quarta-feira, 7 de abril de 2010

Deixou-se consumir por Cristo, pela Igreja, pelo mundo inteiro...


Homilia do Santo Padre Bento XVI
por ocasião do V aniversário da morte do
Servo de Deus João Paulo II

Basílica Vaticana
Segunda-feira, 29 de março de 2010

Venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,
caros irmãos e irmãs!
Estamos reunidos em torno do altar, perto da tumba do Apóstolo Pedro, para oferecer o Sacrifício eucarístico em sufrágio da alma eleita do Venerável João Paulo II, no quinto aniversário da sua partida. Fazemo-lo com alguns dias de antecipação, porque o dia 02 de abril será, neste ano, a Sexta-Feira Santa. Estamos, de qualquer forma, no meio da Semana Santa, contexto propício para o recolhimento e para a oração, no qual a Liturgia nos faz reviver mais intensamente os últimos dias da vida terrena de Jesus. Desejo exprimir o meu reconhecimento a todos vós que estais nesta Santa Missa. Saúdo cordialmente os Cardeais – de modo especial o Arcebispo Stanislao Dziwisz –, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas; como também os peregrinos que vieram expressamente da Polônia, os tantos jovens e os numerosos fiéis que não quiseram faltar a esta Celebração.
Na primeira leitura bíblica que foi proclamada, o profeta Isaías apresenta a figura de um “Servo de Deus”, que é ao mesmo tempo o seu eleito, no qual ele se compraz. O Servo agirá como firmeza inquebrantável, com uma energia que não diminuirá até que ele cumpra a tarefa que lhe foi designada. Apesar de tudo, não terá a sua disposição aqueles meios humanos que parecem indispensáveis para a atuação de um plano tão grandioso. Ele se apresentará com a força da convicção, e será o Espírito que Deus colocou nele que lhe dará a capacidade de agir com mansidão e com força, assegurando-lhe o sucesso final. Aquilo que o profeta inspirado diz do Servo, o podemos aplicar ao amado João Paulo II: o Senhor o chamou para o Seu serviço e, no confiar-lhe tarefas de sempre maior responsabilidade, o acompanhou também com a Sua graça e com a Sua contínua assistência. Durante o seu longo Pontificado, ele se dedicou à proclamar o direito com firmeza, sem fraquezas ou hesitações, sobretudo quando tinha que se medir com resistências, hostilidades e recusas. Sabia que estava tomado pela mão do Senhor, e isso lhe consentiu exercer um ministério muito fecundo, pelo qual, ainda uma vez, damos graças a Deus.
O Evangelho que acabamos de escutar nos conduz a Betânia, onde, como anota o Evangelista, Lázaro, Marta e Maria ofereceram uma ceia ao Mestre (Jo 12, 1). Este banquete na casa dos três amigos de Jesus é caracterizado pelos pressentimentos da morte iminente: os seis dias antes da Páscoa, a sugestão do traidor Judas, a resposta de Jesus que chama atenção para um dos atos piedosos da sepultura antecipado por Maria, o aceno ao fato de que nem sempre O teriam consigo, o propósito de eliminar Lázaro no qual se reflete a vontade de matar Jesus. Neste relato evangélico há um gesto sobre o qual gostaria de chamar vossa atenção: Maria de Betânia “omando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos” (Jo 12, 3). O gesto de Maria é a expressão de fé e de grande amor pelo Senhor: para ela não é suficiente lavar os pés do Mestre com a água, mas os unge com uma grande quantidade de perfume precioso, que – como contestará Judas – poderia ter sido vendido por trezentos denários; não unge, depois, a cabeça, como era usual, mas os pés: Maria oferece a Jesus tudo o que tem de mais precioso e com um gesto de devoção profunda. O amor não calcula, não mede, não economiza, mas sabe dar com alegria, busca apenas o bem do outro, vence a mesquinhez, a avareza, os ressentimentos, os fechamentos que o homem carrega, às vezes, no seu coração.
Maria se coloca aos pés de Jesus em humilde postura de serviço, como o Mestre mesmo fará na Última Ceia, quando – nos diz o quarto Evangelho – “levantou-se da mesa, tirou o manto, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos” (Jo 13, 4-5), para que – disse – “como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13, 15): a regra da comunidade de Jesus é a do amor que sabe servir até ao dom da vida. E o perfume se difunde: “toda a casa” – anota o Evangelista – “se encheu com o aroma daquele perfume” (Jo 12, 3). O significado do gesto de Maria, que é resposta ao Amor infinito de Deus, se difunde entre todos os convidados; cada gesto de caridade e de devoção autêntica a Cristo não permanece como fato pessoal, não diz respeito apenas ao relacionamento entre o indivíduo e o Senhor, mas diz respeito a todo o corpo da Igreja, é contagioso: infunde amor, alegria, luz.
“Veio entre os seus, e o seus não o acolheram” (Jo 1, 11): ao ato de Maria se contrapõem a postura e as palavras de Judas, que, sob o pretexto de ajudar a sustentar os pobres, esconde o egoísmo e a falsidade do homem fechado em si mesmo, acorrentado à avidez da posse, que não se deixa envolver pelo bom perfume do amor divino. Judas calcula lá onde não se pode calcular, entra com o ânimo mesquinho onde o espaço é o do amor, do dom, da dedicação total. E Jesus, que até aquele momento havia permanecido em silêncio, intervém a favor do gesto de Maria: “Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou” (Jo 12, 7). Jesus compreende que Maria intuiu o amor de Deus e indica que agora a sua “hora” se aproxima, a “hora” na qual o Amor encontrará a sua expressão suprema no lenho da Cruz: o Filho de Deus dá a si mesmo para que o homem tenha a vida, desce aos abismos da morte para levar o homem até as alturas de Deus, não tem medo de Se humilhar “fazendo-Se obediente até a morte e morte de Cruz” (Fil 2, 8). Santo Agostinho, no Sermão no qual comenta tal trecho evangélico, endereça a cada um de nós, com palavras perseguidoras, o convite para entrar neste circuito de amor, imitando o gesto de Maria e colocando-se concretamente no seguimento de Jesus. Escreve Agostinho: “Cada alma que queira ser fiel, se une a Maria para ungir com precioso perfume os pés do Senhor... Unge os pés do Senhor: segue as pegadas do Senhor conduzindo uma vida digna. Enxuga-Lhe os pés com os cabelos: se tens coisas supérfluas, dá-las aos pobres, e terás enxugados os pés do Senhor” (In Ioh. Evang., 50, 6).
Caros irmãos e irmãs! Toda a vida do Venerável João Paulo II foi marcada pelo sinal desta caridade, pela capacidade de se dar de modo generoso, sem reservas, sem medidas, sem cálculo. O que o movia era o amor por Cristo, ao qual havia consagrado a vida, um amor superabundante e incondicional. E exatamente porque se aproximou sempre mais de Deus no amor, ele soube fazer-se companheiro de viagem para o homem de hoje, difundindo no mundo o perfume do Amor de Deus. Quem teve a alegria de conhecê-lo e frequentá-lo, pôde tocar com a mão quão viva era nele a certeza “de contemplar a bondade do Senhor na terra dos viventes”, como escutamos no Salmo responsorial (Sl 26[27], 13); certeza que o acompanhou no curso de sua existência e que, de modo particular, se manifestou durante o último período da sua peregrinação nesta terra: a progressiva fraqueza física, de fato, nunca danificou a sua fé rochosa, a sua luminosa esperança, a sua caridade fervente. Deixou-se consumir por Cristo, pela Igreja, pelo mundo inteiro: o seu sofrimento foi vivido até o fim por amor e com amor.
Na Homilia pelo XXV aniversário do seu Pontificado, ele nos confiou de ter sentido forte no seu coração, no momento da eleição, a pergunta de Jesus a Pedro: “Tu me amas? Tu me amas mais do que estes...?” (Jo 21, 15-16); e acrescentou: “A cada dia acontece no meu coração o mesmo diálogo que houve entre Jesus e Pedro. No espírito, fixo o olhar benévolo de Cristo ressuscitado. Ele, mesmo consciente da minha humana fragilidade, me encoraja a responder com fidelidade como Pedro: ‘Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo’ (Jo 21, 17). E, depois, me convida a assumir as responsabilidades que Ele mesmo me confiou” (16 de outubro de 2003). São palavras carregadas de fé e de amor, amor a Deus, que vence tudo!
Na zakończenie pragnę pozdrowić obecnych tu Polaków. Gromadzicie się licznie wokół grobu Czcigodnego Sługi Bożego ze szczególnym sentymentem, jako córki i synowie tej samej ziemi, wyrastający w tej samej kulturze i duchowej tradycji. Życie i dzieło Jana Pawła II, wielkiego Polaka, może być dla Was powodem do dumy. Trzeba jednak byście pamiętali, że jest to również wielkie wezwanie, abyście byli wiernymi świadkami tej wiary, nadziei i miłości, jakich on nieustannie nas uczył. Przez wstawiennictwo Jana Pawła II niech was zawsze umacnia Boże błogosławieństwo.
[Enfim, gostaria de saudar os poloneses aqui presentes. Reuni-vos em grande número em torno da tumba do Venerável Servo de Deus com um sentimento especial, como filhas e filhos da mesma terra, crescidos na mesma cultura e tradição espiritual. A vida e a obra de João Paulo II, grande polonês, pode ser para vós motivo de orgulho. É preciso, porém, que vos lembreis que este é também um grande chamado para serdes fiéis testemunhas da fé, da esperança e do amor, que ele nos ensinou ininterruptamente. Pela intercessão de João Paulo II vos sustente sempre a bênção do Senhor]
Enquanto damos prosseguimento à Celebração eucarística, preparando-nos para viver os dias gloriosos da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, confiemo-nos com fé – a exemplo do Venerável João Paulo II – à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, para que nos sustente no empenho de ser, em cada circunstância, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e do Seu Amor misericordioso. Amém!

* Extraído do Site do Vaticano e traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

Nenhum comentário: