segunda-feira, 17 de maio de 2010

A aventura educativa 3

Encontro com o Cardeal Angelo Bagnasco
Milão, Palasharp – 18 de março de 2010

Testemunho
de Franco Nembrini
(educador)

Há dois anos, voltei a ensinar em uma escola pública, o Instituto Técnico para Contadores da minha cidade, depois de haver deixado a educação por dez anos. E essa foi, para mim, uma experiência importante, na qual pude perceber a mudança que aconteceu, no tempo em que estive distante, na geração de jovens que temos diante de nós. Até doze anos atrás, eu poderia me iludir de ter diante de mim jovens que correspondiam, de alguma maneira, a um modelo que eu tinha na cabeça: jovens estruturados positivamente no seu relacionamento consigo mesmos e com o mundo, mas passíveis de alguma desviação, de algum erro, marcados por um desinteresse pelo estudo que eu julgava normal, na lógica das coisas, expostos a uma enorme confusão e incerteza, e quem sabe também ao risco de desvios mais graves, mas sempre corrigíveis. De tal forma que o objetivo do educador parecia ser simplesmente o de corrigir o erro deles, recolocá-los nos eixo, tendo como ponto de referência um modelo dado por óbvio. Como se o problema fosse encontrar instrumentos, estratégias e novos métodos para envolvê-los, interessá-los, convencê-los.
Doze anos depois, me dei conta, de repente, de que, pelo contrário, esta geração de nossos filhos e alunos vem de um mundo, vive imerso numa cultura na qual nenhum modelo se mantém de pé, nada pode mais ser dado por óbvio, roubados exatamente daquele sentimento certo da realidade do qual tinham, principalmente, direito. Vivem dentro de um imaginário que os faz sentir horrivelmente banal, mortalmente tedioso o ordinário, a vida cotidiana deles, que parece não ter mais espaço para nenhum impulso, para nenhuma comoção, para nenhum maravilhamento.
Foi como me encontrar diante de tantos Zaqueus, de tantas Madalenas: você sente vontade de tentar corrigir os erros! Não chega a lugar algum, é um empreendimento impossível. Então, tive que repensar, desde o começo, o meu papel de professor e de educador, reposicionar-me na relação com eles, na relação com o vivido deles, na relação com o mundo no qual vivem. Entendi que, para cada um deles, só pode acontecer Jesus, isto é, só pode acontecer o acontecimento da Sua presença, tão irresistível a ponto de Ele chamar, um a um, de cima de seus sicômoros, de seus poços, dos seus caminhos. Nenhuma estratégia, nenhuma nova metodologia, nenhuma astúcia pedagógica ou didática pode substituir esta suprema responsabilidade: servir à espera do coração deles e acompanhar a liberdade deles no reconhecimento da Sua Presença.
Porque a outra descoberta que esses jovens me obrigaram a fazer é que o coração do homem é invencível, e nenhuma situação, nenhum condicionamento, nem mesmo a educação mais maluca, para dizer como Kafka, pode estirpar a espera da felicidade, do Bem, da Beleza.
Como me escreveu uma ex-aluna minha, neste verão: “Nestes dias, sinto mais do que nunca estar passando pela vida, de forma que é como se eu já estivesse morta, e morrer é a última coisa que eu quero. O ponto é que, agora, estou cansada, cansada de adiar a questão: quero enfrentar o que devo. Não importa se deverei sofrer, porque estou convencida de que a satisfação e a paz que experimentarei quanto tiver encontrado o que estava buscando será grande. Agora, me sinto suficientemente crescida para bater a cabeça contra a realidade, por mais dura que ela possa ser”. E prossegue com uma descrição impiedosa do cinismo culpável de tantos adultos, que se torna, nela e nos seus coetâneos, uma mortal experiência de solidão e de abandono: “Quando falo sobre isso com as pessoas que me estão mais próximas, ninguém me entende, me dizem que não tenho nada do que me lamentar, porque tenho tudo o que me serve para viver. Quanta bobagem! A pior coisa é que me sinto incompreendida, e acabo achando que este problema acontece só comigo, que ele seja o êxito dos meus complexos pessoais. Pela primeira vez, encontrando você, eu me senti normal, e isto me salvou, porque eu estava me convencendo de que era louca. Sei que me falta muito caminho para andar, e ficarei honrada se você quisesse fazer um pedaço dele junto comigo”.
Então, se se leva a sério o seu coração, se se tem a coragem de apostar tudo na liberdade deles, como nos ensinou padre Giussani, pode acontecer que uma mocinha de 15 anos, encontrada entre os bancos da escola e convidada a umas férias de GS, possa dizer “eu nunca acreditei, nunca estive numa igreja, a minha família é ateia, ninguém nunca me falou dessas coisas, porém nestas férias me parece ter visto Algo que nunca havia visto. Eu, agora, devo poder localizar esta Presença nas coisas de cada dia, no estudo, nas amizades, nos meus interesses... e gostaria de poder falar disso, e queria saber se algum de vocês pode me ensinar a falar com Deus, porque eu não O conheço. Ontem, à noite, tentei falar com Ele antes de dormir, mas só consegui dizer-Lhe: ‘oi, Deus!’”. Quem poderá ensinar a esta mocinha, e a esta geração, a falar com Deus? Apenas adultos que saibam dar testemunho de sua fé, do Bem que suas vidas alcançaram, da paixão pelo real que este encontro introduziu em suas vidas. Como disse, mais de uma vez, o Santo Padre: a educação é uma questão de testemunho.
E quando este testemunho é colocado em ato, pode acontecer de vermos reunidos, como aconteceu no domingo passado, dia 07 de março, no Teatro Dal Verme, em Milão, mais de mil estudantes do ensino médio, dialogando sobre as exigências da vida, sobre a natureza da experiência, sobre a racionalidade da fé. Foi, de fato, impressionante: os jovens de Juventude Estudantil de Milão quiseram propor este gesto para dizer aos seus companheiros e amigos de todas as escolas de Milão: “Cristo está presente. Para além de toda polêmica sobre crucifixos, para além de toda a confusão e de todas as polêmicas, Cristo está presente e nós fazemos experiência disso”.
Que os jovens recomecem, com alguns adultos, a se mover assim me parece um grande sinal de uma estrada começada, de uma educação possível.

* Extraído da página italiana de Comunhão e Libertação, e traduzido por Paulo R. A. Pacheco sem revisão do autor.

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