terça-feira, 31 de março de 2009

Cartas do P.e Aldo 09

Asunción, 06 de fevereiro de 2009.

Caros amigos,
Mesmo aqui os jornais deram a notícia do que está acontecendo na Itália, no caso de Eluana. Mesmo aqui eles falam a linguagem do mundo: a Itália, a Igreja divididas em duas – conservadores versus progressistas. A raiva é humana, e mesmo a dor: como a minha pátria, a pátria do Direito Romano etc., chegou a este ponto? Todos nós somos responsáveis pelo que está acontecendo no Corpo de Cristo. Todos nós que, como dizia Giussani, “nos envergonhamos de Cristo”. Sejamos sinceros: não é assim? Se penso no que se reduziu a nossa Presença, hoje, na realidade, no que é a realidade para nós, não posso não perguntar isso.
Carrón, em La Thuile (vilarejo no Vale da Aosta, na Itália, onde se realizam anualmente alguns encontros de Comunhão e Libertação; ndt), falava de “intimismo”. Aquelas palavras são, para mim, um soco no estômago. Olho para Eluana e revejo o capítulo décimo d’O Senso Religioso e me pergunto: mas, eu pulo da cadeira diante da comoção daquelas palavras, diante da realidade? E se não é assim, eu, você, nós somos claramente responsáveis pelo que está acontecendo com Eluana. O que quer dizer, para nós, que a “realidade é providencial”? Mas, o mundo no qual vivemos pula da cadeira pela alegria de nos ver vivendo, trabalhando no hospital?
Olho para a minha clínica, olho para o pequeno Victor, em coma irreversível, cheio de feridas na cabeça, sem crânio, que se alimenta apenas através de uma sonda, e não posso não me comover diante do Mistério palpável que ele é... ele que, inexplicavelmente, continua vivendo. Ele é, está ali, na sua caminha, está ali, me lembrando de que a “realidade é providencial”, tal como nos diz o capítulo décimo d’O Senso Religioso... e do meu coração sai um grito impressionante pelo Infinito: vem, Senhor Jesus... cada vez que eu penso em como nós nos movemos diante da pergunta: “fazemos ou não uma transfusão de sangue (sobre o que já lhes falei)? É possível melhorar a sua qualidade de vida mesmo que por um instante (o mundo diz que eu sou louco)?”. Então, resolvemos incomodar o Instituto João Paulo II, em Roma, para ter uma luz sobre o assunto... e me permito mostrar-lhes de novo a resposta deles.

Caro Padre Aldo,
Tomei conhecimento do caso do pequeno Victor, que você me encaminhou.
Não sendo um especialista em medicina, pedi o parecer de uma professora do nosso Instituto, médica e especialista em bioética.
Com ela e com um outro colega, o Padre Noriega, revisamos toda a problemática que você nos expôs.
Ao final, a Doutora Di Pietro propôs o seguinte parecer, que reflete a opinião amadurecida em conjunto, e que lhe dou a conhecer:
“Tomado conhecimento das condições clínicas de Victor Quinones, nascido no dia 14 de abril de 2007 e, atualmente, internado na Casa Divina Providência de Asunción (Paraguai), sustentamos que – esperando uma definição diagnóstica das causas da anemia progressiva – seja oportuno proceder com a hemotransfusão, a partir de uma via venosa central. No caso em exame, de fato, a hemotransfusão parece ser a intervenção mais significativa para melhorar a qualidade de vida do paciente ou, ao menos, não permitir uma piora do quadro, eliminando a presente sintomatologia. A progressiva redução da hemoglobina e da oxigenação poderia expor os tecidos – e particularmente o cérebro – a uma condição de baixa oxigenação, que agravaria as suas já comprometidas condições. Em um segundo momento, deve-se continuar com o tratamento previsto no protocolo clínico.”
Espero que este parecer seja uma ajuda para você.
Asseguro-lhe uma viva recordação na minha oração ao Senhor da Vida.
Um abraço
P.e Lívio

Isto porque o homem é um Mistério e eu, nós devemos nos render e reconhecê-Lo de joelhos. Dolorosamente, não sendo mais a realidade o ponto de partida, consigo entender (se é mesmo verdade) que tenha havido mesmo alguns padres de Udine que assinaram um apoio à morte de Eluana. Somente quem vive comovido diante da “realidade providencial”, quem está diante do fato, da realidade, pode viver adorando o Mistério de Eluana, de Victor.
Amigos, nunca, como agora, entendo que a nossa batalha é levar a sério o que Giussani nos tem dito através de Carrón. Partamos daqui e Eluana sairá vitoriosa, viva, qualquer que seja a sentença diabólica de quem ficou cego pela ideologia e perdeu a cabeça.
Para mim, olhando os meus doentes em coma há tempos, vejo a beleza de Eluana, que continuará viva na medida em que eu, nós estivermos comovidos diante do que nos diz Giussani no capítulo décimo d’O Senso Religioso.
Creiam-me, é preciso aprendê-lo de cor, pular da cadeira de tanta comoção, para que o caso Eluna não se repita outra vez.
Com afeto
P.e Aldo, Victor, Celeste, Cristina, Aldo etc.

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