Asunción, 20 de outubro de 2009.
Caros amigos,
as circunstâncias da vida não são, antes de tudo, um “compromisso” mas a modalidade com a qual o Mistério nos chama, com a qual chama a nossa liberdade a reconhecer o destino bom escondido em cada coisa, mesmo na mais terrível. Comoveu-me, nesses dias, ver um bispo, secretário de uma importante comissão da Santa Sé, visitar o nosso hospital... e ver como os meus filhos vivem os últimos dias da suas vidas... comoveu-se até às lágrimas. Por quê?
A consciência, para mim mais clara do que o sol, de que “eu sou Tu que me fazes” é como uma “peste” boa que contagia cada coisa. Não apenas as pessoas, mas também o modo de fechar a porta, limpar o banheiro, beijar um doente. Quando, três vezes ao dia, com o Santíssimo Sacramento, ajoelho-me diante de um doente, “eu sou Tu que me fazes” me torna uma coisa só com o Cristo sofredor e chagado.
E o doente o percebe e reencontra o gosto de viver aqueles poucos dias que lhe restam. Como Hilda que, sábado passado, depois da janta a base de pizza (obviamente como tanto quanto um passarinho) e sorvete, conseguiu cantar um canção em português. E ver que empenho com aquilo que le restava da voz e do alento!!!
Ou como quando Glória (metástase), Hilda (a mesma) e a pequena Celeste, atualmente no mesmo quarto, empenhadas a trabalhar bordando... é evidente que somente a certeza de se estar diante do Tu do Mistério permite viver até o fim, cada instante, trabalhando, quando normalmente o simples pensamento do mal frequemente nos paraliza.
Então, entendo que espessura imensa há aquilo que nos escreveu Carrón, dando-nos a notícia das graves condições de Padre Giorgio (refere-se ao padre Giorgio Pontiggia, falecido no último dia 19 de outubro; ndt): “Caros amigos, o estado de saúde de padre Giorgio Pontiggia se agravou. Nesta situação, não são aconselhadas visitas. Acompanhemo-lo com nossa oração, para que possa confiar-se plenamente à modaliade com a qual o Senhor o leva ao destino”.
Olhar dessa maneira para a doença e para a morte é aquilo que, a cada dia, permite aos meus doentes se reencontrarem a cada sábado à noite para fazer festa. Mas, não é uma dança macabra, e sim o sinal da vitória de Cristo, pela qual até mesmo um corpo cheio de metástases não cede ao medo que, inevitavelmente, todos, cedo ou tarde, como Jesus, acabaremos por viver.
Por isso, até que eu tenha fôlego, não me cansarei de gritar que o problema, o único problema, é a falta de fé, fruto de um inadequado caminho do conhecimento, condição necessária para dizer “Tu” ao Mistério. A clínica sempre mais é a experiência deste percurso, mesmo porque, com um diretor de saúde como Cristo Eucaristia, não se pode ficar parado um segundo sequer.
P.e Aldo.
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