sábado, 6 de março de 2010

40 dias com Giussani

"A misericórdia é algo que vai além dos dados que estão em nossa posse - bondade e castigo - e que nos aparecem sempre em contradição. A misericórdia não se exaure nas imagens da bondade do Senhor, e quem percebe isto lança as bases para fazer nascer em si um êxito diferente se comparado àquele de quem enfrenta, separadamente, a bondade e o castigo do pecado. Neste êxito diferente se esclarece como o conceito de castigo aprofunda o de misericórdia. Se o castigo, de fato, fosse o único êxito do pecado, o pecado nos definiria. Ao invés, não obstante tudo, o pecado não nos define. Na história da salvação, do Deus que revela progressivamente o caminho para reencontrar uma imagem verdadeira do homem, o pecado não é a última palavra. E aqui está o milagre da misericórida na Misericórdia, isto é, no Ser. E então, na Misericórdia, no Ser como piedade, como se coloca o homem? De que modo pode estar, com todo o seu pecado?
Se o homem reconhece a misericórdia, se aceita e se confia, para ser mudado, a um Outro, ao Outro misericordioso. E esta é a dor de si, que é verdadeira dor, mas carregada de letícia. O homem é cheio de letícia porque Deus vive. É uma dor que ri: como acontece com as crianças, quando se machucam depois de cair, e o seu rosto é inundado de lágrimas, e choram pela dor que estão experimentando, mas junto com essa dor sorriem porque a mãe e o pai estão com elas para consolá-las, para ajudá-las.
E então eis o milagre da misericórdia: o desejo de mudar. Isto define o presente novo no homem pecador. A palavra 'presente' é essencial neste discurso: de fato, no momento em que a mudança fosse confiada a uma decisão nossa - 'devo mudar' - nós a deslocaríamos para um futuro, destinado a ver os frutos do nosso amor próprio, e nós a distanciaríamos do instrumento principal de Deus: o presente.
Devemos, portanto, ser pessoas que estão diante dEle mendigando a mudança, pessoas nas quais este pedido e esta decisão são toda a expressão de nós agora. O homem é frágil e cai sempre; o pedido se torna, então, a estrutura expressiva fundamental do relacionamento com Deus - a oração. 'No tempo da misericórdia, te escutei', disse Deus no Antigo Testamento: o pedido é uma decisão do presente, mas é também a certeza - se Ele se revelou como misericórdia - de que será escutado. Então, pedir quer dizer também responder, uma responsabilidade para com a concreteza com a qual Aquela Presença misericordiosa se colocou na história de cada um e de todos. O homem começa a sua verdade no reconhecimento da sua miséria: então é mendicante e a sua riqueza está no pedido e na dependência."
(GIUSSANI, Luigi. Alla ricerca del volto umano, 1995, pp. 42-43).

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