quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cleuza, os meus alunos e aquele folheto


O encontro entre a comunidade de Bogotá e alguns amigos brasileiros. A carta de um professor fala de um fim de semana “para conhecê-los. Mas tinha muito mais...”

Marcos, Cleuza e Padre Julián de la Morena vieram encontrar a comunidade de Bogotá. Vieram para nos acompanhar durante o fim de semana, junto com Carras. No primeiro dia, nos encontramos com a diaconia, para um diálogo sobre o que nos interessava conhecer: eles. Mas, não era só isso! Também eu estava ali para conhecê-los. Mas tinha muito mais.
Vieram para a Colômbia por causa da amizade com Padre Marco e Juan Carlos, Patrizia, Iano e outros de nós, conhecidos em La Thuile e, depois, no Brasil, por ocasião da ARAL (Assembleia de Responsáveis da América Latina; ndt). Uma amizade que, depois de três dias juntos, já se alargou para tantos outros rostos.
A primeira coisa que me chamou atenção foi um gesto de Cleuza, durante o jantar, aparentemente banal. Marcos estava falando e, enquanto falava, mantinha na mão o convite que tínhamos preparado para o encontro público do dia seguinte, no Museu Nacional de Bogotá. Sem se dar conta, estava amassando o convite, e o dobrava quase sem se dar conta. Cleuza o pegou de sua mão, mas gentilmente, e o colocou diante de si na mesa e, com as mãos, começou a desdobrá-lo e desmassá-lo. Fiquei comovida: lembrei-me da intervenção de Dom Giussani, via vídeo, anos atrás, num dos Exercícios da Fraternidade, no qual, ao final, recolheu todas as folhas e os livros usados e foi embora. O mesmo gesto e a mesma gentileza, o mesmo cuidado.
E o fim de semana foi este: o drama da minha liberdade em ato, diante de todos eles. Constamente em luta entre o permanecer presa ao sentimento de mim negativo, ou olhar e pedir a caridade de poder estar, ficar ali, assim, ainda que fosse com este sentimento de mim, sem ter que eliminá-lo
E não podia agir de forma diferente: eles vivem uma memória contínua, ou seja, para eles, Cristo é o tesouro da vida. Perguntamos a Marcos: “Como você faz para ser fiel, para reconhecer Cristo em tudo aquilo que acontece?”. Ele nos disse: “Não me preocupo com isto, o que me interessa mais é ver como Ele me alcança, como Ele me procura continuamente e nunca se dá por vencido”. É, em suma, a vida real, não um discurso ou uma tensão à perfeição, a ser eu, mas que Tu sejas.
Na quinta-feira, pela manhã, vieram à escola “A. Volta”, onde eu dou aulas, e encontraram os jovens do ensino fundamental e do ensino médio. Os professores não havíamos contado muito, ou dito alguma coisa, mas os meus alunos – que estão sempre distraídos, no seu mundinho – olharam para estes três amigos que falavam com uma atenção e com um silência incrível, e fizeram perguntas inteligentes, ou seja, verdadeiras.
Cleuza começou falando para os jovens: “Quando eu tinha 15 anos, vivia num lugar muito pobre da minha cidade, éramos muito pobres e tínhamos que trabalhar para que a família pudesse comer, não pudemos estudar. Eu era muito ligada à paróquia, porque queria fazer algo, fazer o possível para que os homens fossem felizes. Desejava isso, desde sempre eu desejei isso. Quando se tem 15 anos, se tem grandes ideais, como vocês, certamente...”. E tudo aquilo que fizeram foi marcado pelo desejo profundo do coração, até chegar a ver que é Cristo que chega ali, na raiz do desejo.
Eles dizem coisas que não são palavras, são aquilo que veem e vivem. Sempre. É possível esta memória contínua? Parece o Paraíso, ou a Sua presença sempre, desvelada definitivamente.
Chiara
Bogotá

* Texto extraído de Tracce.it, do dia 17 de novembro de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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