quarta-feira, 7 de abril de 2010

Fazer o Cristianismo 02

"E este jovem, que entrou na 'máquina' [refere-se à ideia de atalho para facilitar a entrada dos jovens no mecanismo, que é o oposto a mistério; confira o post abaixo; ndt], dura quanto tempo? É essa a pergunta que eu fiz a vocês, no início, porque ou este jovem é criado segundo um desígnio que não é o nosso e ao qual devemos nos dobrar, ou então ficaremos sempre no medo. Porque, no fundo, nós temos medo de que o jovem faça mal a si mesmo. E assim estamos no centro da questão. Vocês podem girar ao redor o quanto quiserem, mas o problema de vocês é que têm medo, porque o Mistério correu o risco de deixar as pessoas livres (é o aspecto antropológico do problema do Inferno). E isto nos escandaliza e, por isso, temos medo. Mas o Mistério não tem esse medo! Somos nós que não somos capazes de estar diante do drama da liberdade. O que não quer dizer que nos desinteressemos pelo outro; ninguém assuma isto como justificativa para a preguiça. Pelo contrário, é preciso fazer tudo o que for possível, desafiar o outro de todas as maneiras. Mas, o outro permanece livre, queira ou não queira, porque não fui eu quem o fez.
A questão é se nós somos capazes de transmitir o olhar de Cristo: então seremos capazes de desafiar os outros até o fundo, e eles cederão diante de uma presença. E isto não depende apenas dos gestos que fazemos, mas da diversidade com a qual os fazemos! É verdadeiro gesto aquilo que torna Cristo presente hoje. Às vezes, achamos que estamos fazendo tudo muito bem; mas vocês estão seguros de que são o rosto do Mistério para aqueles que encontram? E é, depois, culpa do jovem que não entende? Mas, estamos loucos! E nós, não devemos mudar nada? Não devemos fazer pessoalmente um caminho para que, depois, se transmita esta diversidade? Não, nós já fizemos tudo muito justo, fizemos todos os gestos adequados, e reconhecê-Lo é um problema dos outros! Calma, amigos. Isto cabe dizê-lo a quem nos encontra. É o jovem que encontramos que deve dizê-lo, não nós. Estamos seguros de que algo aconteceu apenas - apenas! - quando o outro responde, de outra forma poderia ser uma imaginação nossa. A adesão do outro é um aspecto da verificação que estamos fazendo do caminho de relacionamento com o Senhor. Porque quer dizer que foi despertada toda a sua liberdade e toda a sua afeição para aderir. E apenas então, apenas naquele momento posso estar, de fato, certo. Mas que outro modo temos para sabê-lo se não este?
O Mistério colocou nas mãos de cada pessoa que encontramos o critério de juízo - por isso, correu o 'risco' de criá-la livre - , e por isso a questão do coração sempre estará presente. E vocês o veem muito mais que qualquer um no jovem. Ele tem o critério! Por quê? Porque é ele que deve decidir diante desta correspondência que descobre. Isto não é uma questão particular - da página 325, nota 48 de um livro qualquer -, mas pertence ao núcleo da impostação de Giussani, ao PerCurso, de O Senso Religioso ao Por que a Igreja: começa falando da experiência, do coração como critério de juízo, o retoma quando explica como alguém pode estar diante da concepção que Jesus tem da vida, e termina dizendo que toda a proposta da Igreja se submete ao juízo da pessoa. Sim ou não? Giussani é, de fato, consciente de que este é um diálogo misterioso entre duas liberdades. Ou entendemos isto ou ficaremos procurando atalhos, que não servem. Porque é inútil... você pode fazê-lo participar das iniciativas, mas o seu coração não é tomado. É o que diz Giussani falando do encontro de João e André (...). O problema é este: não que participe, mas se sinta agarrado. Depois, pode sobrevir que isto aconteça de modo 'intermitente'. É um problema de tempo quando este ser agarrado floresce: a pessoa pode ter visto acontecer e não estar de acordo ou recusá-lo por anos, até quando um acontecimento o faz entender todo o alcance daquilo que sobreveio. E não sabemos quando aquela semente produzirá fruto."
(CARRÓN, Julián. Fare il cristianesimo. Tracce. 2010, pp. 2-3)

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