Asunción, 23 de janeiro de 2010.
Caros amigos,
desculpem-me se encho... porém, quando cada instante, cada circunstância nos faz ver a ternura de Deus, não conseguimos não contar para todos. Hoje, tive o encontro de Escola de Comunidade com a mãe das minhas crianças e os colaboradores. Escutar o testemunho de Cristina (a mãe da Casinha de Belém) me comoveu:
“Padre, quando vêm nos visitar, todos ficam impressionados com a beleza do jardim, cheio de flores, canteiros, folhas verdes tropicais. Mas a coisa que mais chama a atenção é que todos se perguntam: mas como é possível esta ordem, esta beleza com 30 crianças de 2 a 14 anos, que brincam, correm, fazem tanta bagunça? Vocês têm um jardineiro? E eu respondo que não apenas não temos um jardineiro, como que as 30 crianças são os protagonistas, vendo como nós, os adultos, vivemos. As crianças (estamos nas férias de verão), toda manhã, se dedicam ao trabalho: tem quem limpa, quem recolhe o lixo, que lava os pratos, quem ajuda na cozinha... e todos arrumam suas próprias camas, mantêm em ordem seus quartos, se vestem direito. Eu venho do interior e, para mim, educar quer dizer viver a realidade, em todas as suas dimensões. Por isso, levamos as crianças, por três dias, para um passeio no campo, onde elas ficaram loucas de alegria com a possibilidade de nadar no laguinho, de se jogar na lama, de tomar chuva, ordenhar as vacas, dormir no chão, comer o que havia etc. Só assim as crianças aprendem o que é a vida: se as ajudamos a viver. Depois, terminados os trabalhos cotidianos, tem a piscina, o futebol, as brincadeiras, o momento de estarmos juntos no almoço e no jantar, de limpar a mesa, de colocar as cadeiras no lugar”.
Nelsi, a secretária da Casinha de Belém, disse: “Até mesmo a dor é uma graça”. Olhe as fotos (que estou mandando) dos dois irmãos, A. e C., quando chegaram. Olhem como estão agora: vítimas de todo tipo de violência, que nem mesmo a pior fantasia pode imaginar, passados alguns meses conosco, que somos constantemente lembrados de que somos relação com o Mistério, eles já vivem assim.
Terminado o encontro, voltei para a paróquia, levando comigo Camila (uma criança linda, doente de AIDS, filha de Fabiana, a garota morta na clínica com a mesma doença, aos 19 anos de idade)... e há duas horas que está sorrindo, brincando com uma bolinha, assentada ao meu lado. É linda: o olhar é mesmo a ternura de Deus, o abraço de Jesus. De vez em quando, trago comigo algumas crianças para ficarem onde estou... eu trabalho, escrevo e eles ficam quietos na cadeira ou no chão. Que bela a graça de uma paternidade que revive em cada instante a certeza de que eu sou feito neste momento, como Camila, de dois anos, que está aqui, há duas horas, rindo ao meu lado, brincando com uma bolinha.
Com isto, quero dizer que é apenas uma pertença a nos educar. Olhando para essas crianças, cada dia, felizes (e lembro que a maioria delas foi violentada por parentes), agradeço, comovido, o chamado de atenção cotidiano de Carrón a levar a sério o humano, condição necessária para dizer “sim, Tu” a Cristo. Entendo o quanto é verdade que não se trata de uma questão de coragem, de genialidade, mas se trata de uma questão de dizer “sim” a Cristo. Como eu gostaria que nenhum de vocês, meus queridos amigos, vivesse sem esta certeza. Educar, estar com os velhos, com os moribundos, olhar para as cascatas de Iguaçu, ou para um beija-flor, ou para um pôr-do-sol, é a mesma coisa se o “sim” a Cristo é total.
Como eu gostaria que cada um de vocês fosse como as cascatas de Iguaçu, anualmente tranbordando de água... ou seja, vivendo com a mesma intensidade, uma intimidade transbordante de ternura por Jesus, para anunciá-Lo a todos, porque todos têm necessidade de Jesus. Como disse Cleuza: “devemos ter a coragem de dizer a todos o nome de Jesus”. Pronunciar, com os olhos comovidos, o nome de Jesus.
Padre Aldo
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