Asunción, 22 de fevereiro de 2010.
“Padre Aldo, o senhor crê nisto?” é a pergunta de Jesus a Marta diante do cadáver do irmão, e que Ele lança, em cada instante, à minha liberdade. E é maravilhoso viver respondendo à realidade: “sim, Senhor, eu creio”. Responder sempre e sempre com mais intensidade porque o Amor exige sempre mais Amor. Assim, hoje, disse “sim, creio”, olhando um de meus filhos morrer de câncer. Chamava-se Rômulo e tinha 19 anos. Ontem à noite, perguntei-lhe se queria se confessar. Fez uma confissão belíssima, respirando com dificuldade. O seu grito de perdão, o seu amor intenso por Jesus podia ser lido no esplendor do seu rosto. Logo depois, perto das 20h, quis receber a comunhão. Nesta manhã, quando cheguei com o Santíssimo para dar-lhe a comunhão, Jesus, naquele momento preciso, o tomou consigo. Eu estava para dizer “o Corpo de Cristo” e, de repente, a sua cabeça tombou como a de Jesus. Que morte santíssima! Que bela esta morte, como aquela de todos aqueles que morrem em nossa companhia. A dor é grande, mas maior é “sim, Jesus, eu creio”.
Como, em outro dia, quando me chamaram à casa para os mendigos São Joaquim, porque havia chegado um outro pobre Cristo. Parecia o servo de Iahweh de que fala Isaías: “Não tem nem forma nem beleza”. Toda a sujeira que revestia um esqueleto humano. Estavam limpando seu corpo como se fosse Jesus, e ele, do chuveiro (onde estava sentando em uma cadeira) perguntou quem era o padre, colocou juntas as mãos e me pediu a bênção. Mendigo, doente, havia pedido, na noite anterior, a um padre, que o deixasse dormir na calçada casa paroquial. E passou, então, a noite ali. De frente dessa casa paroquial estão as irmãs franciscanas, a quem pedia ajuda no alvorecer. E elas lhe diziam que tinham uma outra tarefa pastoral... de forma que lhe deram um pouco de comida e chamaram um táxi, dizendo: “Leve-o ao Padre Aldo”. E, assim, chegou... obviamente transtornando sempre a nossa comodidade, a organização, os esquemas... Mas, os meus amigos, os enfermeiros, que respiram sempre mais com as categorias que caracterizam a minha vida – as do imprevisto e da providência – o acolheram logo. Sim, porque sabem que, quando chega um pobre, a primeira coisa a fazer não é pedir ao chefe, ao responsável, mas é dizer “Tu, ó Cristo, entra. Tu, ó Cristo, toma, come e veste. Tu, ó Cristo, cheio de vermes (como Carlos que chegou, sem avisar, há alguns dias), vem que eu os tiro, um a um” etc.
Amigos, que depressão, câncer, miséria, fome... a grande aventura que vivemos entre amigos é apenas esta: “Sim, Senhor, eu creio que Tu sejas a resposta à minha humanidade”. E não é por que a doença deixa de existir e os problemas deixam de ser problemas... tudo é doloros, tudo pretende uma resposta... mas é tudo uma outra coisa dentro deste “Tu, ó meu Cristo”.
Eu senti necessidade de comunicar a vocês esta beleza, agora, tão logo celebrei os funerais do meu Rômulo, que ainda está ali, no leito, com seu belo rosto branco, cabelos pretos e olhos semi-cerrados, sinal estupendo da glória de Cristo, em quem já vive e vive definitivamente. Ele, finalmente, passou da fé e da esperança ao Amor: olhar eternamente o esplendor do rosto de Deus.
Rezem por mim e por meus doentes.
Padre Aldo
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