Asunción, 23 de dezembro de 2010.
Caros amigos,
Jesus levou consigo, para o céu, a minha pequena Liz de 5 anos de idade. Estava conosco na clínica há três meses, por causa de um câncer na cabeça. Morreu ontem, deixando-nos a todos com o coração em pedaços e cheio de perguntas: “Padre, nesta manhã tive medo de não dar mais conta de ver tanta dor”, me disse a secretária da Clínica. E teria razão se Cristo não estivesse aqui, agora. Sem aquela criança que o Natal nos repropõe como um Fato vivo, contemporâneo, será que valeria a pena viver?
Pessoalmente, não conseguiria viver um minuto a mais rodeado por tanto dor como o sou, pelos mil “por ques” da mãe de Liz, uma mulher que me fez lembrar a mãe da pequena Cecília, que morreu de cólera, no romance de Manzoni. Quanto anos se passaram desde a leitura daquele capítulo, e no entanto ainda hoje me comove, como um sinal profético daquilo para o que eu seria chamado a viver todos os dias. Vocês entendem agora por que não posso ficar um segundo sequer sem gritar “Tu, ó meu Cristo”? Ou sem fazer de vocês partícipes daquilo que me acontece, para que, juntos, aprendamos aquilo que Carrón nos testemunha? Ontem, quando Liz morreu, pensei imediatamente nele, nas últimas Escolas de Comunidade sobre o sacrifício, sobre o valor que tem e no que consiste. Só assim me torno sempre mais consciente do fato de que é desumano, insuportável viver, respirar um segundo que seja sem que ele seja tudo para nós, sem que também para nós seja vibrante aquilo que São Paulo diz – “para mim, viver é Cristo e morrer é um ganho”. Quando, ontem, eu estava ao lado do leito de Liz, agonizante, os olhos semicerrados, as respiração difícil, a mãe de pé com uma lágrima nos olhos, quase paralisada pela dor, eu não conseguia, beijando Liz, não sentir presente o Mistério que estava para levar para si, no Paraíso, a pequena. Ela morreu como Jesus: por mim, por meus pecados e os de todos nós. O meu sacrifício é a estima de Jesus que, por mim, por vocês, desceu do céu e se fez uma criança e, depois, morreu e ressuscitou por mim e por vocês.
É desconcertante, comovente, dar-se conta de que Jesus, antes da minha pequena Liz, fez o mesmo percurso humano. Nós a vestimos como um anjo, com uma coroa na cabecinha, como se fosse um pequena rainha. Sim, porque ela é uma rainha, como todos nós que fomos batizados. E, depois, a colocamos num caixão branco – a caixinha onde os seus ossos esperarão a ressurreição final.
Hoje, enquanto Liz era sepultada, fizemos um presépio vivo: o Menino Jesus foi um dos bebês da Casinha de Belém, de apenas três meses de vida. Depois, as outras crianças representando as ovelhinhas; os doentes, os ancião representando os pastores e os reis magos; e também alguns de nós que vivemos com eles. Cada um fez a sua parte. Foi, neste mar de dor, uma explosão de vida e de alegria. De fato, aqui, reina a vida, porque aquele “Tu, ó meu Cristo” é a única razão daquilo que existe e vive aqui. Amigos, que os nossos olhos, nestes dias e sempre, dentro de toda situação, mesmo a mais negra, estejam exclusivamente fixos em Jesus, para que possamos viver comovidos em cada instante da vida.
Amigos, mas o que pode haver de mais belo do que dizer “Tu, ó meu Cristo”?
Padre Aldo
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