Por Angelo Cardeal Bagnasco
Catedral de Scutari, Albânia
07 de julho de 2010
Queridíssima Excelência,
Autoridades,
Caros irmãos e irmãs no Senhor,
Com alegria acolhi o convite cordial da Madre Geral das “Irmãs Ravasco”, para inaugurar a sua escola. Era também a ocasião para retornar à Albânia, terra bela, exuberante e prometedora, e celebrar nesta Catedral, coração vivo da Diocese.
Com fé, queremos, agora, acolher a palavra do Evangelho para introduzir-nos no mistério eucarístico, sacrifício de Cristo, pão de vida eterna, fonte perene da Igreja.
Encontramo-nos diante do Senhor Jesus que chama para Si os Doze. É um momento bastante significativo na medida em que os admite com Seus amigos, para o conhecimento do Seu mistério, para compartilhar da Sua vida com eles, tornando-os partícipes da Sua missão. Somente assim são capazes de se tornar testemunhas: anunciando ao mundo aquilo que dEle viram e escutaram. Tornar-se-ão, assim, a norma da fé autêntica e o fundamento da Sua Igreja. Os séculos e os milêncios passarão, mas a fé das gerações deverá olhar para a fé daqueles doze homens que, escolhidos por Jesus, se tornam o critério da verdade cristã. A fé se encarna nas diversas históias e culturas, avalia com respeito e sustenta com confiança no caminho de um enriquecimento e um crescimento contínuos, mas nunca é capturada por nada ou por ninguém. Ela é livre, histórica e meta-histórica, porque diz respeito ao Filho de Deus. Exatamente pelo chamado particular feito por Cristo, e graças à experiência única deles, os Doze se tornam o fundamental essencial da Igreja: ninguém tem o poder direto sobre a pedra angular senão os Apóstoles, e que quer encontrar a Cristo não tem outro caminho.
Eis porque cada comunidade católica no mundo, em qualquer situação cultural, social e política, olha para o Papa: “a comunhão com Pedro e com os seus sucessores – explicava Bento XVI recentemente – é garantia de liberdade para os Pastores da Igreja e para as mesmas Comunidades que lhes são confiadas (...) é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade, à autêntica tradição, de modo que o Povo de Deus seja preservado de erros que digam respeito à fé e à moral” (Homilia, 29 de junho de 2010).
Junto à graça de Deus, é também por isso que, nas situações mais difíceis e a custa de grandes sacrifícios, nunca faltou a coragem da fé e o amor pela Igreja. A semente da oração, do Evangelho, dos sacramentos, continuou vivendo em segredo e produzindo frutos bons para todos. Todos somos chamados à audácia do testemunho cristão, a uma fé cultivada e consciente, visto que este é o desafio do nosso tempo, é o débito que temos com os homens e com as sociedades.
O homem contemporâneo – talvez mais do que em outros momentos da história – sente a necessidade de encontrar um sentido verdadeiro e para a vida, de não ceder à angústia, de não se sentir estrangeiro no mundo, de não ser capturado pelo materialismo, de saber o que é o mal e o bem; deseja poder caminhar em direção a um destino de luz. O pão do corpo é necessário para a vida e para a dignidade do homem, mas o pão do espírito é ainda mais necessário se não se quer apenas sobreviver. É possível ser saciados e insatisfeitos, presas de uma angústia sutil diante do futuro como certas sociedades testemunham. Mas também a sociedade e a cultura, em seu complexo, estão esperando a contribuição única e peculiar da fé. Como o Santo Padre Bento XVI frequentemente nos recorda, hoje o mundo ocidental gostaria de construir uma história sem Deus, como se Deus tivesse que ser confinado ao privado.
Mas a história diz que uma história sem Deus não é história, porque vai contra o homem naquilo que existe de mais profundo. Trata-se, então, de inspirar a sociedade e a história à luz de Jesus que revela o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto do homem: há uma grande necessidade de redescobrir o humano do homem em tempos de confusão e de relativismo; mas para redescobrir o homem devemos redescobrir a Cristo. O Seu Evangelho fala, sim, aos crentes, mas fala também a todos, porque faz parte da fé tudo aquilo de autenticamente humano que há no mundo.
No relato da vocação dos Doze, além do mais, não escapa o modo pontual com o qual o Evangelista elenca os nomes dos chamados. Esse detalhe certamente não é casual: essa maneira indica que, entre o Mestre e os Apóstolos, não existe um relacionamento coletivo e anônimo, mas um relacionamento pessoal, assim como é pessoa o nome. Somos chamados para o fato de que a fé nos insere num relacionamento íntimo e pessoal como Senhor ouvido, celebrado e vivido. A oração, a vida sacramental, a Palavra de Deus não podem nunca faltar na vida do cristão, tanto em nível pessoal como comunitário. A importância da vida espiritual e a necessidade de cuidar, junto com o crescimento cultural, da maturidade humana e da profunda formação ascética e religiosa, fazem parte do chamado para a fé. No vértice do encontro com Jesus está a Santa Eucaristia: ela encerra todo o tesouro da Igreja. O cuidado com as jovens gerações é um desafio desse momento: a Igreja olha para elas com simpatia especial e com confiança, conhecendo o patrimônio de generosidade de que são portadores e o perene fascínio do Evangelho. A juventude de Cristo encontra o coração jovem dos jovens de todos os tempos, os chama pelo nome, os convida para a Sua confiança, os provoca a entrar na Sua amizade. A Igreja, na luz e com a força do Seu Senhor, se aproxima dos jovens e, humildemente, os acompanha para que não se deixem encantar pelas ilusões fáceis e deslumbrantes, que prometem muito mas roubam a alma, a alegria do coração, a honestidade da vida. Coloca-se ao lado deles e os ajuda a se livrarem do jugo das opiniões, para descobrirem a verdade das coisas, das coisas que contam, lembrando as palavras de Erasmo: “As opiniões são fonte de felicidade a preço baixo! Aprender a verdadeira essência das coisas, mesmo se se trata de coisas de importância mínima, custa um grande sacrifício” (Elogia da Loucura, XL VII).
Caros amigos, como afirmava o Santo Padre, devemos “responder à cultura materialista e egoista com uma ação evangelizadora coerente, que parta das paróquias: é, de fato, das comunidades paroquiais mais do que de outras estruturas que podem e devem vir iniciativas e atos concretos de testemunho cristão” (Aos Bispos da Eslovênia, 24 de janeiro de 2008).
Elevemos o olhar à Virgem Santa, à grande Mãe da Igreja: a Ela confiemos o caminho das nossas Igrejas Particulares, da Igreja da Albânia. Do sofrimento de tantos nascem novos cristãos, discípulos corajosos de Jesus, testemunhas intrépidas da fe. A Igreja que existe na Itália vos admira e está próxima de vós: a oração recíproca nos sustente a todos.
* Extraído do site Totus Tuus Network, do dia 07 de julho de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário