Asunción, 10 de outubro de 2011.
Caros amigos,
Nesta noite, fiquei mais tempo do que o normal olhando meus filhinhos doentes, particularmente Victor. Desde quando nasceu está na mesma caminha. Não fala, não vê, não escuta. Parece totalmente ausente da realidade. Depende do outro em tudo. Não tem caixa craniana e seus olhinhos, há tempos, estouraram. Só pode ser colocado em duas posições: deitado com a barriga para cima e, de vez em quando, delicadamente deitado sobre um dos dois lados. As escaras de decúbito, tratadas o tempo inteiro, junto com o gemidozinho que o acompanha, mostram o quadro físico que vemos dele. E no entanto, Victor é muito, infinitamente mais do que isso. É a evidência clamorosa da vibração do Ser. Eu o olho comovido, o acaricio porque ele existe. Existe! Que maravilhamento eu sinto em mim quando olho para o ser que vibra em cada detalhe do seu corpo martirizado! Victor existe, vive! Cada vez que me aproximo dele, fico impactado com a beleza de ser nada mais do que um fragmento de segundo: ele, como eu, é feito em cada momento. A sua beleza e a do ser, do seu ser quase enjaulado num corpo aparentemente deformado e que, no entanto, é templo do Espírito Santo. Ele, acredito, me conheça pelos meus beijos, pela ternura, mas sobretudo porque tanto eu como ele existimos e somos como “Tu que me fazes”. O valor da sua vida, como a do meu filho Aldo e de Mário, está no ser que posso contemplar e, imediatamente, reconhecer: eles, como eu, são relação com o infinito. Muitas vezes penso olhando para eles, assim “deformados” para o mundo – porque a cultura de hoje não consegue mais perceber o ser, aquilo que existe na sua profundidade. Tantos são os casais que, quando esperam um filho, mais do que ficarem comovidos até às lágrimas pelo fato de que ele exista, ficam é preocupados com o como ele é, como ele está, ou se é menino ou menina. Que besteira! Antes do ultrassom, há a comoção pelo ser. Aquela comoção que, seja lá qual for o resultado do ultrassom, cresce fazendo-nos vibrar porque o Mistério se manifestou. Que graça para mim, para vocês, o meu Victor, sacramento do ser que o cria em cada momento. É noite de sábado, mas não consigo me afastar de Victor, de Aldo e de Mário. Victor respira com dificuldade, fiz-lhe uma carícia e ele esticou seus pequenos punhos. Desde o seu nascimento parece ausente da realidade, no entanto ele está no coração da realdiade. A beleza destas criaturas está apenas no fato de que EXISTEM!
E existem porque um Outro, antes de formá-los assim no seio de suas mães, pronunciou seus nomes. Entendem, então, como é um milagre existir, que comoção suscita em mim o ser de cada um?
Olhando para eles só posso ficar grato por aquilo que me une a eles. O ser e o ser fato agora. Desejo a todos os que esperam um filho que tenham esta posição de adoração e de comoção e não a preocupação egoísta de como será, para que não aconteça que desfaça os nossos projetos que não têm nada que ver com o ser e, portanto, com o desígnio de Deus sobre cada um de nós. Pensem na diferença abissal que há entre olhar um doente, um leproso como o que está na capela do Santíssimo, com estes olhos fixos sobre o ser, e olhar os mesmos apenas em seu aspecto fenomênico! Sem esta posição, que sentido teria a vida e o nosso viver cotidiano?
Padre Aldo
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