Asunción, 05 de fevereiro de 2009.
Caros amigos,
olhar para a realidade, vivê-la, é sempre um estar em pé olhando para o Mistério, com aquela dramaticidade que lhe faz dizer continuamente “eu sou Tu que me fazes”. O Mistério de que a realidade é sinal e caminho me faz viver comovido e sempre como as “scolte di Asisi”. Por isso, vivo surpreso por tudo e cada coisa é um imprevisto, uma novidade.
Ontem de manhã, o Arcebispo de Asunción me telefonou: “Padre Aldo, preciso de um favor seu. O Arcebispo emérito Dom Santiago Benitez Avalo (nasceu no dia 1° de maio de 1926, na cidade de Piribebuy, no Paraguay, e faleceu no último dia 19 de março, na cidade de Asunción; ndt) está quase chegando na meta e gostaríamos de interná-lo na clínica São Riccardo Pampuri, pois acabou de se recupear de uma infecção hospitalar (estava internado no mais belo hospital de Asunción). Por favor, vocês têm um quarto?”. “Claro que sim, Eminência. Desde a construção da clínica o primeiro pensamento que tive foi que deveria ser para sacerdotes, religiosos, bispos, que nessa terra não têm nenhuma estrutura que os acolha. Além do mais, D. Benitez, além de ser um dos maiores bispos do Paraguai e da América Latina (padre conciliar; redator, com o Papa atual, do Catecismo da Igreja Católica; desempenhou papéis fundamentais no CELAM etc.), foi o padre que, há 20 anos, me acolheu e primeiro quis CL no Paraguai. Deus se serviu dele para acolher este filho pródigo mandado por Giussani e, agora, o filho pródigo acolhe o Pai que tanto se prodiga por ele. Bem, que venha D. Benitez”.
Imaginem a minha alegria: assistir àquele que me acolheu, aquele que foi, aqui, a dilatação do grande abraço de Giussani para mim! Que graça este hospital, onde todo tipo de pessoa é acolhida, amada, ajudada a morre em letícia. Vocês já se perguntaram por que São Francisco chamava “nossa santa morte corporal” ou “irmã morte”?
A realidade é o corpo de Cristo. Olhem esta foto: é um doente de AIDS que está se casando. Aconteceu no domingo passado, dia 1° de fevereiro. Logo depois que disse “sim” e colocou o anel no dedo de sua mulher, entrou em coma. Impressionante: SIM e, depois, perdeu os sentidos. Alguém poderia dizer: mas de que lhe serviu se casar naquelas condições? Amigos, o amor é eterno. O que acaba é o aspecto fenomênico da sexualidade, mas a sexualidade, dimensão constitutiva do eu e origem de cada relação, é para sempre. Não esqueçamos o dogma da Assunção...
O SIM deles não era ligado ao uso dos genitais, mas ao destino deles, depois de 35 anos de concubinato. De outra forma, não conseguirei entender porque todos os meus doentes, antes de morrer – aqueles que vivem em concubinato –, querem se casar, usando como motivo: “quero morrer em paz”. Deixo a vocês o desafio de entrar na profundidade dessa afirmação que, como nada mais, explica o que significa amar, o que significa o sacramento do Matrimônio. Para mim, a morte, o olhar para ela em cada instante, encará-la é, de fato, reviver a beleza, a majestade de cada detalhe da liturgia para os defuntos. Peço-lhes, experimentem pedir a um padre que lhes mostre como a Igreja educa para a morte. Para não falar dos cantos, da Missa de Requiem, no “Dies Irae” (hino composto, no século XIII, por Thomas de Celano; ndt) ou no “De Profundis” (trata-se do salmo 130 - 129 da Vulgata; ndt) etc. Como é bela a realidade, porque a liturgia é a realidade na sua máxima expressão. Sempre mais a clínica está se tornando um lugar de missão. Muitos dos internados são evangélicos que se afastaram da Igreja católica por diversos motivos, mas um motivo em particular se repete: não tem espaço para escutar o homem.
Obviamente que o simples pensamento de encontrar um padre ou um quadro de Nossa Senhora pendurado na parede ou a Eucaristia já cria neles um mal-estar... que, porém, dura poucos dias. O que acontece? Três vezes ao dia faço a procissão com o Santíssimo Sacramento, mas nos quartos onde estão evangélicos paro à porta e lhes dou uma bênção. Enquanto que, com os outros, não apenas os abençoo, mas me coloco de joelhos e beijo a cada um deles. Com os evangélicos, pelo contrário, coloco-me de joelhos e lhes dou um beijo, sem Jesus nas mãos. Ou seja, parto deles, da certeza de que a realidade é o corpo de Cristo. Parto deles, não de Cristo, para que consigamos nos entender... e, com o tempo, aquela realdiade que é o corpo de Cristo lhes conduz a pedir os Sacramentos, a beijar um santinho, a gritar pela Eucaristia. Como é verdade que a missão é a alegria de viver a realidade com a certeza de que ela é o corpo de Cristo.
Assim, vocês entendem o quanto me faz sofrer ler, nos jornais daqui, notícias a respeito de Eluana... sofro porque ela é o corpo de Cristo. E olho para Victor que está em condições muito piores: mas ele é o corpo de Cristo. Amigos, a batalha por Eluana é somente para que o capítulo décimo d’O Senso Religioso se torne nosso e de todos. De outra forma, cairemos na ideologia. Se vocês viverem aquele capítulo como comoção, poderão entender porque falo, olho a morte com certos olhos e desejo que todos a olhem assim, porque é a única maneira de olhar para a vida, para a realidade.
P.e Aldo
olhar para a realidade, vivê-la, é sempre um estar em pé olhando para o Mistério, com aquela dramaticidade que lhe faz dizer continuamente “eu sou Tu que me fazes”. O Mistério de que a realidade é sinal e caminho me faz viver comovido e sempre como as “scolte di Asisi”. Por isso, vivo surpreso por tudo e cada coisa é um imprevisto, uma novidade.
Ontem de manhã, o Arcebispo de Asunción me telefonou: “Padre Aldo, preciso de um favor seu. O Arcebispo emérito Dom Santiago Benitez Avalo (nasceu no dia 1° de maio de 1926, na cidade de Piribebuy, no Paraguay, e faleceu no último dia 19 de março, na cidade de Asunción; ndt) está quase chegando na meta e gostaríamos de interná-lo na clínica São Riccardo Pampuri, pois acabou de se recupear de uma infecção hospitalar (estava internado no mais belo hospital de Asunción). Por favor, vocês têm um quarto?”. “Claro que sim, Eminência. Desde a construção da clínica o primeiro pensamento que tive foi que deveria ser para sacerdotes, religiosos, bispos, que nessa terra não têm nenhuma estrutura que os acolha. Além do mais, D. Benitez, além de ser um dos maiores bispos do Paraguai e da América Latina (padre conciliar; redator, com o Papa atual, do Catecismo da Igreja Católica; desempenhou papéis fundamentais no CELAM etc.), foi o padre que, há 20 anos, me acolheu e primeiro quis CL no Paraguai. Deus se serviu dele para acolher este filho pródigo mandado por Giussani e, agora, o filho pródigo acolhe o Pai que tanto se prodiga por ele. Bem, que venha D. Benitez”.
Imaginem a minha alegria: assistir àquele que me acolheu, aquele que foi, aqui, a dilatação do grande abraço de Giussani para mim! Que graça este hospital, onde todo tipo de pessoa é acolhida, amada, ajudada a morre em letícia. Vocês já se perguntaram por que São Francisco chamava “nossa santa morte corporal” ou “irmã morte”?
A realidade é o corpo de Cristo. Olhem esta foto: é um doente de AIDS que está se casando. Aconteceu no domingo passado, dia 1° de fevereiro. Logo depois que disse “sim” e colocou o anel no dedo de sua mulher, entrou em coma. Impressionante: SIM e, depois, perdeu os sentidos. Alguém poderia dizer: mas de que lhe serviu se casar naquelas condições? Amigos, o amor é eterno. O que acaba é o aspecto fenomênico da sexualidade, mas a sexualidade, dimensão constitutiva do eu e origem de cada relação, é para sempre. Não esqueçamos o dogma da Assunção...
O SIM deles não era ligado ao uso dos genitais, mas ao destino deles, depois de 35 anos de concubinato. De outra forma, não conseguirei entender porque todos os meus doentes, antes de morrer – aqueles que vivem em concubinato –, querem se casar, usando como motivo: “quero morrer em paz”. Deixo a vocês o desafio de entrar na profundidade dessa afirmação que, como nada mais, explica o que significa amar, o que significa o sacramento do Matrimônio. Para mim, a morte, o olhar para ela em cada instante, encará-la é, de fato, reviver a beleza, a majestade de cada detalhe da liturgia para os defuntos. Peço-lhes, experimentem pedir a um padre que lhes mostre como a Igreja educa para a morte. Para não falar dos cantos, da Missa de Requiem, no “Dies Irae” (hino composto, no século XIII, por Thomas de Celano; ndt) ou no “De Profundis” (trata-se do salmo 130 - 129 da Vulgata; ndt) etc. Como é bela a realidade, porque a liturgia é a realidade na sua máxima expressão. Sempre mais a clínica está se tornando um lugar de missão. Muitos dos internados são evangélicos que se afastaram da Igreja católica por diversos motivos, mas um motivo em particular se repete: não tem espaço para escutar o homem.
Obviamente que o simples pensamento de encontrar um padre ou um quadro de Nossa Senhora pendurado na parede ou a Eucaristia já cria neles um mal-estar... que, porém, dura poucos dias. O que acontece? Três vezes ao dia faço a procissão com o Santíssimo Sacramento, mas nos quartos onde estão evangélicos paro à porta e lhes dou uma bênção. Enquanto que, com os outros, não apenas os abençoo, mas me coloco de joelhos e beijo a cada um deles. Com os evangélicos, pelo contrário, coloco-me de joelhos e lhes dou um beijo, sem Jesus nas mãos. Ou seja, parto deles, da certeza de que a realidade é o corpo de Cristo. Parto deles, não de Cristo, para que consigamos nos entender... e, com o tempo, aquela realdiade que é o corpo de Cristo lhes conduz a pedir os Sacramentos, a beijar um santinho, a gritar pela Eucaristia. Como é verdade que a missão é a alegria de viver a realidade com a certeza de que ela é o corpo de Cristo.
Assim, vocês entendem o quanto me faz sofrer ler, nos jornais daqui, notícias a respeito de Eluana... sofro porque ela é o corpo de Cristo. E olho para Victor que está em condições muito piores: mas ele é o corpo de Cristo. Amigos, a batalha por Eluana é somente para que o capítulo décimo d’O Senso Religioso se torne nosso e de todos. De outra forma, cairemos na ideologia. Se vocês viverem aquele capítulo como comoção, poderão entender porque falo, olho a morte com certos olhos e desejo que todos a olhem assim, porque é a única maneira de olhar para a vida, para a realidade.
P.e Aldo
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