quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 128




Asunción, 11 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Voltei para casa, depois de uma semana de férias com 900 pessoas, entre adultos e crianças do Brasil, da Argentina, do Paraguai e duas (Padre Alberto e Stefania) vindas do Equador. Foi a primeira vez, desde que existe o Movimento na América Latina, que tanta gente de países diferentes se reúne em torno de um fato: a amizade de alguns amigos que, com afeto e simplicidade e decisão, levaram a sério o que significa seguir a Carrón, fazendo um trabalho na Escola de Comunidade. A proposta que, por um ano, foi o trabalho fascinante de um grupinho, em companhia de Julián de la Morena, se tornou uma proposta para todos. Uma proposta tão bonita que foi o suficiente o boca-a-boca para que a liberdade de 900 pessoas dissesse “sim”. As férias foram a possibilidade concreta de refazer a cada dia o percurso. Partindo do humano imerso na realidade, guiados por este grupinho de amigos, cada um pôde tocar com a mão o que quer dizer “Tu, ó meu Cristo”. Gestos simples, adequados a todos, em um clima tropical que bastava se mover para suar, tendo presente as exigências de todos, ajudaram a viver olhando Jesus no rosto. Os chamados de atenção essenciais, precisos de Julian de la Morena, a companhia de Marcos e Cleuza, nos permitiram não dar nada por óbvio, mas fazer um trabalho. Aquele trabalho ao qual não estávamos habituados e educados e para o qual Carrón é um guia no modo de fazer Escola de Comunidade. O coração das férias foi o conteúdo da mensagem de Natal de Carrón. Não houve testemunhos, mas o ir a fundo, o buscar as razões, assimilá-las, as razões daquilo que as testemunhas presentes entre nós nos faziam vibrar em nós. Não conseguíamos acreditar em nossos olhos que viam concretamente, vivo na Foz do Iguaçú – que “se tornou Belém”, como nos disse Padre Alberto – “a Presença de Jesus”. Voltamos para casa como os pastores, os magos, com o coração transbordando de letícia, porque, de fato, é possível assim. É possível olhar o humano que existe em nós, como caminho para Jesus, como condição para deixar-se olhar por Ele. Desde sempre se fala de unidade Latino-americana, mas somente nestes dias aconteceu um fato novo, imprevisto, não imaginado: a unidade concreta de povos diversos (pensem no abismo com a Argentina...!) floresceu em torno de um Acontecimento, o “sim” de um pequeníssimo grupo de amigos que, há um ano, se encontram juntos em São Paulo, a cada 15 dias para trabalhar a Escola de Comunidade. Todo é tão simples, como era para os primeiros que O seguiam. O ponto é levá-Lo a sério, segui-Lo na modalidade na qual se apresenta.
Amigos, que belo é partir da própria humanidade e poder dizer “Tu, ó meu Cristo”.
De volta a casa, com o coração cheio daquela Beleza, depois de dez minutos, duas pessoas morreram na clínica. Ainda uma vez aquela beleza – “Tu, ó meu Cristo” – vence o cansaço e me permite estar em companhia dos meus enfermeiros, brindar com todo o afeto que vem de Cristo a assistência necessária para que tudo manifeste a Sua Glória. Frequentemente me perguntam: “você não se cansa nunca?”. E eu respondo: o cansaço caminha com a razão que – sim ou sim – nos compromete com a realidade, de forma que acontece de dormirmos uma hora a mais e, logo em seguida, estarmos acordados como um grilo. Pelo contrário, quando não é a razão que nos guia, quando não é o coração encarnado na realidade, é a fantasia, a imaginação, os nossos esquemas a se meterem a chefes e a consequência é o estresse, que mesmo se formos a Punta del Este ou para a Sardenha seremos derrotados. Quanto mais o coração trabalha, tanto mais repousa, quanto menos trabalha, tanto mais nos estressamos. Assim, foi para cama contente e, no dia seguinte, na clínica, foi uma festa, porque um doente terminal celebrou o seu matrimônio. Que alegria que se disseram a coisa mais bonita que pode dizer o coração: “Prometo amar-te e ser-te fiel para sempre”. Aquele “para sempre” dito pelos meus doentes terminais nos diz a verdade mais bela de uma relação: o amor é ou não é, e se é não tem data de validade. Divorcia-se quem nunca se casou (diria Chesterton), quem nunca amou. Mesmo aqui o problema é a vida e o seu significado, mesmo aqui trata-se de fazer um caminho como para mim, para os meus doentes, para os 900 amigos das férias. Fazer uma experiência que nos permita dizer Tu ao Mistério. E, como para mim, para os meus doentes, para os imprevistos às vezes desagradáveis que caracterizaram as férias de 900 pessoas, tudo faz parte daquela trabalho que nos pede Carrón, para podermos chegar a dizer “Tu” a Cristo.
É um caminho como o caminho de Santiago e de Lourdes (vejam as fotos) que, graças ao câncer, sentiram a urgência de uma definitividade no seu amor, conscientes dos meses que lhes restam, que aquilo que os une com o sacramento é eterno; assim como o coração de um garoto que se apaixona diz a sua namorada: “Amo-te para sempre”, “Sou teu para sempre”. Sejamos sinceros: não há nada mais belo do que aquele “sempre”, porque o coração é feito para o “sempre”, para a “eternidade”.
Padre Aldo

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