quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 11

Asunción, 02 de fevereiro de 2009.

Caros amigos,
Como gostaria de responder a todos pessoalmente! Como não consigo, para a maior parte dos que me escrevem garanto minhas orações. Tantas perguntas, tantos problemas, sofrimentos, dramas que nos acomunam, de tal forma que certas coisas que eu vivo me parecem úteis a todos e, portanto, respondo como estou fazendo. Não sei ainda como ajudar a todos que me escrevem os seus dramas, aqueles que, como nos lembra Carrón, carregam dentro de si uma ferida que é como um soco da consciência. Um dos dramas que mais aparece é o do trabalho: muitos estão aposentados, outros desempregados... com tudo aquilo que comporta essas situações.
Pois bem, hoje, depois de guiar o retiro dos noviços sobre o segundo capítulo d’O Senso Religioso, retiro que, na Itália, foi guiado por Carrón e que eu traduzi e repropus, tal e qual, aos noviços do Paraguai, me deparei com uma afirmação que diz: “tantas pessoas podem me descrever toda a lógica do capítulo dez d’O Senso Religioso, (...) sem viver nem um minuto da maravilha da qual parte aquele capítulo; isto é, faz todo o percurso lógico contra o método descrito naquele capítulo”. Belíssimo!
Retomei o capítulo dez e, quando cheguei ao terceiro ponto – “Realidade providencial” –, li o seguinte: “não apenas o homem toma consciência de que esta Presença inexorável é bela, atrae possui uma ordem harmônica; constata também que se move segundo um desígnio que pode lhe ser favorável. Esta realidade contém, de modo estável, o dia, a noite, a manhã, a tarde, o outono, o inverno, o verão, a primavera; contém estabelecidos os ciclos nos quais o homem pode rejuvenescer, refrescar-se, manter-se, reproduzir-se... Esta é a característica de qualquer religião: a Providência”.
Amigos caros, vocês entendem onde está o problema que nem os estudantes da Bocconi, nem os Chicago Boys, conseguem mais intuir e, creio, mesmo poucos entre nós? Olho a minha vida e choro de comoção ao ler este capítulo, estas linhas que despertam, desde que eu tinha 7 anos, as grandes perguntas, as grandes exigências do meu coração. Meu Deus! Pensem naquilo que Giussani disse, em como, aqui, é evidente, mas também e ainda mais na minha e na vida de vocês. Então, o problema não é a saúde, a doença, a depressão, o dinheiro, o trabalho, o seguro desemprego, a aposentadoria, a família, os filhos. É somente um o problema: acredito ou não nesta realidade Providencial? Que significado tem e o que significa na minha vida este capítulo dez, que Carrón cita sempre?
Olhem para a minha casa religiosa: vivemos juntos duas enfermeiras, outras três pessoas com problemas diversos, que vêm da Europa e da América Latina, P.e Paolino, um ex-motorista, Padre Daf e eu, o chefe dos “deprimidos”. A cada dia almoçamos juntos, às 13h. Tem aqueles que falam sempre, quem não fala nunca, quem não suporta o outro, quem reivindica o próprio espaço, quem tem problemas de dieta e quem não... Em suma, um circo... não previsto pelo Código de Direito Canônico. Porém, para mim, espero sempre, a cada dia, que chegue o relógio marque as 13h, para comermos juntos. E de onde é que pode nascer minha alegria de almoçar junto?
1. da certeza de que somente Cristo reconhecido me permite esta graça, esta alegria de estar neste belíssimo circo. Tudo se joga na minha familiaridade com Cristo.
2. é o abraço de D. Gius que continua vivo em cada coisa que faço e vivo. Não posso mais viver sem vibrar por aquele abraço que se historiciza nesta grande comunidade na qual tem tudo o que é humano, da concepção à morte. E os milagres se vêem. (...) Hoje nasceu uma empresa de água mineral. (...) Quem é o empresário? Um amigo com problemas de depressão que veio da Itália, que, levando a sério o que disse Maria – a enfermeira de Milão que vive conosco, ajudando, com Anna, na clínica (...) –, prestou contas com a realidade e a realidade, sendo que é providencial, deu à luz esta empresa única no gênero, aqui no Paraguai. Vocês entendem o que quer dizer conseguir a autorização para usar o subsolo, quando mesmo no 3° mundo se estão cada vez mais incrementando as leis restritivas? Além do mais, estamos usando exatamente o gigantesco Acquífero Guarani.
Pois bem, aqui a Providência fez o milagre. E, além do mais, trata-se de uma água declarada ótima pelas faculdades químicas que possui e que nasce do maior acquifero do mundo, o Acquífero Guarani que abraça o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. O meu amigo com “problemas”, graças à companhia deste circo, passou da lamentação à letícia, da situação de desocupado à de ocupado.
Em suma, o problema não são as leis do mercado, mas eu e Deus, eu e o Mistério, eu e a Divina Providência. Ver para crer. Como gostraia que vocês acreditassem no que eu estou contando para vocês! E esta é apenas a última iniciativa acontecida, nos últimos tempos, e que faz bem mesmo quando a pessoa está mal.
A realidade é mesmo providencial para o homem. É preciso apenas, como escreve Marta – a garota que veio para cá, para trabalhar gratuitamente com Anna, a outra jovem enfermeira –, que alguém nos indique a realidade
A realidade é sacramental, de tal forma que não tem nada que aconteça, mesmo a perda do emprego, que nos impeça de encontrar um caminho positivo.
Cheguei aqui como um pobre deprimido, que como muito esforço conseguia ficar de pé, estou sempre circundado de pessoas com problemas com este... e olhem o que acontece quando obedecemos à realidade, quando não lemos o capítulo dez d’O Senso Religioso ideologicamente. Não é preciso a Bocconi para resolver a crise econômica (e a Bocconi é importantíssima, heim?! Se tem quem quer ir, que vá!), mas é preciso gente fascinada, que pula da cadeira de alegria quando se dá conta que possui um instrumento como o capítulo dez d’O Senso Religioso.
Para mim, o segredo de tudo o que se cria aqui na clínica está neste capítulo. É como, hoje, quando, às 6h da manhã, o vice-presidente veio para rezar conosco e eu lembrei a ele que só estamos juntos para nos lembrar este capítulo e levá-lo a sério, como continuamente nos tem repetido, comovidamente, Padre Carrón. Partamos disso para viver a crise econômica e as coisas, de repente, começam a mudar: não tem trabalho aqui... pois bem, inventemos! Assim, nasceu a empressa de água mineral; assim, nasceu, recentemente, a creche, para acolher aquelas crianças cujas mães trabalham na rua, vendendo de tudo e não sabem onde colocar os seus pequenos... com a creche, elas os trazem de manhãzinha e o pegam de volta à noite... é a realidade que é sempre providencial. Cabe à minha liberdade e à de vocês reconhecê-la... o resto, é com ela, mesmo o aspecto econômico.
Com afeto
P.e Aldo

P.S.: Segue uma cópia do email que Maria me mandou no último dia 31 de janeiro:
olá!
Neste um mês que estou aqui, vi que você está usando um método novo comigo: você não é o tipo que se perde em mil discursos e palavrórios, mas é alguém que me diz “olha!”, e me aponta os lugares que são Sacramentais, como a clínica.
Quando fomos às Reduções, fiquei comovida quando vi que, como um pai, você nos fazia ver cada mínimo particular das ruínas, dizendo-nos que uma atenção assim, como tinham os jesuítas, só é possível por um amor a Cristo, e dizia: “olha que bonito! Olha que bonito!”... e si via a simplicidade com a qual você colhia a correspondência entre aquilo que tinha diante dos olhos e as exigências do seu coração, porque se não nos dissessem respeito aquelas ruínas, elas seriam apenas como um monte de pedras. Isto quer dizer “entender”. E, para mim, é desejável; mesmo que, às vezes, eu queira passar mais tempo com você, vejo que o modo com o qual me trata é mais educativo do que qualquer discurso.
Obrigada.
Maria

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