São Benedito
Evangelho - Lc 10,38-42
Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: "Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!". O Senhor, porém, lhe respondeu: "Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada".
Comentário feito por Bem-aventurada Isabel da Santíssima Trindade (1880-1906)
carmelita
Para que nada me tire do belo silêncio interior, [manterei] sempre a mesma condição, o mesmo isolamento, o mesmo distanciamento, o mesmo despojamento. Se os meus desejos, os meus medos, as minhas alegrias ou as minhas dores [...] não estiverem perfeitamente ordenados para Deus, não estarei sozinha e haverá ruído em mim; por isso, é preciso serenidade, "repouso das potências", concentração do ser. "Filha, escuta, vê e presta atenção; esquece o teu povo e a casa do teu pai. Porque o rei deixou-se prender pela tua beleza" [Sl 45 (44), 11-12]. [...] Esquecer o próprio povo parece-me difícil; porque aqui "povo" é todo este mundo, que faz, por assim dizer, parte de nós mesmos: é a sensibilidade, são as memórias, as impressões, etc. [...] Quando a alma faz essa ruptura, quando se liberta de tudo isso, o Rei fica prisioneiro da sua beleza. [...] Vendo o belo silêncio que reina na Sua criatura e considerando que está absolutamente recolhida [...], o Criador a faz passar por esta solidão imensa, infinita, [retira-a] para esse "lugar seguro" cantado pelo profeta [Sl 18 (17), 20] e que outra coisa não é se não Ele próprio. [...] "Ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração" (Os 2, 16). Ei-la, a alma entrada nessa vasta solidão em que Deus Se fará ouvir! São Paulo diz: "A palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas" (Heb 4, 12). Portanto, será ela quem diretamente completará o trabalho do despojamento na alma. [...] Mas não é suficiente ouvir a palavra, é necessário guardá-la! (Jo 14, 23) E é guardando-a que a alma será "consagrada na verdade" (Jo 17, 17); é esse o desejo do Mestre [...]: não prometeu Ele àquele que guarda a Sua palavra que: "meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada"? (Jo 14, 23) É toda a Trindade que habita na alma que a ama verdadeiramente, ou seja, que guarda a Sua palavra.
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