sexta-feira, 13 de março de 2009

Cartas do P.e Aldo 01

Começo, hoje, a publicar algumas cartas do P.e Aldo Trento (sobre o qual escreverei mais tarde). Esta que publico, agora, é a tradução da que foi enviada no dia 04 de março de 2009.

Queridos amigos,
muitos me perguntam: "como você conseguiu se recuperar da depressão e como pode afirmar que a depressão é uma graça e não uma doença?".
1. a coisa é muito simples e dramática: levei a sério "O senso religioso" (obra do padre italiano Luigi Giussani, falecido em 2005, publicada em português pela editora Nova Fronteira; ndt) e, em particular as três premissas (realismo, razoabilidade e moralidade; descritas nos três primeiros capítulos da referida obra; ndt). Ali está tudo. Aprendi aquelas coisas de cor e as vivi mesmo nas vírgulas. Não tive necessidade de psiquiatras (a não ser por questões relativas aos medicamentos... mas, quando me disseram que tinha que ficar internado, abandonei-os). O constante confronto com a Escola de Comunidade (encontro catequético de Comunhão e Libertação; ndt) foi e é a minha única terapia.
2. obediência total à realidade, assim como Giussani (fundador do Movimento católico Comunhão e Libertação; ndt) e Carrón (atual responsável mundial do Movimento Comunhão e Libertação; ndt) nos explicaram: dizer pão ao pão e vinho ao vinho. Nada de sentimentalismos ou emoções... a realidade chama e ou a pessoa tem a humildade de responder ou se arruina. Se a depressão faz fugir da realidade, a pessoa deve, imediatamente, pedir que seja preso pela realidade.
3. o abraço de alguém a quem obedecer, como uma criança. Mas aqui, se a pessoa não tem a humildade da razão, nada acontecerá. Para mim, isto era e é claro, como clara é a luta para que o orgulho, que é o contrário da adesão à realidade, não vença em mim.
4. uma graça, porque tudo aquilo que me permite mendigar Cristo é uma graça. E, acredito, dada a cabeça dura que temos, que não existe nada mais eficaz do que a doença para nos fazer cair de joelhos. Certamente tem a beleza. Mas, tristemente, para nós, a beleza é só um esteticismo que não nos move, que não nos dobra. Então, bendita seja a dor.
No fundo o ponto é apenas um: ou Deus existe ou não existe. Mas, se existe tudo aquilo que nos remete a "eu sou Tu que me fazes" é uma graça. O meu hospital é, para mim, o maior milagre que tenho, porque mesmo os tumores de 1kg no rosto dos meus doentes se transformam em graça, isto é, em encontro com Cristo.
Amigos, ou estamos convencidos disto ou é melhor a anarquia. Ou Cristo ou nada
Ciao
P.e Aldo

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