Assunción, 25 de julho de 2009.
Caros amigos,
eis os dois últimos filhos que a Providência me mandou:
1. Lúcia: tem dois meses e pesa dois quilos. Tem hidrocefalia, é cega, não tem nariz, respira pela boca e come com a sonda. É dramático olhá-la, mas é uma bela hóstia branca. Geme, mexe as mãozinhas. Com ela, Jesus me deu de presente também a mãe, que tem 15 anos. Vou poupar vocês da história.
2. Marco: tem quatro anos. A mãe o teve quando tinha 13 anos de idade. Agora, ela tem 17. Ela o deixou aqui, assinou um documento e foi embora. Marco não teve a oportunidade nem mesmo de dizer adeus para ela. Pobre menino. Não sabe nem mesmo fazer as suas necessidades. Onde quer que esteja, abaixa as calças e... hoje, mamãe Cristina já o ensinou a usar o banheiro. Mas, o amor faz tudo. Os 23 irmãozinhos estão felizes com os novos chegados.
Na casa para os velhinhos abandonados, acolhemos, da rua, três Jesus... e não lhes digo em que condições. Um deles tem problemas psiquiátricos, mas também ele é Jesus. Outro, é um Jesus sem pernas. E o outro é um Jesus com uma perna só.
Como vocês podem ver, cada circunstância é, de fato, bela porque me faz viver aquilo que o Carrón nos repete sempre: “eu sou Tu que me fazes”. Sou, de verdade, um preferido de Jesus... e sou humildemente grato e feliz por isso, como todos estes meus filhos.
Ontem à noite, o Vice-Presidente da República desejou festejar o seu aniversário com uma missa na clínica. Tinha os olhos cheios d’água, e quando escutou o testemunho de Fabiana – uma jovem de 19 anos que tem AIDS, chorou. No fim, conseguiu apenas dizer: “obrigado”. Um nó na garganta o impediu de falar.
Sou, de verdade, amigo desse tipo de pessoas, porque quem não se comove diante do real é apenas cúmplice. Agradeço a Deus e a Nossa Senhora por esta graça.
O Núncio Apostólico veio visitar a nova clínica. Ele é o expoente máximo dos estudos em arquitetura do Abruzzo. Ficou comovido e feliz ao ver esta obra de arte, toda feita de pedra “sillar” – a mesma usada pelos jesuítas para edificar as Reduções. Um grupo de escultores trabalha desde maio de 2008 com um martelo e uma ponta de ferro, como no tempo dos jesuítas e na Idade Média.
Finalmente, uma notícia espetacular: Sotoo, o escultor da Sagrada Família de Gaudì, decidiu ajudar-nos na parte final da Clínica, comentando a frase de São Paulo – “A natureza mesma geme as dores do parto, esperando a ressurreição do Filho de Deus”. E, além do mais, nos deu de presente o projeto.
Como vocês podem ver, o problema é apenas um – não dinheiro que tanto preocupa as economias e os economistas: a fé total na Divina Providência... Quando é que nos convenceremos disso?
Alguns me perguntam: se você morrer (o que é certo...) quem desejaria que levasse a frente esta obra? Resposta: 1) Este é um problema de Deus, porque Ele é o único protagonista; 2) quem me sucede – sim ou sim – deve ser uma pessoa para quem Cristo é tudo... e Jesus já me está indicando alguém assim. Não posso nem mesmo hipotetizar que seja alguém para quem a única preocupação não seja a santidade... em suma, um santo, assim como Giussani o entende; 3) e alguém que tenha uma confiança “cega”, totalizante, na Providência Divina, alguém que não tenha nem uma sombra de dúvida quanto aquilo que Carrón nos lembra, citando o Evangelho: “mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados”. Em uma palavra: um santo será sempre também um economista; enquanto que nem sempre um economista é um santo. Mais claro do que isso é a morte.
P.e Aldo
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