...


Bento XVI

Audiência Geral

Praça São Pedro
Quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O homem em oração

Caros irmãos e irmãs,
Retomaremos, hoje, as Audiências na Praça São Pedro e, na “escola de oração” que estamos vivendo juntos nestas Catequeses da quarta-feira, gostaria de começar a meditar sobre alguns Salmos que, como eu dizia em junho passado, formam o “livro de oração” por excelência. O primeiro Salmo sobre o qual me dedico é um Salmo de lamento e de súplica atravessado de profunda confiança, no qual a certeza da presença de Deus funda a oração que brota de uma condição de extrema dificuldade na qual se encontra o orante. Trata-se do Salmo 3, referido, na tradição judaica, a Davi no momento em que foge do seu filho Absalão (cf. v. 1): é um dos episódios mais dramáticos e sofridos na vida do rei, quando seu filho usurpa o seu trono real e o obriga a deixar Jerusalém para ter a vida salva (cf. 2Sam 15ss). A situação de perigo e de angústia experimentada por Davi se torna, portanto, pano de fundo para esta oração e ajuda a compreendê-la, mostrando-se como a situação típica na qual um Salmo como este pode ser recitado. No grito do Salmista, todo homem pode reconhecer aqueles sentimentos de dor, de amargura e, ao mesmo tempo, de confiança em Deus que, segundo a narração bíblica, haviam acompanhado a fuga de Davi de sua cdiade.
O Salmo começa com uma invocação ao Senhor:
“Senhor, como são numerosos os meus perseguidores! É uma turba que se dirige contra mim. Uma multidão inteira grita a meu respeito: Não, não há mais salvação para ele em seu Deus!” (vv. 2-3).
A descrição que o orante faz da sua situação é, portanto, marcada por tons fortemente dramáticos. Por três vezes se repete a ideia de multidão – “numerosos”, “turba”, “multidão” – que, no texto original, é dita com a mesma raiz hebraica, de forma a sublinhar ainda mais a enormidade do perigo, de modo repetitivo, quase martelante. Esta insistência sobre o número e a grandeza dos inimigos serve para exprimir a percepção, por parte do Salmista, da absoluta desproporção existente entre ele e seus perseguidores, uma desproporção que justifica e fundamenta a urgência do seu pedido de ajuda: os opressores são muitos, assumem o controle, enquanto que o orante está sozinho e desamparado, à mercê de seus agressores. No entanto, a primeira palavra que o Salmista pronuncia é “Senhor”; o seu grito começa com a invocação de Deus. Uma multidão ameaça e se insurge contra ele, gerando um medo que agiganta a ameaça fazendo-a parecer ainda maior e mais aterrorizadora; mas o orante não se deixa vencer por esta visão de morte, mantém firme o relacionamento com o Deus da vida e a Ele, antes de mais, se dirige, em busca de ajuda. Porém, os inimigos tentam também quebrar este vínculo com Deus e destruir a fé de sua vítima. Eles insinuam que o Senhor não pode intervir, afirmando que nem mesmo Deus poderá salvá-lo. A agressão, portanto, não é apenas física, mas também toca a dimensão espiritual: “o Senhor não poderá te salvar” – dizem –, o núcleo central do espírito do Salmista é agredido. É a extrema tentação a que o crente é submetido, é a tentação de perder a fé, a confiança na proximidade de Deus. O justo supera a última provação, permanece firme na fé e na certeza da verdade e na plena confiança em Deus, e exatamente assim encontra a vida e a verdade. Parece-me que aqui o Salmo acaba tocando-nos muito pessoalmente: em tantos problemas somos tentados a pensar que, talvez, Deus não me salve, não me conheça, talvez não haja possibilidade; a tentação contra a fé é a última agressão do inimigo, e devemos resistir a isto e, assim, encontrar a Deus e encontrar a vida.
O orante do nosso Salmo é, portanto, chamado a responder com a fé aos ataques dos ímpios: os inimigos – como eu disse – negam que Deus possa ajudá-lo, ele, porém, O invoca, O chama pelo nome, “Senhor”, e depois se volta a Ele com um “tu” enfático, que expressa um relacionamento firme, sólido, e encerra em si a certeza da resposta divina:
“Mas tu és, Senhor, para mim um escudo; tu és minha glória, tu me levantas a cabeça. Apenas elevei a voz para o Senhor, ele me responde de sua montanha santa” (vv. 4-5).
A visão dos inimigos, agora, desaparece, não venceram porque quem crê em Deus é seguro que Deus seja o seu amigo: permanece apenas o “Tu” de Deus, aos “muitos” se contrapõe agora apenas um, mas muito maior e muito mais poderoso do que muitos adversários. O Senhor é ajuda, defesa, salvação; como escudo protege que se confia a Ele, e o faz levantar a cabeça, no gesto de triunfo e de vitória. O homem não está mais sozinho, os inimigos não são imbatíveis como parecem, porque o Senhor escuta o grito do oprimido e responde do lugar de Sua presença, do Seu monte santo. O homem grita, na angústia, no perigo, na dor; o homem pede ajuda, e Deus responde. Este entrelaçar-se de grito humano e resposta divina é a dialética da oração e a chave de leitura de toda a história da salvação. O grito exprime a necessidade de ajuda e recorre à fidelidade do outro; gritar quer dizer fazer um gesto de fé na proximidade e na disponibilidade à escuta própria de Deus. A oração expressa a certeza de uma presença divina já experimentada e acreditada, que na resposta salvífica de Deus se manifesta em plenitude. Isto é relevante: que, na nossa oração, seja importante, presente, a certeza da presença de Deus. Assim, o Salmista, que se sente assediado pela morte, confessa a sua fé no Deus da vida que, como escudo, o envolve com uma proteção invulnerável; quem pensava que já havia perdido pode levantar a cabeça, porque o Senhor o salva; o orante, ameaçado e ridicularizado, está na glória, porque Deus é a sua glória.
A resposta divina que acolhe a oração dá ao Salmista uma segurança total; mesmo o medo acabou, e o grito se aquieta na paz, numa profunda tranquilidade interior:
“Eu, que me tinha deitado e adormecido, levanto-me, porque o Senhor me sustenta. Nada temo diante desta multidão de povo, que de todos os lados se dirige contra mim” (vv. 6-7).
O orante, mesmo em meio ao perigo e à batalha, pode adormecer tranquilo, numa inequívoca postura de abandono confiante. Ao seu redor os adversários se dirigem contra ele, são tantos, se erguem contra ele, escarnecem e tentam fazê-lo cair, mas ele, pelo contrário, se deita e dorme tranquilo e sereno, seguro da presença de Deus. E, ao despertar, encontra Deus ainda ao seu lado, como guardião que não dorme (cf. Sl 120, 3-4), que o sustenta, o segura pela mão, nunca o abandona. O medo da morte é vencido pela presença dAquele que não morre. E mesmo a noite, povoada de temores atávicos, a noite dolorosa da solidão e da espera angustiada, agora se transforma: aquilo que evoca a morte se torna presença do Eterno.
À visibilidade do ataque do inimigo, maciço, imponente, se contrapõe a invisível presença de Deus, com toda a sua invencível potência. E é a Ele que, novamente, o Salmista, depois de suas expressões de confiança, dirige a oração: “Levantai-vos, Senhor! Salvai-me, ó meu Deus!” (v. 8a). Os agressores “se dirigiam” (cf. v. 2) contra a sua vítima, quem, porém, “se levantará” é o Senhor, e será para abatê-los. Deus o salvará, respondendo ao seu grito. Por isso, o Salmo se encerra com a visão da sua libertação do perigo que mata e da tentação que pode fazer perecer. Depois do pedido dirigido ao Senhor de se levantar para salvar, o orante descreve a vitória divina: os inimigos que, com sua injusta e cruel opressão, são símbolo de tudo aquilo que se opõe a Deus e ao seu plano de salvação, são vencidos. Feridos na boca, não poderão mais agredir com sua violência destrutiva e não mais poderão insinuar o mal da dúvida na presença e na ação de Deus: o seu falar insensato e blasfemo é definitivamente desmentido e reduzido ao silêncio pela intervenção salvífica do Senhor (cf. v. 8bc). Assim, o Salmista pode concluir a sua oração com uma frase de conotações litúrgicas que celebra, na gratidão e no louvor, o Deus da vida: “Sim, Senhor, a salvação vem de vós. Desça a vossa bênção sobre vosso povo” (v. 9).
Caros irmãos e irmãs, o Salmo 3 nos apresentou uma súplica cheia de confiança e de consolação. Rezando este Salmo, podemos fazer nossos os sentimentos do Salmista, figura do justo perseguido que encontra em Jesus a sua realização. Na dor, no perigo, na amargura da incompreensão e da ofensa, as palavras do Salmo abrem o nosso coração para a certeza confortante da fé. Deus está sempre por perto – mesmo nas dificuldades, nos problemas, nas obscuridades da vida –, escuta, responde e salva do seu modo. Mas é preciso saber reconhecer a sua presença e aceitar os seus caminhos, como Davi na sua fuga humilhante do filho Absalão, como o justo perseguido do Livro da Sabedoria e, em última instância e de forma mais completa, como o Senhor Jesus no Gólgota. E quando, aos olhos dos ímpios, Deus parece não intervir e o Filho morre, exatamente então se manifesta para todos os crentes, a verdadeira glória e a definitiva realização da salvação. Que o Senhor nos dê fé, venha em auxílio da nossa fraqueza e nos torne capazes de crer e de rezar em toda angústia, nas noites dolorosas da dúvida e nos longos dias de dor, abandonando-nos confiantes a Ele, que é nosso “escudo” e nossa “glória”. Obrigado.

* Extraído do site do Vaticano, do dia 7 de setembro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ensinar para competências: instruções de uso, evitando o “burocratês”


Por Dario Nicoli

Continua a reflexão de Dario Nicoli sobre o tema das competências. O primeiro artigo foi publicado no IlSussidiario.net de 29 de março (e traduzido para o português por Paulo R. A. Pacheco; ndt), o segundo, no dia 6 de abril (também traduzido por Paulo R. A. Pacheco; ndt)

Escola como comunidade de aprendizagem – Uma escola capaz de fazer isso é definida não como burocracia nem como organização de serviços, mas assume as características de uma comunidade de aprendizagem que será tal na medida em que fornecer àqueles que ali habitam uma perspectiva unitária e, de modo particular, de colocar a ênfase sobre o processo mais importante que acontece ali dentro, ou seja, a relação educativa como solicitação das qualidades humanas dos jovens, colocando em movimento seu desejo de saber e movendo-se junto ao longo de um caminho de pesquisa e de descoberta.
A organização formativa pretendida em sentido comunitário permite a fluidez e a continuidade dos processos de aprendizagem e de amadurecimento. Isso remete aos requisitos das learning organizations, segundo a regra do “desenvolver-se aprendendo”, mobilizando não apenas as habilidades cognitivas, mas também as intuitivas, emocionais, práticas e sociais.
Tal modelo impulsiona as escolas a remodelarem continuamente a própria matéria que é constituída por um pensamento criativo capaz de sempre fazer emergir novas estratégias. Isso exige que se promovam cursos de ação sempre novos, abandonando a ênfase excessiva nos objetivos que, frequentemente, acabam por se tornar camisas de força, de modo a que as pessoas entendam sozinhas qual é o objetivo adequado para toda situação (os objetivos “emergem” através do processo) e quais são os limites a serem evitados.
Os princípios deste modo de organizar a comunidade de aprendizagem são: inserir o todo nas partes (áreas disciplinares, técnicas, papéis...) apontando para a redundância das funções (todo docente não é apenas especialista de uma matéria, mas também membro de uma comunidade de aprendizagem e animador de situações de aprendizagem de caráter holístico), motivando os indivíduos a aceitarem os desafios independentemente de sua natureza e origem; perseguir a diferenciação e a variedade necessária apontando para a possibilidade de que as competências e as capacidades necessárias sejam possuídas pelo grupo e para que o indivíduo seja multifuncional; adotar o mínimo de regras para garantir a liberdade de auto-organização, evitando que os dirigentes se tornem “projetistas de tudo” para ser guias; aprender a aprender, evitando as receitas, mas promovendo posturas mentais abertas e criativas. 
É preciso que a organização-comunidade não caia na rotina, nem mesmo na “projetual”. Ela deve buscar a novidade e se abrir aos eventos potencialmente formativos, colocando em discussão mesmo as práticas consolidadas, quando estas precisam se renovadas.
É preciso recordar que o fator identitário, se não for continuamente “encarnado” na vida da comunidade, pode se transformar num mero discurso retórico, sem que dele flua a seiva vital para todos os âmbitos da vida interna. Os processos organizativos tendem ao resfriamento, os sistemas tendem à entropia (perda de energia) e isto acontece sobretudo quando dominam processos de inércia que replicam o já conhecido.
O fator que está no centro da identidade e nos seus valores deve ser renovado na vida cotidiana da organização: ele é, dessa forma, convalidado cada vez que os alunos aprendem, os pais participam, os professores tiram satisfação de seu trabalho, o contexto reconhece a importância do serviço prestado. Deve ser considerado, para tanto, o perigo de cair na excessiva projetualidade que leva a deslocar a atenção dos estudantes para o sucesso do projeto. Mesmo em temas de qualidade, não deve ser construída uma “organização de papel”, mas uma realidade da cultura como experiência, descoberta, caminho em direção ao saber que se renova continuamente, tirando ensinamento das próprias prática melhores, aberta aos eventos que trazem boas novidades.
A comunidade de aprendizagem requer uma obra de proteção a cargo do responsável, um equilíbrio entre abertura e conservação do seu estilo peculiar, da sua história de entidade que cresce com as pessoas que, aos poucos, começam a fazer parte de si.
Deve-se ter atenção para que os professores não sejam sobrecarregados por muitos compromissos, o que é tido como um dos principais impedimentos para que se realize uma verdadeira comunidade educativa: nem tudo aquilo que é possível deve ser feito, é preciso que seja também conforme à sensibilidade do contexto que pode mesmo rechaçar boas ideias se estas são percebidas como estranhas ao estilo próprio.
Deve ser perseguida e continuamente melhorada a distribuição dos encargos de trabalho, de modo a dar mais tempo e espaço para o “fazer comunidade”. Devem ser redimensionadas até a um nível “justo” as tendências à procedimentação dos processos, que representam a forma atual das lógicas de controle e de homologação que provêm das várias estruturas externas mas também internas (é o caso da qualidade).
Nem todos os espaços e os tempos devem ser preenchidos, porque é preciso deixar também abertas as portas para eventos inesperados e ideias não escritas nos projetos e nos documentos programáticos. Pode-se dizer, para certos casos, que o novo pode emergir do velho e que a rotina pode evidenciar, por contraste, um fator imprevisto que merece ser preferido em lugar do comportamento repetitivo. Uma organização-comunidade que deixa espaços para eventos não previstos sabe viver a espera, cultiva o sentido de privação e educa para a maravilha.
Devem ser reduzidos ao essencial os projetos de que a estrutura participa, preferindo somente aqueles que permitem inovar a didática ordinária ou mesmo que concorrem, de modo concreto e verificável, para o maior sucesso formativo dos estudantes e para a satisfação dos professores. Diversas indicações que derivam das novas teorias construtivistas pecam pela exorbitância: é possível que se exagere mesmo quando se trate de ideias e propostas boas em si mesmas, mas deletérias na medida em que podem acabar sufocando a justa fisiologia do ambiente de aprendizado.

O plano formativo e as unidades de aprendizagem – O ator principal do processo formativo é constituído pelo grupo/comunidade dos docentes agregados seja pelos eixos culturais/áreas profissionais, seja por conselhos de classe. A centralidade da comunidade de aprendizagem permite que se desenvolvam os passos indispensáveis para uma didática para competências: agregar as disciplinas por eixos culturais e identificar os “pontos fundamentais” dos saber; escolher uma abordagem mista, que alterne – de modo inteligente – aulas, tarefas, experiências; suspender o juízo e encorajar o caminho, tolerando incertezas ou erros  desde que haja dedicação e empenho; seguir aquilo que a experiência nos ensinou: aspectos que solicitam a curiosidade, erros a serem evitados, variações que chamam a atenção, momentos nos quais é possível pedir rigor e “disciplina”; evitar a dispersão do tempo e o tédio; solicitar aos estudantes que proponham publicamente o êxito do próprio trabalho.
Este modo de fazer escola pede um quadro de referência unitária da equipe/conselho de classe acerca das experiências que conotam o percurso formativo do ano: disso nasce a necessidade de delinear um Plano Formativo, um instrumento que represente as experiências que, no correr do ano, são capazes de suscitar um relacionamento dos estudantes com o saber em termos afetivos (curiosidade, vínculo, fascínio), concretos (utilidade, descoberta) e cognitivos (domínio) e de solicitar a identificação com a escola a partir do estilo das experiências nas quais são envolvidos. Tais experiências (intencionais e programadas, portanto elaboradas sob a forma de unidade de aprendizagem) preveem um vínculo e uma compreensão entre as diversas disciplinas, a fim de delinear um plano de trabalho comum capaz de perseguir efetivamente as metas educativas, culturais e profissionais declaradas.
É preciso encontrar uma compreensão comum entre escolas da mesma localidade e do mesmo contexto em torno das evidências das competências, de forma a garantir a univocidade de referências e transparência das certificações. Para dar um exemplo, as evidências da competência “consciência e expressão cultural” a respeito das dimensões históricas e sociais podem ser formuladas assim:
- Colocar fatos e eventos no tempo e no espaço, em dimensão sincrônica e diacrônica, reconhecer os elementos fundantes das civilizações estudadas e sua evolução, medir a duração cronológica dos eventos históricos e reportá-los às periodizações fundamentais.
- Selecionar, confrontar e interpretar informações de fontes e documentos de origens e tipos diversos (achados de diferentes épocas, documentos escritos, recursos em rede etc.).
- Identificar os possíveis nexos causa-efeito, descobrindo seus diferentes graus de relevância.
- Buscar e identificar na história do passado as possíveis premissas de situações da contemporaneidade e da atualidade. Reconhecer o valor da memória das violações de direitos dos povos para não repetir os erros do passado. Identificar as marcas da história no próprio território e reportá-los ao quadro sócio-histórico geral.
- Interpretar os relacionamentos entre os fenômenos históricos e seu contexto social, científico e cultural, com particular referência à evolução da tecnologia e a recíproca interação entre esta e a dimensão social.
- Identificar o papel que as estruturas organizativas da civilização (familiar, social, política, econômica) têm na vida humana e o relevo das dimensões religiosa, cultural e tecnológica, analisando suas transformações no tempo e as diversas configurações que tiveram e têm no espaço geográfico. Ler e compreender investigações e desenvolver percursos de pesquisa demográfica, com a utilização dos instrumentos e da metodologia apropriados.

Uma compreensão relativa às evidências das competências, e aos níveis típicos de domínio, permite que se desenvolva, de modo ordenado, a autonomia das escolas e, ao mesmo tempo, o necessário relacionamento de solidariedade e subsidiariedade que se instaura entre elas, evitando tanto a homologação que mata a cultura, como o caos que impede uma correta interação entre os atores do sistema educativo.
A unidade de aprendizagem (UDA) constitui a estrutura de base da ação formativa; conjuntos de ocasiões de aprendizagem que permitem ao aluno entrar em relação pessoal com o saber, enfrentando as tarefas que conduzem a produtos dos quais ele possa se sentir orgulhoso e que constituem objeto de uma avaliação mais confiante.
Podemos ter UDA de amplitude máxima (todos os formadores), média (alguns) ou mínima (eixo cultural). Ela sempre prevê tarefas reais (ou simuladas) e produtos relativos que os destinatários são chamados a realizar e indica os recursos (capacidades, conhecimentos, habilidades) que ele é solicitado a mobilizar para se tornar competente. Cada UDA deve sempre mirar pelo menos uma competência entre aquelas presentes no repertório de referência.
O critérios de fundo a que se referir é a possibilidade de solicitar os talentos dos jovens e de estimular à pesquisa, a tomar o caminho. É preciso ensinar por tarefas com retornos claros e estimulantes, variar as situações de aprendizagem e o modo de implicação com os estudantes, apontar, algumas vezes, para o maravilhamento e para o contraste com o ponto de vista usual. Deve ser evitada a prática que tende a derramar sobre os interlocutores uma quantidade relevante de noções e de regras, substituindo-a por algo que tenda a solicitar a curiosidade, definir um percurso de estudo, fornecer instrumentos e estimular a reflexão e a estruturação do saber adquirido. Deste modo, se aprende trabalhando.
O foco da competência, por isso, colocado sobre a evidência das tarefas/produtos que atestam concretamente o domínio por parte dos alunos, valorizando assim o conceito de “obra-prima” que acaba se estendendo sobre os eixos culturais e a cidadania. É o significado do critério da confiabilidade: com ela se compreende que somente na presença de pelo menos um produto real significativo, criado pessoalmente pelo destinatário, é possível que se certifique a competência que, dessa forma, corresponde efetivamente a um “saber agir e reagir” apropriadamente diante dos desafios (tarefas, problemas, oportunidades) inscritos no âmbito de referência da competência mesma (Fim da parte 3).

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 15 de abril de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.