segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

40 dias com Giussani

“O segundo tema, a segunda indicação (...) como fator do sinal da Quaresma, da realidade física, visível, que contém a ação sacramental, é a palavra ‘jejum’. Não se poderia usar a palavra ‘sacrifício’, porque esta palavra tinha um sentido propriamente religioso e de culto. Para nós, ‘sacrifício’ é mais genérico, por isso podemos usar, sem dúvida, a palavra ‘sacrifício’ ao invés da palavra ‘jejum’, ou ‘mortificação’ (...). Estamos falando no sentido restrito do termo: fazer sacrifícios, fazer mortificações ou fazer jejum. Imediatamente, isto significa uma temperança no ímpeto, no instinto, uma temperança no uso do instinto. Temperare, em latim, quer dizer governar segundo o objetivo, para o objetivo, por isso manter na ordem. A ordem é o relacionamento da coisa com o seu objetivo, seja como direção, seja como tempo. Temperar, governar a coisa ao objetivo é, por isso, manter a coisa na ordem dinâmica em direção ao seu objetivo.
Poderemos, então, traduzir o convite ao sacrifício, o convite à mortificação e ao jejum, como fidelidade ao ‘mais significativo’ na coisa. Na coisa em que nos devemos temperar, na coisa na qual nos devemos mortificar e sacrificar, a norma é a fidelidade àquilo que é significativo, ao significado da coisa. Digamos: o sacrifício é a fidelidade ao ‘mais significativo’. Há, de fato, um significado imediato da coisa: a pessoa sente fome, se lança; a pessoa sente uma afeição, ‘tac’, gruda. (...)
Mas, eu quero que nos detenhamos mais sobre a definição que dei de sacrifício como fidelidade àquilo que é mais significativo na coisa. No comer e no beber o que é mais significativo é que são instrumentos para o nosso caminho, não é o encher-se ou o sentir todo o palato reagir doce e vibrantemente ao contato com as moléculas do vinho. (...)
Mas, sobretudo, devemos centrar nossa atenção sobre a afetividade (...): é exatamente na afetividade que este sacrifício, esta mortificação, como fidelidade ao mais significativo, deve agir, e deve agir estando bem alerta, deve agir sem descanso, sem se adormentar, sem parênteses de esquecimento. Fidelidade ao mais significativo: na afeição, o mais significativo não é o aderir à reverberação imediata que a afeição (em qualquer nível e em qualquer cor, com qualquer nome que possa ter) tem. Por isso, há uma sintonia que, expressa de uma certa maneira, divide e há uma tensão que, se não é temperada, altera, faz sair do caminho. Seja como for, basta que vocês reflitam sobre a fórmula ‘fidelidade ao mais significativo’.”
(GIUSSANI, Luigi. La familiarità con Cristo: meditazioni sull’anno liturgico, 2008, pp. 61-63)

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