Entrevista com Angelo Scola *
14 de maio de 2010
No próximo dia 16 de maio, no dia da Ascensão, todos os movimentos eclesiais têm um encontro marcado, na Praça São Pedro, em Roma, na hora do Regina Coeli, para rezar com o Papa e pelo Papa. IlSussidiario.net pediu ao Patriarca de Veneza, Cardeal Angelo Scola, para explicar o sentido particular de um gesto como esse.
“Se uma pessoa é cristã – disse o cardeal Scola – é uma testemunha: o espírito do Ressuscitado está com ele e transparece do seu ser, do seu agir em benefício de todos os nossos irmãos homens. Esse é o caminho decisivo para tornar Cristo contemporâneo. E apenas se Ele me for contemporâneo, me poderá salvar. O Papa tem como tarefa precípua e singular, na medida em que é sucessor de Pedro, aquilo que Jesus lhe confiou: confirmar todos os seus irmãos nesta postura de testemunho”.
Eminência, como o senhor lê o gesto que, no próximo domingo, o laicato católico vai realizar indo ao encontro do Papa Bento XVI, por ocasião da oração do Regina Coeli?
Por aquilo que ele é: um momento comum de oração e de fraternidade cristã, que assume um valor ainda mais especial, porque o Regina Coeli será guiado pelo Santo Padre.
Muitos jornais falam de um gesto de grande solidariedade pelo Papa da parte dos fiéis. São os fiéis que podem sustentar o Papa ou, talvez, são eles próprios a receberem o sustento do Pontífice?
Na vida da Igreja a palavra mais eficaz para exprimir o valor da oração é a palavra comunhão. A comunhão ou é visivelmente manifesta ou, se permanece pura intenção, se torna facilmente vã. De fato, a comunhão vive apenas na harmonia orgânica da Igreja. A Igreja, depois, é uma companhia guiada ao destino e, como toda companhia, exige o envolvimento pessoal e a docilidade a quem a guia. Na Itália, domingo, festejaremos a Ascensão, isto é o dom do Espírito de Jesus Ressuscitado. Ele é o guia da Igreja que passa, de modo irrenunciável, através da tarefa do sucessor de Pedro. Domingo, será uma festa de comunhão.
Qual é o valor do Papa na Igreja, e como torna contemporânea a figura de Cristo na história?
Para tornar contemporânea a figura de Cristo na história, devemos seguir o método da vida cristã que Ele nos indicou de uma vez por todas: “Quando dois ou três de vós estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. E estará conosco até o fim do mundo. O dom da fé e do batismo se expressa no encontro pessoal com Cristo e na permanência nesse encontro. Somos cristãos na medida em que nos deixamos envolver por Jesus no cotidiano. Assim como o homem não conhece uma realidade se não a comunica, o cristão, para compreender a comunhão com Jesus, deve comunicá-la. Se uma pessoa é cristã, é uma testemunha: o espírito do Ressuscitado está com ele e transparece do seu ser, do seu agir em benefício de todos os nossos irmãos homens. Esse é o caminho decisivo para tornar Cristo contemporâneo. E apenas se Ele me for contemporâneo, me poderá salvar. O Papa tem como tarefa precípua e singular, na medida em que é sucessor de Pedro, aquilo que Jesus lhe confiou: confirmar todos os seus irmãos nesta postura de testemunho
O Pontífice, na recente homilia feita em Lisboa, disse: “Buscai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, recebei-O na comunhão” e, mais adiante, “testemunhai a todos a alegria por esta presença forte e suave, a começar dos vossos coetâneos. Dizei a eles que é belo ser amigo de Jesus e vale a pena segui-Lo”. Como é possível viver realmente esta amizade com Jesus?
Ainda uma vez, vivendo com humildade decidida a experiência que Ele propôs aos Seus: a grande condição é uma comunhão vivida através de uma pertença forte às comunidades cristãs bem visíveis e documentáveis. Poder-se-á, assim, repetir o convite que Ele fez aos dois discípulos, na beira do Jordão: “Vinde e vede”. O homem pós-moderno, que tem sede de felicidade e de liberdade, mesmo quando se pensa pós-cristão, na realidade pede comunidade de vida boa e de práticas virtuosas. Em cada caso, um pedido semelhante está no coração de cada cristão autêntico, exatamente porque entendeu que a fé exalta a beleza, a bondade e a verdade do humano.
O que tocou mais o senhor da recente viagem de Bento XVI a Portugal?
O convite à penitência entendida no seu verdadeiro significado: invocar o dom de saber ir até o fundo de nós mesmos, ou seja, até o coração do humano. A consignação a Maria que o Papa realizou em Fátima é a via mestra para aprender esta súplica.
* Publicado no site IlSussidario.net no dia 14 de maio de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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