Asunción, 17 de abril de 2011.
Caríssimos,
Hoje, o pequeno Victor completou 4 anos. O seu pequeno leito, como podem ver na foto, foi revestido como nas grandes solenidades litúrgicas se reveste o altar da igreja ou de uma catedral. Sim. Porque é o pequeno leito onde, desde o seu nascimento, Victor, consciente ou inconscientemente, oferece a sua vida, a sua dor que o faz gemer, é como o altar onde Jesus Eucarístico se oferece vítima de expiação para os meus, para os nossos pecados. Vejam como as ternas enfermeiras o vestiram bem! Roupa de festa, para um dia sem o cotidiano pijaminha. Na cabeceira colocaram um bilhetinho igual ao que colocam na cama de cada doente. No bilhetinho de Victor está escrita a razão, o motivo do seu sofrimento: pelo Santo Padre.
Ele, Victor, oferece conosco a sua vida pelo Papa, e eu estou certo de que o Papa sente o afeto misterioso da grande dor de Victor, o meu pequeno Jesus que não cessa de gemer, apertando as suas pequenas mãozinhas como que para comunicar a sua dor. Eu o olho com uma ternura que me faz sempre mais desejar o infinito, o Mistério que se fez carne nele, pequena hóstia branca. Eu preciso dele, porque só de olhá-lo se me desperta, de modo potente, a certeza de que se é apenas e exclusivamente relação com o Mistério. Eu o olho e vibro por dentro, com toda a dor que carrego comigo, pela certeza de que “eu sou Tu que me fazes”.
É esta certeza que, mesmo neste momento no qual estou escrevendo, me sustenta, enquanto sei que a minha pequena Milagres, com a Síndrome de Down, está morrendo e, quem sabe, em algumas horas, será mandada de volta para a Casinha de Belém ou para a Clínica para morrer. Nasceu com mil problemas físicos. Quando tem crises respiratórias, fica até roxinha. É pequena como um passarinho, me olha com os seus olhinhos tão belos, leva suas mãozinhas e pezinhos para a boca e, depois, sorri (isto, até anteontem, antes da crise).
Mesmo ela, uma pequena hóstia branca que parte meu coração, também me faz desejar apenas o infinito. Como na sexta-feira à noite, quando voltava para casa com Padre Paolino, às 23h, vindo da Casinha de Belém: olhamos para o céu e estava tão bonito. Um conjunto de nuvens de tamanhos e cores diferentes (brancas, cinzas, pretas) unidas umas as outras através de uma espécie de – poderíamos dizer – cordão umbilical. Entre uma e outra um azul intenso no qual brilhavam as estrelas do céu tropical e a lua cheia no centro de tudo. Paramos com o rosto levantado, olhando aquele espetáculo, sentindo a emoção do Infinito que se tornava presente naquela beleza, a mesma beleza de Victor e de Milagres. Mais do que isso: naquele momento, era ainda mais evidente que o espetáculo que estava sobre nós só era assim belo porque o Victor existe, porque a Milagres existe, porque Tu, ó doce Jesus, existes.
Amigos, termino aqui, porque me chamaram: na casa de acolhida para o idosos há uma velhinha que está em estado grave. Assim é a minha vida de todos os dias: um imprevisto em cada momento que se torna um Acontecimento. É mesmo bonito estar em cada segundo suspenso, com o olhar fixo no Infinito e os pés pousados sobre a certeza de que Ele está aqui.
Confio-me e confio os meus filhos às orações de vocês.
Padre Aldo
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