"Jenny - Comovi-me quando você leu este trecho de carta [refere-se à carta transcrita no post anterior; ndt], porque me aconteceu algo parecido este ano. No primeiro dia, entrei em sala e um jovem saiu batendo a porta, e eu não entendia porquê. Desceu e estava quase para bater na diretora. É um jovem cheio de problemas, e se tornou o caso mais difícil da escola, tem um monte de advertências e suspensões... Porém, o que aconteceu? É que, no primeiro dia, eu o persegui e descobri que tinha 'irrompido' porque eu o havia separado - dado que conversava - de um seu companheiro de banco, que é um grande amigo seu, e isto o fez reagir. Então, no dia seguinte, eu o parei e começamos a conversar. Ele me contou a sua história: pais separados, vive em um bairro degradado. Porém, o que aconteceu? Depois daquele meu gesto, eu o convidei, e ele veio à sede conosco algumas vezes. Sobretudo, fiquei tocada porque ele veio ao Dia de Início de Ano: ficou escutando todo o tempo e, no final, me procurou para dizer: 'Professora, obrigado pelas coisas bonitas que escutei hoje'. E, ali, eu pensei: esse jovem é considerado por todos como o tipo mais malvado da escola, mas tem um coração! No entanto, continuou levando suspensões - nós o afastamos por quinze dias porque bate as portas, responde mal aos professores... Alguns dias atrás, o vice-diretor me parou para me dizer: 'Olha só, nós o suspendemos uma outra vez por uma semana. Por mim ele deve ser expulso'. E eu lhe disse: 'Verdade, já fez o bastante... chega!'. Uma colega me escutou, me parou e disse: 'Desculpe, mas eu sei que você tem um bom relacionamento com ele'. Esta coisa me surpreendeu, e disso nasceu uma ferida terrível em mim. Porque quando o vice-diretor veio eu reagi assim pensando que havia cumprido meu dever, de tal forma que o ponto então era expulsá-lo. Aquilo que a minha colega me disse, porém - fora o fato que me deixou com muita dor, porque eu entendi que estava fechando a questão -, me fez lembrar que eu não estou fazendo memória do fato de que comigo Alguém nunca encerrou a questão. Alguém me amou gratuitamente, não obstante os meus erros. Como é fácil esquecer-me disso! Portanto, agradeço a você, porque entendo que o ponto é que não posso medir, enquanto que eu acabei medindo naquele dia.
Carrón - Mas, às vezes, você pode chegar a ter que expulsar! Eu tive que expulsar uma pessoa, quando era diretor. Todos os professores estavam ali, todos, com os refletores apontados, dizendo: 'Veremos se ele vai ter a coragem para mandá-lo embora'. E eu o mandei embora! Mas o espetáculo foi que aquele jovem foi para uma outra escola, mas no intervalo vinha ficar conosco! Nós geramos um vínculo que nos consente de fazer isso! Sem romper o relacionamento. Eu não podia fazê-lo, porque de outra maneira não seria mais capaz de guiar a escola, objetivamente falando. Mas, o problema não é que você deve fazer isso, mas que vínculo se estabeleceu. Se o vínculo que se estabeleceu é mais forte do que o fato de expulsá-lo, nada o interrompe. Depois, no ano seguinte, eu o aceitei de novo na escola. E ele, a quem ninguém dava um centavo, terminou a universidade, tem um diploma e, agora, é professor. Eis a questão: é este tipo de vínculo que nos permite não economizar a liberdade de ninguém. De outra forma ficaríamos agarrados nesses acontecimentos que acontecem quando temos que guiar, por exemplo, uma escola."
(CARRÓN, Julián. Fare il cristianesimo. Tracce. 2010, p. 5)
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