quarta-feira, 16 de junho de 2010

Na educação para a fé, a relação vital com Deus

Por Angelo Bagnasco

Um renovado empenho com o ensino dos valores cristãos
Publicamos trechos da palestra "Jesus, educador da fé", proferida pelo cardeal presidente da Conferência Episcopal Italiana, na terça-feira pela manhã, por ocasião do Encontro Nacional dos Diretores do Ofício Catequistas Diocesanos, que está acontecendo em Bolonha

A paixão educativa de Jesus é evidente. Ele tem plena consciência que todos aqueles que encontra têm uma necessidade urgente não apenas de salvação física, mas, mais radicalmente, de uma orientação interior. Poder-se-ia dizer - perdoem-me o anacronismo - que Ele viveu em um contexto de "emergência educativa". A paixão educativa que Jesus mostra em cada um de seus encontros não pode ser compreendida de outra maneira que a partir do Seu amor, do Seu amor pela vida, pela vida de todos os homens. A Igreja, escolhendo refletir sobre a tarefa da educação, não tem outra motivação diferente dessa: o amor pela vida que aprendeu do seu Senhor. Educa-se, porque se entende que a vida do outro merece atenção, cuidado, porque se entende que é preciosa, mais preciosa que a própria vida.
O consenso que se criou espontaneamente em nosso país sobre o tema da educação não deve ser desvalorizado: a descoberta dos fundamentos de uma boa educação é um desejo de tantos, dentro e fora da Igreja. As famílias declaram ter, frequentemente, descuidado dos pontos de referência educativos necessários, a escola declara ter, às vezes, perdido a coragem de apostar na paixão e na qualidade da educação, os catequistas declaram ter sido desencorajados: todos se dão conta, porém, da exigência de um empenho renovado com o amor que têm pela vida das novas gerações.
Os catequistas, por quem vocês são responsáveis nas diversas dioceses, são um importante testemunho do amor que a Igreja tem pela vida. É através do serviço deles que os pais compreendem que não foram abandonados pela Igreja, quando se descobrem enfrentando o crescimento dos filhos. Nós estamos preocupados com o vínculo tênue que pode existir entre as famílias e a Igreja, mas devemos aprender a ser ainda mais preocupados com o vínculo mesmo que há entre os pais e os filhos. As famílias - frequentemente de forma silenciosa, como no tempo de Jesus - pedem, hoje, um sustento educativo, desejam amadurecer pontos de referência para não se desencorajarem na sua missão e para não serem vencidas pela mentalidade corrente. O decênio que começa sobre o tema da educação não pode esquecer a importância da catequese aos adultos. Pelo contrário, quer sublinhar precisamente que uma das responsabilidades mais importantes dos adultos - pais, docentes, catequistas, o conjunto da sociedade civil - é precisamente a de transmitir a vida, a cultura, os valores, a fé que recebemos como dom.
Jesus anuncia que a maturidade humana não consiste em um fechamento da pessoa em si mesma e no próprio mundo, mas na abertura ao diálogo com Deus. A catequese, como prolongamento vivo da obra de Jesus, tem exatamente a tarefa de servir a esta relação do homem com Deus: essa relação existe em vista da fé. A Igreja propõe a fé às novas gerações, porque sem ela faltaria a eles aquela relação vital com Deus. As famílias, mesmo que às vezes inconscientemente, sabem bem que o Evangelho é para os jovens uma âncora de salvação.
Jesus escancara as portas da relação com Deus, convida a reconhecer que exatamente no relacionamento com o Pai está a beleza e a dignidade da vida humana: crer, reconhecendo o Pai, quer dizer entrar no reino.
Descuidar da dimensão da fé no âmbito educativo quer dizer ferir a dignidade mesma do homem. Promovê-la quer dizer, pelo contrário, exaltar a dignidade do homem: a educação da fé não é um elemento acessório quando pensado dentro do processo educativo como um todo, mas pertence a este mesmo processo com um papel muito importante. Eis o grande valor da catequese, como também do ensino da religião na escola que apresenta, de forma orgânica, o "fato" religioso e católico assim como se configurou na história e na nossa cultura.
A fé não pode nascer e se desenvolver simplesmente como automaturação ou como autoformação do homem: é em Cristo que se oferece e se dá ao homem. Não é suficiente a liberdade para se alcançar a fé, aliás, é exatamente o encontro com a fé que gera a liberdade. A dependência que a liberdade tem do dom que a precede deve ser colocada novamente em relevo se se quer que cresça uma nova paixão educativa. Não existe verdadeira educação, nem verdadeira liberdade, sem um dom que a preceda. Bento XVI não tem medo de utilizar, para designar este dom que precede a liberdade e a funda, o termo "autoridade". Recentemente, aliás, falando em uma assembléia da CEI (Conferência Episcopal Italiana; ndt), lembrou que o homem tem necessidade da "autoridade" exatamente no amadurecimento das relações mais importantes.
Jesus oferece originariamente a vida para o homem, para que o homem se torne capaz de levar a própria cruz. E o que é verdade para a fé, toca transversalmente cada âmbito educativo. Pense-se, sobretudo, no fato muito simples de que os pais sãos os auctores de seus filhos. Eles são uma autoridade em relação à descendência, visto que, sem os pais, ela nem mesmo existiria. Se os pais renunciassem a ensinar aos seus pequenos não só o bem, o respeito, a responsabilidade, a fé, mas também a língua com todas as referências culturais a ela ligadas, seus filhos não cresceriam.
A fé, mesmo sendo profundamente presente no povo italiano, é, ao mesmo tempo, também enfrentada com uma crítica que não olha simplesmente para isso ou para aquele aspecto moderno da Igreja, mas a põe em discussão desde os seus fundamentos, desde a relevância da questão de Deus, da oportunidade que se fale dEle na esfera pública, da credibilidade dos relatos evangélicos e assim por diante. Estas críticas, mas talvez também a ainda mais difundida ignorância no assunto, tornam evidente que a educação para a fé deve partir não de argumentos secundários, mas precisamente dos temas mais importantes do anúncio cristão. Uma educação à fé que não ajudasse à inteligência a se orientar sobre estes temas não ajudaria às novas gerações a compreender o valor e a dignidade da fé cristã. É a experiência mesma que mostra que exatamente a fragilidade de uma "pastoral da inteligência" é que faz com que muitos jovens, terminado o percurso da iniciação cristã, se afastem da Igreja se não encontrem comunidades cristãs cuja proposta educativa lhes torne capazes de enfrentar a leitura que outras agências e a escola mesma propõem dos temas da fé.
Esta grande atenção aos temas da fé cristã não deve, porém, de forma alguma, se contrapor ao amadurecimento daquele contexto que torna experiencialmente perceptível aquela confiança e aquele amor tão típicos da fé cristã. A tradição italiana se caracteriza - e deve continuar a se caracterizar - pela sua capacidade de propor às jovens gerações a Igreja como companhia confiável, como ambiente no qual amadurecer a confiança e o amor.

* Extraído d'O Observatório Romano, do dia 16 de junho de 2010 (p. 7). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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