sábado, 16 de janeiro de 2010

Cartas do P.e Aldo 129


Asunción, 13 de janeiro de 2010.

Caros amigos,
Esta é a minha Escola de Comunidade com os doentes terminais. Cada quarta-feira, das 11h ao meio-dia. Hoje, foi comovente o testemunho de Ilda, 35 anos, doente de câncer.
Marcos, um rapazinho também com câncer e com uma história de arrepiar nas costas – tanto que sinto calafrios toda vez que me lembro (aos 5 anos já estava na rua, por onde vagabundeou até o dia em que o câncer tomou conta dele, o que nem a polícia havia conseguido até então...!), – disse: “o câncer mudou a minha vida porque me obrigou a vir até aqui, onde encontrei a CASA [ele nunca teve uma casa] de Deus. Estou contente porque esta é a CASA de Deus. Estou feliz porque Jesus me trouxe até aqui. Eu vivia na rua, fui preso três vezes. Um dia, pulei do terceiro andar do hospital onde estava internado, porque estava sendo procurado pela polícia, e consegui escapar, sem nenhum ferimento... participei de tentativas de homicídio, assaltei, feri... experimentei todo tipo de drogas etc. Mas, agora, Jesus me conduziu até aqui e, enquanto que nos primeiros dias eu queria ir embora, agora estou feliz. Aqui, fiz a primeira comunhão e a crisma [lembram-se da foto que enviei há algumas semanas?]. Esta é a CASA de Deus e, por isso, estou feliz. A diferença entre esta CASA de Deus, a prisão, os hospitais onde estive, é que aqui Jesus está presente”.
Que comoção esta insistência sobre a “casa de Deus” que o mudou. Lembra-me o Christe cunctorum, porque Marcos se salvou apenas estando na Casa de Deus, como ele chama a clínica.
Irma retomou o que Marcos disse e completou: “Não apenas é a CASA de Deus porque Ele está presente, mas também porque somos educados a viver cada detalhe, cada instante, como graça, a valorizar cada coisa e nos querermos bem. Por exemplo, aqui eu aprendi a valorizar um copo de água, a amizade dos meus amigos doentes, aqui eu reencontrei o gosto pelo bordado, pelo trabalho. Assim, a minha fantasia foi é educada a não fantasiar: o tempo que me resta livre é para viver a gravidade da minha doença.
Vejo as companheiras morrerem, sofro, porém, depois, chegam outras e aquelas que estão mortas continuam a viver nas novas que ocupam seus leitos. Trabalho com alegria. Isto me ajuda a viver bem a realidade, a minha realidade. Se fosse diferente, eu viveria chorando e me rebelando, o que é muito feio.
Viver a realidade... a minha realidade agora é esta: estou doente e, por isso, me sinto útil. Viver cada instante e ver como é bonito viver, valorizar cada instante da vida. É somente por Deus que continuo, vivo... e, por isso, rezo, peço para aprender a ver a positividade de tudo”.
Padre Aldo

Um comentário:

Marcelo Belga disse...

Pe. Aldo, li esta carta por causa de um amigo. O que ele escreveu é tão belo, diria igual, de uma igualdade original. Isso é que deve ser a unidade. Obrigado por fazer essa caridade de relatar o que acontece nessa amizade que sou convidado a cada testemunho a participar. Vou, especialmente usar aquela frase sua para meus alunos e colegas: “Quanto mais o coração trabalha, tanto mais repousa, quanto menos trabalha, tanto mais nos estressamos.” Obrigado mesmo.