segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cartas do P.e Aldo 164


Asunción, 3 de outubro de 2010.

Caros amigos,
antes de mais nada, peço perdão aos muitos que me escrevem sobre seus sofrimentos, muitas vezes no limite do desespero, para quem, sim ou sim, responderei nos próximos dias, quando, com meu companheiro de aventura, Padre Paolino, estarei no Brasil para festejar a vitória de Marcos, Cleuza e amigos nas eleições gerais do Brasil. Segunda-feira faremos uma peregrinação ao Santuário de Aparecida, onde, em julho passado, nos encontramos no início da campanha eleitoral para pedir a Nossa Senhora que esta circunstância importante se tornasse, para todos nós, amigos, uma grande ocasião para anunciar a Cristo, como de fato foi. E, nisso, já está a vitória, mesmo se hoje, sábado, estejamos ainda na véspera das eleições e, portanto, sabendo que o resultado só será conhecido amanhã à noite, por volta das 23h. “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”, de forma que já vencemos. 
Hoje, é a festa dos Anjos da Guarda e, enquanto escrevo, estou com dois bebês – que começaram a andar há poucos dias – no meu escritório, e eles o estão virando de cabeça para baixo. Porém, antes de chegar aqui, fiz minha meia hora de “corridinha” que sempre faço por causa da diabetes, e a fiz com as crianças que correm comigo. Depois, quando cheguei na gruta de Nossa Senhora, me ajoelhei e eles, ao verem o meu gesto, se ajoelharam também como podiam e se colocaram, como eu, com as mãos postas.
A educação é apenas uma pertença. Porém, ou se pertence a um sujeito cujo eu é totalmente relação com o mistério “eu sou Tu que me fazes” ou nos tornamos apenas capazes de violência, mesmo quando beijamos nossos filhos.
Nesses dias, experimentei, mesmo tendo passado por um pouco da insônia que me caracteriza, a beleza daquilo que Carrón nos disse, falando da conversão: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
Noite passada, estava com Nayeli nos braços, a bebê que foi encontrada num saco de lixo colocado perto de uma tumba por um homem simples que, no alvorecer, passava por ali e viu – a Providência! – uma mãozinha que aparecia do lado de fora do saco. Aproximou-se e se surpreendeu com a menina. Agora, já tem 5 meses é tão linda, loura, de olhos azuis. Eu a olho comovido: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”.
Meu Deus, pensem: abandonada num saco de lixo, suja de sangue... já na beira da morte, porém o Mistério teve piedade do seu, do meu nada. Olhem-na na foto, olhem-na bem: o Mistério a arrancou da tumba, através de um instrumento qualquer, um homem simples que passava por ali, com uma carroça, e a fez Sua, porque já era Sua. Como não chorar de comoção diante da piedade do Ser?
Na clínica, nesses dias, tive a graça de acompanhar para Deus alguns filhos de Deus Sem-Nome. Diante dos homens sem identidade, “não sabemos quem eram, não sabemos quem é, mas se fazia chamar pelo nome Jesus” [adaptação de um trecho da canção “Noi non sappiamo chi era”; ndt]. Eu também os olhava comovido porque “amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”. Dei a todos o batismo “sub conditione” antes de morrerem. Não podia pensar que morreriam sem identidade, e a identidade do homem acontece no batismo. Vocês entendem o que quer dizer “morrer cristão”? Não é um adjetivo que se acrescenta, é uma criatura nova que nasce e que, passando pela morte física, chega a ver o Mistério face a face. Todos os dias me ajoelho diante desses Jesus que, para o mundo, são Sem-Nome. Enquanto que, para nós, cada um é, física e ontologicamente, Jesus.
Na clínica, foram internadas duas crianças: Liz, de 5 anos, em coma, com um tumor na cabeça, e Gabrielle, com metástase. Vejo-as sofrendo e sofrendo muito... e, no entanto, mesmo para elas é verdade aquilo que é verdade para mim: “Amei-te de amor eterno, tendo piedade do teu nada”. A dor nos lembra de que somos nada, e a morte lembra isso ainda mais potentemente, no entanto “amei-te de um amor eterno...”.
Amigos, mesmo na maior dor que me circunda, esta certeza me enche de paz, uma paz que se torna pergunta mesmo quando me canso do Senhor... mas, depois, revejo o Getsêmani e, então, me levanto e o dia se enche de luz: “eu sou Tu que me fazes”, mesmo se me pareço com um cretino que caminha.
Finalmente, animo a todos aqueles amigos a quem a Providência reservou a graça de sofrerem estas coisas, e não apenas, mas coisas muito piores. Carrón nos diz que mesmo estas coisas são um instrumento pedagógico que o Mistério usa para fazer-nos Seus. A pedagogia de Deus, como vocês podem ver, não tem nada que ver com aquela que se ensina nas universidades ou é proposta pelo Ministério da Educação.
Ciao... e rezem por mim, e rezem muito.
Padre Aldo

Nenhum comentário: