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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cartas do P.e Aldo 208


Asunción, 22 de outubro de 2011.

Caríssimos amigos,
A educação nunca é um “andar para trás”, eu dizia, dia desses, à nossa advogada quando, pela enésima vez, movido por um instante de desconfiança quanto a Gabriel, eu lhe disse para rasgar a carta que eu havia preparado para enviar ao juiz que me havia dado a sua guarda, solicitando que fosse entregue a uma instituição do Estado. Gabriel, quando chegou, expulso de uma instituição estatal quando tinha 8 anos, era definido como um “menino problema”. Ele mesmo, quando ousavam perguntar-lhe, quando estava bem, quem era, respondia assim: “sou um menino problema”. Abandonado quando era pequeno, cresceu sem nenhum afeto, sempre encerrado nessas instituições do Estado onde se vigiam garotos e crianças, mas não se os ama, havia se tornado violento e selvagem. Não sabia o que queria dizer ser amado e, portanto, não sabia o que é amar. O seu dia transcorria sempre do mesmo jeito: divertia-se provocando. Era até mesmo difícil conseguir fazê-lo parar um pouco para conversar com ele, porque ou fugia para o mato ou pulava no telhado de alguma casa.
Muitas vezes perdi a paciência com ele e quando – poucas vezes – conseguia pegá-lo, não lhe poupava algumas palmadas no bumbum. E ele ficava ainda mais furioso e me desafiava com os punhos cerrados, rangendo os dentes. Porém, sempre lhe quis muito bem, olhando nele a presença terna, mesmo na sua raiva, do Mistério. E ele percebia isso, até ao ponto de que, um dia, começou a dizer que se chamava Gabriel Trento. Assim, ele que não tinha identidade, reconheceu, no relacionamento comigo, a figura do pai. Foi o início de um caminho como aquele no qual Giussani me abraçou e comecei a caminhar, porque me senti filho. Assim, com Gabriel, nasceu um relacionamento novo. Mas, não no sentido de que não tenha mais me feito sair do eixo, tornando-se um cordeirinho, mas porque começou a germinar nele algo como uma pequena semente da certeza de ser querido por um Outro. Começou também a participar da missa como coroinha. E isto com as mesmas expressões de violência impressionantes, que me obrigavam, por atenção aos outros sete garotos menores que ele e que ele dominava até mesmo com o olhar, a dizer muitas vezes à advogada do meu desejo de renunciar à adoção. E foi o que aconteceu há alguns dias atrás, quando, levantando-se pela manhã, não só decidiu não ir à escola, como também passar o dia inteiro na frente da televisão, tomando posse do controle remoto. Chamaram-me para tentar convencê-lo. Nada deu certo, ainda que eu não tenha lhe poupado também algumas palmadas. Ficou, então, furioso e me enfrentou com os punhos fechados, rangendo os dentes e com os olhos vermelhos de raiva. Eu olhava para ele com dor e cheio de impotência. Foi a enésima solicitação à advogada.
Mas, dentro de mim, uma dor grande, uma batalha. Como nunca, naquele momento, me vinham à mente as palavras de Giussani e que Carrón tem recordado ultimamente: “eu sou Tu que me fazes”. Eu, mas também ele, ele que existe, ele que é. Gabriel é! e não apenas é, mas, neste momento, é feito como eu sou feito. Assim, o meu saco cheio deu lugar ao maravilhamento pelo ser, pelo seu ser. “Amei-te de amor eterno, e tive piedade do teu nada”, do meu nada e do nada de Gabriel. E ainda: “antes de te formares no ventre de tua mãe, Eu pronunciei o teu nome”, o meu nome e o de Gabriel. A minha identidade, assim como a de Gabriel, é anterior à modalidade bonita com a qual eu fui concebido pela minha mãe, e violenta com a qual Gabriel foi concebido. Esta certeza mudou a minha vida e também em Gabriel existe esta pequena semente. 
Assim, pela enésima vez, me vi dizendo à advogada: “Sara, rasgue a carta para o juiz”. “Não é um andar para trás, é a consciência cada vez mais clara em mim do ser que vibra em Gabriel e de que o seu ser, assim como o meu, é feito neste momento por um Outro”.
No dia seguinte, Gabriel me procurou, me abraçou e pediu, uma vez mais, como um cordeirinho, o meu perdão. Fico comovido porque aquela certeza que nos define, não importa qual seja a consciência que Gabriel certamente não tenha daquilo que nos une – o fato de ser e de ser querido agora –, venceu uma vez mais. É isso: educar é apenas isto. Se não fosse assim, imaginem o que seria viver 24h por dia com crianças como estas que, na mais tenra infância, conheceram apenas a violência! Seria impossível e jogaríamos a toalha. E que bonito foi quando ele, depois do seu abraço, me pediu: “posso brincar, agora, com os patins?”. Sorrindo, lhe disse que sim. No fundo, educar é experimentar na própria carne o modo com o qual Deus nos trata. Por isto, viver com estas crianças é, para mim, uma graça grande, porque elas nunca me permitem dar por óbvio o estar diante do ser e, portanto, diante do Mistério.
Padre Aldo.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cartas do P.e Aldo 203


Asunción, 6 de agosto de 2011.

Caros amigos,
Que graça e a Escola de Comunidade, para nós e para o mundo!
Nestas semanas pude experimentar na carne como o mundo precisa encontrar o Movimento, ou seja, a Escola de Comunidade. Carrón chama a nossa atenção justamente para a urgência de um trabalho pessoal que veja na Escola de Comunidade o centro deste trabalho. Pessoalmente, sou uma testemunha disto tanto no meu caminho de todo dia, quanto naquilo que acontece ao meu redor. A beleza desta obra que sempre mais suscita em quem a vive, em quem nela trabalha, mas também em quem a visita, faz nascer a pergunta: como é possível tudo isto? E quando respondo “é graças à catequese, ou à Escola de Comunidade que vivemos semanalmente com todas as 200 pessoas que trabalham aqui nos mais diversos âmbitos”, os que me escutam ficam cheios de curiosidade e de interesse. Assim, já há um tempo um grupo de diretores e de operários de uma multinacional, toda quarta-feira, das 8h às 9h da manhã, pontualmente, vêm até aqui para a Escola de Comunidade. Além do mais, aconteceu algo muito significativo no maior centro médico de reabilitação privado do país. O chefe deste centro assinou um contrato conosco para assistir gratuitamente os nossos pacientes e, em troca, pediu para irmos, pelo menos a cada quinze dias, fazer a Escola de Comunidade com seus dependentes e pacientes. O mundo também percebe que a Escola de Comunidade cria uma diferença no modo de viver e trabalhar.
Vale lembrar que aqui, este precioso instrumento que Giussani nos deixou deu origem a um periódico semanal que é publicado junto com o segundo jornal leigo mais vendido no Paraguai, toda quinta-feira. O bem que esse jornalzinho faz é impressionante. Por exemplo, hoje, duas jovens mães, depois de terem feito 40 km de viagem, vieram nos agradecer por aquilo que escrevemos! “Padre, estamos aqui há duas horas esperando pelo senhor para lhe agradecer e para abraçá-lo por causa daquilo que o senhor escreve nos editoriais, como por exemplo aquilo que escreveu sobre a Confissão”. E me trouxeram também um presente. Outro jovem, disse: “Padre, lendo o jornalzinho senti o desejo de ser padre, de verificar a minha vocação”.
A Escola de Comunidade nos ajuda a verificar a razoabilidade da fé no meio das vísceras do mundo, testemunhando assim que o cristianismo é o acontecer do humano. Claro que existem, toda semana, motivos para polêmica e, nesses momentos, me lembro de Giussani que dizia que Cristo polemizou com o mundo inteiro, o mesmo que Carrón continuamente nos lembra quando fala que a cultura dominante anestesia o eu.
Em suma, quero que a Escola de Comunidade não seja uma leitura espiritual ou apenas uma deixa para as nossas reflexões, mas que seja o trabalho que nos permita descobrir a razoabilidade da nossa fé vivida no impacto com o cotidiano, com o mundo.
Boas férias, na privilegiada companhia da Escola de Comunidade.
Padre Aldo

domingo, 12 de junho de 2011

Cartas do P.e Aldo 196

Asunción, 10 de junho de 2011.

Caríssimos,
Levando a sério aquilo que Carrón nos diz, fazendo um trabalho permanente, verificando em cada momento a razoabilidade da fé, a dúvida desaparece, deixando lugar para uma certeza de ferro que nem mesmo a pior condição na qual uma pessoa possa se encontrar a fará tremer. Isto não significa – e eu experimento isto todos os dias, há mais de 20 anos – que me seja poupada a experiência da solidão, da dor que Jesus mesmo viveu no Getsêmani ou na cruz.
Quantas vezes eu gritei e grito: “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”. Ou quantas vezes busquei inutilmente uma companhia que “vigiasse” comigo! Porém, dentro deste deserto, desta batalha, a luz da fé sempre venceu e mesmo que em certo momentos o grito de Jesus se tenha feito vivo – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” –, é como se imediatamente a posição da fé vencesse sempre: “Não a minha, mas a tua vontade seja feita” ou “nas tuas mãos eu me confio”.
Ver todos os dias pessoas morrendo ou tanta dor inocente me permite viver continuamente esta experiência. Digo experiência porque fica sempre mais claro que Deus é tudo, que Deus se ocupa de mim e de cada um de nós com uma ternura infinita.
Ontem, morreu Domenica, uma garota lindíssima doente de AIDS. A sua jovem vida tinha sido destruída pela prostituição a que tinha sido obrigada por seu companheiro, um alemão, que desapareceu depois que ela ficou doente. Ler o seu prontuário médico é assustador, quando se vê aonde pode chegar uma pessoa quando em seu coração não há Deus. Nestes últimos meses, vivia numa casa cujas paredes eram de papelão. Nós a encontramos abandonada no chão de terra, sozinha. Vivia com um homem, na miséria absoluta. Nós a trouxemos para a clínica, mas ela já havia decidido morrer. Não queria mais saber de nada: nem comer, nem tomar remédios. Num momento de crise, teve uma reação muito feia com uma enfermeira que acabou machucando o dedo com uma seringa com a qual lhe havia aplicada uma injeção. Um drama no drama.
A enfermeira, uma bela garota, mãe de quatro filhos, dos quais três são gêmeos, depois de um primeiro momento de medo, colocou-se em contato com o médico responsável pela clínica na qual, um tempo antes, havia acontecido a mesma coisa, e escreveu estas palavras: “tão logo me dei conta do que havia acontecido, tirei minhas luvas, lavei minhas mãos, chamei o médico para ver o que podia ser feito e experimentei uma grande angústia. Mas, imediatamente, entreguei tudo a Deus e me lembrei daquilo que me havia sido dito num encontro de catequese: ‘O demônio favorece estas coisas para que nasça em nós a dúvida: por que Deus permite estas coisas’. Mas, eu tenho a certeza de que mesmo esta provação é uma Graça de Deus que me ama, de forma que deixo tudo em Suas mãos, para que se faça a Sua vontade, e isto me dá tanta paz”.
Domenica, olhando-a com amor, começou a se acalmar, tomou o remédio e quando lhe perguntava se queria um sorvete, ela me respondia: “Sim, padre, quero de baunilha”.
A depressão pareceu se acalmar um pouco e foi bonito quando pediu o Batismo e a Primeira Comunhão. Foi um momento que significou mesmo uma melhora do seu estado de saúde. Recebeu a Eucaristia até a manhã do dia em que morreu. Eu a olhei e ainda era bela. O seu corpo nunca amado e sempre usado tinha reencontrado uma harmonia suprimida por anos de prostituição. Uma vez mais Deus venceu, uma vez mais a evidência de que Deus não abandona os seus filhos, por mais desesperados que sejam, se impõe aos olhos de todos.
Era o reacontecer do fato da adúltera, da Samaritana. Então, como não se render à evidência, à razoabilidade da fé?
E todos os dias é assim, amigos. De fato, somos os vivos, de fatos Cristo já venceu tudo. Amigos, vejo como Deus é atento a quem não tem nada, vejo como Deus ama e recolhe aqueles que o mundo chama de lixo humano. De fato, para Deus, não existe o filho bom ou o mal, existe apenas o filho.
Padre Aldo

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cartas do P.e Aldo 195

Asunción, 3 de junho de 2011.

Caros amigos,
É belo se surpreender sempre mais com o olhar fixo no Mistério e os pés bem plantados na realidade, não importando se devo suar as proverbiais sete camisas, porque o suor é a dramaticidade com a qual se enfrenta a vida.
De volta à casa, como acontece em toda família, a pessoa se encontra com a realidade que, no meu caso, é aquela onde a dor transborda de todos os lados: moribundos, jovens com câncer e com AIDS, velhos abandonados, meninas grávidas ou violentadas, filhos que fogem ou se opõem ao caminho educativo das Casinhas de Belém, colaboradores com tantos problemas pessoais e familiares, pessoas que com a desculpa de ajudar criam mais problemas do que soluções. Nem mesmo coloquei os pés na terra, saindo do avião, e eis o cenário. O meui coração sentiu imediatamente que Deus me pede tudo, que a realidade já é amiga e, por isso mesmo, está sempre pronta a me provocar. Não tive tempo nem mesmo para a saudade do que encontrei na Itália, porque a realidade me faz formigar de uma nostalgia muito maior, infinitamente mais bela: a nostalgia de fixar bem nos olhos do Mistério, aquele Tu que me fazes. No avião eu tinha lido a introdução dos exercícios de Carrón. Imediatamente reconheci descrito, de forma operativa, o meu eu tornado ainda mais inquieto, desejoso, saudoso de vê-Lo. Eu estava cansado, o fuso horário, as confusões... as perguntas, a súplica, a necessidade urgente de não perder de vista, um instante sequer, a alegria pascal, ou seja, a companhia dos “vivos”: Julián de la Morena, Paolino, Padre Martino do Chile e visitor da São Carlos Borromeu na América Latina.
Dor, sofrimento, suor, alegria pascal. Sim, porque a alegria pascal é uma companhia na qual é evidente, claro, luminoso, o carisma que nos foi dado. O abraço destes amigos tornou ainda mais potente para mim a pergunta pelo Infinito que trago dentro de mim.
Assim, pude, tão logo cheguei em casa e desfiz as malas de presentes para as minhas crianças, visitar os doentes, os idosos, os meus filhos mais novos, o pessoal que estava trabalhando, vendo neles, mesmo se os olhos estavam anuviados pelo cansaço, a beleza radiante do rosto de Cristo. Aquele rosto que vi, em cada dia, na Itália, em cada lugar por onde passei.
Há, de fato, em todos os lugares, uma vida que desabrocha, um surplus de vida, de vontade de viver. E é esta vontade de viver que tão logo encontrei Isabel, uma garotinha de 15 anos – e que, numa carta, se define como um “vírus” –, me coloquei de joelhos diante do Mistério, suplicando-lhe que me dê aquela paternidade necessária para comunicar a ela a alegria de ser um dom. Um fato que me obriga a estar diante dEle, se verdadeiramente amo esta filha, porque sem esta minha posição não conseguirei lhe comunicar nada, não poderei lhe mostrar que também para ela existe a possibilidade de passar da consciência de ser um “vírus” à certeza “de amei-te com um amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
A mesma posição eu senti como necessária quando, visitando a casa onde vivem algumas garotas grávidas (uma de 12 anos está no oitavo mês) e outras que acabaram ter seus filhos, saudando-as com afeto, depois de 15 dias sem as ver, não obtive sequer um olhar delas. Uma vez mais, vi em seus rostos a raiva da vida, de todos. Senti ternura por elas, da mesma forma que o Mistério sente por mim, olhando-me continuamente, acolhendo-me, porque “antes de ser concebido no ventre de minha mãe, Ele pronunciou o meu nome, fez de mim sua propriedade, teve piedade do meu nada, amando-me de um amor eterno”. E, então, eu as saudei dizendo: “Voltarei amanhã e vamos ficar juntos”.
No dia seguinte, o milagre: uma delas, depois de três meses conosco, se aproximou e me deu um beijo. Não somente isso, mas mesmo a sua feminilidade, antes destruída, se refez. Quando ela chegou aqui, com a sua barriga maior do que ela (que tem apenas 15 anos), estava suja, desarrumada, destruída pelo crack; agora, não tem mais nem sinal daquela menina perdida. Bonita, cabelos longos bem penteados, unhas pintadas, vestida como as garotas de hoje etc. Além do mais, vive para a sua filha.
Veio-me em mente aquilo que Dom Giussani disse em “É possível viver assim?”: a moralidade é olhar no rosto a Jesus... então, tudo se torna ordenado, a pessoa se penteia de certa maneira, abotoa seus botões, tem vergonha se está com sapatos sujos e diz “perdoe-me por estar assim desarrumado”.
Hoje, chegou outra garota que está no terceiro ano do ensino médio e está no terceiro mês de gravidez. Esta noite, faremos a festa com as outras para lhe dar as boas vindas. É Jesus que chegou com uma trouxinha na barriga. Olho para ela, é pequena, magra, os olhos verdes, e sinto uma ternura infinita. Outro caso de pedofilia. Mas, tenho a certeza – porque há anos a toco com a mão – que também para ela a certeza do Cristo ressuscitado triunfará. Não existe problema, por mais violento, que não encontre em Cristo a vitória
Certamente, trata-se de uma luta e de uma dor contínuas, mas esta é a condição para estar, instante após instante, diante do Mistério. A dor é tanta (também hoje, na clínica, morreu uma jovem mãe com quatro filhos) e, às vezes, parece me arrastar, no entanto, dentro de tudo isto encontro o repetir contínuo de “eu sou Tu que me fazes”, que muda tudo, e tudo se torna motivo de letícia, porque tudo, exatamente tudo, se torna positivo, porque tudo se torna grito, reconhecimento do Ser que me faz em cada momento, e por quem bate o meu coração.
Padre Aldo

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cartas do P.e Aldo 192

Asunción, 1 de maio de 2011.

Caros amigos,
Os apóstolos encheram-se de alegria ao verem Jesus. A alegria, a letícia cristã, portanto, consiste tão somente em ver, em tocar Jesus. Por isso, a nossa falta de alegria nunca se deve à dor, qualquer que seja essa dor, ou às circunstâncias adversas. Também os Evangelhos destes dias nos falaram da falta de letícia dos Apóstolos, uma falta que se devia ao fato de que eles O tinham confundido com um fantasma, com uma imaginação; e o fantasma, a imaginação – que é a negação da realidade – gera apenas medo, angústia, depressão. No fundo, a depressão é a vida sem a realidade e determinada pelos fantasmas, pelas fantasias. Por isto, numa aparição, Jesus disse: “Olhem, sou Eu... um fantasma não tem carne nem osso”, e mostrou suas chagas e comeu com eles. Assim, naquela manhã, no Lago de Tiberíades, Jesus ressuscitado apareceu uma vez mais e os apóstolos se assustaram, pensando que estavam vendo um fantasma. Como é terrível a fantasia, o não ver a realidade. Porém, João, o amigo predileto de Jesus, interveio prontamente e disse: “É o Senhor”. Pedro, como que despertado da sua letargia, ao ouvir “É o Senhor”, se jogou no mar e, nadando, chegou à margem e abraçou Jesus.
Nestes dias, toquei a beleza destes fatos. Vivi momentos duros, nos quais o medo entrou em mim e, com Paolino, nos demos conta de uma necessidade de correr para São Paulo, para encontrar os amigos Marcos, Cleuza, Julián, para que, como João, nos dissessem: “É o Senhor”. Deixamos a paróquia na noite de Páscoa e, como aqueles dois de Emaús, corremos para São Paulo e vimos o Senhor, de forma que, no dia seguinte, voltamos para casa com o coração cheio de letícia.
Os fatos acontecidos tinham sido muito dolorosos: Milagres, uma de nossas filhas da Casinha de Belém, morrera com apenas um ano de idade e me fora entregue nos braços pelo pessoal do hospital público envolta em trapos; a dor de seus irmãozinhos ao verem-na morta (leiam em Tempi o texto no qual relato estes fatos); a morte de um de meus primeiros colegiais, que, há um tempo, era hóspede da nossa clínica e carregava nas costas uma vida de drogas, álcool e rua; a morte de Maria Vitória, com 22 anos de idade, uma garota tão bonita consumida pelo câncer e que tinha uma filha de dois anos; a chegada na nova casa de acolhida para meninas violentadas e grávidas: primeiro (não digo os nomes verídicos) Maria, uma garotinha de 15 anos de idade, que morava numa favela e que parece ter 12 anos, e teve uma filhinha linda, mesmo que, desde os 9 anos de idade, consuma todo tipo de droga, mesmo que, durante a gravidez, tenha consumido tanto crack - a menina é um milagre do Senhor -; Josefina, de 17 anos, uma vida cheia de violência e que deu à luz uma prematura que acabou de completar um mês de vida; Larissa, 15 anos, uma vida de sofrimentos, está grávida de sete meses; Maria, uma menina de 12 anos, está no oitavo mês. Estes são apenas alguns dos acontecimentos. Agora vocês entendem o motivo da urgência de ver os amigos, ou seja, aqueles que nos indicam com clareza que “É o Senhor”. E é esta certeza, neste mar de dor, que torna cheio de letícia o coração, porque, com amigos assim, não existe momento em que não se possa se alegrar ao ver o Senhor ressuscitado.
A alegria é um lugar, não uma emoção ou um sentimento. A alegria é um lugar onde está presente, evidente, o carisma. Não basta que seja um lugar, mas é necessário que esteja presente o carisma. Por isto, tantas companhias não nos dizem nada, porque não vivem aquela pertença ao carisma, não seguem Carrón, não olham para onde ele olha, não se deixam provocar pela experiência que ele vive, pela liberdade que ele nos testemunha. E estas companhias não somente não nos ajudam como também nos causam apenas danos, como é muito frequentemente documentado, mesmo em quem pretende ajudar uma obra.
Sem esta posição que nos define, seremos tristes, vítimas dos nossos fantasmas que, depois, se tornarão pretensões sobre tudo; verdadeiramente, a letícia é um lugar no qual está presente, vibrante, o carisma. E é, de fato, comovente ver que a companhia de Marcos, Cleuza, Julián de La Morena, Bracco é a vitória de Cristo hoje; de forma que mesmo as obras caminham na gratuidade e nos permitem viver sempre mais com clareza aquilo que deriva dEle. Amigos, somente assim é possível estar diante da morte com o coração cheio de letícia, mesmo quando é um filho seu, como Milagres, que lhe é tirado; somente assim é possível permanecer diante destas meninas mães, fruto da violência, com gratuidade, respeito, discrição, amando-as, porque é possível ver nelas a paixão e a ressurreição de Cristo.
Com afeto,
Padre Aldo

terça-feira, 26 de abril de 2011

Cartas do P.e Aldo 190

Asunción, 21 de abril de 2011.

Caríssimos amigos,
Boa Páscoa!
O Senhor venceu o meu e o seu mal. Somos criaturas novas. Qualquer que seja a condição na qual vivamos, cheios de misérias até ao pescoço. Nós que somos preferidos pelo Mistérios somos Seus, Sua propriedade. Ele sabia, desde a eternidade, tudo sobre nós e nos escolheu assim mesmo. Que espetáculo de misericórdia, que comoção, se em todos os instantes vivêssemos com esta certeza. Eu lhes digo isso com todo o meu coração porque, para mim, é assim. É o espetáculo do ver, comovido, o que acontece na minha vida, vivendo como Abraão: “eis-me aqui, Senhor”. É o SIM de Maria.
Agradeço a todos que, com seu sacrifício, nos ajudam a levar a frente esta obra de Deus. Compartilhar, na Páscoa, a dor de Cristo que sofre e ressurge é como viver o capítulo 25 de São Mateus. Deus é o senhor, e nós somos Suas mãos. Recordemo-nos sempre de sustentar, mesmo que com uma balinha, aquilo que Deus está fazendo aqui, usando-nos, pobres homens apaixonados por Ele e, portanto, pelo homem que sofre. 
Boa Páscoa
Padre Aldo e comunidade

Cartas do P.e Aldo 189



Asunción, 17 de abril de 2011.

Caríssimos,
Hoje, o pequeno Victor completou 4 anos. O seu pequeno leito, como podem ver na foto, foi revestido como nas grandes solenidades litúrgicas se reveste o altar da igreja ou de uma catedral. Sim. Porque é o pequeno leito onde, desde o seu nascimento, Victor, consciente ou inconscientemente, oferece a sua vida, a sua dor que o faz gemer, é como o altar onde Jesus Eucarístico se oferece vítima de expiação para os meus, para os nossos pecados. Vejam como as ternas enfermeiras o vestiram bem! Roupa de festa, para um dia sem o cotidiano pijaminha. Na cabeceira colocaram um bilhetinho igual ao que colocam na cama de cada doente. No bilhetinho de Victor está escrita a razão, o motivo do seu sofrimento: pelo Santo Padre.
Ele, Victor, oferece conosco a sua vida pelo Papa, e eu estou certo de que o Papa sente o afeto misterioso da grande dor de Victor, o meu pequeno Jesus que não cessa de gemer, apertando as suas pequenas mãozinhas como que para comunicar a sua dor. Eu o olho com uma ternura que me faz sempre mais desejar o infinito, o Mistério que se fez carne nele, pequena hóstia branca. Eu preciso dele, porque só de olhá-lo se me desperta, de modo potente, a certeza de que se é apenas e exclusivamente relação com o Mistério. Eu o olho e vibro por dentro, com toda a dor que carrego comigo, pela certeza de que “eu sou Tu que me fazes”.
É esta certeza que, mesmo neste momento no qual estou escrevendo, me sustenta, enquanto sei que a minha pequena Milagres, com a Síndrome de Down, está morrendo e, quem sabe, em algumas horas, será mandada de volta para a Casinha de Belém ou para a Clínica para morrer. Nasceu com mil problemas físicos. Quando tem crises respiratórias, fica até roxinha. É pequena como um passarinho, me olha com os seus olhinhos tão belos, leva suas mãozinhas e pezinhos para a boca e, depois, sorri (isto, até anteontem, antes da crise).
Mesmo ela, uma pequena hóstia branca que parte meu coração, também me faz desejar apenas o infinito. Como na sexta-feira à noite, quando voltava para casa com Padre Paolino, às 23h, vindo da Casinha de Belém: olhamos para o céu e estava tão bonito. Um conjunto de nuvens de tamanhos e cores diferentes (brancas, cinzas, pretas) unidas umas as outras através de uma espécie de – poderíamos dizer – cordão umbilical. Entre uma e outra um azul intenso no qual brilhavam as estrelas do céu tropical e a lua cheia no centro de tudo. Paramos com o rosto levantado, olhando aquele espetáculo, sentindo a emoção do Infinito que se tornava presente naquela beleza, a mesma beleza de Victor e de Milagres. Mais do que isso: naquele momento, era ainda mais evidente que o espetáculo que estava sobre nós só era assim belo porque o Victor existe, porque a Milagres existe, porque Tu, ó doce Jesus, existes. 
Amigos, termino aqui, porque me chamaram: na casa de acolhida para o idosos há uma velhinha que está em estado grave. Assim é a minha vida de todos os dias: um imprevisto em cada momento que se torna um Acontecimento. É mesmo bonito estar em cada segundo suspenso, com o olhar fixo no Infinito e os pés pousados sobre a certeza de que Ele está aqui.
Confio-me e confio os meus filhos às orações de vocês.
Padre Aldo

terça-feira, 5 de abril de 2011

Comentário ao evangelho do dia

3ª-feira da 4ª Semana Quaresma

1ª Leitura - Ez 47,1-9.12
Naqueles dias, o anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saia água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do Templo, a sul do altar. Ele fez-me sair pela porta que dá para o norte, e fez-me dar uma volta por fora, até à porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. Quando o homem saiu na direção leste, tendo uma corda de medir na mão, mediu quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos tornozelos. Mediu outros quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos joelhos. Mediu mais quinhentos metros e me fez-me atravessar a água: ela chegava-me à cintura. Mediu mais quinhentos metros, e era um rio que eu não podia atravessar. Porque as águas haviam crescido tanto, que se tornaram um rio impossível de atravessar, a não ser a nado. Ele me disse: "Viste, filho do homem?". Depois fez-me caminhar de volta pela margem do rio. Voltando, eu vi junto à margem muitas árvores, de um e de outro lado do rio. Então ele me disse: "Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão remédio".

Evangelho - Jo 5,1-16
Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. Muitos doentes ficavam ali deitados - cegos, coxos e paralíticos -, esperando que a água se movesse. De fato, uma anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: "Queres ficar curado?". O doente respondeu: "Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente". Jesus disse: "Levanta-te, pega na tua cama e anda". No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou na sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: "É sábado! Não te é permitido carregar tua cama". Ele respondeu-lhes: "Aquele que me curou disse: 'Pega tua cama e anda'". Então lhe perguntaram: "Quem é que te disse: 'Pega tua cama e anda?'". O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar. Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: "Eis que estás curado.  Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior". Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus,  porque fazia tais coisas em dia de sábado.

Comentário feito por São Romano, o Melodista (c. 560)
compositor de hinos 

Nós, os novos batizados, os filhos do batistério que acabamos de receber a luz, damos-Te graças, Cristo Deus. Tu nos iluminaste com a luz do Teu rosto, Tu nos revestiste com a veste que convém às Tuas núpcias (Sl 4, 7; Mt 22, 11). Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. Quem dirá, quem mostrará ao primeiro homem criado, Adão, a beleza, o brilho, a dignidade dos seus filhos? Quem contará também à infeliz Eva que os seus descendentes se tornaram reis, revestidos de uma veste de glória, e que com grande glória glorificam Aquele que os glorificou, brilhantes de corpo, de espírito e de veste? [...] E quem os exaltou? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. [...] Tu és brilhante e radioso, Adão. [...] Ao ver-te, o teu adversário definha e exclama: Quem é este que vejo? Não sei. O pó foi renovado (Gn 2, 7), as cinzas foram divinizadas. O pobre doente foi convidado, foi refrescado, entrou e sentou-se à mesa, foi conduzido ao banquete e tem a audácia de comer e o desplante de beber Aquele que o criou. E quem Lho deu? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. Esqueceu as suas culpas antigas, não ostenta a menor cicatriz dos primeiros ferimentos. Abandonou os seus longos anos de paralisia na piscina, como tinha feito o paralítico, e deixou de trazer o leito aos ombros, mas traz às costas a cruz dAquele que teve piedade dele [...]. Outrora, o Amigo dos homens (Sap 1, 6) lavou muitos homens nas águas, mas eles não brilharam assim; àqueles, porém, a Ressurreição tornou-os luminosos. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. [...]  Eis-te recriado, novo batizado, eis-te renovado; não curves as costas ao peso dos pecados. Possuis a cruz como cajado, apoia-te nela. Leva-a à tua oração, leva-a para a mesa, leva-a para o leito, leva-a para todo o lado como título de glória. [...] Grita aos demônios: Com a cruz na mão, ergo-me, louvando a Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cartas do P.e Aldo 186

Asunción, 1 de abril de 2011.

Caros amigos,
Vimo-nos na Itália, com Marcos e Cleuza... e eis que, para surpresa de todos, eles chegaram no Paraguai. Por que vieram? Muitos se perguntaram. A resposta foi dada por eles: “Há um tempo sentíamos falta e desejávamos estar junto não apenas do Padre Aldo, que encontramos, no último mês, todas as semanas, mas também dos amigos de Padre Aldo, que são também nossos amigos, porque cada um de nós pertence ao outro”.
Muito bonita esta consciência de pertença que não conhece quilômetros. Dessa vez, vieram também Ivone, Guilherme, Angra e Douglas.
Contar tudo o que aconteceu é impossível para mim... de forma que me vejo obrigado a me lembrar da convivência dos apóstolos com Jesus. Mas, tem uma coisa que me parece fundamental compartilhar com vocês. Cleuza disse: “Viver a liberdade no meio da circunstância significa reconhecer a realidade como provocação e não como preocupação. Por isto, não são as coisas que me fazem feliz, nem mesmo o Lago Maggiore que vimos em nossa viagem à Itália, mas aquilo de que o Lago Maggiore é sinal, ou seja, o Mistério que faz tudo.
Por isto, posso não ter mais nada, viver debaixo de uma ponte, mas não mudaria nada, porque posso sempre viver a realidade como sinal. Estar no Lago Maggiore ou chegar a Asunción, onde havíamos previsto uma visita à fazenda, compartilhando um churrasco, e, pelo contrário, chegar à Paróquia, com todos os amigos, depois de nos levantarmos, e ver o Padre Aldo e a Irmã Sônia ocupados, levando um defunto para o cemitério, de forma que todos os projetos foram desfeitos... isso, era a mesma coisa. Tudo estava programado nos mínimos detalhes, mas o imprevisto (o mendigo que morreu na Clínica), que sempre é um Acontecimento, mudou tudo.
Na hora, fiquei com medo, porque nunca me havia acontecido uma coisa parecida. Eu estava com medo. Mas, quando Irmã Sônia começou a rezar o Rosário, uma alegria grande tomou conta do meu coração, uma alegria que me acompanhou durante todo o dia. A realidade desfaz os planos, os projetos, mas é sempre amiga e a Letícia do meu coração é a evidência. Porém, sem amigos, sem rostos, isto não seria possível”.
Com afeto,
Padre Aldo

Comentário ao evangelho do dia

2ª-feira da 4ª Semana Quaresma

1ª Leitura - Is 65,17-21
Assim fala o Senhor: "Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar; farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo; ali nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor. Ali não haverá crianças condenadas a poucos dias de vida nem anciãos que não completem seus dias. Será considerado jovem quem morrer aos cem anos; e quem não alcançar cem anos, passará por maldito. Construirão casas para nelas morar, plantarão vinhas para comer seus frutos".

Evangelho - Jo 4,43-54
Naquele tempo, Jesus partiu da Samaria para a Galileia. O próprio Jesus tinha declarado, que um profeta não é honrado na sua própria terra. Quando então chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, porque tinham visto tudo o que Jesus havia feito em Jerusalém, durante a festa. Pois também eles tinham ido à festa. Assim, Jesus voltou para Caná da Galileia, onde havia transformado a água em vinho. Havia em Cafarnaum um funcionário do rei que tinha um filho doente. Ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judéia para a Galileia. Ele saiu ao seu encontro e pediu-lhe que fosse a Cafarnaum curar seu filho, que estava morrendo. Jesus disse-lhe: "Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais". O funcionário do rei disse: "Senhor, desce, antes que meu filho morra!". Jesus lhe disse: "Podes ir, teu filho está vivo". O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora. Enquanto descia para Cafarnaum, seus empregados foram ao seu encontro, dizendo que o seu filho estava vivo. O funcionário perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: "A febre desapareceu, ontem, pela uma da tarde". O pai verificou que tinha sido exatamente na mesma hora em que Jesus lhe havia dito: "Teu filho está vivo". Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família. Esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da Judeia para a Galileia.

Comentário feito por Balduino de Ford (?-c. 1190)
abade cistercense

"A palavra de Deus é viva" (Heb 4, 12). Toda a grandeza, a força e a sabedoria da palavra de Deus, eis o que o Apóstolo demonstra com as suas palavras àqueles que procuram Cristo, Verbo, Força e Sabedoria de Deus. Este Verbo estava no início junto do Pai, é eterno com Ele (Jo 1, 1). E foi revelado a seu tempo aos Apóstolos, anunciado por eles e recebido humildemente pela população dos crentes. [...] Ela está viva, esta Palavra a Quem o Pai deu o dom da vida em Si mesma, tal como Ele a possuía nEle mesmo (Jo 5, 26). Ela está, portanto, não só viva, mas é a própria vida, como está escrito: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6). E porque é a vida, está viva e dá vida, pois "como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem Ele quer" (Jo 5, 21). Ela dá vida quando chama Lázaro para fora do túmulo e lhe diz: "Lázaro, vem para fora !" (Jo 11, 43). Quando esta palavra é proclamada, a voz que a pronuncia ressoa no exterior com tal força que, percebida no interior, faz reviver os mortos, e ao acordar a fé, suscita verdadeiros filhos de Abraão (Mt 3, 9). Sim, ela está viva, esta Palavra, viva no coração do Pai, na boca daquele que a proclama, no coração daquele que crê e que ama.

domingo, 3 de abril de 2011

E nós, qual é a postura que assumimos diante de Jesus?

Bento XVI

Angelus

Praça São Pedro
Domingo, 3 de abril de 2011.

Caros irmãos e irmãs!
O itinerário quaresmal que estamos vivendo é um tempo particular de graça, durante o qual podemos experimentar o dom da benevolência do Senhor em relação a nós. A liturgia este domingo, denominado “Laetare”, nos convida à alegria, assim como proclama a antífona do início da celebração eucarística: “Alegra-te, Jerusalém, e vós todos que a amai, reuni-vos. Exultai e alegrai-vos, vós que ereis tristes: saciai-vos na abundância da vossa consolação” (cf. Is 66, 10-11). Qual é a razão profunda desta alegria? Ela nos é revelada pelo Evangelho de hoje, no qual Jesus cura um homem cego de nascença. A pergunta que o Senhor Jesus dirige àquele que era cego constitui o ponto alto do relato: “Acreditas no Filho do homem?” (Jo 9, 35). Aquele homem reconhece o sinal operado por Jesus e passa da luz dos olhos à luz da fé: “Creio, Senhor!” (Jo 9, 38). Deve-se evidenciar como uma pessoa simples e sincera, de modo gradual, realiza um caminho de fé: num primeiro momento encontra Jesus como um “homem” entre os outros, depois o considera um “profeta”, finalmente os seus olhos se abrem e ele o proclama “Senhor”. Em oposição à fé do cego curado há o endurecimento do coração dos fariseus que não querem aceitar o milagre, porque se recusam a acolher Jesus como o Messias. A multidão, pelo contrário, para para discutir o acontecido e fica distante e indiferente. Mesmo os pais do cego são vencidos pelo medo do juízo dos outros.
E nós, qual é a postura que assumimos diante de Jesus? Também nós, por causa do pecado de Adão, nascemos “cegos”, mas na fonte batismal fomos iluminados pela graça de Cristo. O pecado tinha ferido a humanidade, destinando-a à escuridão da morte, mas em Cristo resplende a novidade da vida e a meta para a qual fomos chamados. NEle, revigorados pelo Espírito Santo, recebemos a força para vencer o mal e operar o bem. De fato, a vida cristã é uma contínua conformação a Cristo, imagem do homem novo, para chegar à plena comunhão com Deus. O Senhor Jesus é “a luz do mundo” (Jo 8, 12)., porque nEle “resplandece o conhecimento da glória de Deus” (2 Cor 4, 6) que continua a revelar, na complexa trama da história, qual é o sentido da existência humana. No rito do Batismo, a entrega da vela, acesa no grande círio pascal, símbolo de Cristo Ressuscitado, é um sinal que ajuda a acolher aquilo que acontece no Sacramento. Quando a nossa vida se deixa iluminar pelo mistério de Cristo, experimenta a alegria de ser liberada de tudo aquilo que ameaça sua plena realização. Nestes dias que nos preparam para a Páscoa, reavivemos em nós o dom recebido no Batismo, aquela chama que, às vezes, arrisca ser sufocada. Alimentando-a com a oração e a caridade para com o próximo.
À Virgem Maria, Mãe da Igreja, confiamos o caminho quaresmal, para que todos possam encontrar Cristo, Salvador do mundo.

* Exraído do site do Vaticano, do dia 3 de abril de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

Comentário ao evangelho do dia

4º Domingo Quaresma

1ª Leitura - 1Sm 16,1b.6-7.10-13a
Naqueles dias, o Senhor disse a Samuel: "Enche o chifre de óleo e vem para que eu te envie à casa de Jessé de Belém, pois escolhi um rei para mim entre os seus filhos". Assim que chegou, Samuel viu a Eliab e disse consigo: "Certamente é este o ungido do Senhor!". Mas o Senhor disse-lhe: "Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração". Jessé fez vir seus sete filhos à presença de Samuel, mas Samuel disse: "O Senhor não escolheu a nenhum deles". E acrescentou: "Estão aqui todos os teus filhos?". Jessé respondeu: "Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". Jessé mandou buscá-lo. Era Davi, ruivo, de belos olhos e de formosa aparência. E o Senhor disse: "Levanta-te, unge-o: é este!". Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor  se apoderou de Davi.

2ª Leitura - Ef 5,8-14
Irmãos, outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as. O que essa gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. Mas tudo que é condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz. É por isso que se diz: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá".

Evangelho - Jo 9,1-41
Naquele tempo, ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os discípulos perguntaram a Jesus: "Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?". Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. É necessário que nós realizemos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mudo, eu sou a luz do mundo". Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de Siloé" (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que costumavam ver o cego - pois ele era mendigo - diziam: "Não é aquele que ficava pedindo esmola?". Uns diziam: "Sim, é ele!". Outros afirmavam: "Não é ele, mas alguém parecido com ele". Ele, porém, dizia: "Sou eu mesmo!". Então lhe perguntaram: "Como é que se abriram os teus olhos?". Ele respondeu: "Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: 'Vai a Siloé e lava-te'. Então fui, lavei-me e comecei a ver". Perguntaram-lhe: "Onde está ele?". Respondeu: "Não sei". Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: "Colocou lama sobre meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!". Disseram, então, alguns dos fariseus: "Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado". Mas outros diziam: "Como pode um pecador fazer tais sinais?". E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: "E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?". Respondeu: "É um profeta". Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista. Chamaram os pais dele e perguntaram-lhes: "Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está enxergando?". Os seus pais disseram: "Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. Como agora está enxergando, isso não sabemos. E quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Interrogai-o, ele é maior de idade, ele pode falar por si mesmo". Os seus pais disseram isso, porque tinham medo das autoridades judaicas. De fato, os judeus já tinham combinado expulsar da comunidade quem declarasse que Jesus era o Messias. Foi por isso que seus pais disseram: "É maior de idade. Interrogai-o a ele". Então, os judeus chamaram de novo o homem que tinha sido cego. Disseram-lhe: "Dá glória a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador". Então ele respondeu: "Se ele é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo". Perguntaram-lhe então: "Que é que ele te fez? Como te abriu os olhos?". Respondeu ele: "Eu já vos disse, e não escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Por acaso quereis tornar-vos discípulos dele?". Então insultaram-no, dizendo: "Tu, sim, és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não sabemos de onde é". Respondeu-lhes o homem: "Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada". Os fariseus disseram-lhe: "Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?". E expulsaram-no da comunidade. Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o, perguntou-lhe: "Acreditas no Filho do Homem?". Respondeu ele: "Quem é, Senhor, para que eu creia nele?". Jesus disse: "Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo". Exclamou ele: "Eu creio, Senhor!" E prostrou-se diante de Jesus. Então, Jesus disse: "Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não vêem, vejam, e os que vêem se tornem cegos". Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram isto e lhe disseram: "Porventura, também nós somos cegos?". Respondeu-lhes Jesus: "Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: 'Nós vemos', o vosso pecado permanece".

Comentário feito por Santo Efrém (c. 306-373)
diácono na Síria, Doutor da Igreja

"Fez lama com a saliva e ungiu-lhe os olhos". E a luz jorrou da terra, como no começo, quando [...] as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus Se movia sobre a superfície das águas. Deus disse: "Faça-se a luz" e a luz foi feita (Gn 1, 2-3). Assim, curou um defeito que existia desde a nascença, para mostrar que Ele, cuja mão terminava aquilo que faltava à natureza, era Aquele que, com a Sua mão, tinha dado origem à Criação, no princípio. E como se recusavam a crer que Ele era antes de Abraão (Jo 8, 57), provou com esta ação que era o Filho dAquele que, com a Sua mão, "formou o homem do pó da terra" (Gn 2, 7). Ele fez isso para aqueles que procuravam os milagres a fim de acreditarem: "Os judeus pedem sinais" (1Cor 1, 22). Não foi a piscina de Siloé que abriu os olhos ao cego, tal como não foram as águas do Jordão que purificaram Naamã (2Rs 5, 14): foi a ordem do Senhor que realizou tudo. Mais do que isso, não é a água do nosso batismo, mas os nomes da Trindade que se pronunciam sobre ela que nos purificam. Ele lhe ungiu os olhos com lama, para que os fariseus pudessem limpar a cegueira do seu coração. [...] Aqueles que viam a luz física foram conduzidos por um cego que via a luz do espírito; e, na sua noite, o cego era conduzido por aqueles que viam exteriormente, mas que eram espiritualmente cegos. O cego lavou a lama dos seus olhos e viu-se a si próprio; os outros lavaram a cegueira do coração, e examinaram-se a si mesmos. Assim, ao abrir exteriormente os olhos dum cego, Nosso Senhor abria secretamente os olhos de muitos outros cegos. [...] Nestas poucas palavras do Senhor estavam escondidos tesouros admiráveis e, nesta cura, estava esboçado um símbolo: Jesus, o Filho do Criador.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cartas do P.e Aldo 185



Asunción, 31 de março de 2011.

Caros amigos,
O caminho para a santidade é a letícia. Aquela Letícia que convive mesmo com um câncer, com uma doença terminal e que tem a sua única origem em “Tu, meu Cristo”.
Olhem a beleza de Alma e de Carol, duas garotas de 17 anos internadas na nossa clínica. Doentes de câncer, encontraram Jesus. Deste Encontro a alegria de viver que se torna trabalho.
Amigos, não é possível duvidar da vitória de Cristo quando olhamos para estes rostos, conscientes do câncer que têm. Meu Deus, como é verdade aquilo que Carrón nos diz quando fala da contemporaneidade de Cristo!
Padre Aldo

quarta-feira, 30 de março de 2011

Cartas do P.e Aldo 184



Asunción, 29 de março de 2011.

Caros amigos,
Carrón nos fala sempre da contemporaneidade de Cristo. Mas, o que isso quer dizer? Ver com os próprios olhos, tocar com as próprias mãos a vitória de Cristo ressuscitado como documentam as duas fotos da crisma de Alma e Carol, celebrada domingo passado na clínica.
Ambas gravemente doentes de câncer chegaram à clínica com o desespero no coração, com seus 17 anos de idade; aqui, encontraram, no abraço terno de Jesus, graças a quem vive com a certeza do “eu sou Tu que me fazes”, a alegria de viver. Alma era mórmon e quis se tornar católica e, no domingo, com sua companheira de quarto, recebeu o Espírito Santo, no Sacramento da Crisma. Olhem para o sinal da vitória de Cristo, da Sua contemporaneidade: a letícia que se vê em seus rostos.
Amigos, não existe circunstância – nem mesmo o câncer aos 17 anos – que seja mais forte do que Jesus. Uma confirmação belíssima disso é que o problema é apenas um: quem é Cristo, para mim? Que experiência faço dEle? Estou atento para recolher os sinais contínuos da Sua Presença? Li uma poesia de Rebora, quando estive recentemente em Stresa, que dizia assim: “Vigiar o instante”. Eis o que nos querem dizer os rostos de Alma e Carol, conscientes daquilo que têm aos 17 anos. “Vigiar o instante”, ou seja, “eu sou Tu que me fazes” como consciência do instante que me é dado.
Padre Aldo

quinta-feira, 24 de março de 2011

Cartas do P.e Aldo 182





Asunción, 21 de março de 2011.

Caríssimos amigos,
ei-la, olhem para ela, é Mariana, nascida no dia 15 de março daquela minha filha, que ainda é uma criança de 15 anos. Um mês se passou desde que a Providência abriu e inaugurou aquela nova obra de misericórdia, para acolher as meninas, as adolescentes violentadas e grávidas. Mariana é o primeiro fruto desta misericórdia que atua continuamente. Ela, como eu, não é o fruto dos seus antecedentes, mas daquele “Tu que me fazes”. Estou, estamos comovidos por ver como Deus tem piedade da órfã, da viúva, do estrangeiro, como diz a Sagrada Escritura. Olhando para elas, não posso não ficar comovido por ver como tantas mães tão jovens foram salvas pela ternura de Deus que venceu a brutalidade, o cinismo de quem queria que elas abortassem.
Cristo vence sempre e, por isto, vence a vida. O primeiro problema não é a batalha pela vida, mas o anúncio de Cristo, para que você se apaixone por Cristo. Mesmo para vocês, que estavam preocupados justamente com a lei que se discute no parlamento, obedientes às indicações dos bispos, é assim: nunca se esqueçam de que o verdadeiro problema está apenas na nossa paixão por Cristo. Somos chamados, como São Paulo, a anunciar “apertis verbis” Cristo, porque o mundo tem necessidade apenas disso. Eu experimentei isso falando, em Bolonha, para a Confindustria. Também eles voltaram para casa tocados por terem escutado um asno que conhece tão pouco de teologia, mas que foi tomado por Cristo.
Mariana nasceu porque sua mãe encontrou alguém que a olha como Jesus olhou para Zaqueu e para a mulher adúltera ou para a samaritana.
Ver a alegria de Padre Paolino porque Mariana nasceu, quando eu estava na Itália, é mesmo comovente, porque vejo que tenho um amigo capaz de amor, capaz de olhar como Giussani me olhou, como Carrón nos olha, como Marcos, Cleuza e tantos outros nos olham.
Rezem para que Mariana seja feliz.
Com afeto,
Padre Aldo

quinta-feira, 3 de março de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mc 10,46-52
Naquele tempo, Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!". Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: "Filho de Davi, tem piedade de mim!". Então Jesus parou e disse: "Chamai-o". Eles o chamaram e disseram: "Coragem, levanta-te, Jesus te chama!". O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe perguntou: "O que queres que eu te faça?". O cego respondeu: "Mestre, que eu veja!". Jesus disse: "Vai, a tua fé te curou". No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.

Comentário feito por São Gregório Magno (c. 540-604)
Papa e Doutor da Igreja 

Que todo o homem que conhece as trevas que fazem dele um cego [...] grite a plenos pulmões: "Jesus filho de Davi, tem misericórdia de mim!". Mas ouçamos também o que se segue aos gritos do cego: "Aqueles que caminhavam à frente  repreendiam para que se calasse" (Lc 18, 39). Quem são eles? Eles estão ali para representar os desejos da nossa condição neste mundo, promotores de confusão, os vícios do homem e o seu tumulto, que, querendo impedir a vinda de Jesus a nós, perturbam o nosso pensamento semeando nele a tentação, e querem abafar a voz do nosso coração que ora. Com efeito, acontece frequentemente que a nossa vontade de nos virarmos de novo para Deus [...], o nosso esforço para afastar os nossos pecados através da oração, é contrariado pela sua imagem; a vigilância do nosso espírito afrouxa ao seu contato, eles semeiam a confusão no nosso coração, sufocam o grito das nossas preces. [...] Que fez então este cego para receber a luz malgrado estes obstáculos? "Ele gritava cada vez mais: 'Filho de Davi, tem misericórdia de mim!'". [...] Sim, quanto mais o tumulto dos nossos desejos nos acabrunhar, mais insistente deve ser a nossa prece. [...] Quanto mais abafada for a voz do nosso coração, mais vigorosamente ela deve insistir até se sobrepor ao tumulto dos pensamentos invasores e tocar o ouvido fiel do Senhor. Creio que todos nos reconheceremos nesta imagem: no momento em que nos esforçamos por desviar o nosso coração deste mundo para o reencaminhar para Deus [...], são muitos os importunos que pesam sobre nós e que temos de combater. É um enxame que o desejo de Deus tem dificuldade em afastar dos olhos do nosso coração. [...] Mas, persistindo vigorosamente na oração, deteremos no espírito Jesus que passa. Donde a narração do Evangelho: "Jesus parou e ordenou que o levassem até Ele" (v. 40). 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mc 9,14-29
Naquele tempo, descendo Jesus do monte com Pedro, Tiago e João e chegando perto dos outros discípulos, viram que estavam rodeados por uma grande multidão. Alguns mestres da Lei estavam discutindo com eles. Logo que a multidão viu Jesus, ficou surpresa e correu para saudá-lo. Jesus perguntou aos discípulos: "O que discutis com eles?". Alguém da multidão respondeu: "Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito. Mas eles não conseguiram". Jesus disse: "Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando terei que suportar-vos? Trazei aqui o menino". E levaram-lhe o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca. Jesus perguntou ao pai: "Desde quando ele está assim?". O pai respondeu: "Desde criança. E muitas vezes, o espírito já o lançou no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós e ajuda-nos". Jesus disse: "Se podes!... Tudo é possível para quem tem fé". O pai do menino disse em alta voz: "Eu tenho fé, mas ajuda a minha falta de fé". Jesus viu que a multidão acorria para junto dele. Então ordenou ao espírito impuro: "Espírito mudo e surdo, eu te ordeno que saias do menino e nunca mais entres nele". O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e saiu. O menino ficou como morto, e por isso todos diziam: "Ele morreu!". Mas Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé. Depois que Jesus entrou em casa, os discípulos lhe perguntaram a sós: "Por que nós não conseguimos expulsar o espírito?". Jesus respondeu: "Essa espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum modo, a não ser pela oração".

Comentário feito por Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916)
eremita e missionário no Saara 

"Se tiverdes fé como um grão de mostarda [...], nada vos será impossível" (Mt 17, 20). Podemos tudo através da oração: se não recebemos o que pedimos é porque não tivemos fé, ou porque rezámos pouco, ou porque seria prejudicial para nós que o nosso pedido fosse atendido, ou então porque Deus nos dá qualquer coisa melhor do que aquela que Lhe pedimos. Mas nunca deixamos de receber o que pedimos por a coisa ser demasiado difícil de obter: "Nada nos é impossível". Não hesitemos em pedir a Deus mesmo as coisas mais difíceis, tais como a conversão de grandes pecadores, de povos inteiros. Peçamos-lhe, por difícil que seja, com a fé de que Deus nos ama apaixonadamente e que, quanto maior é um dom, mais aquele que ama apaixonadamente gosta de o fazer; mas peçamos com fé, com insistência, constância, com amor, com boa vontade. E tenhamos a certeza de que, se pedirmos assim e com suficiente constância, seremos atendidos, receberemos a graça pedida ou uma melhor. Peçamos, pois, audaciosamente, a Nosso Senhor as coisas mais impossíveis de obter, quando são para Sua glória, e estejamos certos de que o Seu coração no-las concederá, por muito que pareçam humanamente impossíveis: porque dar o que é impossível a quem O ama é doce ao Seu coração. E quanto nos ama Ele! 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Evangelho - Mc 8,22-26
Naquele tempo, Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele. Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, colocou as mãos sobre ele, e perguntou: "Estás vendo alguma coisa?". O homem levantou os olhos e disse: "Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam". Então Jesus colocou de novo as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. Jesus mandou o homem ir para casa, e lhe disse: "Não entres no povoado!".

Comentário feito por São Jerônimo (347-420)
presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja 

Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou-lhe: "Vês alguma coisa?". O conhecimento é sempre progressivo. [...] Só à custa de muito tempo e de uma longa aprendizagem é que podemos atingir um conhecimento perfeito. Primeiro saem as sujidades, a cegueira desaparece, e é assim que vem a luz. A saliva do Senhor é um ensinamento perfeito; para ensinar de forma perfeita, ela provém da boca do Senhor; a saliva do Senhor provém, por assim dizer, da Sua substância, e o conhecimento, sendo a palavra que provém da Sua boca, é um remédio. [...] "Vejo os homens; vejo-os como árvores que andam"; ainda vejo sombras, ainda não vejo a verdade. Eis o sentido desta palavra: vejo qualquer coisa na Lei, mas ainda não tenho a percepção da luminosidade radiosa do Evangelho. [...] "Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; [...] e distinguia tudo com nitidez". Via, digo eu, tudo o que nós vemos: via o mistério da Trindade, via todos os mistérios sagrados que estão no Evangelho. [...] Nós também os vemos, porque acreditamos em 
Cristo, que é a verdadeira luz. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cartas do P.e Aldo 179




Asunción, 4 de fevereiro de 2011.

Caros amigos,
A Presença do Mistério, presente em cada instante na Clínica, no Cristo Eucarístico e no Cristo que sofre, torna este lugar uma experiência cotidiana do milagre.
Vejam o meu filho adotivo Aldo, como brinca com o meu Mariozinho. Os leitos estavam separados e – não sei como o fizeram –, de repente, entro no quarto com o Santíssimo Sacramento e os encontro juntos e eles brincando.
Aquele “Tu que me fazes”, verdadeiramente, quando se torna a consciência do eu, permite que mesmo duas crianças aparentemente incapazes de se comunicarem vivam com a verdadeira letícia a sua condição humana.
Olhando-os brincar, enquanto segurava o Santíssimo Sacramento na mão, fiquei comovido, porque via em seus olhos e na bagunça que faziam a evidente Presença daquele “Tu” que domina a minha vida e tudo aquilo que me circunda. Enquanto o mundo diria que são deficientes e – talvez – muitos pais se envergonhariam de ter filhos assim belos. Belos porque são Jesus e, por isso, me coloco em adoração diante deles.
Que Deus dê a cada um um coração capaz de ver nos próprios filhos a Jesus, particularmente àquelas mães grávidas que esperam com ânsia o resultado de uma ultrasonografia, temerosas de que a criança tenha algum defeito, se esquecendo de que, seja qual for a sua condição, é Jesus.
P.e Aldo

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Comentário ao evangelho do dia

Apresentação do Senhor
Nossa Senhora das Candeias

1ª Leitura - Ml 3,1-4
Assim diz o Senhor: Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja  e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos.

2ª Leitura - Hb 2,14-18
Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão. Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação.

Evangelho - Lc 2,22-40
Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor". Foram também oferecer o sacrifício - um par de rolas ou dois pombinhos - como está ordenado na Lei do Senhor. Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: "Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel". O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: "Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma". Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.

Comentário feito por Orígenes (c. 185-253)
presbítero e teólogo 

"Uma mulher tocou na orla do manto de Jesus e ficou curada"(Mt 9, 20). Se esta mulher, ao tocar a extremidade do Seu manto, daí retirou tantos benefícios, o que dizer de Simeão, que "O tomou nos braços" e, tomando-O, deu largas à sua alegria vendo que segurava a criança vinda ao mundo para libertar os cativos (Lc 4, 18) e que ele próprio se veria em breve liberto dos laços do corpo? Simeão sabia que ninguém podia fazer sair fosse quem fosse da prisão do corpo com os olhos postos na vida futura a não ser Aquele que segurava nos seus braços. E assim se dirige a Ele: "Agora, Senhor, deixarás ir em paz o Teu servo, porque todo o tempo que não tive a Cristo, todo o tempo que O não apertei nos meus braços, estive prisioneiro e não pude sair desses laços". De resto, não é só acerca de Simeão, mas de todo o gênero humano, que temos de entender estas palavras. Se alguém deixa este mundo, se alguém se liberta desta prisão e desta morada de cativos para alcançar a realeza, que pegue em Jesus com as suas mãos e O aconchegue nos seus braços, que O tenha todo junto ao coração e assim, doido de alegria, se dirija aonde quiser.