"Se uma pessoa não entende o que é a vida, não chega nunca a este nível de desafio [refere-se à resposta dada por um professor a um jovem que lhe perguntou por que ele o convidava a um determinado gesto realizado por CL: "Porque você tem uma ferida", referindo-se ao fato de que seu pai morrera, alguns anos antes, vítima da AIDS. Daquele momento em diante, o aluno não parou mais. E o professor terminou seu testemunho dizendo: "Por que digo isso? Porque a companhia não deve nunca se tornar uma anestesia para a ferida"; ndt]. A pessoa deve ter uma familiaridade com a vida para isso. Na medida em que a pessoa vive a vida, tem uma familiaridade, pode saber onde se encontram de verdade os nós para serem desfeitos. Então, é inútil insistir. Como quando você prende o pé e lhe dizem: 'Corre! Corre!'... A questão é soltá-lo, porque então conseguirá correr! Encontrar a modalidade - se o Senhor nos dá a luz - para fazer o movimento justo para soltá-lo: este é o verdadeiro desafio! Porque então você conseguirá correr. [...] O que isso quer dizer? Que o nosso movimento não nasce do êxito! Nasce do termos sido olhados assim! A questão é que, pelo contrário, tantas vezes o nosso movimento nasce da tentativa de sucesso. E quando não acontece segundo as nossas medidas, paramos de tentar. Porque tínhamos um projeto! Os jovens, que são mais inteligentes que nós, sabem disso muito bem. A questão é: qual é a fonte do movimento? Se eles percebem que é um movimento verdadeiramente gratuito, como estamos aprendendo na Escola de Comunidade [refere-se ao texto que, no momento, está sendo trabalhado nos encontros de Escola de Comunidade no mundo inteiro: o trecho sobre a caridade do livro de Luigi Giussani, "É possível viver assim?"; ndt], que é de fato por puro amor! Porque é este que comove o outro. Tenho aqui comigo um trecho de um texto escrito pela pianista russa Maria Judina: 'Exatamente no meu grupo tinha um chato, um jovenzinho de oito ou nove anos, praticamente sem família, que vivia junto com parentes de quem não gostava e por quem não era amado, de nome Akinfa; era antipático, enchia a paciência de todos, tirava sarro das crianças judias, brigava e assim por diante. Todos nós, e sobretudo eu que tinha uma responsabilidade maior com ele, o exortavam com a palavra e com o exemplo [não apenas com a palavra!], mas uma vez Afinka ultrapassou todos os limites: bateu em um de seus companheiros, xingou os adultos, cometeu um furtozinho e, assim, foi decretada a sua expulsão. Quando veio o momento de cumprir a condenação, o momento em que iria embora, eu, não sei como, desatei a chorar, e neste momento aconteceu o segundo nascimento de Afinka: desatou a chorar também, pediu perdão a todos, devolveu o que havia furtado e, daquele momento em diante, começou a me seguir sempre para onde eu ia como um cãozinho fiel, explicava a todos que, na sua vida, nunca tinha visto uma sua professora chorando por um aluno, que chorasse, para dizer com as suas palavras, pela alma e pela vida de uma criança mimada; esse era exatamente o sentido do seu maravilhamento e do seu desejo de se recolocar no caminho'. Isto não é para os jovens, mas para nós. É para nós! Então, quanto mais isso é familiar na nossa vida, tanto mais nos damos conta de que não é um problema de idade, de técnicas, mas é o mesmo para cada um."
(CARRÓN, Julián. Fare il cristianesimo. Tracce. 2010, p. 4)
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