sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cartas do P.e Aldo 115

Asunción, 28 de outubro de 2009.

Caros amigos,
a carta de Carrón, ou melhor, a homelia que ele fez na ocasião dos funerais de Pontiggia, assim como a mensagem que ele nos enviou quando as condições de nosso caro amigo se agravaram, me estão, nos estão acompanhando como uma Graça excepcional. A mensagem falava da confiança na modalidade com a qual o Mistério nos indica a meta, o destino.
A homelia, com aquelas três perguntas iniciais (“Quem és Tu, Cristo, que podes apaixonar assim a vida de um homem? Quem és Tu, que consegues atrair todo o eu, toda a pessoa com toda a sua capacidade, imaginação, intensidade, para colocá-la a Teu serviço, para poder comunicar aos homens – não com palavras, mas com a vibração e com aquela intensidade que só Tu podes introduzir na vida – a Tua vida mesma? Quem és Tu, Cristo?”; texto disponível em http://www.clonline.org/articoli/ita/jc_omelia.htm; ndt), nos fez vibrar até as lágrimas. A parte final, onde fala da morte, me encheu de alegria, porque me remetia à verdade da vida. Se vivéssemos cada instante com a consciência que Carrón tem do sentido da vida e do verdadeiro destino, também o Liceu Berchet se tornaria aquele de Giussani. Não posso esconder a dor que experimentei quando recebi a notícia do que aconteceu no Berchet, mas não pelo resultado das votações, mas porque tenho uma certa percepção de uma ausência, da falta daquela humanidade, daquela dramaticidade, daquela paixão por Cristo, pelo destino do homem que vibrava em Giussani, em Padre Giorgio, em Padre Danilo e, hoje, de modo espetacular e profundo, nos é testemunhado por Carrón, que desafia a nossa humanidade. É o humano que falta, nos dizia Carrón. E é muito verdade, porque onde o humano é vibrante toda a criação volta a viver, e não somente a escola, mas também os jovens. Vejo isso com as minhas crianças, com os meus idosos, com os meus doentes.
1. Com as minhas crianças: outro dia, nos foram confiados dois irmãozinhos – Noemi, de 7 anos, e Antônio, de 8. Violentados pelo “pai” de 60 anos e a mãe que se suicidou aos 18 anos. O velhote do “pai” transformou o casebre num prostíbulo, onde, junto com outros homens, abusava de outras meninas. Não apenas isso, mas sendo que este “homem” sofre de zoofilia, as crianças viam este “homem” tendo relações sexuais com animais. Quando a Polícia nos trouxe as crianças, fiquei estarrecido, petrificado. Peguei as duas crianças, com todo o meu coração, carregando toda a dor e a tristeza delas... repetindo para mim mesmo: “eu sou Tu que me fazes”. Seguro e certo de que esta consciência de mim conseguiria colocar de pé, outra vez, a personalidade destruída destas crianças. É o que o Carrón nos lembra: “o homem não é o resultado dos seus antecedentes, não importa quais e quão violentos foram, mas é relação com o Mistério”... Desde o primeiro instante, comecei a mudar o pequeno “eu” das minhas duas crianças. Sim, porque o problema é sempre o mesmo: Giussani me encontrou, com toda a carga de toneladas de misérias, me abraçou, e aquele abraço mudou radicalmente a minha vida. Assim é, agora, com estas crianças, que voltaram a sorrir e sentem até vontade de voltar para a escola. Como vocês podem ver, a questão não é, antes de tudo, uma questão de psicologia, mas que o nosso “patrimônio genético” coincida com “eu sou Tu que me fazes”. Vejam esta cartinha escrita por uma menina pluriviolentada. É um documentário de “eu sou Tu que me fazes”:

“Amo muito o senhor e espero que tenha passado bem o seu aniversário. Eu estou feliz aqui com meus irmãos e irmãs da Casinha de Belém. Nunca fui tão feliz. Quando eu estava com minha mãe [a mãe natural] eu vivia muito mal porque ela me vendia aos homens; agora, porém, que estou com você e com a mamãe Cristina, estou de verdade bem. Minha mãe [a natural] está sempre bêbada e não lhe importa nada de mim e dos meus irmãozinhos. Agora, estou feliz, porque tenho uma mãe boa e um pai como você... acho que ficarei com vocês para sempre. sofri muito e, agora, porém, [“eu sou Tu que me fazes” e não fruto de seus antecedentes] sou feliz...”.

Amigos, Deus queira que compreendamos o que Giussani e Carrón nos repetem... trabalhando sobre isso, vejam o que acontece:
2. Glória, 28 anos, metástase geral. Há 15 dias vivia em pânico, com medo da morte. Durante a Escola de Comunidade feita com os doentes terminais, que fazemos toda quarta-feira, ela falava do terror que tinha da morte. Os doentes nas suas mesmas condições tentavam, em vão, fazer companhia a ela, contando como estavam vivendo estas últimas semanas ou dias de vida... porém, inutilmente. O terror da morte parecia sufocá-la. Passados alguns dias, Glória parecia piorar. Mas, no dia 24 de outubro, uma surpresa: aproximo-me do seu leito, ajoelho-me com o Santíssimo Sacramento na mão e pergunto “Como vai, Glória?”. E ela, com o rosto mais sereno, me responde: “Logo eu vou embora com Jesus”. Surpreso e comovido, perguntei: “Mas, você não tem mais medo?”. E ela: “Não, padre”. Desde então, está ali, no seu leito, com todo o drama da certeza de morrer, mas totalmente confiada ao Mistério. Porque, para ela, como para mim, a certeza de estar vivendo um desígnio maior venceu.
Peçamos a Nossa Senhora que cada circunstância seja para afirmar esta certeza, como Carrón nos tem repetido incansavelmente.
Padre Aldo.

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